Tradições milenares convivem na China com medidas
políticas, econômicas e sociais de um regime comunista, instaurado com a
revolução de 1949. O vocábulo China deriva do nome da dinastia Qin (Tsin),
fundadora do primeiro império chinês.
A República Popular da China, terceiro país do
mundo em extensão (9.572.900km2), depois da Rússia e do Canadá, é o mais
populoso da Terra. A história de sua civilização remonta a cerca de quatro mil
anos.
Situada no centro e no leste da Ásia, a China
limita-se ao norte com a Mongólia; a nordeste com a Rússia e a Coréia do Norte;
ao leste com os mares Amarelo, da China Oriental e da China Meridional, porções
do oceano Pacífico; ao sul com o Vietnam, o Laos, Myanmar (antiga Birmânia) e
Bangladesh; a sudoeste, com o Butã, a Índia e o Nepal; a oeste com Jammu e
Cachemir, o Afeganistão, o Tadjiquistão, o Quirguistão e o Casaquistão. Na ilha
de Formosa (Taiwan) estabeleceu-se em 1949 o governo da República da China.
Geografia física
Geologia e relevo.
A topografia chinesa caracteriza-se pela
imponência de suas cadeias montanhosas, quer pela altitude, que aumenta em
direção a oeste, quer pela extensão, pois as montanhas ocupam um terço do total
do território. Em função do clima, da geologia e do desenvolvimento
geomorfológico, a China divide-se em quatro regiões distintas: a oriental, a
sul-ocidental, a norte-ocidental e a litorânea.
Região oriental. No leste do país predominam planícies
com altitude inferior a 200m. A região, banhada por rios abundantes e
caudalosos, é a que oferece melhores condições de vida na China, pois os solos
férteis e o clima úmido favorecem a agricultura e permitem altos índices de
concentração populacional. A planície do nordeste estende-se pela região
histórica da Manchúria. É uma área muito fértil, circundada por montanhas
antigas: o grande Khingan no oeste, o pequeno Khingan no norte e os maciços de
Changbai no sudeste. O território, repleto de falhas geológicas, é muito
instável. Em 1976, um abalo sísmico acarretou a morte de centenas de milhares
de pessoas.
No sul encontra-se a grande planície, larga faixa
de terra que se prolonga de Pequim a Xangai. Essa fértil planície aluvial, cuja
horizontalidade dificulta o escoamento dos rios, é interrompida por alguns
acidentes como o maciço de Shandong (Shantung), que alcança altitude máxima no
Tai Shan (1.532m). A oeste dessa vasta planície estendem-se regiões
acidentadas, entre as quais se destacam os planaltos de Shanxi (Shansi) e
Shaanxi (Shensi), de 1.200 a 1.600m, situados nos dois lados do rio Huanghe
(Huang Ho ou Amarelo). Essa zona, modelada pela erosão fluvial, acha-se coberta
por loess, os solos mais férteis da China.
No sudeste, o relevo apresenta-se também bastante
irregular. É uma região de elevações de altitude inferior a dois mil metros,
cuja complexidade as transforma num obstáculo difícil de transpor. A altitude
máxima ocorre nos montes de Nanling (1.922m). A oeste de Nanling abre-se uma
faixa mais elevada, composta de materiais calcários. Trata-se dos planaltos de
Yunnan e Guizhou (Kweichow), onde abundam os fenômenos cársticos. Embora, em
média, a altitude seja inferior a dois mil metros, os montes Dieqiang
(Tiechiang), no oeste, ultrapassam 3.680m.
Região do noroeste.
Os planaltos predominam no relevo do noroeste. O
planalto de Xinjiang (Sinkiang) divide-se em dois grandes conjuntos por uma
cordilheira no sentido leste-oeste: os Tianshan ou montes Celestes, cuja
altitude máxima ocorre no pico Pobedy (7.439m). A parte norte do planalto é
formada pela depressão de Dzungária, com altitude inferior a 500m. A parte sul
de Xinjiang é uma grande bacia com altitudes que oscilam entre 700 e 1.400m e
cujo setor central é constituído pelo deserto de Taklimaken, um dos mais
inóspitos do mundo. Rodeiam essa bacia altas montanhas: os montes Kunlun no
sudoeste, os Tianshan no norte e no leste os montes Altun.
O planalto da Mongólia Interior, a leste de
Xinjiang, é um território que atinge mil metros de altitude média e cerca a
República Popular da Mongólia. Apresenta topografia plana e clima árido, o que
explica a formação de desertos pedregosos e de dunas, como os de Gobi e Mu Us.
Região do sudoeste. Os planaltos tibetanos do
sudoeste constituem um relevo complexo e muito acidentado, conhecido como o
teto do mundo. O planalto ocidental alcança uma altitude superior a quatro mil
metros, cercado de altíssimas montanhas: ao norte os montes Kunlun, onde se
destaca o pico Muztag (7.723m), e ao sul o Transimalaia (ou Trans-Himalaia),
com o monte Gula (7.553m) e o Everest, ponto culminante do planeta (8.848m),
que faz fronteira com o Nepal. No extremo oeste dos Kunlun estende-se a bacia
de Qaidam vasta região semidesértica com altitude média de cerca de 2.700m.
O litoral chinês. De norte a sul, até a baía de
Hangzhou, o litoral é baixo e arenoso, formado pelo transporte de matéria
aluvial do rio Amarelo e do Yangzi ou Yangtze. Ao sul de Xangai, a costa
torna-se muito rochosa, escarpada e recortada, e as reentrâncias montanhosas
chegam até o próprio mar.
Os acidentes litorâneos mais importantes são as
penínsulas de Liaodong e Shandong, que formam o golfo de Bo ou Zhili; a baía de
Hangzhou, ao sul de Xangai; a baía próxima de Cantão (Guangzhou na
transliteração pinyin), flanqueada por Hong Kong e Macau; e a península
meridional de Leizhou, em frente à ilha de Hainan.
Clima.
A variedade de climas na China é determinada pela
vastidão do território, pela elevada altitude de muitas regiões (que gera
climas frios em latitudes baixas e atua como barreira à penetração do ar
marítimo) e pela circulação atmosférica (o vento do noroeste, parte do
anticiclone siberiano, frio e seco no inverno, e os ventos monçônicos do
sudeste, quentes e úmidos no verão).
A região oriental apresenta verões quentes e
úmidos e invernos secos e frios. No nordeste da China (Manchúria) predomina o
clima continental: temperaturas muito
baixas no inverno e altas no verão, com precipitações moderadas, em torno de
700mm anuais. Em direção ao sul, o inverno torna-se menos rigoroso, com a média
em janeiro de -3,5o C em Pequim; já os verões são quentes (27o C em julho). As
precipitações são abundantes na costa -- mais de mil metros anuais em Nanquim
(Nanjing) --, mas diminuem rumo ao interior (600mm em Pequim). No sudeste
prevalece o clima do tipo subtropical, úmido e quente. As precipitações, de
origem monçônica, são profusas: 1.640mm em Cantão. As temperaturas são muito
altas no verão (entre 27 e 30o C) e suaves no inverno (13o C).
No oeste o clima torna-se mais seco à medida que
se penetra no interior, e mais frio quando se avança para o norte (desertos
frios de Taklimaken, Mu Us e Gobi). No sudoeste, a altitude acentua o frio e a
aridez no planalto tibetano, quase desabitado. Os montes Qinling (Tsinling), na China central,
também exercem importante papel de divisor climático. Essa região está
submetida a um clima de transição entre o semi-árido do norte e o subtropical
do sul, com precipitações e temperaturas moderadas.
Hidrografia.
A China conta com numerosos rios, alguns muito
caudalosos. Todavia, a distribuição dos cursos fluviais é bastante irregular. A
porção oriental do país é bem irrigada, pois os rios principais, o Yangzi, o
Amarelo e o Xijiang (Hsi Kiang), desembocam no Pacífico. Já a parte norte-ocidental
apresenta poucos cursos fluviais, e de menor importância, alguns dos quais
formam bacias endorréicas (que não deságuam no mar), como a do Tarim.
Na vertente do Pacífico, o rio mais setentrional
é o Amur, que serve de fronteira com a Rússia ao longo de mais de 1.600km, e
desemboca em território russo. O Amarelo, que nasce nos montes Kunlun, e em
cujos vales floresceu a cultura chinesa em seus primórdios, desemboca no golfo
de Bo, bem como o rio Liao, após percorrer 5.464km. O Yangzi é o curso fluvial
mais longo e caudaloso. Com 6.300km de comprimento, nasce no Tibet e drena uma
região habitada por centenas de milhões de pessoas; tem como principais
afluentes o Huai, o Han e o Min e desemboca, formando um delta, ao norte de
Xangai, no mar da China oriental. Deságuam no mar da China Meridional o Xijiang
e o Mekong (este acaba no Vietnam).
No extremo sul-ocidental da China, na região do
Tibet, nascem diversos rios que cortam outras nações (como o Brahmaputra, o
Irrawaddy e o Indo). Na porção norte-ocidental, encontram-se bacias endorréicas
alimentadas por águas procedentes da fusão das neves; é o caso do Tarim.
Flora e fauna.
Determinada pelos solos e pelo clima, a flora
chinesa é muito variada. No nordeste, as planícies apresentam estepe densa,
enquanto as montanhas acham-se cobertas de bosques mistos de coníferas,
carvalhos, bordos e bétulas. Ao sul, na grande planície, o bosque natural foi
substituído ao longo de milênios por culturas agrícolas.
Na China central abundam espécies de grande valor
econômico, como o bambu, o tungue e outras árvores de que se extraem óleos. Na
zona tropical do sul são comuns as árvores de madeira rija, semelhantes às que
ocorrem no Sudeste Asiático. Nas áridas regiões norte-ocidentais predominam a
vegetação de estepe fria e os bosques de coníferas, enquanto nas zonas mais
elevadas prevalece a flora do tipo alpino.
Os diversos climas e formações vegetais favorecem
uma fauna muito rica e variada que, embora relacionada com a das zonas
asiáticas limítrofes, também apresenta espécies autóctones ou que se
extinguiram em outras regiões do continente. O peixe-espada típico do Yangzi
(Psephurus gladius), um crocodilo pequeno e a salamandra gigante são algumas
das espécies exclusivas da China. Muito característicos são também o urso
panda, o antílope das estepes e diversas espécies de faisões e tordos.
População
Etnias.
Embora todos os seus habitantes provenham do
tronco mongol, a China é um país multinacional, tanto do ponto de vista étnico
como do lingüístico. A população em sua maioria pertence ao grupo han (chinês),
que apresenta, porém, características raciais variadas. Os chineses do norte
são mais altos e têm o rosto mais comprido que os do sul; estes, por sua vez,
têm a pele mais morena que os do norte.
O resto da população compõe-se de 55 grupos
minoritários, com tradições culturais, religiões e línguas próprias.
Localizam-se mais no oeste, na periferia do país, onde os han estabeleceram-se
em épocas mais recentes e, assim, não conseguiram absorver as outras etnias. Na
região sudoeste ficam as minorias mais numerosas: o grupo chuang (zhuang) no
Yunnan e os tibetanos no Tibet. No noroeste acham-se os uigur, os casaques e os
mongóis, e no nordeste os manchus, totalmente assimilados à população han.
Línguas.
Os idiomas falados na China provêm de quatro
troncos: o sino-tibetano, o altaico, o indo-europeu e o austro-asiático.
O idioma oficial, falado pela maioria da
população, é o chinês, da família sino-tibetana, que apresenta diferentes
dialetos regionais, embora todos utilizem a mesma escrita. Embora sua escrita
(caracteres ideográficos) seja universal, a pronúncia varia segundo a região e
existem oito dialetos ininteligíveis entre si, a maioria deles usada na faixa
costeira do sul. A partir da década de 1950 o governo favoreceu o dialeto do
norte, o mandarim ou pequinês, adotado nas escolas. Em 1979, a pedido do
governo da República Popular da China, a imprensa de todo o mundo começou a
empregar um novo sistema (o pinyin) para grafar os sons do chinês mandarim. Entre
outras modificações, o pinyin, que utiliza o alfabeto romano, faz uso freqüente
do x e do g, ao contrário do tradicional sistema Wade-Giles, e abole o hífen
entre dois nomes personativos.
O segundo tronco lingüístico, o altaico,
divide-se, na China, em dois ramos: o turco, representado pela minoria uigur, e
o mongol. Os outros dois troncos lingüísticos são minoritários. O tronco
indo-europeu prevalece no noroeste com os tadjiques, enquanto o austro-asiático
é representado pela minoria kawa, que habita o sul do país, na fronteira com
Myanmar.
Demografia.
A China é o país mais populoso do mundo. De cada
cinco habitantes do planeta, um é chinês. A população se multiplicou por vinte
desde o início da era cristã. No século II, havia 57 milhões de chineses. Em 1600,
eles já eram 150 milhões e, no começo do século XIX, ultrapassavam 400 milhões.
Em 1953, o primeiro censo rigoroso contou 583 milhões de habitantes. A partir
de 1950, a estabilidade social, a introdução de melhorias sanitárias e um
padrão de vida mais elevado provocaram um aumento acelerado na taxa de
natalidade. Em fins da década de 1980 o país passou a marca de um bilhão de
habitantes.
Em meados da década de 1970, o perigo da
superpopulação levou o governo chinês a adotar medidas drásticas de controle da
natalidade, promovendo o uso de anticoncepcionais, recomendando o casamento em
idade mais madura e impondo penalidades às famílias com mais de um filho. Com
essa política, o crescimento vegetativo caiu de 2,6% ao ano para menos de um
por cento, mas nem por isso a população deixou de crescer em mais de 12 milhões
por ano.
Além dos habitantes da República Popular, uma
numerosa colônia chinesa, que no fim do século XX ultrapassava 17 milhões de
pessoas, vive em outros países, sobretudo no sudeste asiático, nos Estados
Unidos e na Europa. Esses grupos provêm de antigas emigrações, já que, depois
da revolução de 1949, limitaram-se as saídas do país.
As condições naturais tornam a distribuição
demográfica muito irregular. O clima da metade oeste do país impede ou reduz ao
mínimo a colonização (regiões desérticas do Tibet e Xinjiang). Somente nas
zonas bem irrigadas no sopé das montanhas encontram-se alguns núcleos de
população. A maior parte dos chineses concentra-se na região oriental,
sobretudo na costa, zona de clima ameno e solos férteis. A densidade média é
muito elevada; nas fecundas planícies do Yangzi e em Cantão, supera mil
habitantes por quilômetro quadrado.
A maioria da população é rural; em fins da década
de 1980, mais de oitenta por cento dos chineses viviam no campo. Contudo, a
partir de 1950, a população urbana começou a crescer, devido à procura de
mão-de-obra nas cidades em franco desenvolvimento industrial. Até a revolução
de 1949, a indústria era pouco importante e as cidades tinham uma função quase
exclusivamente administrativa e comercial. Depois, as grandes cidades chinesas
transformaram-se em importantes centros industriais e comerciais. Destacam-se
Xangai, Tianjin (Tientsin), Cantão e Pequim, a capital do país.
Economia
A China é um país de economia planificada, isto
é, controlada pelo estado segundo os princípios socialistas. Com a morte do
presidente Mao Zedong (Mao Tsé-tung), a economia passou por um processo de
modernização e liberalização, visando mais eficiência e melhor aproveitamento
dos recursos.
Organização econômica.
O novo regime instaurado em 1949 procurou
transformar a sociedade e a economia com a socialização dos bens básicos: a
terra, a indústria e as fontes de energia. Eliminada a propriedade privada dos
meios de produção, o objetivo seguinte foi o desenvolvimento produtivo e a
industrialização, contando apenas com os recursos internos. Isso se realizou
com a planificação da economia a médio prazo e com os planos qüinqüenais.
Contudo, a partir de 1978, pouco depois da morte
de Mao Zedong, a política econômica tomou novo rumo, cujo objetivo prioritário
era modernizar o país. Deixou-se de lado o mito da auto-suficiência econômica e
intensificaram-se as trocas comerciais com o Japão, a Europa e os Estados
Unidos. Além disso, houve mudanças no sistema de gestão industrial e o sistema
de comunas camponesas foi complementado com a criação de pequenos lotes
privados.
Agricultura, pecuária e pesca. Os chineses têm
praticado a agricultura no mínimo há três milênios. Depois da revolução, o
governo procurou aumentar a produção agrícola para atender as necessidades da
população sem recorrer às importações. A exploração do campo foi organizada em
comunas, cujo tamanho e riqueza variavam de acordo com a região. No fim do
século XX, dois terços da população se dedicavam às atividades primárias da
economia.
A necessidade de aumentar a produção exigia maior
rendimento das áreas cultivadas, cujos solos estavam depauperados após séculos
de utilização intensiva. Com essa finalidade, já na década de 1960 a terra
passou a ser adubada com fertilizantes químicos e o curso dos rios foi
alterado; as secas passaram a ter menos impacto e construíram-se canais,
barragens e muros de contenção para atenuar os efeitos das inundações.
A China apresenta grande variedade de regiões
agrícolas. As terras mais férteis estão no sudeste e no centro do país. As
regiões do norte e do oeste têm zonas de cultivo que se estendem pelos sopés
dos maciços montanhosos.
As culturas mais importantes são as de cereais,
de que a China é um dos maiores produtores do mundo. Destacam-se o arroz, no
sudeste, e o trigo, o milho e a soja. Também são importantes as culturas de
hortaliças (batata-doce e batata-inglesa) e de produtos de uso industrial como
o algodão. Cultivam-se ainda plantas tropicais como o amendoim, o chá e a
cana-de-açúcar.
A importância da pecuária é relativa, pois quase
toda a terra disponível é dedicada à agricultura. As criações mais importantes
são as domésticas (patos e porcos), em que a China ocupa um dos primeiros
lugares. O gado bovino (búfalos) e o eqüino é utilizado para tração nas
atividades agrícolas. A criação extensiva ou nômade (ovelhas e cavalos) ocorre
nas regiões que não comportam agricultura: a oeste de Xinjiang, na Mongólia
Interior ou no Tibet.
O peixe tem lugar de destaque na alimentação dos
chineses.
A pesca fluvial é muito importante, praticada nos
rios, canais, arrozais, lagos e até nos charcos e zonas pantanosas. A pesca
costeira se faz com embarcações artesanais (barcos a vela e a remo), enquanto
as embarcações motorizadas são reservadas quase exclusivamente à pesca em
alto-mar. A China é um dos primeiros países em volume de pesca.
Mineração e energia. São enormes os recursos do
subsolo chinês, mas as grandes distâncias, o relevo acidentado e as vias de
comunicação insuficientes limitam as possibilidades de seu aproveitamento.
A China possui uma das maiores reservas de carvão
do planeta. As jazidas mais ricas encontram-se no norte, na bacia de Shanxi e
no oeste de Shandong. No sul da China, há pequenas explorações que alimentam a
indústria da região. A partir da década de 1960, a prospecção de
hidrocarbonetos deu excelentes resultados. As principais reservas de petróleo
ocorrem em Daqing (Tashing), no golfo de Bo, na bacia de Qaidam e em Xinjiang.
A produção atende às reduzidas necessidades internas e o resto é exportado. A
eletricidade provém de grande número de centrais térmicas, hidrelétricas e
nucleares.
O subsolo chinês contém grandes reservas de ferro
e manganês. Possui também abundantes
jazidas de molibdênio, tungstênio, bauxita, cobre e estanho.
Indústria.
A partir de 1842, o antigo artesanato chinês
(tecidos, cerâmica, cristal) começou a ser complementado por uma indústria
moderna que esteve em mãos de estrangeiros (ingleses, russos e japoneses) até a
revolução de 1949.
Desde o começo, o regime revolucionário se propôs
converter a China num país industrial. Nos primeiros dez anos, o apoio técnico
e financeiro da União Soviética permitiu um vertiginoso desenvolvimento
industrial, interrompido em princípios da década de 1960, com o fracasso do
chamado "grande salto para a frente" e o fim da ajuda soviética.
Mesmo assim, em 1970 a produção industrial havia triplicado em relação à de 1949:
a China tornara-se o país mais industrializado do Terceiro Mundo. Depois da
morte de Mao, e sobretudo a partir de 1978, observou-se uma clara evolução da
política industrial, que se materializou na multiplicação das importações de
bens de equipamento e de tecnologia e no estímulo à produtividade
(diversificação de salários e atribuição de gratificações por desempenho).
A indústria siderúrgica, especialmente estimulada
a partir de 1949, não consegue satisfazer as necessidades do país. As
instalações mais importantes são as de Anshan, Baotou (Paotou) - na Mongólia
Interior - e Xangai.
Na indústria mecânica tem destaque a fabricação
de caminhões (fundamentais para o transporte, dada a insuficiência da rede
ferroviária) e de tratores. As principais fábricas estão em Tianjin, Baotou,
Xangai e Cantão. São também importantes as indústrias de construção naval
instaladas em Lüda (Dairen) e Xangai; de material ferroviário, em Changzhou e
Lüda; de material elétrico, em Harbin; e de equipamentos agrícolas, em Lüda,
Pequim, Tianjin, Nanquim e Fushun.
A indústria química cresceu espetacularmente já
na década de 1960, com a produção de
fertilizantes e com a petroquímica. Pequim e Xangai são os núcleos onde se
localizam os maiores complexos químicos. A indústria têxtil apresenta enorme
volume de produção, atendendo a mais de um bilhão de pessoas. Seu grau de
evolução tecnológica varia desde a manufatura artesanal até a tecnologia de
ponta. Destaca-se a fabricação de artigos de lã, seda e algodão e, em menor
grau, a de fibras sintéticas. Muito dispersos,
os principais centros têxteis ficam nos núcleos mais povoados: Xangai e
Pequim.
Comunicações e comércio.
A insuficiência da rede viária constitui um dos
maiores problemas da economia chinesa, embora a malha de estradas e ferrovias
tenham-se multiplicado a partir de 1949. A rede de transportes terrestres é
decerto mais densa no leste da China, sobretudo no eixo Pequim-Xangai, que é a
região mais populosa e industrializada. Acham-se também asseguradas as
comunicações com as regiões menos povoadas, porém estratégicas, do oeste do
país, Xinjiang e o Tibet.
As insuficiências são compensadas pelas
hidrovias (mais de 150.000km), sobretudo
o rio Amur e seus afluentes, além do curso inferior do Yangzi. A eles
acrescenta-se o grande canal, reformado em 1958, que une o rio Amarelo ao
Yangzi.
O transporte marítimo é assegurado por navios
estrangeiros, pois a marinha mercante chinesa, em que pese o notável incremento
de sua capacidade de carga, não pode absorver todos os fretes. Os principais
portos são Lüda, Tianjin, Xangai e Cantão.
As rotas aéreas domésticas são atendidas por
companhias nacionais, mas a exploração da maior parte das linhas internacionais
está em mãos de empresas estrangeiras. Pequim, Xangai e Cantão possuem
aeroportos internacionais.
Na China, o comércio exterior é monopólio do
estado. Durante o regime maoísta reduziram-se ao mínimo as transações com o
estrangeiro, mas essa situação mudou progressivamente após a morte do
presidente Mao. Até 1969, o maior volume de trocas era com os países
socialistas. Desde 1970, porém, os maiores fornecedores são o Japão, Hong Kong,
a Europa ocidental e os Estados Unidos. O comércio com o Terceiro Mundo está
vinculado à ajuda financeira e técnica que a China presta aos países em
desenvolvimento.
Os chineses importam dos países desenvolvidos
bens de capital (às vezes fábricas completas), fertilizantes, trigo e
matérias-primas (algodão, lã e cobre). Em contrapartida, vendem matérias-primas
(soja, antimônio, tungstênio e seda natural), produtos alimentícios (chá, carne
de porco) e manufaturas destinadas a países do Terceiro Mundo (maquinaria,
tecidos e produtos farmacêuticos).
História
A civilização chinesa tem uma longa história,
cuja principal característica foi, até o século XIX, a imutabilidade de
determinados elementos como o cultivo de cereais, a escrita, a importância da
família ou o culto aos antepassados. Assim como outros povos da antiguidade, os
chineses pensavam que a melhor forma de viver não consistia em modernizar-se,
mas em repetir arquétipos do passado.
Pré-história.
Sítios paleontológicos de Zhou Koudian (Chou
Kou-tien), próximo de Pequim, demonstram a presença de hominídeos primitivos,
os chamados sinantropos, há mais de 200.000 anos.
São pouco documentadas as origens da civilização
chinesa. Na Mongólia e na Manchúria desenvolveu-se uma cultura mesolítica de
caçadores e agricultores no período pós-glacial. Em Linxia e Chifeng apareceram
as primeiras colônias agrícolas sedentárias. No início do quarto milênio antes
da era cristã, surgiu na fértil região do vale do Amarelo a civilização
neolítica de Yangzhou, caracterizada pela pintura em cerâmica, pelo
aperfeiçoamento das técnicas agrícolas (cultivo de cereais) e pela domesticação
de animais.
Primeiras dinastias.
No começo do segundo milênio antes da era cristã,
a China entrou na idade do bronze. A descoberta desse metal teve conseqüências
importantíssimas. Formou-se uma vasta civilização caracterizada pela divisão da
sociedade entre os nobres, habitantes das cidades-palácios, e os camponeses. A
nobreza reconhecia a autoridade de um soberano, embora o poder deste, na
prática, se limitasse ao campo religioso. Assim surgiu a primeira dinastia
conhecida, denominada Shang (séculos XVIII-XII a.C.), da qual se tem notícia
pelas inscrições encontradas nas escavações de Anyang. Essa dinastia,
enfraquecida pela pressão dos povos vizinhos, foi substituída entre os séculos
XII e III a.C. pela dinastia Zhou (Chou), que transferiu a capital para
Luoyang, na região de Henan (Honan).
Desde o século VIII a.C., a vasta civilização
chinesa já ocupava o curso médio do rio Amarelo. Esse amplo território era de
dificílimo controle. A unidade cultural do início viu-se ameaçada pelas
tendências desagregadoras dos principados periféricos e pela pressão dos povos
bárbaros vizinhos, sobretudo os do norte, os mongóis, pois os do sul foram
vencidos e assimilados. Graças à descoberta do ferro foi possível conter as
hordas que ameaçavam as fronteiras.
As guerras desse período vieram acompanhadas de
grande florescimento cultural. Foi nessa época que surgiram as duas principais
correntes filosóficas da China: o confucionismo, que ressaltava os princípios
morais, e o taoísmo, criado por Laozi (Lao-tzu ou Lao-tsé), que defendia uma
vida em harmonia com a natureza. Outra escola importante foi a de Mêncio (em
chinês Mengzi, Mengtse ou Meng Ko), que destacava a importância da educação
como meio para aperfeiçoar a natureza humana.
Primeira unificação chinesa: dinastias Qin e Han.
Os últimos reis Zhou viveram retirados em Luoyang. Entre os anos 230 e 221
a.C., o estado de Qin (ou Ch'in) destronou a dinastia Zhou e se impôs aos
príncipes locais. Embora de curta duração (221-206 a.C.), a dinastia Qin foi de
vital importância para a China, pois lançou as bases de um império que haveria
de se manter durante mais de dois milênios.
O império consistia em um território unificado
sob controle religioso e político de um
soberano. Mas a dispendiosa política defensiva e centralizadora dos Qin
(construção da Grande Muralha, estradas) provocou uma sublevação generalizada
da qual saiu vencedor o proprietário de terras Liu Pang, que impôs sua
autoridade e fundou a dinastia Han (206 a.C.-220 da era cristã). A política
dessa dinastia se voltou para o fortalecimento do poder real, o que tornava
imprescindível enfraquecer os príncipes feudais. O governo central apoiava-se
em um funcionalismo fiel; este provinha de um corpo de letrados recrutados
mediante concurso.
A dinastia Han coincidiu com um período de
expansão comercial e agrícola que se manifestou pela rotação de culturas, pela
realização de numerosas obras hidráulicas, pela formação de uma classe
mercantil e pela substituição da antiga aristocracia por um grupo de
proprietários de terras mais dinâmicos. Os Han também adotaram uma política
expansionista que resultou na conquista do norte da Coréia, da região de Mu Us
e da zona meridional até Cantão. No campo ideológico, essa dinastia fez do
confucionismo a doutrina oficial do estado; as idéias de Confúcio, ensinadas nas
escolas, eram matéria exigida nos concursos ao funcionalismo.
No fim do século II da era cristã, as sublevações
populares, de inspiração taoísta, e os ataques dos nômades instalados nas
fronteiras norte-ocidentais obrigaram o imperador a entregar o poder a
militares e proprietários de terras nas regiões vizinhas.
Fragmentação do império chinês.
A época compreendida entre os anos 220 e 589 é
conhecida como a dos três reinos e das seis dinastias. Nesse período, a China
sofreu divisões internas e o ataque de diversos povos nômades (tibetanos,
turcos e mongóis). Alguns desses povos estabeleceram-se no vale do Amarelo, o
que provocou uma intensa emigração para o curso inferior do Yangzi, onde se
produziu uma fecunda fusão cultural. O delta desse rio tornou-se uma próspera
região agrícola, baseada nas culturas de arroz e chá. No âmbito religioso,
difundiram-se o budismo e o taoísmo.
Segunda unificação: dinastias Sui e Tang. Em 581,
Yang Jian, alto funcionário do reino Zhou do norte, conseguiu submeter à sua
autoridade a região do sul, depois da conquista de Nanquim (Nanjing). Assim, a
nova dinastia, denominada Sui, reunificou o país depois de três séculos de
fragmentação política, econômica, cultural e lingüística. Durante esse período,
construiu-se o grande canal que uniu o Yangzi ao Amarelo.
Os reveses nas guerras contra coreanos e turcos
precipitaram a queda da dinastia. Li Yuan, comandante dos exércitos do norte,
aproveitou o desencadeamento de uma revolta na região oriental para assassinar
o imperador e tomar o poder. A nova dinastia, a Tang (618-907), continuou a
obra reunificadora iniciada pelos Sui. Os Tang reorganizaram a administração,
derrotaram turcos e coreanos e conquistaram o Tibet. Durante essa época, a
China conheceu grande desenvolvimento artístico (poesia e pintura) e científico
(cartografia e matemática) e entrou em contato com outras civilizações, como a
japonesa, a coreana, a indiana e a árabe. O período de florescimento cultural e
de expansão territorial da dinastia Tang terminou com a derrota chinesa frente
aos árabes em 751, na fronteira norte-ocidental. A partir desse momento,
começou uma fase de decadência e esta resultou em nova fragmentação que
sobreveio à queda dos Tang, em 907. O período das cinco dinastias e dos dez
estados, entre 907 e 960, caracterizou-se pelo caos político, embora tenha
havido um importante desenvolvimento científico que se plasmou na invenção da
imprensa.
Nova divisão: a dinastia Song e a invasão mongol.
A partir de 960, a dinastia Song (Sung) reorganizou o país impondo reformas
tributárias que aliviaram a situação econômica dos camponeses e favoreceram o
comércio. Nessa época houve grande desenvolvimento cultural, com a difusão de
textos impressos e a renovação das doutrinas confucionistas. Contudo, a nova
dinastia perdeu o controle do nordeste do império. No século XI, a China ficou
dividida em duas zonas: a metade meridional, ocupada pelos Song; e a metade
setentrional, em poder do reino mongol de Kitan. No século seguinte, os Ruzhen
(Juchen) estabeleceram o reino Jin (Chin) na China setentrional, onde se
mantiveram até a chegada dos mongóis.
Em 1206, Gengis Khan consolidou seu poder sobre
as tribos mongóis das estepes do lago Baikal. Cinco anos depois, invadiu a
China. Com a derrota definitiva dos Jin em 1234, os mongóis continuaram seu
avanço para o sul em 1250. A parte meridional do país, controlada pela dinastia
Song, resistiu com denodo, mas finalmente, em 1279, todo o território chinês
ficou sob a autoridade de uma dinastia estrangeira, a dos Yuan (Yüan). O neto
de Gengis Khan, Kublai-Khan (ou Kubilay-Khan), transferiu a capital para
Khanbaliq (a futura Pequim). Durante essa época o comércio foi favorecido pelo
controle da zona ocidental, que abriu as rotas para a Ásia central e a Europa.
A abertura dessas rotas permitiu a chegada das idéias européias por meio de
viajantes como Marco Polo e Giovanni da Montecorvino.
Dinastia Ming.
Não durou muito o imenso império mongol,
assimilado à sociedade e à cultura chinesas. Em meados do século XIV, uma
revolta camponesa transformou-se em guerra de libertação contra os mongóis,
cujo último imperador foi derrubado em 1368, quando o monge budista Zhu
Yuanzhang (Hongwu) fundou a dinastia Ming. Durante esse período aumentou a
atividade marítima. As embarcações chinesas chegavam à Arábia e até mesmo à África oriental.
Floresceram as belas-artes (arquitetura, cerâmica) e multiplicaram-se os
contatos com o exterior. No fim do século XVI os portugueses instalaram-se em
Macau e vieram muitas missões jesuíticas. A partir do fim desse século, os
ataques de piratas japoneses geraram grande instabilidade, que foi aproveitada
pelos manchus, descendentes dos Juchen da Manchúria, que conquistaram todo o
império em 1644.
Dinastia manchu dos Qing.
Até o fim do século XVIII, a China experimentou
grande florescimento sob a nova dinastia Qing (Tsing) manchu. O império logrou
sua máxima expansão territorial: pacificou-se o Tibet e os mongóis foram
derrotados; o Annam (o futuro Vietnam), Myanmar e o Nepal reconheceram as
fronteiras meridionais da China; e Formosa foi conquistada em 1680.
A introdução de novas culturas, como a do milho
e do tabaco, favoreceu o desenvolvimento
agrícola, e o comércio expandiu-se com o estabelecimento de colônias européias
(portuguesas, holandesas e britânicas). Além disso, a população cresceu muito:
passou de 150 milhões de habitantes em 1600 para 400 milhões no começo do
século XIX.
Com o fim do século XVIII, porém, a China entrou
em um período de crise econômica, política e social. Dessa vez, a ameaça para a
dinastia manchu e para a China tradicional viria da Europa, que pretendia
aumentar sua penetração comercial nesse país, contra a vontade dos imperadores.
A instabilidade política interna, fruto da crise econômica, serviu de brecha
aos europeus para forçarem a abertura dos portos chineses ao comércio.
Em 1839, os ingleses aproveitaram a destruição de
um carregamento de ópio (mercadoria que introduziam na China a partir da Índia)
para declarar guerra à dinastia manchu. A chamada guerra do ópio terminou com a
derrota chinesa. Os ingleses forçaram o Tratado de Nanquim (1842), pelo qual os
chineses se comprometiam a abrir ao comércio britânico cinco portos, entre os
quais os dois mais importantes do país, Xangai e Cantão, e além disso cediam o de
Hong Kong.
Nos anos seguintes, prosseguiu a instabilidade
interna. Em meados da década de 1850, sucederam-se os levantes muçulmanos das
regiões de Xinjiang e Yunnan; e, em 1853, o movimento Taiping, de cunho
religioso e milenarista, conquistou Nanjing e tentou expandir seu poder pelo
norte da China. Uma intervenção militar franco-britânica obrigou o governo
chinês a fazer novas concessões. Pelo Tratado de Pequim, firmado em 1860,
abriram-se 11 outros portos no país e ofereceram-se mais vantagens aos estrangeiros.
A China, agora aberta ao comércio, tornou-se presa dos interesses europeus. O
império cedeu aos franceses o território vassalo do Vietnam e aos japoneses a
ilha de Formosa e a península da Coréia.
Em reação à política imperialista praticada pelas
potências ocidentais e pelo Japão, os círculos nobiliárquicos próximos da
imperatriz Cixi (Tzu-hsi, Tse-hi) fomentaram motins xenófobos que chegaram ao
auge em 1900, quando os boxers (membros de uma sociedade secreta contrária à
penetração ocidental), sitiaram as legações européias em Pequim. Sobreveio a
intervenção conjunta de forças americanas, alemãs, inglesas, francesas, russas
e japonesas, que libertaram as legações e obrigaram a imperatriz a acatar
condições de comércio favoráveis aos estrangeiros.
A região da Manchúria, objeto de disputa entre a
Rússia e o Japão, caiu finalmente em poder dos japoneses depois da guerra de
1904-1905 entre esses dois países. As concessões feitas pelo governo chinês aos
japoneses, junto com a eliminação dos boxers, abalaram a já agonizante
autoridade da dinastia Qing.
Revolução de 1911 e república.
A partir do início do século, a dinastia manchu
realizou uma tímida abertura que não agradou a nenhum setor da sociedade. Em
1911, a oposição dirigida por Sun Yixian (Sun Yat-sen), fundador do partido
nacionalista conhecido como Guomindang (Kuomintang), tomou o poder com o apoio
dos estudantes e dos trabalhadores urbanos.
Em outubro de 1911, explodiu o movimento
revolucionário. Em fevereiro do ano seguinte abdicou o último imperador manchu,
Xuantong (Hsuang-tung). Sun Yixian, primeiro presidente da república chinesa,
renunciou nesse mesmo mês em favor do general Yuan Shikai, figura mais
aceitável para o Ocidente. A constituição democrática de 1913 não chegou a
entrar em vigor, porque Yuan tornara-se um ditador. Sua morte, em 1916,
inaugurou um período de guerras civis, situação que os japoneses aproveitaram
para apoderar-se das possessões alemãs na China (Shandong e Qingdao).
Em 1923, Sun Yixian obteve o apoio soviético em
troca do compromisso de aliar-se ao recém-fundado Partido Comunista Chinês de
Mao Zedong (Mao Tsé-tung) e Chen Duxiu. Sun conquistou Cantão e deu início a
importantes reformas políticas e sociais. Morreu em 1925 e teve por sucessor o
general Chiang Kai-shek (Jiang Jieshi em pinyin), que tomou o poder em um golpe
de estado e rompeu com os comunistas. Entre 1926 e 1927, Chiang derrotou os
generais, que se haviam tornado senhores regionais, e unificou o país. Em
seguida iniciou a perseguição aos comunistas, provocando a segunda guerra civil
(1927-1936). Os comunistas foram dizimados entre 1927 e 1930, depois de uma
série de insurreições fracassadas. Em 1931, porém, Mao e Lin Biao (Lin Piao) se
apoderaram do sul de Jiangxi, onde fundaram uma república do tipo soviético. Os
ataques dos nacionalistas forçaram Mao a retirar suas tropas. Estas, entre
outubro de 1934 e outubro de 1935, percorreram dez mil quilômetros rumo ao
interior do país (a longa marcha), atingindo as áridas terras de Xanan, na
região de Shaanxi.
Enquanto isso, em 1931, os japoneses aproveitaram
a guerra civil para forçar Chiang Kai-shek a entregar-lhes a Manchúria (1931),
Xangai (1932) e o território de Jehol, no norte (1933). Ante a política de
concessões de Chiang, que ameaçava transformar a China em um protetorado
japonês, multiplicaram-se os protestos, o que obrigou o governo nacionalista a
enfrentar os invasores. Em 1936, os japoneses tomaram Pequim e outras grandes
cidades. Um ano depois, Chiang pediu a colaboração dos comunistas para expulsar
os japoneses. A guerra, que só foi declarada em 1941, começou com um rápido
avanço japonês para a Indochina. O desenvolvimento da segunda guerra mundial
enfraqueceu as posições japonesas na China. As tropas comunistas desse país
ampliaram seu domínio sobre o norte e o leste, enquanto Chiang Kai-shek tinha
de enfrentar graves problemas políticos e econômicos na zona sob seu controle.
Em 1945, com a capitulação japonesa, reacendeu-se
a guerra civil. Chiang Kai-shek contava com um exército mais bem aparelhado e
com apoio americano. Mao, porém, gozava
de maior prestígio e do apoio soviético. Em 1947, beneficiando-se da excessiva
dispersão das tropas nacionalistas, o exército comunista lançou-se à ofensiva e
conquistou todo o norte da China. Ao mesmo tempo, a negativa do governo
nacionalista de promover reformas e acabar com a corrupção atraiu para Mao o
apoio de grande parte da burguesia e dos intelectuais da zona controlada por
Chiang Kai-shek. Depois de uma série de campanhas vitoriosas, em 1949 o
exército comunista tomou Nanquim e Xangai e, em outubro do mesmo ano, Mao
proclamou a República Popular da China. No início de 1950, estava conquistado
todo o país, à exceção da ilha de Formosa (Taiwan), onde Chiang Kai-shek
constituiu um governo nacionalista que, até a década de 1970, foi reconhecido
como legítimo representante do povo chinês pelas potências ocidentais.
República popular.
Durante os três primeiros anos do novo regime,
presidido por Mao e com Zhou Enlai como primeiro-ministro, a China entrou numa
fase de transformação econômica. Manteve-se o setor privado na indústria e, ao
mesmo tempo, decretou-se uma reforma agrária.
Por outro lado, o novo estado socialista alinhou
sua política externa com a da União Soviética e a dos países europeus do bloco
soviético. Na Ásia, invadiu o Tibet em 1950 e logo enfrentou disputas com
outros países vizinhos, como a Índia e o Paquistão. Em 1950, os chineses
intervieram na guerra da Coréia apoiando o governo comunista do norte contra o
do sul, respaldado pelas Nações Unidas.
Em 1952, a reforma agrária acabara com o sistema
latifundiário e a economia se estabilizara. O governo nacionalizou as
instituições financeiras e comerciais e, em 1953, pôs em marcha o primeiro
plano qüinqüenal, inspirado no modelo soviético. O objetivo era acelerar o
processo de industrialização e incrementar a produção, formando cooperativas
agrícolas e industriais.
Em 1954 foi aprovada a primeira constituição do
novo regime, que definia a China como um estado socialista, estruturado segundo
os princípios do centralismo democrático. Em maio de 1956, iniciou-se a
"campanha das cem flores", que pretendia estimular a crítica dos
erros do regime à luz dos postulados do marxismo-leninismo. Isso serviu para
catalisar a insatisfação de alguns setores, o que obrigou a direção do partido
a lançar uma nova campanha ideológica de cunho antidireitista.
Em 1958, os resultados favoráveis do primeiro
plano qüinqüenal estimularam os governantes a iniciar um ambicioso segundo plano, que ficou
conhecido como "o grande salto para a frente". Esse plano, que
pretendia acelerar a implantação da sociedade comunista, abandonou o modelo
soviético de progresso gradual e procurou alcançar seus objetivos mobilizando
as massas. Os cidadãos eram enquadrados em comunas populares, em que a vida se
tornava coletivizada em todos os seus aspectos. O resultado foi um fracasso
contundente. Paralelamente, surgiram graves problemas internos e externos. Em
1959 houve uma sublevação no Tibet e, um ano depois, a China rompeu relações
com a União Soviética. A ruptura teve dupla origem: a luta pela hegemonia na
direção do movimento comunista internacional e as disputas territoriais ao
longo da fronteira comum.
Também o partido estava dividido em duas facções:
a primeira, que defendia a pureza ideológica do comunismo chinês, era
representada por Mao e Lin Biao e apoiada pelo exército; a segunda, favorável a
uma postura tecnocrática, tinha como líderes Liu Shaoqi (Liu Shao-chi,
presidente do estado desde 1959, após a renúncia de Mao) e Deng Xiaoping (Teng Hsiao-ping)
e contava com o apoio dos sindicatos. O triunfo do setor ideológico mais
radical materializou-se em 1966 com a campanha "anti-revisionista",
denominada revolução cultural, que serviu para depurar o partido e afastar do
poder os elementos moderados (Deng e Liu) e estimular o espírito revolucionário
do povo. A revolução cultural paralisou o progresso material e tecnológico do
país. Mesmo assim, a China detonou em
1967 sua primeira bomba de hidrogênio e em 1970 pôs em órbita seu primeiro
satélite artificial.
A direção política e militar do país parecia
consolidada e unificada em 1970. Todavia, em 1971 Lin Biao, vice-presidente do
Partido Comunista e provável sucessor de Mao, opôs-se à política de abertura
aos Estados Unidos preconizada por Zhou Enlai. Poucos meses depois, acusado de
organizar uma conspiração, morreu na queda do avião em que fugia para a União
Soviética. Seu cargo passou para Zhou, que reabilitou algumas figuras políticas
pragmáticas, como Deng Xiaoping.
Na década de 1970, a política internacional da
China se orientou no sentido da distensão e da moderação. Essa nova postura
criou condições para o ingresso do país nas Nações Unidas (outubro de 1971) e
para a normalização das relações diplomáticas com muitos países capitalistas.
Além disso, favoreceu a aproximação com os Estados Unidos, confirmada com a
visita do presidente Nixon à China em 1972.
Em 1975 promulgou-se uma nova constituição,
inspirada nos princípios da revolução cultural. Nesse mesmo ano começou uma
nova campanha anti-revisionista, que culminou em abril de 1976 com a
destituição de Deng Xiaoping, cujo protetor político, Zhou Enlai, tinha morrido
em janeiro. O cargo de Zhou - primeiro-ministro, na prática o segundo posto em
importância no país - foi ocupado por Hua Guofeng (Hua Kuo-feng).
Em 9 de setembro de 1976 morreu Mao Zedong,
"o grande timoneiro". Um mês depois, Hua, o novo homem forte do país,
encarcerou os elementos mais esquerdistas do regime, o chamado "bando dos
quatro" ou "camarilha dos quatro", entre os quais estava Jiang
Qing (Chiang Ching), a última esposa de Mao. Hua abandonou as críticas ao
revisionismo e reabilitou Deng Xiaoping. A China entrava em uma era mais
pragmática.
Pós-maoísmo.
A quinta Assembléia Popular Nacional, realizada
em 1978, promulgou uma nova constituição e confirmou a revisão da doutrina
maoísta. Na esfera econômica, o primado cabia à eficiência, e no campo
político, consolidava-se a tendência à distensão com os países ocidentais e ao
confronto com a União Soviética. No mesmo ano, Hua foi confirmado presidente do
partido.
A modernização e a liberalização iniciadas após a
morte de Mao fortaleceram-se, enquanto Hua Guofeng perdia prestígio. Em 1980,
ele cedeu o cargo de primeiro-ministro a Zhao Ziyang (Chao Tzu-yang), íntimo
colaborador de Deng Xiaoping, e no ano seguinte teve de renunciar à presidência
do partido em favor de Hu Yaobang, outro protegido de Deng. Transformado em
homem forte do regime, embora se mantivesse no cargo secundário de
vice-presidente do partido, Deng promoveu a promulgação de uma nova
constituição em 1982 e acelerou o processo de liberalização. O cargo de
presidente do partido, criado por Mao, foi abolido e Hu Yaobang tornou-se
secretário-geral.
A abertura traduziu-se em acordos destinados a
acabar com os enclaves coloniais que ainda existiam em território chinês. Um
convênio assinado em 1985 com o Reino Unido devolveria Hong Kong à jurisdição
chinesa em 1997, embora Pequim se comprometesse a respeitar até o ano de 2047 o
sistema capitalista desse enclave. Em 1987, firmou-se com Portugal acordo
semelhante, devolvendo Macau à administração chinesa.
Contudo, o processo modernizador chinês logo
enfrentou dificuldades. Os jovens passaram a reivindicar mais democracia.
Atacado pelos tradicionalistas, Hu Yaobang renunciou em 1987 à secretaria-geral
do partido e foi substituído por Zhao Ziyang. Li Peng, defensor da linha dura,
tornou-se primeiro-ministro.
Em 1989, milhares de jovens ocuparam a praça da
Paz Celestial (Tiananmen), em Pequim, exigindo mais democracia. Após um momento
de indecisão, as forças armadas atacaram os manifestantes, causando centenas de
vítimas. Zhao Ziyang, acusado de simpatizar com o movimento em favor da
democracia, foi substituído por Jiang Zemin. Li Peng manteve-se no cargo de
primeiro-ministro.
Instituições políticas
Sistema político.
A forma de governo da China ficou definida na
constituição de 1954. As constituições posteriores (1975, 1978, 1982) só
modificaram aspectos secundários, sem alterar a natureza do sistema político.
Segundo a constituição, a China é um estado socialista. O poder legislativo
cabe à Assembléia Popular Nacional, cujos membros são eleitos por sufrágio
universal de cinco em cinco anos. A Assembléia se reúne uma vez por ano; seu
presidente exerceu as funções de chefe de estado de 1976 a 1982, período em que
vagou o cargo de presidente da república, que é meramente cerimonial. O poder
executivo cabe ao Conselho de Assuntos do Estado, composto por um gabinete
ministerial presidido por um primeiro-ministro.
Boa parte do poder político concentra-se nas mãos
do Partido Comunista; a constituição confere-lhe papel central na direção do
povo chinês. Formalmente, a liderança do partido cabe ao comitê central, cujos
membros elegem o Politburo, órgão máximo do poder. Em 1982, aboliu-se o cargo
de presidente do partido, substituído pelo de secretário-geral. Na prática, o
poder efetivo esteve ora em mãos do presidente ou do secretário-geral do
partido, como em alguns períodos do regime de Mao, ora em mãos do
primeiro-ministro, conforme ocorreu com Zhou Enlai durante alguns anos. Foi
exercido até mesmo pelo ocupante de um cargo secundário do partido, caso de
Deng Xiaoping.
Administração territorial. Na organização
territorial do estado chinês coexistem três níveis administrativos: as 21
províncias, as cinco regiões autônomas (a Mongólia Interior, o Tibet, Xinjiang,
Ningxia e Qinghai) e as três municipalidades (Pequim, Xangai e Tianjin).
Apesar de suas dimensões e da diversidade de
povos que a habitam, a China não é um país federativo, mas um "estado
multinacional unitário", expressão que, sob uma suposta liberdade de ação
local, encobre um férreo centralismo administrativo, característico da milenar
tradição imperial.
As províncias e as regiões autônomas se
subdividem em prefeituras, distritos e municípios. Em todos esses níveis
existem assembléias populares que elegem os órgãos locais ou de base, cujos
membros, por sua vez, escolhem os componentes das instituições de nível
superior, e assim por diante. Cada assembléia
nomeia um comitê permanente que a representa nos intervalos entre as
sessões e assume a administração de sua circunscrição.
Sociedade
O nível de vida dos chineses é baixo: no fim da
década de 1980, sua renda per capita não chegava a 500 dólares anuais. Mas as
condições de vida na China melhoraram muito a partir da revolução de 1949 (fim
da fome generalizada, progressos na saúde e no ensino), apesar das limitações
econômicas que uma população de mais de um bilhão de habitantes traz para uma
sociedade baseada na agricultura.
Educação.
Com a instauração do comunismo, o sistema
educativo chinês sofreu diferentes mudanças, determinadas pelas alterações
políticas. Apesar disso, mantiveram-se duas constantes: a tentativa de
minimizar a separação entre trabalho manual e intelectual e a ideologização do
ensino. A partir de 1977, o radicalismo da revolução cultural foi substituído
por modelos educativos mais tradicionais; paralelamente ganharam estímulo a
seletividade e a especialização nos níveis superiores de ensino.
A alfabetização, ainda incompleta, acelerou-se,
graças à adoção do dialeto pequinês como língua unificadora e à simplificação
da escrita ideográfica tradicional. O ensino está organizado em ciclos de
quatro a cinco anos, exceto o pré-escolar, que vai dos três aos seis anos de idade.
O ensino superior é ministrado em instituições universitárias e técnicas. Dá-se
também grande importância à formação profissional, ministrada em centros cujos
alunos trabalham durante uma parte do dia.
Religião.
Embora a constituição chinesa garanta a liberdade
religiosa, a política do governo não incentiva a prática dos diferentes cultos.
O confucionismo e o budismo são as religiões mais difundidas. Esses cultos às
vezes se superpõem, pois o confucionismo é uma doutrina moral e filosófica, sem
liturgia nem clero, cuja intenção é impregnar a vida de um conteúdo ético. A
partir de 1978, coincidindo com o abandono oficial dos princípios ideológicos
do maoísmo, interpretação particular do marxismo-leninismo, o governo estimulou
a revitalização do confucionismo, doutrina de caráter conservador na esfera
política.
O taoísmo, originalmente limitado a um sistema
filosófico, tornou-se uma religião autóctone com ritual estabelecido. O islamismo, introduzido
na China em meados do século VII, acha-se difundido entre as comunidades turcas
do Uigur e Hui. A influência do lamaísmo limita-se ao Tibet. A evangelização
cristã da China começou muito cedo; religiosos nestorianos foram para lá no
século VII, e no fim do século XIII o franciscano Montecorvino tornou-se arcebispo de Pequim. Em fins do
século XVI, a evangelização foi contínua, embora seu avanço mais importante
tenha vindo com a penetração ocidental do século XIX. O governo da China
popular combateu o cristianismo por considerar essa religião uma influência estrangeira
negativa.
Cultura
Isolada quase totalmente durante milênios, a
civilização chinesa caracteriza-se pela originalidade e pela permanência de
suas formas culturais. Sua ascendência sobre outras culturas asiáticas,
sobretudo a japonesa, foi transcendental.
Pensamento.
A China é um país com antiga e rica tradição no
campo do pensamento. A filosofia teve duas vertentes que se desenvolveram com
variações ao longo de toda a história: a idéia de mutabilidade e de permanência
da natureza, que se explica a partir da doutrina dos princípios do yin e do
yang, ao mesmo tempo opostos e complementares, e o fundamento ético do homem.
Tais idéias se manifestaram nas três escolas mais importantes da China, que
floresceram entre os séculos V e III a.C.: o confucionismo, o taoísmo e o
legalismo. Essas doutrinas, com variantes, predominaram no país até o fim do
século XIX, quando a penetração estrangeira introduziu as correntes do
pensamento ocidental.
Depois da revolução de 1949, a filosofia
dominante foi o chamado maoísmo, uma vertente do marxismo-leninismo
desenvolvida por Mao Zedong, à luz da qual se interpretava a história chinesa
como uma síntese entre as concepções tradicionais e os princípios fundamentais
do marxismo. Depois da morte de Mao, não se repudiou o maoísmo na teoria,
embora, na prática, se tenham abandonado muitos de seus princípios.
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