Acredita-se
que foi Américo Vespúcio quem deu nome à Venezuela. As casas sobre estacas em
que viviam os indígenas das margens do lago Maracaibo recordaram ao navegante
os palácios de Veneza e assim denominou o país "pequena Veneza", ou
Venezuela. Os recursos naturais e especialmente as grandes jazidas de petróleo,
exploradas desde a terceira década do século XX, impulsionaram o
desenvolvimento do país.
A Venezuela
divide com a Colômbia o extremo setentrional do continente sul-americano. Ocupa
uma superfície de 912.050km2 e limita-se ao norte com o mar do Caribe, a
nordeste com o oceano Atlântico, a leste com a Guiana, ao sul com o Brasil, e a
sudoeste e oeste com a Colômbia. Há uma antiga disputa quanto a um território
de 137.270km2, a oeste do rio Essequibo, administrado pela Guiana.
O litoral
venezuelano do Caribe e do Atlântico, com quase três mil quilômetros de
extensão, é recortado e de fisionomia muito variada. No extremo oeste do
litoral caribenho se abre, entre as penínsulas de La Guajira e Paraguaná, o
golfo da Venezuela, que se liga ao sul com o lago Maracaibo. Pertencem ao país
as ilhas de Las Aves, Los Roques, Orchila, Blanquilla, Los Hermanos e, a pouca
distância da península de Araya, a ilha Margarita. O golfo de Paria se abre no
continente em frente à ilha de Trinidad, e o amplo delta do Orinoco ocupa
grande parte da fachada atlântica.
Geografia
física
Geologia e
relevo. Distinguem-se no relevo venezuelano três regiões principais: a região
dos altos relevos, os llanos (planícies) e o maciço da Guiana. Na região dos
altos relevos destaca-se a cordilheira dos Andes, que, ao penetrar na
Venezuela, procedente da Colômbia, se desdobra em dois ramos principais: um
para o norte (serra do Perijá) e outro para nordeste (cordilheira de Mérida),
que culmina no pico Bolívar (5.002m), coberto de neves eternas.
Acompanhando o
litoral, erguem-se a cordilheira da costa ou do Caribe e, mais adiante,
terminando na península de Paria, a cordilheira oriental. Entre a serra de
Perijá e a cordilheira de Mérida fica a maior depressão da região, a do lago
Maracaibo, que se comunica por um estreito canal com o golfo da Venezuela. Na
direção sul, até encontrar o rio Orinoco, estende-se a região dos llanos, que
ocupa mais de um terço da superfície do país. Sua altitude média é pequena,
exceto no sopé das montanhas, e sua topografia é constituída por numerosos
platôs.
Na outra
vertente do mesmo rio fica o sistema Parima ou maciço das Guianas, que ocupa
45% do território venezuelano. Com altitude média de 400m, apresenta, contudo,
elevações importantes, como os montes Roraima, Guanayguaca e outros, e
violentos desníveis que interrompem o curso dos rios, produzindo enormes quedas
d'água, como a do salto de Ángel, a cascata mais alta do mundo, com uma queda
de 979m.
Clima. Embora
varie de acordo com a altitude, o clima na Venezuela é em geral tropical, com
estações marcadas mais pela diferença de precipitação do que de temperatura,
que oscila entre 24°e 36° C. Chove principalmente de abril a maio e de setembro
a outubro. Nas cordilheiras, onde habita a maior parte da população, prevalecem
temperaturas de 10°a 25°C, próprias de zonas temperadas. Nas grandes altitudes,
acima de dois mil metros, registram-se marcas negativas. As chuvas variam
também segundo a região. No litoral situam-se na faixa de 400 a 800mm; nos
planaltos atingem até 1.600mm; e no maciço guiano chegam a ultrapassar 3.000mm.
Hidrografia. O
território venezuelano se divide em duas grandes bacias hidrográficas: a do
Atlântico, que cobre cerca de oitenta por cento do país, e a do Caribe. Uma
pequena bacia interior lança suas águas no lago Valencia, mas está-se reduzindo
de modo constante, por sedimentação e evaporação.
O Orinoco, o
principal rio do país, é um dos mais caudalosos da América do Sul. Nasce no
Parima, perto da fronteira com o Brasil, e se estende por quase três mil
quilômetros. A 200km do Atlântico, o rio desdobra-se em diversos braços, que
formam o delta Amaruco. Entre seus inúmeros afluentes, destacam-se o Caroní, de
enorme potencial hidráulico, e o Cassiquiare, que tem ligação com o rio Negro,
da bacia Amazônica, bem como o Apure, o Aroyca, Aro, Caura, Meta, Ventuari e
Vichada. Os dois maiores lagos são o Maracaibo, com 13.280km2 de superfície, e
o Valencia, com 364km2.
Flora e fauna.
As florestas cobrem quase quarenta por cento do território, e a savana,
aproximadamente metade. Na região costeira predominam palmeiras e, nas zonas
áridas, cactáceas. Campinas, alternadas com culturas agrícolas caracterizam a
vegetação na região montanhosa. Nas partes mais elevadas, há prados e madeiras
e, acima de 2.500m, espécies de altas montanhas. Os llanos são cobertos por
savanas, com matas-galerias ao longo dos rios. Já no sistema Parima prevalecem
espessas florestas, que fornecem madeiras-de-lei, látex e outros produtos.
A fauna é a
própria da Amazônia. Entre os animais nativos incluem-se onças pardas, onças
pintadas, jaguatiricas, martas, lontras, zorrilhos, juparás, antas, caititus e
veados. Entre os répteis, há crocodilos, lagartos e várias espécies de cobras.
Encontram-se ainda tartarugas, rãs, sapos e salamandras. As aves, migratórias e
não-migratórias, são abundantes e diversas. São comuns os grous, cegonhas, íbis
e patos.
População
Desde começos
do século XIX a Venezuela viveu, como o Brasil, um processo de miscigenação
étnica em que colonizadores europeus e, depois, escravos africanos, se somaram
à população ameríndia. Cerca de setenta por cento da população venezuelana é
constituída de mestiços, seguidos de brancos, negros e uma pequena percentagem
de indígenas puros, dispersos pela bacia do lago Maracaibo, delta do Orinoco e
Amazônia.
A taxa de
natalidade é muito alta, embora passe hoje por acentuada queda. Já a taxa de
mortalidade é baixíssima. A maior parte da população se concentra no norte
(onde fica Caracas, a capital), na região ocidental, na área em torno do lago
Maracaibo e na zona andina. Já os llanos são pouco povoados e a zona oriental é
quase deserta em sua maior parte. Além de Caracas, as principais cidades são
Maracaibo, Valencia, Barquisimeto e Maracay.
A língua
oficial do país é o espanhol, enriquecido por numerosos regionalismos. As
diferentes tribos indígenas conservam cerca de 25 línguas indígenas, na maioria
das famílias caribe, aruaque e chibcha. A constituição garante a liberdade de
culto no país: o catolicismo é a religião predominante. Várias denominações
protestantes formam a principal minoria religiosa, seguida de judeus e
muçulmanos. (Para dados demográficos, ver DATAPÉDIA.)
Economia
A economia da
Venezuela era essencialmente agrícola e pecuária até a primeira década do
século XX. A partir de 1910, os investimentos maciços na indústria petrolífera
determinaram uma completa transformação na economia nacional, que passou a
depender da exportação de óleo bruto. Em 1928, a Venezuela já era o maior
exportador mundial de petróleo cru e se manteve nessa posição até 1970.
Agricultura e
pecuária. As terras agricultáveis correspondem a cerca de quatro por cento do
território do país, mas apenas dois terços desse total são cultivados.
Aproximadamente 15% da mão-de-obra venezuelana está empregada na agricultura,
que produz para consumo doméstico sobretudo banana, milho e sorgo. As
principais culturas comerciais são cana-de-açúcar, café e cacau.
A criação
extensiva de bovinos é praticada nos llanos e, de forma mais limitada, nas
planícies em torno do lago Maracaibo.
Pesca e
recursos florestais. Apesar do extenso litoral venezuelano, a pesca não é muito
desenvolvida no país. Uma empresa governamental foi fundada na década de 1970
para desenvolver a indústria pesqueira. A enchova é a espécie mais abundante,
destinada ao consumo local e ao mercado externo, juntamente com o camarão.
Embora as
reservas florestais venezuelanas sejam imensas, a indústria florestal do país
se desenvolveu muito lentamente, em virtude da distância das reservas mais
ricas e das rígidas leis de conservação criadas pelo governo.
Energia e
mineração. A exploração de petróleo foi dominada por multinacionais até 1976,
quando o governo venezuelano nacionalizou a indústria petrolífera. As maiores
jazidas estão na região do lago Maracaibo, mas foram descobertos grandes
depósitos nos llanos orientais, no delta do Orinoco e na plataforma
continental. O subsolo venezuelano é rico também em gás natural e carvão.
A produção de
minério de ferro ganhou grande importância a partir da década de 1950. A pouca
distância de Ciudad Bolívar e Ciudad Guayana existem imensas jazidas de minério
de alto teor, exploradas a partir da década de 1950 por empresas americanas,
nacionalizadas em 1976. Outros metais extraídos incluem ouro, diamantes, cobre,
zinco, níquel, chumbo, titânio e manganês. Fosfatos, enxofre e amianto são
explorados industrialmente.
Afora o
petróleo e o gás natural, os rios venezuelanos constituem a mais importante
fonte de energia do país. O rio Caroní, tributário do Orinoco, é o de maior
potencial hidrelétrico, e em segundo lugar vem o rio Santo Domingo, que desce a
cordilheira de Mérida e também pertence à bacia do Orinoco. Os pequenos rios
que descem os Andes também têm seu potencial hidrelétrico aproveitado.
Indústria. O
abundante suprimento de petróleo, gás natural e energia elétrica, a variedade
de matérias-primas, a disponibilidade de capital e o poder de compra relativamente
elevado da população foram os principais fatores que contribuíram para a
expansão e diversificação da indústria venezuelana, a partir da década de 1960.
A implantação das indústrias de consumo e de metalurgia foi alcançada sob a
proteção de pesadas tarifas e cotas de importação.
Como resultado
do aumento do preço do petróleo no mercado internacional em 1973 e 1974, as
receitas governamentais se expandiram, o que permitiu direcionar as estratégias
de desenvolvimento de grandes projetos, como a produção de ferro e aço,
alumínio, equipamentos de transporte, petroquímicos e um complexo de engenharia
metalúrgica e de fundição. O ritmo do progresso industrial diminuiu quando os
preços do petróleo declinaram, anos depois.
As modernas
indústrias do país estão inseridas em três setores de produção: refinarias de
petróleo e usinas petroquímicas associadas (principalmente em Morón e estado de
Zulia); bens de consumo, que incluem têxteis, couro, papel, pneus, fumo, entre
outros (em torno das cidades de Valencia, Maracay e Caracas); e as indústrias
pesadas, que se desenvolvem sobretudo no complexo de Ciudad Guayana.
Finanças,
comércio e turismo. O sistema financeiro venezuelano é controlado pelo Banco
Central da Venezuela, que emite a moeda nacional, o bolívar. Os principais
produtos de exportação são o petróleo e seus derivados e o minério de ferro. As
importações se compõem sobretudo de maquinaria e equipamentos de transporte,
medicamentos, produtos químicos, alimentos, bebidas e fumo. Entre os principais
parceiros comerciais do país estão os Estados Unidos, os países da União
Européia e o Japão. A Venezuela integra o Pacto Andino, organização que busca a
integração econômica das nações da região.
A maior
atração turística do país é Caracas, cidade com fisionomia urbana bastante
moderna e ao mesmo tempo rica em cultura e história. Outros pontos turísticos
são a ilha Margarita, as cidades andinas e o famoso salto de Ángel. As praias
do Caribe, os parques nacionais e as regiões de montanha e selva são também
muito procuradas.
Transporte e
comunicações. A rede de transporte terrestre é bem desenvolvida, principalmente
no norte e no noroeste do país, densamente povoados. O transporte doméstico
depende largamente das rodovias, enquanto o transporte industrial serve-se das
rotas marítimas costeiras e das vias fluviais. O transporte aéreo dá acesso a
diversas localidades sem outros meios de comunicação. As ferrovias são pouco
importantes: uma linha estatal liga Barquisimeto a Puerto Cabello, no litoral,
e segue depois até Caracas. As estradas de ferro privadas servem à indústria de
ferro e aço, ligando as jazidas a Ciudad Guayana.
A maior parte
do comércio exterior é feita por via marítima. Os principais portos são La
Guaira, Maracaibo, Puerto Cabello, Puerto Sucre, Ciudad Bolívar e Ciudad
Guayana. Os dois últimos comunicam-se com o mar pelo rio Orinoco, que é
navegável ao longo de quase mil quilômetros. A dragagem do estreito que liga o
lago Maracaibo ao golfo da Venezuela permitiu a passagem de petroleiros de
grande calado até os campos petrolíferos da margem oriental do lago. Há vários
aeroportos internacionais, mas o de maior tráfego é o Simón Bolívar, nos
arredores da capital. (Para dados econômicos, ver DATAPÉDIA.)
História
O território
venezuelano foi um dos primeiros habitados pelo homem na América do Sul,
possivelmente há mais de 15.000 anos. No entanto, não há registros de que as
terras que hoje pertencem à Venezuela tenham sido palco de uma grande
civilização pré-colombiana, como ocorreu em outros países andinos e da América
Central. Antes da chegada dos europeus, a região era habitada, em sua maior
parte, por tribos que viviam do extrativismo, da caça e da pesca e que não
possuíam uma organização social complexa. No primeiro milênio da era cristã, o
litoral do mar do Caribe foi povoado por pacíficos índios aruaques,
progressivamente deslocados pelos ferozes caribes. Tribos nômades viviam nos
llanos, no sistema Parima e na Amazônia.
Descobrimento
e colonização. Em sua terceira viagem à América, em agosto de 1498, Cristóvão
Colombo ancorou suas naus na península de Paria, que o almirante tomou por uma
ilha, denominando-a "terra de Gracia". Pouco depois, descobriu a ilha
Margarita. Em 1499 Alonso de Ojeda navegou ao longo do mar do Caribe até o lago
Maracaibo.
Inicialmente,
os espanhóis não tentaram apoderar-se da terra firme, pois a pesca da pérola em
algumas ilhas próximas à costa nordeste os atraiu mais. O interesse decaiu com
o esgotamento das ostreiras perlíferas, e o impulso colonizador se deslocou
então para oeste, em direção a Caracas e Coro. O primeiro estabelecimento
permanente espanhol foi Cumaná, fundada em 1523. Durante vários anos, até 1546,
se sucederam infrutíferas expedições alemãs pelo interior em busca de pedras
preciosas.
Na segunda
metade do século XVI, teve início a atividade agrícola, baseada no trabalho
escravo. Caracas foi fundada em 1567 e no fim do século havia mais de vinte
núcleos de colonização nos Andes venezuelanos e no litoral do mar do Caribe. As
planícies e a região do lago Maracaibo foram sendo ocupadas gradualmente nos
séculos XVII e XVIII por missões católicas.
O panorama
econômico e cultural mudou profundamente no século XVIII. Em 1717 o país deixou
de depender da audiência de Santo Domingo para incorporar-se ao vice-reino de
Nova Granada, com sede em Bogotá. Em 1725 a Real e Pontifícia Universidade de
Caracas começou a promover o ensino. Três anos mais tarde se criou, com o
respaldo real, a Companhia Guipuzcoana de Caracas, que detinha o monopólio da
venda do cacau à metrópole e das mercadorias espanholas à Venezuela. Sua missão
era também reprimir o tráfico de escravos, que tinha como principal centro a
ilha de Curaçao, e as incursões estrangeiras ao território venezuelano. Seus
interesses contrariavam, no entanto, os dos produtores venezuelanos, que
forçaram a dissolução da companhia na década de 1780.
Independência.
Depois da fracassada conspiração de Manuel Gual, em Caracas, em 1797, tampouco
teve êxito o desembarque de Francisco de Miranda, com uma pequena expedição de
patriotas, organizada nos Estados Unidos e financiada pela Inglaterra, em 1806.
Depois que a Espanha caiu em poder de Napoleão, os criollos (brancos nascidos
na colônia) de Caracas depuseram, em 1810, os representantes espanhóis e estabeleceram
uma junta governativa local, com a finalidade oficial de salvaguardar os
direitos do rei espanhol Fernando VII, preso na França dois anos antes por
Napoleão. Unindo-se aos representantes de outras partes do país, no entanto, a
junta governativa declarou a independência em 5 de julho de 1811. Miranda, que
retornara à América chamado por Simón Bolívar, assumiu o comando da nova
república.
A reação
realista foi favorecida pelo terremoto de 1812, que quase só atingiu Caracas e
as povoações rebeldes. Os patriotas foram traídos e derrotados em Puerto
Cabello. Miranda, que assinara a capitulação e ia embarcar para o Reino Unido,
foi detido por Bolívar e enviado preso à Espanha, onde morreria em 1816.
Bolívar recebeu salvo-conduto para Curaçao.
No início de
1813, a junta revolucionária nomeou Bolívar comandante das forças venezuelanas.
Filho de ricos fazendeiros criollos, era um dos líderes do movimento de
independência. Sofreu diversas derrotas em sua luta contra as forças
espanholas, mas foi ajudado pela nova República do Haiti e por uma legião
estrangeira de soldados britânicos e irlandeses. Com capital em Bogotá, a
República da Grande Colômbia, que reunia Nova Granada e Venezuela, foi
proclamada em 17 de dezembro de 1819. Em 24 de junho de 1821, Bolívar derrotou
o exército realista na batalha de Carabobo. As últimas forças realistas
capitularam em Puerto Cabello, em 9 de outubro de 1823. No ano seguinte,
Bolívar marchou em direção ao sul para libertar o Peru e, em 1825, conseguiu
dar fim ao domínio espanhol sobre a Bolívia.
Durante sua
ausência, contudo, irromperam rivalidades regionais na Grande Colômbia, e o
prestígio de Bolívar não foi suficiente para manter o país unido até sua volta.
Em 1829, a Venezuela se separou, e o Equador fez o mesmo pouco tempo depois. No
ano seguinte, Bolívar morreu perto da cidade colombiana de Santa Marta, sem ter
conseguido realizar o sonho de unir a América hispânica.
Oligarquia
conservadora. Bolívar havia deixado o general José Antonio Páez como chefe
militar civil da Venezuela. Páez logo extrapolou seu poder e deu apoio ao
movimento separatista da Grande Colômbia. Em 1831, um congresso constituinte
proclamou a independência da Venezuela e elegeu Páez presidente. A
constituição, conservadora, criava um estado centralista, restringia o voto aos
proprietários de terras e mantinha a escravidão.
O general
dominou a vida política do país até 1848. Foi eleito presidente de 1831 a 1835
e de 1839 a 1844. Seu governo representou para a Venezuela uma fase de
estabilidade, na qual se reconstruiu a economia, enfraquecida pelos muitos anos
de guerra. Prosperaram então as culturas de cacau e café, base do comércio
exterior do país.
Em 1840,
Antonio Leocádio Guzmán fundou o Partido Liberal, cuja base social era a
burguesia média progressista das cidades, que reivindicava a extensão do
direito ao voto e a abolição da escravatura. Guzmán criou um jornal, El
Venezolano, que se converteu em porta-voz das aspirações liberais. A crise
econômica que se produziu em meados da década, motivada pela queda dos preços
do café e do cacau no mercado internacional, favoreceu o crescimento da
oposição aos governos conservadores. Nas eleições presidenciais de 1846, saiu
vitorioso o general José Tadeo Monagas, que, embora conservador, buscou o apoio
dos liberais contra a maioria conservadora do Congresso. Páez se sublevou, mas
foi derrotado e obrigado a exilar-se em 1848.
De 1846 a
1858, alternaram-se na presidência os irmãos José Tadeo e José Gregorio
Monagas. Os dois estabeleceram um regime ditatorial e populista que limitava a
liberdade de ação do Congresso. As reformas postuladas pelos liberais, em sua
maior parte, não saíram do papel: aprovaram-se leis que aboliam a escravidão,
estendiam o direito de voto, baniam a pena de morte e limitavam as taxas de
juros, que, no entanto, nunca foram implementadas. Em 1857 José Tadeo Monagas
tentou impor uma nova constituição ao país, que estendia o mandato presidencial
de quatro para seis anos e eliminava todas as restrições à reeleição. Liberais
e conservadores se uniram, porém, contra ele e conseguiram que abandonasse o
poder em março do ano seguinte.
Inaugurou-se
um período de agitação política, com as chamadas guerras federalistas
(1858-1863) -- conservadores centralistas contra liberais federalistas. O
general Páez retornou em 1861 e restaurou a hegemonia conservadora por dois
anos, mas foi derrotado em 1863 pelas forças federalistas do general Juan
Falcón. A constituição de 1864 incorporou as idéias federalistas, mas o governo
de Falcón não foi bem-sucedido. Em 1868, estalou novamente a guerra civil, da
qual saiu vencedora a facção liberal de Antonio Guzmán Blanco, que governou o
país ditatorialmente de 1870 a 1888, quando foi deposto. Guzmán introduziu
algumas reformas econômicas e educacionais progressistas, mas seu governo
personalista trouxe prejuízos ao país.
De 1888 a
1892, líderes civis tentaram estabelecer governos representativos até que o
general Joaquín Crespo assumiu o poder. Durante os seis anos de seu governo,
Crespo teve que enfrentar uma permanente desordem civil. A antiga disputa com o
Reino Unido pela definição da fronteira entre a Venezuela e a Guiana britânica
se inflamou depois que se descobriu ouro na região em litígio. Um tribunal
internacional, reunido por iniciativa dos Estados Unidos, deu parecer favorável
ao Reino Unido, em 1899, mas a sentença nunca foi reconhecida pela Venezuela.
Ditaduras
andinas. Com a morte de Joaquín Crespo, o general Cipriano Castro, do estado de
Táchira, ocupou Caracas em 1899 e assumiu a presidência. Durante os 46 anos seguintes,
quatro militares de Táchira tomaram sucessivamente o poder. No governo de
Castro, o país foi conturbado por revoltas internas e intervenções externas. Em
1908, Castro viajou para a Europa e deixou o general Juan Vicente Gómez
interinamente na presidência. Este último se manteve no poder até morrer, em
1935. Nesses 27 anos, a presidência foi exercida ou pelo próprio Gómez, que
governou despoticamente, anulando a oposição e silenciando a imprensa, ou por
títeres seus.
Nessa época,
já se tinha descoberto petróleo na Venezuela e as condições vantajosas
oferecidas por Gómez atraíram as companhias estrangeiras, que passaram a
controlar sua exploração. Ao final da década de 1920, a Venezuela era o país
que mais exportava petróleo no mundo. Um pouco mais liberal e progressista foi
o general Eleazar López Contreras, que substituiu Gómez e governou até 1941. O
general Isaías Medina Angarita, que tomou o poder depois de López, restaurou as
liberdades civis e tentou criar uma base popular para seu governo. Com o declínio
da exploração petrolífera durante a segunda guerra mundial, a renda nacional
baixou e Medina modificou os contratos com as companhias estrangeiras de
petróleo.
Consolidação
da democracia. Em 1945, um grupo de oficiais do Exército, aliado ao Partido de
Ação Democrática, depôs Medina. O líder do partido, Rómulo Betancourt, chefiou
uma junta civil-militar, que governou por decreto durante 28 meses. A
constituição de 1947 reproduziu as idéias trabalhistas do partido. O romancista
Rómulo Gallegos, eleito para a presidência pela Ação Democrática, governou
apenas nove meses, devido sobretudo às medidas que tomou contra os militares
enriquecidos ilicitamente durante a ditadura e à tentativa de aumentar os
royalties estatais sobre o petróleo e apressar a reforma agrária. Foi deposto
por um golpe militar.
Formou-se
então uma junta militar, liderada por Carlos Delgado Chalbaud e Marcos Pérez
Jiménez. O assassinato do primeiro, dois anos mais tarde, deixou livre o
caminho para Jiménez, que impôs sobre o país um novo governo pessoal, proibindo
toda oposição e ignorando o resultado das eleições de 1952. A época de Pérez
Jiménez se caracterizou pela modernização da capital, em detrimento do programa
de reformas sociais que havia elaborado o governo democrático anterior. Um
golpe de estado derrubou-o em 23 de janeiro de 1958 e levou ao poder,
provisoriamente, uma junta civil-militar presidida por Wolfgang Larrazábal.
Na eleição de
dezembro do mesmo ano, livre e honesta, venceu Rómulo Betancourt. Seu segundo
governo caracterizou-se por um esquerdismo mais moderado, que permitiu a
colaboração da Ação Democrática com o segundo grande partido político do país,
o Comitê de Organização Política Eleitoral Independente ou COPEI (logo
denominado Partido Social Cristão), e ampliou a base social do governo
democrático. Lançaram-se planos de modernização agrícola e industrial e de
promoção da saúde e da educação. Em março de 1960 foi promulgada uma lei de
reforma agrária de caráter moderado. No ano seguinte, aprovou-se uma nova constituição
para o país.
O governo de
Betancourt foi abalado por várias tentativas de golpe militar, assim como por
uma forte depressão econômica. A oposição ao presidente Trujillo, da República
Dominicana, motivou, em 1960, um atentado contra a vida do presidente praticado
por agentes dominicanos. No ano seguinte, deterioraram-se também as relações
com Cuba, em resposta ao apoio do governo de Fidel Castro à guerrilha
venezuelana.
A eleição
presidencial de 1963 deu a vitória a Raúl Leoni, da Ação Democrática, por uma
pequena margem. Leoni formou um governo de coalizão com a União Republicana
Democrática, de esquerda. Um novo período de prosperidade na indústria
petrolífera permitiu acelerar os projetos econômicos e sociais do governo, que
em poucos anos construiu uma poderosa indústria petroquímica. As eleições de
1968 foram vencidas, contudo, pela oposição social-cristã, que instalou na
presidência seu dirigente, Rafael Caldera. Pela primeira vez na história da
Venezuela, o poder passava a um sucessor da oposição sem que fosse alterada a
normalidade constitucional.
O programa de
Caldera não diferia substancialmente do de seu antecessor. O presidente
melhorou as relações do país com Cuba, com a União Soviética e com os ditadores
militares da América Latina. No início da década de 1970, o país passou a deter
controle majoritário sobre os bancos privados estrangeiros e sobre a indústria
de gás natural. As eleições de dezembro de 1973 deram o poder a Carlos Andrés
Pérez, líder da Ação Democrática. O novo presidente redobrou os esforços
governamentais para dotar o país de uma infra-estrutura industrial, e
nacionalizou a indústria de minério de ferro, em 1975, e de petróleo, no ano
seguinte. Em virtude da súbita alta dos preços do petróleo provocada pela
guerra árabe-israelense de 1973, a Venezuela, como membro-fundador da
Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), quadruplicou seus lucros
com a venda de petróleo. Uma onda consumista sacudiu o país, cuja frágil
estrutura econômica foi incapaz de absorver a nova riqueza sem experimentar
aumento da inflação.
O agravamento
da crise econômica, devido à queda dos preços do petróleo no mercado
internacional, persistiu durante o governo do social-cristão Luis Herrera
Campíns, eleito em 1978, e gerou inquietação social. Em dezembro de 1983,
elegeu-se Jaime Lusinchi, líder da Ação Democrática, que logo lançou um
programa de austeridade econômica. Em 1988, Carlos Andrés Pérez reelegeu-se e
adotou novas medidas restritivas que geraram forte insatisfação popular e diversas
tentativas de golpe militar, lideradas pelo coronel Hugo Chávez Frías.
Em 1993, Pérez
foi destituído, depois de condenado em processo de impeachment por corrupção
(que um ano depois o levou para a cadeia), e substituído pelo presidente do
Senado, Octavio Lepage. Em dezembro do mesmo ano, o ex-presidente Rafael
Caldera reelegeu-se. Em 1994, as dificuldades econômicas, que incluíam a queda
no crescimento e o aumento do desemprego e da pobreza, levaram o governo a
suspender as garantias constitucionais relativas às atividades econômicas
durante três meses, a controlar os preços e a intervir no mercado financeiro,
entre outras medidas.
Instituições
políticas
A constituição
de 1961 define a Venezuela como um estado federativo, baseado no princípio de
governo republicano, democrático e representativo. O poder executivo é
atribuído a um presidente, eleito por voto direto para um mandato de cinco
anos. O poder legislativo é exercido pelo Congresso, dividido em duas câmaras:
a Câmara de Deputados e o Senado. Integram o Senado dois representantes de cada
estado, eleitos por sufrágio universal, e ex-presidentes. O poder judiciário
compreende a Suprema Corte, tribunais de jurisdição especial e tribunais de
jurisdição extraordinária. A Venezuela divide-se em 22 estados, um distrito
federal, onde está a capital do país, dois territórios e 72 dependências
federais (pequenas ilhas no Caribe).
Sociedade
Os lucros da
exploração do petróleo fizeram da Venezuela um dos países de mais elevada renda
per capita da América Latina, mas de profundas diferenças sociais. A
modernização e a integração da rede urbana do país, no século XX, trouxe,
contudo, algumas melhorias nas áreas de educação e saúde e na promoção do
bem-estar social. A previdência social foi fundada em 1944 e paga benefícios
para maternidade, doença e invalidez. Os serviços de saúde são de bom nível se
comparados com os de países mais desenvolvidos, embora o número de médicos e de
leitos hospitalares seja relativamente baixo.
A pré-escola e
os nove anos de educação primária são obrigatórios e gratuitos. O ensino
secundário é menos desenvolvido: oferece vagas para menos de metade dos
adolescentes com idade entre 13 e 17 anos. O país conta com numerosas
instituições de ensino superior. (Para dados sobre sociedade, ver DATAPÉDIA.)
Cultura
O folclore e a
cultura popular da Venezuela são marcados por tipos regionais, com
peculiaridades de linguagem, costumes e inclusive herança histórica, como os
llaneros, vaqueiros das planícies; os maracuchos, os empresários da bacia do
Maracaibo; os guayanases, habitantes do remoto planalto das Guianas; e os
andinos, que vivem nas montanhas. Caracas concentra a maior parte das
instituições culturais do país, como o Museu de Belas-Artes, fundado em 1938, o
Museu de Arte Colonial, o Museu de Ciência Natural e a Biblioteca Nacional, com
um acervo de mais de dois milhões de livros. Entre os principais grupos
artísticos estão o Ballet Nuevo Mundo de Caracas e a Orquestra Sinfônica da
Venezuela.
Literatura. A
literatura venezuelana surgiu durante a vigência do neoclassicismo hispânico. A
grande figura inicial dessa literatura foi o humanista Andrés Bello, editor de
revistas que desempenharam importante papel na vida cultural hispano-americana
e incentivador da independência cultural da América espanhola. Nos primeiros
anos da independência surgiu uma geração de escritores liberais em política mas
conservadores em literatura. O primeiro prosador importante foi Juan Vicente
González, discípulo do romantismo francês que soube evocar como poucos os
princípios da independência de seu país numa prosa apaixonada.
A primeira
geração romântica é representada por José Antonio Maitín, companheiro do exílio
londrino de Bello e por isso muito influenciado pelos poetas românticos
ingleses. Na segunda geração romântica destaca-se José Antonio Calcaño, poeta
de tradição católica. O centro do movimento modernista venezuelano foi a
revista Cosmópolis, dirigida por Pedro Emilio Coll, Pedro César Dominici, Luis
Urbaneja Achelpohl e Manuel Díaz Rodrigues. Este último, figura relevante do
grupo, foi um estilista exemplar e um homem culto. A primeira fase de sua
produção literária está cheia de influência européia, principalmente de
Gabrielle D'Annunzio e Maurice Barrès. O líder do movimento modernista venezuelano
foi Rufino Blanco Fombona. Seus romances, apesar do reduzido valor literário,
são historicamente mais importantes do que seus versos. Blanco Fombona
representa a corrente realista do modernismo e sua obra literária permaneceu
aquém de sua aspiração programática.
A partir da
terceira década do século XX começou a destacar-se o mais importante romancista
venezuelano, Rómulo Gallegos, cujos romances versavam sobre a parca civilização
das aldeias e povoados e a selva. Chegou-se a discernir em sua obra um impressionismo
artístico e um realismo descritivo. São da mesma época os contos de Julio
Garmendia, que desempenharam um papel renovador, preparando o surgimento da
novelística de Arturo Uslar Pietri. O poeta e romancista Miguel Otero Silva, o
prosador Guillermo Meneses, os poetas do grupo Viernes e da corrente nativista,
e os autores dramáticos Luis Peraza e Lucila Palacios pertencem a essa geração.
Outros nomes
representativos da literatura venezuelana no século XX foram Gustavo Díaz
Solís, Oscar Guaramato, Salvador Garmendia e Adriano Gonzáles León; entre os
poetas, José Ramón Medina; entre os ensaístas, Juan Liscano; e entre os autores
dramáticos, Rafael Pineda e Ramón Chalbaud.
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