Maior país da
América Central, malgrado a pequenez de seu território, a Nicarágua é um
exemplo típico dos males e esperanças compartilhados por outras nações da América
Latina: um passado atormentado por guerras civis, intervenções estrangeiras e
pobreza, e um presente de muitas incertezas quanto ao futuro.
A Nicarágua,
com uma superfície de 131.670km2, limita-se ao norte com Honduras, ao sul com a
Costa Rica, a leste com o mar do Caribe, parte do Atlântico, e a oeste com o
Pacífico.
Geografia
física
Geologia e
relevo. De sudeste para noroeste, a Nicarágua é atravessada por um trecho da
cordilheira Centro-Americana, formada por dobramentos do período terciário.
Suas ramificações recebem nomes locais, como as cordilheiras Isabelia e
Dariense, no centro-norte, e Huapí, Amerrique e Yolaina, no sudeste. As
montanhas são mais altas no norte, e o pico Mogotón (2.103m), na cordilheira
Entre Ríos, é o ponto culminante do país. A atividade sísmica é freqüente no
país, com terremotos às vezes devastadores.
Junto ao
litoral do Pacífico, há uma faixa montanhosa com cerca de quarenta vulcões,
alguns ativos. Os mais altos são o San Cristóbal (1.780m), o Concepción
(1.557m) e o Momotombo (1.360m). Entre os vulcões e as cordilheiras do centro
do país há uma zona baixa com numerosos lagos, entre eles o Manágua e o
Nicarágua.
A região leste
do país é constituída de planícies e planaltos erodidos, formados
principalmente de sedimentos recentes. No litoral atlântico, na chamada Costa
dos Mosquitos, são muitos os manguezais e as lagunas.
Clima. A
Nicarágua apresenta clima tropical, de temperaturas altas durante todo o ano. A
média anual, de 27o C no litoral do Pacífico e 26o C no do Atlântico, só
decresce (18o C) nas montanhas do norte. A média de precipitações é de 1.910mm
por ano no oeste, onde a estação seca vai de dezembro a abril. A costa
atlântica, devido aos ventos alísios de nordeste, apresenta totais
pluviométricos muito elevados, que chegam a 6.588mm anuais em San Juan del
Norte. A estação seca na região dura apenas de março a maio.
Hidrografia.
Afora o Negro e o Estero Real, poucos rios se destacam na vertente do Pacífico.
A do Atlântico tem cursos mais longos e caudalosos, entre eles os rios Coco,
Prinzapolca, Grande de Matagalpa, Escondido e San Juan.
O oeste é uma
região de muitos lagos. O Nicarágua (8.157km2), o maior da América Central,
separa-se do Pacífico por uma faixa de 18km no ponto mais estreito, e deságua
no Atlântico pelo rio San Juan, que nele nasce. Possui numerosas ilhas, entre
elas a de Ometepe, com o vulcão Madeiras, e liga-se ao lago Manágua (1.049km2)
pelo rio Tipitapa. Outros lagos são o Apoyo, Jiloá e Tiscapa, todos de origem
vulcânica.
Flora e fauna.
A floresta tropical recobre a porção oriental do país. Espécies subtropicais
aparecem nos planaltos. No oeste, predominam a floresta tropical decídua e as
savanas.
Crocodilos,
tartarugas, lagartos e cobras habitam as zonas quentes e úmidas. Nas florestas
encontram-se cervídeos, macacos, caititus e felinos como o puma e a onça. Há
grande variedade de aves terrestres e aquáticas, roedores e insetos.
População
A maior parte
dos habitantes da Nicarágua é formada por mestiços, sobretudo os de índios com
brancos. Há minorias de brancos, de negros, estes sobretudo no litoral do
Caribe, e de índios remanescentes dos povos ameríndios. A população,
desigualmente distribuída, concentra-se na área dos lagos, onde estão as
maiores cidades e indústrias.
Manágua, a
capital, é a maior cidade do país. Outros centros urbanos importantes são León,
Masaya, Granada e Chinandega, no oeste; Matalgalpa, Estelí, Juigalpa e
Jinotega, nas montanhas do centro da Nicarágua; e, no litoral do Caribe,
Bluefields e Puerto Cabezas.
O idioma
oficial é o espanhol. Alguns grupos comunicam-se em inglês ou em línguas
indígenas. (Para dados demográficos, ver DATAPÉDIA.)
Economia
Agricultura,
pecuária e pesca. A economia da Nicarágua é basicamente agrícola. Os produtos
mais importantes, em grande parte destinados à exportação, são café e algodão.
Também se cultivam milho, cana-de-açúcar, sorgo, banana, arroz e trigo.
A pecuária é
uma fonte importante de couro, carne e laticínios no oeste e de carne no leste.
O setor expandiu-se após a segunda guerra mundial, mas os conflitos da década
de 1980 alteraram essa tendência, pois muitos fazendeiros reduziram seus
rebanhos ou se fixaram em países vizinhos. A expansão da silvicultura também se
interrompeu como conseqüência desses conflitos. A pesca oceânica, fluvial e lacustre
emprega técnicas tradicionais.
Energia e
mineração. A Nicarágua tem grande potencial hidrelétrico e sua mais importante
usina é a do rio Tuma. Há jazidas de minério de ferro, chumbo e cobre, entre
outros minerais, mas as únicas atividades extrativas importantes são a do ouro
e -- em menor proporção -- a do cobre.
Indústria.
Pouco industrializada, a Nicarágua produz sobretudo alimentos e bebidas: açúcar
refinado, óleos vegetais, cerveja e rum. Também possui refinarias de petróleo e
indústrias têxteis.
Transportes. O
sistema de transporte se concentra no oeste do país. Estradas interligam a
maioria das cidades, mas algumas ficam intransitáveis na época das chuvas. A
rodovia Pan-Americana atravessa o país e o liga a Honduras e Costa Rica. O
sistema ferroviário conecta as cidades de Corinto, Chinandega, León, Manágua,
Masaya e Granada.
A navegação,
intensa nos lagos e entre as ilhas interiores, também é praticada em alguns
rios. Os principais portos marítimos são San Juan del Sur e Puerto Sandino, no
Pacífico, e Puerto Cabezas e Bluefields, no Caribe. O principal aeroporto fica
a 11km de Manágua. Puerto Cabezas também tem aeroporto.
História
À época da
descoberta, habitavam a costa do Pacífico índios de cultura nahua (asteca), os
nicaraos, de cujo nome deriva a palavra Nicarágua. Na costa leste viviam os
mosquitos, de cultura chibcha.
Descoberta e
fase colonial. Em sua última viagem à América, Cristóvão Colombo chegou à foz
do rio San Juan em 16 de setembro de 1502. Em 1522, Gil González Dávila, vindo
do Panamá, chegou a atravessar o lago Nicarágua, mas foi expulso pelos nativos.
A colonização só se iniciou em 1524, com a vinda de Francisco Hernández de
Córdoba -- preposto de Pedrarias Dávila, governador do Panamá --, que fundou as
cidades de Granada e León.
Pedrarias foi
nomeado governador da Nicarágua em 1527. Em seguida, a colônia passou
sucessivamente da jurisdição da audiência de Panamá à de Los Confines, Honduras
e, em 1570, à da Guatemala. Após um breve ciclo de extração de ouro, a economia
progrediu lentamente. Logo surgiu uma intensa rivalidade entre as cidades
coloniais de León, sede administrativa e centro intelectual liberal, e Granada,
centro agrícola de aristocracia conservadora, enriquecida pelo comércio com a
Espanha, feito pelo rio San Juan.
Entre os
séculos XVI e XVII, ambas as cidades coloniais foram vítimas de ataques de
piratas. No fim do século XVIII, a Grã-Bretanha exercia um virtual protetorado
sobre índios e zambos do litoral do Caribe, onde se criara a comunidade de
Bluefields. Apesar dos ataques e de alguns terremotos devastadores, a colônia
prosperou nesse período. Em 1786, as províncias da Nicarágua, da Costa Rica e a
alcaidaria-mor de Nicoya foram reunidas para constituir a intendência da
Nicarágua.
Independência.
Por influência dos movimentos revolucionários do México e de El Salvador, em
1811 ocorreu em León e estendeu-se a Granada uma revolta, dominada sem muita
violência. Em 1821, a capitania geral da Guatemala proclamou-se independente.
Granada manteve-se integrada ao novo país, mas León declarou sua independência.
Em 1822, as duas cidades uniram-se ao império mexicano. Granada, porém,
insurgiu-se antes da abdicação de Agustín de Iturbide (1823) e proclamou a
república.
Em 1826,
mediante uma primeira constituição, toda a Nicarágua integrou-se às Províncias
Unidas da América Central, federação de que se afastou em 1838. Em 12 de
novembro desse ano, no governo de José Núñez, promulgou-se nova constituição
que definia a Nicarágua como um estado soberano e independente.
Intervenções
estrangeiras. Na intenção de abrir, entre o lago Nicarágua e o Pacífico, um
canal que desse acesso ao Atlântico pelo San Juan, em 1848 os britânicos
voltaram a ocupar a foz daquele rio. Os Estados Unidos tinham igual interesse
e, poucos anos depois, Cornelius Vanderbilt implantou na Nicarágua um sistema
de barcos e veículos terrestres que permitia passar de um oceano a outro. Em
1850, os dois países comprometeram-se a respeitar a independência da área e a
neutralidade do canal, se fosse construído, o que não ocorreu.
As lutas entre
os liberais de León e os conservadores de Granada permitiram que, em 1856, o
aventureiro americano William Walker chegasse à presidência da Nicarágua. Foi,
porém, deposto em 1857 pelo esforço conjunto dos países limítrofes, de Vanderbilt
e dos liberais, que o haviam contratado para tomar Granada.
A partir de
1857, sucederam-se vários presidentes conservadores até 1893. Nessa fase, de
relativa paz, instalou-se a capital em Manágua, o que aliviou os conflitos
entre León e Granada; o Reino Unido devolveu a costa oriental, que se tornou
reserva indígena autônoma; iniciou-se o cultivo do café; e construiu-se a
ferrovia Granada-Corinto. No governo do liberal José Santos Zelaya (1893-1909)
estabeleceu-se a jurisdição nicaraguana sobre a reserva dos mosquitos.
Tutela
americana. A insolvência financeira da Nicarágua motivou a intervenção dos
Estados Unidos, que forçaram Zelaya a renunciar e não reconheceram seu
sucessor, José Madriz. Os americanos passaram a controlar a alfândega, o banco central
e as ferrovias do país. A humilhação nacional levou à revolução de 1912,
sufocada por fuzileiros navais americanos, que contribuíram para manter o
presidente conservador Adolfo Díaz no governo até 1917. Seus sucessores,
Emiliano Chamorro (1917-1921) e Diego Manuel Chamorro (1921-1923), também
receberam apoio americano.
Uma nova
intervenção ocorreu em 1926, quando Adolfo Díaz, em seu segundo período
presidencial (1926-1928), pediu a ajuda dos fuzileiros. Os líderes liberais
José María Moncada, Juan Bautista Sacasa e César Augusto Sandino lançaram-se à
guerrilha mas os primeiros recuaram ante a promessa americana de garantir
eleições livres. Somente Sandino manteve a luta contra a ocupação.
Família
Somoza. Moncada (1928-1933) e Sacasa (1933-1936) exerceram a presidência. Com a
retirada dos fuzileiros (1933), Sandino depôs as armas e reconciliou-se com
Sacasa, mas foi assassinado em 1934 por ordem do general Anastasio (Tacho)
Somoza García, sobrinho de Sacasa e comandante da Guarda Nacional criada pelos americanos
na gestão de Díaz.
Eleito
presidente em 1937, durante vinte anos Somoza controlou a política do país,
diretamente ou por interpostas pessoas. Assassinado em 1956, foi substituído
pelo filho Luís Somoza Debayle (1957-1963). René Schick Gutiérrez (1963-1966),
morto no exercício da presidência, foi sucedido por Lorenzo Guerrero Gutiérrez
(1966-1967), a que se seguiu Anastasio (Tachito) Somoza Debayle, irmão mais
novo de Luís.
Aproveitando-se
do terremoto que, em 1972, arrasou Manágua, Somoza obteve do Congresso poderes
ilimitados. Cresceram a oposição e a guerrilha, esta movida pela Frente
Sandinista de Liberación Nacional (FSLN). O assassinato, em janeiro de 1978, do
líder oposicionista Pedro Joaquín Chamorro, diretor do mais importante jornal
do país, La Prensa, gerou protestos e greves que culminaram na guerra civil.
Em 22 de
agosto de 1978, sandinistas chefiados por Edén Pastora, o Comandante Zero,
tomaram o Palácio Nacional, em Manágua, e mais de mil reféns. Somoza teve que
atender às exigências dos guerrilheiros e acabou por renunciar, em 17 de julho
de 1979. Asilou-se nos Estados Unidos e depois no Paraguai, onde foi
assassinado em 1980. A guerra civil custou mais de trinta mil vidas e destroçou
a economia do país.
Regime
sandinista. A Junta de Reconstrução Nacional revogou a constituição, dissolveu
o Congresso e substituiu a Guarda Nacional pelo Exército Popular Sandinista.
Até que se elaborasse nova carta, promulgou-se um Estatuto de Direitos e
Garantias. Nacionalizou-se a indústria em grande parte e introduziu-se um
sistema de planificação central. Desapropriaram-se as grandes extensões de
terras da família Somoza e as grandes fazendas improdutivas.
O
estreitamento das relações com países do bloco comunista fez com que, em 1981,
os Estados Unidos suspendessem a ajuda econômica à Nicarágua. Enquanto os
moderados protestavam contra o adiamento das eleições e passavam à oposição,
cerca de dois mil antigos membros da Guarda Nacional, os "contras",
baseados em Honduras e com o apoio dos Estados Unidos, desencadearam ataques
guerrilheiros à Nicarágua. A eles aderiram os mosquitos, contrários às medidas
para sua integração.
Em novembro de
1984 realizaram-se eleições presidenciais e para uma assembléia constituinte,
com o boicote de boa parte da oposição. Eleito com mais de sessenta por cento
dos votos, o líder da FSLN Daniel Ortega assumiu a presidência em janeiro de
1985. A FSLN também obteve a maioria das cadeiras da Assembléia Constituinte.
Em janeiro de 1987, promulgou-se a nova constituição.
Prosseguiam,
contudo, a luta dos "contras" e os atritos com os Estados Unidos, que
os esforços do chamado Grupo de Contadora (México, Venezuela, Panamá e
Colômbia) não conseguiram extinguir. Em 1987 e 1988 firmaram-se em Esquipulas,
na Guatemala, acordos para o desenvolvimento de um plano destinado a desarmar e
repatriar os "contras" baseados em Honduras.
Em 1988,
depois de libertar quase dois mil ex-membros da Guarda Nacional, Ortega assinou
uma lei de reforma eleitoral que incluía a realização de eleições amplas e
livres em 1990, e uma nova lei de imprensa que garantia maior participação dos
oposicionistas nos meios de comunicação. Para supervisionar as eleições,
criou-se o Supremo Conselho Eleitoral, com três membros sandinistas e dois da
oposição. Simultaneamente, contudo, o presidente americano George Bush
autorizou nova ajuda aos "contras" e prorrogou o embargo comercial
contra a Nicarágua até a realização das eleições livres.
Em 1990, com
apoio dos Estados Unidos, Violeta Barrios de Chamorro, viúva do líder assassinado
em 1978, venceu as eleições presidenciais. A transição do poder foi pacífica e
seguiram-se acordos de desarmamento e cessar-fogo, apesar da relutância de
algumas facções.
Segundo a
constituição de 1987, a Nicarágua é uma república presidencialista unicameral,
com uma assembléia nacional de 92 membros eleitos por voto direto para mandatos
de seis anos. A carta, que também consagra os princípios de pluralismo político
e economia mista, também reconhece os direitos socioeconômicos da população. Administrativamente,
o país se divide em 16 departamentos.
Sociedade e
cultura
O governo
sandinista realizou intenso esforço nas áreas de educação e saúde. Com os
conflitos na década de 1980, porém, reverteram-se alguns avanços sociais. Na
área educacional, uma das conquistas foi o aumento dos índices de escolarização
e alfabetização. O ensino superior conta com uma universidade em Manágua e a
Universidade Nacional, em León.
Não há
religião oficial na Nicarágua, mas a imensa maioria da população é católica. Há
também minorias de protestantes morávios, batistas, episcopais e pentecostais.
A comunidade judaica é reduzida.
A literatura
nicaragüense projetou-se no mundo com o modernista Rubén Darío, considerado um
dos maiores poetas hispano-americanos. Destacaram-se depois Santiago Argüello,
Antonio Medrano, Salvador Sacasa, José Teodoro Olivares, Azarias Pallais,
Salomón de la Selva e Alfonso Cortés. Hernán Robleto escreveu o famoso romance
Sangre en el trópico, la novela de la intervención yanqui en Nicaragua (1930).
Em 1928,
surgiu o grupo de poetas Vanguarda, que conciliava o nacionalismo
revolucionário, o humorismo iconoclasta e a fé católica. Seus principais
representantes foram José Coronel Urtecho, o fundador, Pablo Antonio Cuadra e
Joaquín Pasos. A partir da década de 1960, os poetas Ernesto Mejía Sánchez e,
sobretudo, Ernesto Cardenal exerceram grande influência. No romance,
salientaram-se Juan Felipe Toruño, Fernando Silva Espinosa, Sergio Ramírez e
Fernando Centena Zapata.
Na música,
José de la Cruz Mena é o nome mais importante. As manifestações artísticas mais
destacadas dos índios que habitavam a Nicarágua são as cerâmicas decoradas.
León e Granada conservam muitos edifícios antigos. Os principais museus são o
Nacional, em Manágua, e o Tenderi, em Masaya.
Nenhum comentário:
Postar um comentário