
A República Árabe Líbia Popular e Socialista é um
grande país do centro-norte da África, com uma superfície de 1.757.000km2.
Limita-se a leste com o Egito, ao sul com o Níger, o Tchad e o Sudão, e a oeste
com a Tunísia e a Argélia. Ao norte confina com o Mediterrâneo, diante dos
litorais italiano e grego.
Geografia física. O território líbio constitui-se
de planaltos de 200 a 600m de altura, que fazem do país o mais elevado do norte
da África. Suas terras integram o Saara, exceto na zona costeira, onde se
diferenciam claramente duas regiões: Tripolitânia e Cirenaica, respectivamente
a oeste e a leste do golfo da Grande Sirte, que são as únicas áreas férteis do
país além de alguns oásis. A paisagem típica da Líbia mostra grandes extensões
de areia, com pontos montanhosos que surgem ocasionalmente. Na árida região de
Fezã, as dunas atingem centenas de metros de altura. O pico mais alto, o Bete
(2.286m), encontra-se ao sul, nos montes Tibesti.
O clima é desértico, embora a influência do
Mediterrâneo suavize as temperaturas, que vão de 11 a 28o C na costa e de 18 a
38o C no interior. As precipitações, em geral escassas, alcançam de 400 a 500mm
no norte, contra os 25mm do deserto da Líbia. A escassez de cursos fluviais
permanentes se compensa pela existência de extensos depósitos de água
subterrânea e diversos oásis.
O rigor das condições naturais torna também muito
escassa a vida vegetal: as plantas, em geral de vida curta, crescem quando
chove e definham com rapidez. A fauna, típica dos desertos africanos, compõe-se
de roedores, raposas, chacais, hienas, gazelas, gatos selvagens, águias e
abutres.
População. Os líbios são predominantemente
berberes e a maior parte deles adotou a cultura árabe. Alguns grupos
minoritários conservam a língua berbere, mesmo sendo o árabe a língua oficial.
Outras minorias étnicas são as de negros, judeus e grupos reduzidos de
italianos e gregos, cujo número decresceu a partir do fim da década de 1960.
Nos oásis do sudoeste habitam pequenos grupos de tuaregues, que deixaram para
trás sua tradicional vida nômade.
Três quartos da população urbana vivem em
Trípoli, a capital, e em Bengazi (Banghazi), que também sedia importantes
funções administrativas. A faixa costeira mediterrânea é a zona de maior
concentração de habitantes. Na última década do século XX, a densidade
populacional mal chegava aos dois habitantes por quilômetro quadrado, em
virtude das enormes extensões desérticas.
A taxa de natalidade é alta e a de mortalidade
relativamente reduzida, o que resulta em crescimento demográfico elevado. O
censo registra população masculina relativamente mais numerosa, em virtude do
costume de não registrar, às vezes, os nascimentos femininos. (Para dados
demográficos, ver DATAPÉDIA.)
Economia. A Líbia é uma república socialista. O
governo controla e planifica a economia, fundamentalmente baseada na extração e
exportação de petróleo e gás natural, setor responsável por mais da metade do
produto interno bruto. O país é pobre em recursos agrícolas; a produção do
setor não chega a três por cento do produto interno bruto. Cultivam-se
principalmente tomate, trigo, batata e azeitona na faixa costeira e tâmaras,
nos oásis. Os rebanhos compõem-se sobretudo de ovelhas, cabras e vacas para
leite e carne, assim como camelos e cavalos, usados como meios de transporte.
Na pesca, explorada principalmente por gregos, italianos e malteses, predomina
o atum.
A infra-estrutura necessária para a exploração
dos recursos minerais foi implantada, a partir do fim da década de 1950, pelas
multinacionais do petróleo, que exploraram os poços mediante concessões até
serem nacionalizadas, em 1973, pelo governo do coronel Muammar al Kadhafi. A
Líbia, porém, carece de tecnologia própria e mão-de-obra qualificada nacional,
pelo que recorre a técnicos estrangeiros. Graças à receita provinda do
petróleo, os líbios contam com elevada renda per capita. O país tem outros
recursos minerais, como o gesso.
A indústria é escassamente desenvolvida. Entre os
produtos principais estão a cal, o cimento e os derivados de petróleo. Há
projetos para a produção de energia nuclear, mas quase toda a eletricidade
provém de centrais térmicas de óleo combustível.
Os países com que a Líbia tem maior intercâmbio
comercial são os da Comunidade Européia, especialmente a Itália. Entre as
principais importações incluem-se alimentos, equipamentos de transporte e
maquinaria. O petróleo cru é o mais importante produto de exportação. A rede de
transportes limita-se quase exclusivamente à zona litorânea, embora os oásis do
interior tenham boa comunicação com o resto do país. Os portos mais importantes
são os de Trípoli e Bengazi, cidades em que também ficam os principais
aeroportos. (Para dados econômicos, ver DATAPÉDIA.)
História. Antigo assentamento de povos tão
díspares quanto os fenícios, os romanos e os turcos, a Líbia recebeu seu nome
dos colonos gregos, no século II antes da era cristã. Fenícios e gregos
chegaram ao país no século VII a.C. e estabeleceram colônias e cidades. Os
fenícios fixaram-se na Tripolitânia e os gregos na Cirenaica. Os cartagineses,
herdeiros das colônias fenícias, fundaram na Tripolitânia uma província, e no
século I a.C. o Império Romano se impôs em toda a região.
O império bizantino, continuador do romano,
ganhou terreno com o declínio de Roma. No século VII da era cristã, porém, o
impulso conquistador dos árabes transformou o lugar em sólido baluarte para o
Islã. Durante pouco mais de três
séculos, os berberes almôadas mantiveram o domínio sobre a região tripolitana,
enquanto a Cirenaica esteve sob o controle egípcio. No século XVI, os otomanos
unificaram o território e estabeleceram o poder central em Trípoli.
Dois séculos mais tarde, o reinado da dinastia
Karamanli, que dominou Trípoli durante 120 anos, contribuiu para assentar mais
solidamente as regiões de Fezã, Cirenaica e Tripolitânia, e conquistou maior
autonomia. Em 1835, o império otomano restabeleceu o controle sobre a Líbia,
embora a confraria muçulmana dos sanusis tenha conseguido, em meados do século,
dominar os territórios da Cirenaica e de Fezã.
Em 1911, sob o pretexto de defender seus colonos
estabelecidos na Tripolitânia, a Itália declarou guerra à Turquia e invadiu a
Líbia. A resistência dos sanusis dificultou a penetração do Exército italiano
no interior, mas em 1914 todo o país estava ocupado. Durante a primeira guerra
mundial, os líbios recuperaram o controle de quase todo o território, à exceção
de alguns portos. Terminada a guerra, os italianos empreenderam a reconquista
do país. Em 1939, a Líbia foi incorporada ao reino da Itália. A colonização não
alterou a estrutura econômica do país, mas contribuiu para melhorar a infra-estrutura,
como a rede de estradas e o fornecimento de água às cidades.
Durante a segunda guerra mundial, o território
líbio foi cenário de combates decisivos. Findas as hostilidades, o Reino Unido
encarregou-se do governo da Cirenaica e da Tripolitânia, e a França passou a
administrar Fezã. Em 1951 proclamou-se a independência da Líbia. O rei Idris I,
da dinastia dos sanusis, ocupou a chefia do estado.
Depois de sua admissão na Liga Árabe, em 1953, a
Líbia firmou acordos para a implantação de bases estrangeiras em seu
território. A influência econômica dos Estados Unidos e do Reino Unido,
autorizados a manter tropas no país, tornou-se cada vez mais poderosa. A
descoberta de jazidas de petróleo em 1959 constituiu no entanto fator decisivo
para que o governo líbio exigisse a retirada das forças estrangeiras, o que
provocou graves conflitos políticos com aquelas duas potências e com o Egito.
Em 1969, um golpe liderado pelo coronel Muammar
al-Kadhafi depôs o rei e implantou uma república muçulmana militarizada e de
organização socialista. O coronel Kadhafi, chefe de estado a partir de 1970,
expulsou os efetivos militares estrangeiros, estatizou o petróleo e procurou
desencadear uma revolução cultural, social e econômica que provocou graves
tensões políticas com os Estados Unidos,
Reino Unido e países árabes moderados (Egito, Sudão). Apoiado pelo
partido único, a União Socialista Árabe, Kadhafi interveio na política de
outros países, como o Sudão e o Tchad. Em 1972, a Líbia e o Egito uniram-se
numa Confederação de Repúblicas Árabes que se dissolveu em 1979. Em 1984, a
Líbia e o Marrocos tentaram uma união formal, extinta em 1986.
A rejeição a Israel, as manifestações
anti-americanas e a aproximação com a União Soviética, por parte da Líbia,
geraram sérios conflitos na década de 1980. As acusações de que o governo líbio
patrocinava ou estimulava o terrorismo internacional desencadearam, em abril de
1986, um ataque da aviação americana a vários alvos militares, em que pereceram
130 pessoas. Kadhafi, que perdeu uma filha adotiva quando sua casa foi
atingida, manteve-se como chefe político, mas sua imagem internacional
deteriorou-se rapidamente.
Para tirar o país do isolamento diplomático, no
início da década de 1990 o chefe líbio dispôs-se a melhorar o relacionamento
com as potências ocidentais e com as nações vizinhas. Contudo, apesar de sua
neutralidade na guerra do golfo Pérsico, a Líbia se manteve sob crescente
isolamento internacional até meados da década. Os Estados Unidos, o Reino Unido
e a França, com a aprovação das Nações Unidas, impuseram pesados embargos ao
comércio e ao tráfego aéreo líbio, porque o governo se negava a extraditar os
dois líbios suspeitos de terem colocado uma bomba num avião que explodiu sobre
Lockerbie, na Escócia, em 1988, e matou 270 pessoas.
Instituições políticas. Governa a Líbia o único
partido do país na legalidade, a União Socialista Árabe. O Congresso Geral do
Povo elege o chefe de estado, o "líder revolucionário", e seu
gabinete, o Comitê Geral do Povo. O país é dividido em 25 municipalidades, por
sua vez subdivididas em zonas.
Sociedade e cultura. As divisas provenientes do
petróleo permitiram ao governo líbio a implantação de planos de bem-estar
social que, em certos campos, melhoraram consideravelmente as condições de vida
do povo. Uma extensa rede de hospitais e centros de saúde presta assistência
médica gratuita a toda a população. Mesmo assim, a hepatite, as febres
tifóides, as doenças venéreas e a meningite continuam a fazer vítimas. O
problema da desnutrição, no entanto, foi erradicado.
Entre os seis e os 15 anos, etapa correspondente
aos ciclos primário e intermediário, a educação é gratuita e obrigatória. A
Líbia tem duas universidades, em Trípoli e em Bengazi. A religião praticada
pela imensa maioria da população é o islamismo. Uma minoria professa o
cristianismo. O estado garante liberdade religiosa aos cidadãos.
A vida cultural gira em torno das tradições
populares. A música tradicional é tipicamente árabe, tocada em conjuntos de
flautas e tambores. O artesanato popular produz tecidos, bordados e tapeçaria.
Como o Islã proíbe a representação de animais e de pessoas, os motivos desses
trabalhos costumam ser arabescos e desenhos geométricos. O governo fornece
verbas para a manutenção e o incentivo às artes e ao folclore em geral.
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