Um dos países
de maior diversidade étnica do mundo, a Índia abriga inúmeras castas e tribos,
uma multiplicidade de religiões e seitas e centenas de grupos lingüísticos grandes e pequenos,
pertencentes a famílias totalmente diferentes. As tentativas de fomentar o
espírito de nacionalidade em tão variada população esbarram quase sempre nas
tensões entre grupos vizinhos, que com freqüência explodem em reações violentas.
A Índia
localiza-se no sul da Ásia e ocupa quase todo o subcontinente indiano, com uma
superfície de 3.165.596km2. Está separada do resto da Ásia pela cordilheira do
Himalaia. Limita-se ao norte com China, Nepal e Butã; a noroeste, com o
Paquistão; a leste, com Myanmar (ex-Birmânia) e o golfo de Bengala; ao sul com
o oceano Índico; e a oeste com o mar da Arábia. Bangladesh forma um encrave,
dentro da Índia, limitado pelos estados indianos de Bengala Ocidental, Assam,
Meghalaya e Tripura, e com o território de Mizoram.
Geografia
física
Geologia e
relevo. O território da Índia tem a forma de um triângulo cuja base é a
vertente meridional do Himalaia e o vértice a ponta sul da península do Deccan.
Sua disposição geomorfológica é resultado de uma série de ajustamentos da
crosta terrestre, quando o bloco do Deccan uniu-se ao continente asiático e
criou a cordilheira do Himalaia e a planície aluvial dos rios Indo, Ganges e
Brahmaputra.
O país
compreende três regiões morfológicas: o Himalaia, a planície indo-gangética e o
planalto do Deccan. A cordilheira do Himalaia, ao norte, a mais alta do mundo,
domina em semicírculo a planície indo-gangética, de Cachemir a Assam, e parte
desse sistema pertence à Índia. No estado de Uttar Pradesh ficam o Nanda Devi
(7.817m), o Kamet (7.756m) e o Trisul (7.120m). As planícies da Índia cobrem
mais de um milhão de quilômetros quadrados, em sua maior parte na planície
indo-gangética, no norte. São as áreas de cultivo e povoamento mais intensos,
particularmente onde há abundância de água. No noroeste estende-se o deserto de
Thar ou Grande Deserto Indiano.
Geologicamente,
o planalto de Deccan, ao sul, é a parte mais antiga da Índia, formada por
rochas cristalinas com idades entre 300 e 500 milhões de anos. As montanhas
Vindia (Vindhya) separam o planalto da planície indo-gangética.
Clima. As
monções exercem influência sobre o clima, que em geral é quente. As
temperaturas são relativamente constantes no sul, com média de 29,5o C, e
sofrem grandes variações no norte, mas no Himalaia predomina o clima frio, com
média de 12o C. As chuvas são intensas no nordeste, na costa oeste e na região
do baixo Ganges, moderadas em um vasto cinturão no leste do Deccan e escassas
no deserto de Rajasthan, no planalto de Ladakh, em Cachemir, e entre o Punjab e
os montes Vindia. As médias pluviométricas anuais são superiores a 2.450mm, mas
chegam ao recorde mundial de quase 12.000 no maciço de Shillong, em Assam.
Hidrografia.
Os rios da Índia agrupam-se em quatro conjuntos: bacia do Himalaia, bacia do
Deccan, rios costeiros e bacia interior. Os rios do Himalaia, que se nutrem do
derretimento das neves e da chuva, são quase sempre caudalosos. O Ganges, com
curso de 2.510km, recebe diversos afluentes e desemboca no golfo de Bengala. O
Brahmaputra banha a planície de Assam. O Indo cruza a região de Cachemir e tem
afluentes importantes. Os rios do Deccan estão sujeitos a grandes flutuações de
volume e os rios costeiros são curtos. Os lagos mais importantes são o Wular e
o Lonar.
Flora e fauna.
A Índia tem uma vegetação rica e variada, distinta segundo as regiões. As
palmeiras de variedades diversas são típicas das terras secas e altas do
Deccan. A zona de Malabar, que cobre a costa oeste, e os Ghats ocidentais são
ricos em florestas tropicais. A região dos vales do Brahmaputra e do Surma tem
vegetação exuberante, com abundância de bambus. No Himalaia oriental há mais de
quatro mil espécies de plantas e o Himalaia ocidental se caracteriza pelos
bosques de coníferas.
Igualmente
rica é a fauna. O tigre, que domina as zonas florestais, é característico do
país. As panteras também são abundantes e uma de suas variedades, a da neve, só
se encontra no Himalaia. Entre os grandes mamíferos estão os elefantes
asiáticos, rinocerontes, ursos, antílopes, gazelas, lobos, hienas, macacos,
búfalos selvagens etc. Os répteis compreendem mais de 550 espécies e os mais
conhecidos são as serpentes, entre as quais a píton e a naja. A Índia tem uma
das mais variadas faunas ornitológicas do mundo, com mais de duas mil espécies.
População
Os povos da
Índia procedem das sucessivas invasões que, desde tempos imemoriais, ocorreram
no subcontinente. Como a intensa miscigenação tornou quase impossível
distinguir as etnias entre si, a língua é o melhor fator de classificação.
Sabe-se, porém, que os principais grupos étnicos originários foram os
caucasianos, os mongóis, os australóides e os negróides.
Há mais de 700
idiomas e dialetos no país mas a constituição reconhece apenas 15: assamês,
bengali, guzarate, hindi, canará ou canadas, cachemir, malaiala ou malabar,
marata, oriia, punjabi, sânscrito, sindi, tâmil, télugo e urdu. Em linhas
gerais, as línguas da Índia podem ser classificadas em quatro famílias: (1) a
austro-asiática, que limita-se praticamente ao sub-grupo das línguas munda,
faladas nas montanhas e florestas da Índia central e oriental; (2) a
sino-tibetana, que limita-se à fronteira do nordeste; (3) a dravídica, que de
maneira geral espalha-se sobretudo pela costa oriental, e cuja língua mais
antiga é o tâmil, falada sobretudo em Tâmil Nadu; o télugo, em Andhra Pradesh;
o malaiala, em Kerala; e o canará, em Karnataka; (4) a indo-ariana, que
pertence a uma família lingüística
maior, a do indo-europeu. Sua raiz encontra-se no sânscrito, idioma
clássico que deixou de ser falado como língua comum há muitos séculos e
originou diversos dialetos conhecidos como prácritos.
Um dos
prácritos mais antigos é o páli, usado por Buda para se comunicar com o povo
sem a intervenção dos brâmanes, e que se tornou uma língua estática e sagrada.
O hindi, língua mais falada no país (28% da população) nasceu do prácrito usado
na região entre o rio Yamuna e Bihar, e que gerou também o rajastani, o
guzarate e o punjabi. O sindi, o cachemir e o marata vieram de outros
prácritos. O hindi dissemina-se pela maior parte da planície setentrional.
Embora a designação hindi refira-se
somente aos dialetos hindi ocidentais, o grupo compreende vários outros
dialetos: o kanauji, o bundeli, o braj bhasa, o hindustani vernacular, o jatu e
o hindustani propriamente dito, que é a língua de Delhi.
As línguas
austro-asiáticas, praticamente ágrafas, são hoje uma recordação de um passado
em grande parte esquecido. Pertencentes ao grupo munda, são usadas por tribos
da Índia central e oriental, bem como no norte de Bengala e Assam. As línguas
sino-tibetanas são representadas por diversas variantes de grupos do tai e do
chinês. O inglês é língua oficial, com o hindi, e idioma franco entre o norte e
o sul do país.
A região do
Himalaia foi o ponto de encontro e de fusão das culturas ariana e mongol e das
religiões budista e hindu. No vale do Cachemir predominam os muçulmanos; a
sociedade é patrilinear e com freqüência poligâmica. No Punjab é grande o
número de sikhs, seita religiosa que se
transformou em etnia. Os habitantes de Manipur e Tripura mostram traços
mongóis. Em Gujarati e Rajasthan vivem os gujaratis e os maratas, que falam
idiomas próprios. Na região dravídica vivem os tâmeis, povo de antiga tradição
cultural, além dos andra, dos canarás e dos malaialis.
A Índia é o
segundo país do mundo em população, depois da República Popular da China. Para
controlar o crescimento demográfico, o governo promove programas de
planejamento familiar. A baixa expectativa de vida, que não chega aos sessenta
anos, determina o predomínio da população jovem.
Quase três
quartos da população vivem nas zonas rurais, mas a crescente industrialização
gerou um constante êxodo para as áreas urbanas. Além da capital, nova Delhi, as
cidades mais importantes são Bombaim, Calcutá, Madras, Bangalore, Ahmadabad,
Hyderabad, Kanpur, Nagpur, Lucknow e Jaipur. (Para dados demográficos, ver
DATAPÉDIA.)
Economia
Desde a
independência, a Índia cultiva um sistema econômico misto, em que o governo,
que segundo a constituição é socialista,
desempenha o papel principal como planejador, regulamentador, investidor,
administrador e produtor. O país tem uma infra-estrutura bem desenvolvida e uma
indústria de base altamente diversificada, a agricultura expande-se mais
depressa que a população e a reserva de recursos humanos é a terceira do mundo.
Entretanto, apesar da presença multiforme do estado na economia, grandes grupos
empresariais dominam muitas esferas da moderna atividade econômica, enquanto
dezenas de milhões de pequenos produtores rurais e micro-empresas industriais,
comerciais e de serviços respondem pela maior parte da oferta de emprego.
Provavelmente apenas um quinto da força de trabalho está engajada no setor
organizado da economia -- mineração, empresas agrícolas, indústria fabril e
modernas empresas comerciais, de transportes e serviços. A tecnologia percorre
uma escala que vai do mais primitivo ao mais sofisticado.
O setor
público domina nas áreas de transporte, produção de energia, mineração, sistema
bancário, companhias de seguros, exploração de petróleo e indústria pesada. As
demais atividades competem ao setor privado; o controle estatal de preços e
destinação de recursos e a legislação fiscal contra a concentração de capital
não favorecem a criação de uma indústria competitiva. As relações entre governo
e setor privado caracterizam-se por freqüentes conflitos.
Agricultura,
pecuária e pesca. Os recursos biológicos ressentem-se da secular exploração
humana. Metade do território é cultivado, um quinto tem cobertura florestal e o
restante é improdutivo. A qualidade do solo é geralmente pobre e a erosão
intensa em muitas zonas. As técnicas agrícolas tradicionais degradaram a
vegetação das planícies, com efeitos negativos sobre as chuvas das monções. O
estado é proprietário de 95% das florestas, muito densas na região do Himalaia.
Mais de um
terço do produto interno bruto se origina da agricultura, indústria florestal e
pesca, fontes de sustento da grande maioria da população. Os principais
cereais, produtos básicos da alimentação de um povo na maioria vegetariano, são
o arroz, que cobre um terço da superfície dedicada à produção de grãos; o
trigo, cujo cultivo tem crescido com novas técnicas de irrigação e a perfuração
de poços artesianos no Punjab; e, em menor medida, o milho e o sorgo. Outras
culturas importantes são de cana-de-açúcar, algodão, juta, chá, café, borracha
e fumo. Predomina a agricultura de tipo tradicional, condicionada pela escassez
de água e de investimentos. A exploração de seringueiras e a produção de
madeira são as principais atividades extrativistas vegetais.
O consumo de
carne é proibido pelo hinduísmo, religião predominante no país, o que acarreta
uma procura muito baixa. Mesmo assim a Índia tem o maior rebanho bovino do
mundo, e a pecuária desempenha papel muito importante na economia. O gado vacum
e o búfalo são usados principalmente como animais de tração, mas também servem
a vários outros propósitos, como produção de leite e carne -- para muçulmanos,
cristãos e os harijans (antes ditos "intocáveis"), para os quais o
consumo de carne não constitui tabu--, adubo natural, couro e combustível para
cozinha a partir do esterco. A produção de leite é relativamente pequena,
considerando-se o tamanho do rebanho. O búfalo produz em menor quantidade, mas
seu leite é mais rico do que o do gado bovino. Em muitos estados é proibida a
existência de matadouros e quase nenhum gado é criado expressamente para corte.
A maior parte da carne consumida provém de animais que morreram de morte
natural. Os animais velhos e já imprestáveis para o serviço, ao invés de serem encaminhados
para o matadouro, ou são enviados para os goshalas, uma espécie de abrigo de
idosos para o gado, onde são mantidos por contribuições de devotos hinduístas,
ou tornam-se desgarrados e passam a competir pelos já escassos recursos
vegetais com o homem.
Muitos
indianos ortodoxos são vegetarianos, outros permitem-se apenas alimentar-se de
carne de cabrito, carneiro, frango, peixe ou ovos, todos produzidos em
quantidades modestas. A criação de ovelhas atende à produção de carne e de lã.
A carne de porco é proibida para adeptos de diversas religiões, como muçulmanos
e hindus, mas os porcos, que ajudam a limpar as ruas, são criados e consumidos
por certas castas.
A pesca, ainda
insuficientemente desenvolvida apesar de seu enorme potencial, é praticada em toda
a linha de costa e em muitos rios. A indústria pesqueira marinha responde por
dois terços da produção total de pescado. Como poucas empresas pesqueiras são
mecanizadas, o total de capturas é pequeno e o consumo anual per capita de
peixe é modesto. Observa-se, porém, uma tendência à mecanização e modernização.
Assim, é cada vez maior a proporção de pescado proveniente do alto-mar, de
áreas que as pequenas empresas familiares não têm condições de alcançar. Ao
mesmo tempo, prolifera a piscicultura em criadouros, tanto de peixes como de
camarões, estes destinados sobretudo à exportação.
Energia e
mineração. As reservas conhecidas de petróleo são escassas e o país importa a
metade do que consome. Os sistemas montanhosos têm grande potencial para a
exploração da energia hidrelétrica. Há diversas centrais de energia nuclear,
como em Tarapur e Rana Pratap Sagar. O biogás é importante nas zonas rurais.
Os recursos
minerais são abundantes, mas de distribuição desigual. Embora a Índia conte com
vastas reservas de carvão mineral, ferro e manganês, é pobre em não-ferrosos,
exceto alumínio. Os minerais explorados constituem importante fonte de
matérias-primas para a indústria indiana e também excelente fonte de divisas. A
nacionalização de diversas empresas domésticas e estrangeiras deu ao governo um
papel predominante na indústria da mineração.
Indústria. A
estrutura industrial é bastante diversificada. O governo é responsável pelos
investimentos na indústria básica e de bens de capital. Destacam-se a siderurgia,
a produção de veículos automotores, a manufatura de fertilizantes, ferramentas,
cimento, alumínio, máquinas industriais e equipamento elétrico e de
transportes. O progresso da indústria de produtos intermediários tem sido
lento, mas o governo incentiva a auto-suficiência, já alcançada no setor de
bens de consumo, a cargo da iniciativa privada e controlada por um número
reduzido de famílias, apesar das medidas oficiais para evitar a concentração.
Finanças e
comércio. O sistema bancário e financeiro, bem desenvolvido, é regulado pelo
governo por meio do Banco de Reserva da Índia, que controla a emissão de
dinheiro, as reservas de comércio exterior, o crédito e a circulação de moeda.
Com as nacionalizações de 1969 e 1980, a maioria dos bancos comerciais passou
para o setor público. Em 1975 o governo instituiu um sistema de bancos rurais
regionais com linhas de crédito abertas aos pequenos produtores rurais. O mesmo
foi feito para atender outras atividades na área industrial e de comércio
exterior. As bolsas de valores não desempenham na Índia o mesmo papel relevante
que em outras economias capitalistas.
O volume do
comércio exterior indiano é baixo, dada a diversificação de sua economia.
Existe um déficit crônico no balanço de pagamentos, que se agrava com o
volumoso contrabando de bens de consumo suntuário. Nenhum produto específico
domina a pauta de exportação. Em termos de valor, pedras preciosas e produtos
de ourivesaria, sobretudo para o mercado do Oriente Médio, mantêm posição de
destaque, seguidos de vestuário, couros e produtos de couro -- resultado da
abundância de mão-de-obra barata e de matérias-primas.
As importações
são ainda mais diversificadas que as exportações. Os principais produtos
importados são máquinas, equipamento de transporte e derivados de petróleo. Os
principais parceiros comerciais são Estados Unidos, Japão, países da Comunidade
dos Estados Independentes (CEI) e da Comunidade Européia (CE), sobretudo
Alemanha e Reino Unido, tanto para as importações quanto para as exportações.
Transportes e
comunicações. As vias fluviais marítimas são importantes no transporte de bens
e passageiros; os principais portos marítimos são Calcutá, Orissa, Madras,
Tuticorin, Gujarati e Bombaim. O sistema ferroviário é o sexto do mundo em
extensão. Totalmente administrado pelo estado, está bem integrado ao sistema
rodoviário. As rodovias pavimentadas representam menos da metade da rede de
rodovias do país. Praticamente todos os aglomerados urbanos, com exceção de
vilas situadas em regiões tribais, estão ao alcance de alguma linha de ônibus.
O estado controla a maior parte das companhias de transporte rodoviário de
passageiros e se responsabiliza também pela manutenção das rodovias. A rede de
rodovias nacionais interliga praticamente todas as grandes cidades indianas. Em
1989 entrou em operação em Calcutá o primeiro metrô do sul da Ásia.
Um pequeno
número de grandes portos, como os de Bombaim, Calcutá e Madras, responsáveis
por cerca de noventa por cento do tráfego marítimo do país, são de
administração federal, enquanto um número muito maior de portos intermediários
e pequenos pertencem à esfera estadual. Também a grande maioria das mais de
cinqüenta empresas de transporte marítimo de cabotagem ou de longo curso
pertence à Empresa de Navegação da Índia, estatal.
A aviação
civil, que era totalmente privada, foi nacionalizada em 1953 e passou ao
controle de três companhias estatais: a Air India, que cobre as linhas
internacionais a partir dos aeroportos de Nova Delhi, Bombaim, Calcutá e
Madras; a Indian Airlines, para vôos domésticos ou para países vizinhos; e a
Vayudoot, fundada em 1981, que se encarrega das rotas de pouco tráfego e para
os locais de difícil acesso, no Himalaia e no nordeste do país. As três redes
estão em constante ampliação e cobrem praticamente todas as cidades de médio e
grande porte.
A grande
maioria das estações de rádio pertence à empresa estatal All India Radio,
também conhecida como Akashvani, mas existem empresas comerciais particulares.
As estações de televisão estão sob controle estatal da Television India
(Doordashan India), mas há relativa liberdade de opinião para os partidos
oposicionistas, sobretudo durante as campanhas eleitorais. A Índia tem mais de
dois mil jornais diários, a maior parte publicada em Nova Delhi, Bombaim, Calcutá
e Madras. Embora os diários publicados em inglês tenham ainda prestígio, os
jornais em idiomas locais alcançam cada vez maior penetração no público
indiano. (Para dados econômicos ver DATAPÉDIA.)
História
O
subcontinente indiano foi berço de uma das mais antigas civilizações do mundo;
desde tempos muito remotos seu território constituiu um atraente habitat para a
vida humana.
Os vestígios
mais antigos de atividade humana na região remontam à idade da pedra. Depósitos
pré-históricos encontram-se em todo o subcontinente, desde o antigo
Beluchistão, mais tarde Irã e Paquistão, no oeste, a Bengala, no leste, e desde
as províncias do noroeste até Sri Lanka, no sul. Por volta de 4000 a.C., depois
da revolução neolítica na Mesopotâmia, os habitantes do extremo noroeste do
subcontinente iniciaram a transição do estado nômade para o da agricultura
sedentária. No terceiro milênio viviam em aldeias e praticavam um culto
animista. Dedicavam-se a uma agricultura incipiente e criavam gado. Fabricavam
diversos tipos de cerâmica e ferramentas de cobre e bronze. Dessa fase, há
notáveis manifestações de arte rupestre.
Perto de 500
anos mais tarde ocorreu um grande salto com a criação da civilização do rio
Indo ou de Harappa, nome derivado de uma de suas capitais. Floresceu durante
mil anos (de 2500 a 1500 a.C.) e desapareceu misteriosamente. Uma das primeiras
civilizações do mundo, maior por sua extensão do que as do Egito e da Suméria,
ocupava um enorme triângulo cujos lados mediam 1.500km. O vértice era a parte
superior do sistema do Indo e a base se estendia ao longo da costa do mar da
Arábia, desde a atual fronteira entre Irã e Paquistão até o golfo de Cambay.
Arqueólogos encontraram ruínas de mais de cinqüenta comunidades, entre elas
duas capitais, Mohenjo-daro, no Indo central, e Harappa, 600km a nordeste.
Os povos da
civilização de Harappa conheciam o cobre, o bronze, o ouro, a prata e o chumbo
e comerciavam com a Mesopotâmia. Tinham arte desenvolvida. A língua, de que se
conservam perto de mil inscrições curtas ainda não decifradas, pertencia, ao
que parece, à família dravídica. Seu declínio coincidiu com a invasão dos povos
arianos, nômades da Ásia central, que arrasaram as planícies do noroeste da
Índia.
Índia védica.
Nos dois milênios compreendidos entre 1500 a.C. e o século VII da era cristã
ocorreu a invasão dos arianos que, pelo Punjab, se infiltraram nas planícies do
médio Indo e avançaram até o vale do Ganges. A civilização védica (de Veda, o
conhecimento sagrado) formou-se pela fusão dos arianos com os povos que viviam
na planície indo-gangética.
Os arianos, de
pele clara e vinculados lingüisticamente a helenos, germanos e eslavos,
defrontaram-se com uma civilização adiantada, homogênea e brilhante, com
cidades e instituições estabelecidas, que dominaram pela força de suas armas
superiores. Os invasores devastaram cidades e obras de arte, mas deixaram uma
das coleções literárias mais extraordinárias do mundo, os Vedas, textos
sagrados escritos em sânscrito, ao longo dos séculos, e divididos em quatro
livros básicos, Rigveda, Yajurveda, Samaveda e Atharvaveda, e complementados
por compilações de comentários: Brahmanas, Aranyakas e Upanishads. Com o tempo,
crenças não arianas foram incluídas nos sistemas religiosos e estabeleceu-se a
divisão social em castas, que exerceu influência determinante no futuro
desenvolvimento da Índia. Com o passar dos séculos, as quatro castas básicas
subdividiram-se em milhares de outras.
Ao longo dos
séculos VI e V a.C., os principados converteram-se em monarquias e o comércio
prosperou. Desenvolveram-se duas grandes religiões que buscavam a salvação
individual: o budismo, pelo ascetismo e a negação do desejo, e o jainismo, pela
mortificação pessoal. Rejeitadas pelos brâmanes, as duas religiões foram
propagadas pelos comerciantes e revolucionaram o meio intelectual do país.
Gautama Buda e Vardhamana Jnatriputra Mahavira, fundadores do budismo e do
jainismo, são as principais figuras da época.
Impérios. Ao
longo do milênio seguinte, o jainismo e o budismo difundiram-se largamente. As
artes e o pensamento alcançaram grande esplendor, e a sociedade hierarquizou-se
cada vez mais com a criação de milhares de castas; no nível inferior extremo
ficavam os párias, ou intocáveis. Essa civilização complexa estendeu-se, nos
impérios Mauria, de 321 a 185 a.C., e Gupta, de 320 a 540 da era cristã, até o
Nepal, Himalaia, Tibet, Sião (atual Tailândia), Indonésia, Sri Lanka e o reduto
dravídico do Deccan.
Sob o domínio
de Ciro o Grande e Dario I, os persas anexaram a região do Indo. Em 326 a.C.,
Alexandre o Grande dirigiu uma expedição que ocupou o Punjab e o Sind e anexou
diversos reinos hindus. Candragupta Mauria, fundador do império Mauria,
expulsou os gregos e tornou-se senhor de Mágada. Seu filho Bindusara e seu neto
Açoka, o "rei monge", ampliaram e consolidaram o império, que se
estendeu por toda a Índia. Açoka, o mais famoso dos imperadores indianos, foi
budista fervoroso. A história de seu reinado consta da literatura sânscrita e
está gravada em rochas e pilares espalhados pelo domínio. Com sua morte, o império
entrou em desintegração, e em 185 a.C. o comandante-chefe das forças armadas,
Pusyamitra Sunga, assassinou o último imperador mauria e fundou a dinastia
Sunga.
À queda do
império Mauria seguiram-se diversas invasões estrangeiras. No início do século
II a.C. chegou Demétrio II, do reino grego de Báctria, sucedido por Menandro. A
reação local confinou a presença grega ao Punjab. Com a morte de Menandro, o
maior dos reis indo-gregos, o poderio helênico enfraqueceu-se e caiu sob os
ataques dos citas, originários da Ásia central. Os citas associaram-se aos
partas e mais tarde a eles se submeteram. O mais famoso soberano parta,
Gondofares, reinou de 19 a 45 da era cristã.
Citas e partos
foram derrotados pelos kushans, provenientes da Ásia central e os mais
poderosos invasores da época. Seu principal soberano foi Kanishka, fundador da
segunda dinastia, que viveu no século I da era cristã e difundiu a doutrina
budista pelo continente asiático. Seguiu-se um período obscuro da história
política do país, em que as dinastias locais combateram a ocupação estrangeira.
Os andhras dominaram o Deccan; o sul permaneceu sob o domínio tâmil; e no norte
os bharasivas derrotaram os kushans.
O império
indiano ressurgiu com a fundação da dinastia Gupta por Candragupta I no ano de
320. Seu filho e sucessor Samudragupta, que reinou de 330 a 380, ampliou e
consolidou o império, que conheceu seu apogeu sob Candragupta II. Seu reinado
marcou a idade de ouro da literatura sânscrita. O império Gupta terminou no
final do século V, embora a família continuasse a governar por muitos séculos
com autoridade reduzida. Seu fim foi determinado pela invasão dos hunos brancos
ou neftalitas, que conquistaram a maior parte do país.
Auge do
hinduísmo. A dissolução do império Gupta, considerado o período da Índia
clássica, conduziu à idade média indiana, na qual o país dividiu-se em centenas
de estados independentes. Essa época, que se prolongou até o século XIII,
caracterizou-se pelo triunfo dos guerreiros e o declínio dos comerciantes e
pela perseguição aos fiéis do jainismo e do budismo. Os brâmanes recuperaram
sua antiga autoridade religiosa e impuseram o hinduísmo sincrético que se
formara com o tempo a partir de elementos védicos e pós-védicos, não arianos e
por uma multiplicidade de cultos, práticas particulares e preceitos de pureza,
não-violência e vegetarianismo, tomados do jainismo e do budismo. O hinduísmo
culminou na coexistência de três deuses máximos: Brahma, o criador do mundo,
Vishnu, o conservador, e Shiva, o destruidor. Mais do que uma religião, o
hinduísmo é uma ordem social e, sobretudo, o fundamento da civilização indiana,
a tal ponto que conserva sua vitalidade na Índia contemporânea.
Índia
muçulmana. O islamismo entrou no país a partir da conquista de Sind, no século
VI, e da fundação posterior de colônias mercantis na costa de Malabar, mas não
logrou o domínio global do subcontinente. Na expansão da religião muçulmana no
país podem-se distinguir dois períodos: o sultanato de Delhi e o império mogol.
No princípio
do século XI apenas o Punjab estava dominado pelos muçulmanos. Sua supremacia
estabeleceu-se a partir de 1192, quando Mohamed de Ghor derrotou as tropas do
último soberano de Delhi, Rai Prthviraja. Em 1206 Mohamed foi assassinado e um
de seus generais, Qutb-ud-Din Aibak, fundou a dinastia e o sultanato de Delhi,
que se prolongou até 1526. O islamismo impôs-se com dureza às religiões
internas e causou danos enormes aos centros intelectuais e artísticos, ao
budismo e ao hinduísmo. Cinco dinastias se sucederam no período: Escrava, de
1206 a 1290; Khalji, de 1290 a 1320; Tughluq, de 1320 a 1413; Saiid, de 1414 a
1451; e Lodi, de 1451 a 1526. Dos 33 sultões de Delhi, dois se destacaram,
ambos da dinastia Escrava: Iltutmish, um escravo que tomou o poder depois da
morte de Aibak e ampliou os domínios do sultanato, e Balban, que reprimiu com
energia as permanentes tentativas de rebelião interna e rechaçou a invasão dos
mongóis de Gengis Khan. Na dinastia Khalji, o islamismo chegou ao Deccan e ao
sul da Índia. Durante o reinado de Mohamed ibn Tughluq, no século XIV, o
sultanato atingiu sua maior extensão mas também enfrentou sérios problemas
administrativos. Ao fim de seu reinado, o império estava em franco processo de
desagregação, que se agravou com a ascensão de seus sucessores. Em 1398,
Tamerlão arrasou Delhi e realizou incursões predatórias pelo país. Apesar
disso, o sultanato manteve o poder por mais 130 anos. No sul, os brâmanes
criaram o reino do Deccan.
O império
Mogol começou com a queda do sultanato de Delhi na batalha de Panipat, em 1526.
O vencedor, o chefe turco Zahir ud-Din Mohamed Baber, muçulmano sunita que se
dizia descendente de Tamerlão e de Gengis Khan, constituiu o Império do
Grão-Mogol, que se manteve até 1857, ano em que foi suprimido pelos britânicos
depois da revolta dos cipaios (tropas indianas). Na realidade, seu poderio
declinou após a morte do último de seus grandes monarcas, Aurangzeb, em 1707,
muito antes que os britânicos ocupassem Bengala em 1757. A coexistência entre
vencedores e vencidos levou o maior dos monarcas mogóis, Akbar, neto do
fundador da dinastia, que reinou de 1556 a 1605, a criar uma nova religião
destinada a fundir o hinduísmo e o islamismo, o Din-e Ilahi, que porém não
prosperou. Seus sucessores voltaram à ortodoxia muçulmana e as perseguições
religiosas se intensificaram. Entre seus descendentes destaca-se Khurram, o xá
Jahan, que governou com brilhantismo de 1628 a 1658. Entre suas obras está o
Taj Mahal, em Agra, mausoléu de sua mulher, Mumtaz Mahal. Durante o reinado de
seu filho Aurangzeb, de 1658 a 1707, chegou ao auge a intolerância política e
religiosa. Perseguidos, os sikhs transformaram-se em guerreiros antimuçulmanos;
os hinduístas foram afastados do governo. O profundo desentendimento entre
facções religiosas levou à ruína do império.
Colonização
britânica. Os portugueses foram os primeiros europeus a se instalar na Índia,
quando criaram diversas feitorias no Extremo Oriente nos séculos XV e XVI. Em
1498 Vasco da Gama chegou a Calicut e Goa foi ocupada em 1510. Ao longo dos
séculos XVI e XVII chegaram ingleses, holandeses e franceses, que lutaram entre
si pelo controle dos lucrativos entrepostos comerciais. O domínio inglês
consolidou-se com a vitória de Robert Clive, representante da Companhia Inglesa
das Índias Orientais, sobre o príncipe bengali Siraj ud-Daula, em Plassey, em
23 de junho de 1757. Dois anos depois Clive capturou Chinsura, em Bengala, e
pôs um ponto final nos interesses holandeses na Índia. Os combates entre
franceses e ingleses prolongaram-se até 1761, quando os franceses perderam
Pondichéry. O Tratado de Paris de 1763 assegurou a supremacia inglesa na Índia.
O domínio
inglês prolongou-se por quase dois séculos, até 1947. As conquistas
estenderam-se até 1849, quando Punjab foi subjugado; ficaram fora do controle britânico
direto diversos principados autônomos, os "estados nativos". O
predomínio britânico baseou-se na superioridade econômica e na capacidade
administrativa dos funcionários civis.
A expansão
colonial realizou-se mediante as seguintes guerras: conquista do sul da Índia,
no final do século XVIII, para impedir a invasão francesa; imposição da ordem
britânica na Índia central com a vitória sobre a confederação marata em 1819;
garantia das fronteiras do noroeste com a conquista do Punjab e do país sikh em
1849 e a primeira guerra afegã de 1839 a 1842; consolidação da fronteira leste
com a conquista da baixa Birmânia (atual Myanmar) de 1824 e 1852; conquista
total da Birmânia em 1886; segunda guerra afegã em 1878; guerra do Tibet em
1904.
Desse período,
destaca-se o chamado Grande Motim,
rebelião do exército nativo dos cipaios, em Bengala, em 1857, que se
transformou em revolta civil, provocou a perda de Delhi e Lucknow e constituiu
grave ameaça ao domínio britânico. Depois de um ano de combates e prática de atrocidades
dos dois lados, a insurreição foi vencida e os britânicos retomaram Delhi. O xá
Bahadur II, último imperador mogol, que apoiara a revolta, foi exilado e seus
filhos executados. Em 1858 a coroa britânica assumiu a responsalidade direta
pelo governo da colônia, a rainha Vitória foi proclamada imperatriz da Índia e
começou o período dos vice-reinados.
Movimento
nacionalista. A crise econômica iniciada em 1870 golpeu duramente a Índia e
provocou fome, epidemias, revoltas camponesas e surtos de nacionalismo. Em 1885
fundou-se o Partido do Congresso Nacional Indiano e mais tarde começou a
mobilização de massas contra a colonização, inspirada no começo do século XX
por um homem excepcional, autêntico artífice da independência indiana, Mohandas
Karamchand Gandhi, o mahatma ou "magnânimo".
Apesar da
verdadeira sangria econômica provocada pela rapacidade do colonizador
britânico, algumas heranças positivas da dominação podem ser apontadas, como a
modernidade das estruturas econômicas, a adoção de instituições democráticas, a
atitude aberta diante da tecnologia e ciências modernas e uma administração bem
estruturada.
Independência.
Depois da segunda guerra mundial, o crescente conflito entre nacionalistas
muçulmanos e hindus levou à criação de dois estados independentes, Índia e
Paquistão, em 15 de agosto de 1947. A partir daí, a Índia alcançou grande
progresso industrial, pôs em ordem suas fronteiras (acordo com a França para
liquidação de suas feitorias, anexação da Goa portuguesa, ocupação e liquidação
dos principados) e anexou a maior parte das regiões de Jammu e Cachemir.
O primeiro
presidente da Índia foi Rajendra Prasad; Jawaharlal Nehru, primeiro-ministro da
nova república de 1947 a 1964, implantou as bases da política indiana: governou
sempre pelo Parlamento, promoveu o desenvolvimento econômico mediante a adoção
de planos qüinqüenais e adotou uma política externa neutralista, estabelecendo
relações amistosas com todos os países, independente de suas formas de governo.
Em seu caminho
para o progresso, a Índia tem enfrentado muitas dificuldades: divisão desigual
de riqueza, miséria da maioria do povo, sistema de castas do hinduísmo que
dificulta a mobilidade social, crescimento demográfico excessivo, intolerância
religiosa entre hindus e muçulmanos e violência separatista dos sikhs no
Punjab.
Nas primeiras
décadas da independência, a Índia envolveu-se em diversos conflitos bélicos com
estados vizinhos. Em 1962, a China ocupou Ladakh, na fronteira de Cachemir, e
as tropas indianas tiveram que se retirar. Em 1947 e 1965 Índia e Paquistão
lutaram pela posse de Cachemir e Jammu; em 1971, o governo indiano apoiou os
muçulmanos separatistas de Bangladesh, o que provocou novos combates com o Paquistão.
Em 1964 Nehru
morreu e foi sucedido por Lal Bahadur Shastri, que seguiu suas diretrizes
políticas. Depois da sua morte, subiu ao poder Indira Gandhi, filha de Nehru,
que ocupou a chefia do governo de 1966 a 1977. Enfrentou as fomes que assolaram
o país em 1967 e a guerra contra o Paquistão em 1971. Estreitou as relações com
a União Soviética, defendeu o não-alinhamento e incentivou o desenvolvimento da
bomba atômica para reforçar o sistema defensivo da Índia.
Em 1975,
Indira Gandhi suspendeu as liberdades constitucionais e perseguiu os opositores
políticos. Dois anos depois, o Partido Janata ganhou as eleições e Morarji
Desai formou um novo governo. Uma comissão parlamentar investigou as supostas
irregularidades cometidas pelo governo anterior e Indira Gandhi chegou a ser
presa por uma semana. Apesar disso, sua popularidade cresceu e em 1980 venceu
novas eleições gerais à frente do Partido do Congresso.
De 1980 a 1984 agravaram-se os problemas internos. Cresceu
a revolta dos sikhs no Punjab e aumentaram os conflitos entre bengalis e
imigrantes nepaleses em Assam e entre muçulmanos e hindus em Maharashtra e
Andra Pradesh. Em 1984, o exército invadiu o Templo Dourado dos sikhs em
Amritsar e matou 400 fiéis, entre eles o líder Jarnail Singh Bhindranwale. A
vingança sikh materializou-se com o assassinato de Indira em outubro do mesmo
ano. Seu filho e sucessor, Rajiv Gandhi, promoveu uma política de modernização
econômica que gerou um desenvolvimento sólido. Seu governo, afetado por um
escândalo de compra de armas, foi derrotado em 1989 por uma coalizão encabeçada
por Vishwanath Pratap Singh. Os conflitos étnico-religiosos aprofundaram-se em
todo o país e em 21 de maio de 1991, durante a campanha eleitoral para novas
eleições gerais, Rajiv Gandhi foi assassinado em Tamil Nadu, em atentado
provavelmente praticado por separatistas da etnia tâmil do Sri Lanka. Em junho,
o líder do Partido do Congresso, Narasimha Rao, assumiu o cargo de
primeiro-ministro em um gabinete de coalizão.
Instituições
políticas
A constituição
que entrou em vigor em 26 de janeiro de 1950 estabelece que a Índia é uma
república soberana, socialista, secular e democrática. Com 395 artigos, 11
apensos e numerosas emendas, é provavelmente o mais extenso e detalhado texto
constitucional do mundo. As matérias que afetam o conjunto do país correspondem
ao governo central, e as demais aos governos dos estados. Assim, defesa,
assuntos exteriores, sistema de transporte e comunicações, emissão de moeda e
administração da justiça em seu nível mais alto são competência do governo
central. A Índia aboliu a diferenciação da sociedade em castas, embora a
discriminação continue viva na prática. O país divide-se em 25 estados e sete
territórios. Desde 1947 integra a Comunidade Britânica de Nações.
Executivo, legislativo
e judiciário. O poder executivo central é exercido por um Conselho de Ministros
chefiado pelo primeiro-ministro, indicado pelo presidente e designado pelo
partido ou coalizão majoritária no Parlamento. O presidente da república é
eleito por um colégio eleitoral composto por membros eleitos do Parlamento e
das Assembléias Legislativas de todos os estados, para um mandato renovável de
cinco anos. É o chefe de estado e comandante supremo das forças armadas, mas
suas funções são basicamente protocolares, exceto em estado de emergência.
O poder
legislativo cabe a duas câmaras: (1) o Conselho dos Estados (Rajya Sabha),
formado por no máximo 250 membros, dos quais 12 são nomeados pelo presidente da
república, para representar a literatura, as artes, as ciências e os serviços
sociais, e os demais eleitos pelas assembléias estaduais, para um período de
dois anos; (2) e a Câmara do Povo, constituída de 545 membros eleitos pelo voto
direto e dois indiretamente, para um mandato de cinco anos, a menos que a casa
seja dissolvida antes.
A Câmara Alta
não pode ser dissolvida, mas um terço dos seus membros é renovado a cada dois
anos. Os projetos de lei podem originar-se em ambas as casas e ser aprovados
por minoria simples, com exceção dos projetos sobre matéria financeira, que só
podem ser propostos pela Lok Sabha. O presidente da república pode dissolver a
Lok Sabha e convocar novas eleições parlamentares, se o primeiro-ministro
perder um voto de confiança. O vice-presidente, escolhido por um colégio
eleitoral formado apenas por membros eleitos das duas casas do Parlamento,
preside a Rajya Sabha. Se o presidente morrer ou de alguma forma deixar o
cargo, o vice-presidente o assume até à realização de novas eleições.
O poder
judiciário tem como órgão máximo a Corte Suprema, formada por 18 juízes
indicados pelo presidente, que só podem exercer o cargo até a idade de 65 anos.
A ela compete decidir sobre a constitucionalidade das leis, os casos de disputa
entre a União e os estados, ou entre estados, e os apelos dos tribunais. Cada
estado tem um tribunal superior, de segunda instância, que decide sobre a
constitucionalidade das leis estaduais, e tribunais inferiores, de primeira
instância.
Sociedade
Saúde. Os
serviços de saúde pública na Índia melhoraram muito a partir da independência,
e a média de expectativa de vida aumentou em cerca de 25 anos. A saúde pública
compete aos estados mas o governo central tem um papel importante na prevenção
e controle de doenças e na melhoria das condições sanitárias e de abastecimento
de água. Há programas para o combate à malária, lepra, tuberculose, doenças
venéreas, varíola, tracoma e câncer. O governo central promove campanhas de
planejamento familiar para limitar o crescimento demográfico e torná-lo
adequado às condições econômicas. Um programa de distribuição de leite
beneficia crianças e mães lactantes. A Índia alcançou também progressos
notáveis na pesquisa de doenças tropicais e na elaboração de remédios e
produtos farmacêuticos.
Educação. O
Conselho Central de Educação estabelece a política geral da educação pública,
mas sua execução cabe aos estados. O ensino de nível superior e a pesquisa
tecnológica e científica competem ao governo central. Entre as principais
universidades estão a Muçulmana, de Aligarh, a Hindu, de Benares, a Visva-Bharati,
de Santiniketan e a Jawaharlal Nehru, de Delhi. Pela constituição, o ensino é
gratuito e obrigatório até à idade de 14 anos, mas na prática apenas metade da
população com idade superior a 15 anos é alfabetizada. O ensino primário (de 6
a 11 anos) é gratuito em todo o território nacional; o médio (de 11 a 14 anos)
é gratuito em quase todos os estados e territórios; o secundário (de 14 a 17
anos) também é gratuito em grande parte do país.
O número
crescente de alunos e a variedade de línguas oficiais são as principais
dificuldades da educação. Apesar disso, houve avanços notáveis em alguns
setores, como a educação de mulheres e adultos e o ensino nas áreas rurais. Os
progressos da ciência e tecnologia aprofundam as contradições: um país em que os
veículos de tração animal predominam sobre os automóveis, é capaz de fabricar
motores a jato, equipamentos eletrônicos e computadores; e enquanto muitas
aldeias ainda utilizam esterco como fonte de luz e calor, o país conta com
importantes centros de pesquisa nuclear.
Numerosas
universidades, institutos de tecnologia e outras instituições especializadas de
educação superior estão sob controle do governo federal ou estadual. A maior
parte do orçamento educacional destina-se às universidades. A proliferação de
universidades, a partir da independência, acabou por acarretar uma queda na
qualidade do ensino superior, que a cada ano lança no mercado uma percentagem
de profissionais não corretamente habilitados e que não consegue colocação.
Mesmo assim, as instituições de elite continuam a manter seus padrões e a
formar uma quantidade substancial de novos profissionais de primeira linha.
Religião. A
Índia é talvez o país de maior riqueza espiritual do mundo. A religião
constitui um aspecto tão crucial para os indianos, que muito da história da
Índia ao longo dos séculos pode ser entendido como o entrechoque entre os
diversos grupos religiosos. Os indianos praticaram sempre uma intensa vida
religiosa, e muitas crenças nasceram no subcontinente ou ali encontraram abrigo.
Originários da Índia são o hinduísmo, que é praticado pela maioria da
população; o jainismo, que defende o princípio da não-violência; o budismo,
hoje uma das principais religiões do mundo; a religião sikh, síntese do
hinduísmo e islamismo; e diversas outras. Das confissões que emigraram para a
Índia, o islamismo foi a que se arraigou com maior profundidade.
A partir de
1947, com a independência do Paquistão, de população quase totalmente islâmica,
e a subseqüente emigração de cerca de dez milhões de muçulmanos indianos para o
Paquistão, a par com a entrada na Índia de quase outro tanto de hinduístas e
sikhs paquistaneses, o hinduísmo tornou-se ainda mais preponderante.
Cultura
Poucos países
do mundo podem orgulhar-se de uma herança artística do porte da indiana,
desenvolvida ao longo de mais de quatro milênios, e que abrange manifestações
múltiplas, da pintura rupestre à arte popular e às modernas expressões, em
todos os campos. Assim, as artes plásticas e a arquitetura, por exemplo,
abrangem um período vastíssimo, que vai do quarto milênio antes da era cristã
até a época contemporânea, com influências religiosas diversas, como o
hinduísmo, o budismo e o islamismo, e modernamente com a cultura britânica.
Na literatura,
as primeiras manifestações conhecidas
são os Vedas, textos sagrados escritos em sânscrito ao longo de séculos e ainda
hoje considerados como fontes de profundo saber. Após a literatura védica,
foram compostos clássicos como o Mahabharata, relato histórico que contém o
célebre Bhagavad-Gita; o Ramayana; os Puranas; e o Kamasutra, além de obras
religiosas, como a História de Padma, a História de Buda, e o Tripitaka. Na
poesia sobressai o poema épico Ramcharitmanas (O lago dos feitos de Rama).
Entretanto, em
nenhuma outra arte os indianos conseguiram uma síntese tão completa entre a
mais ampla liberdade e a mais rígida disciplina como na música, elemento
essencial na vida do país e do indivíduo, expressão de seu mundo espiritual e
de seus valores humanos e resultado da fusão de vários povos, ao longo de seis
mil anos de história.
As várias
filosofias indianas contêm uma tal diversidade de pontos de vista, teorias e
sistemas que é quase impossível arrolar características comuns a todas. A
aceitação da autoridade dos Vedas caracteriza todos os sistemas ortodoxos
(astika), mas não os heterodoxos (nastika), como o Carvaka (materialismo
radical), o budismo e o jainismo. Além disso, mesmo quando os filósofos alegam
fidelidade aos Vedas, tal fidelidade não restringe a liberdade com que elaboram
suas especulações. Na verdade, essa alegada obediência à autoridade dos Vedas
serve para tornar seus pontos de vista mais aceitáveis pelos ortodoxos,
sobretudo quando se trata de apresentar idéias inteiramente novas. O que mostra
que os Vedas podem ser citados para corroborar as mais diversas tendências do
pensamento.
O cinema
indiano surgiu em Bombaim em 1913. Sete anos mais tarde produziu-se em Calcutá
o primeiro filme em língua bengali e em 1934 foram inaugurados em Madras os
estúdios destinados à produção de filmes em língua tâmil e telugo. Com uma
média de 400 filmes por ano, a Índia é, ao lado do Japão e dos Estados Unidos,
um dos principais produtores mundiais, embora sua distribuição seja
virtualmente nula fora do país.
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