
O Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte
é constituído pela maior ilha da Europa, a Grã-Bretanha -- situada no oceano
Atlântico, diante da costa noroeste do continente -- e pela Irlanda do Norte,
parte da ilha da Irlanda, além de várias ilhas e arquipélagos próximos. Com uma
superfície de 244.110km2, o Reino Unido estende-se na direção norte-sul entre
40°e 61°de latitude norte. De forma irregular, a Grã-Bretanha apresenta costas
muito recortadas, com profundos estuários, que na parte noroeste formam
autênticos fiordes, de escavação glacial. A Grã-Bretanha está separada do
continente europeu pelo canal da Mancha, ao sul, e pelo mar do Norte, a leste,
que confluem no estreito de Dover ou passo de Calais, que tem somente trinta
quilômetros de largura. Entre a Grã-Bretanha e a Irlanda acha-se o mar da
Irlanda; ante as costas escocesas, erguem-se, a oeste, as ilhas Hébridas (Outer
e Inner Hebrides) e, ao norte, as Órcadas (Orkneys) e Shetland, pertencentes à
Escócia.
A Grã-Bretanha é integrada por três países
historicamente diferençados: a Escócia, que ocupa 78.783km2, no norte; o País
de Gales, de 20.768km2, no oeste; e a Inglaterra, de 130.439km2, na parte
central, oriental e meridional da ilha. Estão ainda unidas à coroa britânica a
ilha de Man, no mar da Irlanda, e as ilhas Normandas, situadas junto à costa
francesa.
A Irlanda do Norte, ou Ulster, com 14.120km2, é
formada por seis condados irlandeses que, em 1921, ao se efetuar a divisão da
ilha, permaneceram integrados ao Reino Unido. Situa-se no extremo nordeste da
Irlanda, ou Eire, diante das costas escocesas, das quais é separada pelo canal
do Norte.
No fim do século XX, o Reino Unido mantinha
diversas dependências em todo o mundo: na Europa, Gibraltar (reclamada pela
Espanha); na Ásia, Hong Kong (cuja cessão à China se realizaria, por acordo, em
1997); nas Antilhas, Anguilla, Bermudas, Montserrat, ilhas Virgens, ilhas Cayman
e ilhas Turcas e Caicos; no Atlântico sul, ilhas Falkland (ou Malvinas,
reclamadas pela Argentina) e ilhas de Santa Helena, Ascensão e Tristão da
Cunha; no oceano Índico, o arquipélago de Chagos; e na Oceania, a ilha de
Pitcairn. O país reclamava ainda soberania sobre uma parte da Antártica
disputada pela Argentina e pelo Chile.
Geografia física
Geologia e relevo. Somente as partes norte e
oeste da Grã-Bretanha podem ser consideradas montanhosas; ainda assim, trata-se
de maciços muito antigos, cujas formas arredondadas e aplainadas poucas vezes
alcançaram mil metros de altura. O Ben Nevis, o pico mais alto do Reino Unido,
situa-se no oeste da Escócia e tem 1.343m.
Na Escócia, uma faixa de planícies (lowlands), em
que se concentra a população, é dominada pelos planaltos (highlands), no norte,
um maciço antigo escavado pelas geleiras quaternárias e cortado em dois pela
profunda fenda de Glen More, que se estende de mar a mar na direção
sudoeste-nordeste. Ao sul de Glen More, os planaltos culminam nos montes
Grampianos, que descem bruscamente em direção às planícies. Estas constituem o
fundo de uma fossa tectônica pela qual o mar penetra profundamente, formando os
estuários do Clyde (Firth of Clyde), a oeste, e o do Forth (Firth of Forth), a
leste. Ao sul das planícies erguem-se os altiplanos do sul (southern uplands),
que tradicionalmente separam a Escócia da Inglaterra.
A Inglaterra, em sua maior parte, é constituída
de planícies. No norte, estende-se desde as fronteiras da Escócia a cadeia
Penina e, no extremo noroeste, encontra-se o maciço de Cumberland que,
submetido à ação das geleiras quaternárias, constitui a chamada área dos lagos
(Lake District), e culmina no monte Scafell, com 978m. O extremo sudoeste da
Inglaterra é uma região de colinas, que fazem ondular a península da Cornualha.
Onde os velhos maciços ou camadas das lowlands em
saliência chegam diretamente ao litoral, erguem-se costas escarpadas, como as
da Cornualha e as famosas "falésias brancas de Dover" (white cliffs
of Dover). A fusão dos gelos, posterior à última glaciação, fez subir o nível
do mar e afogou os baixos vales, dando origem a rias, como nos estuários do
Tâmisa e do Severn (ou canal de Bristol). A costa oeste da Grã-Bretanha é muito
mais recortada que a oriental; seus movimentados portos, no entanto, são
protegidos dos ventos e tempestades vindos do Atlântico pelas reentrâncias do
litoral, por golfos (como o mar da Irlanda) e por anteparos de ilhas, como a
Irlanda, as Hébridas e a ilha de Man.
No oeste da Grã-Bretanha, o País de Gales é uma
região de montanhas e colinas banhada pelo mar a oeste, norte e sul, e que se
limita a leste com a planície inglesa. O monte Snowdon (1.085m) constitui seu
ponto culminante.
A Irlanda do Norte, diante da costa da Escócia,
apresenta uma estrutura geológica semelhante. Sua planície central estende-se
em torno do Lough Neagh, o maior lago do Reino Unido, e é um prolongamento das
planícies da Escócia.
Clima. A característica dominante do clima no
Reino Unido é sua grande dependência do oceano Atlântico. A corrente do Golfo
leva enormes quantidades de água temperada tropical proveniente do golfo do
México para as costas do oeste da Europa, que são assim beneficiadas por sua
enorme contribuição calorífica. Os ventos dominantes do oeste acumulam sobre as
ilhas Britânicas massas de ar temperado e úmido, que produzem chuvas abundantes
nas encostas ocidentais das montanhas.
Embora as precipitações pluviais diminuam à
medida que se avança para o sul e para o leste, até totalizarem pouco mais de
500mm sobre o estuário do Tâmisa, a atmosfera permanece úmida e brumosa na
maior parte do ano. As chuvas distribuem-se por todas as estações, e a
instabilidade atmosférica é constante. As temperaturas variam pouco ao longo do
ano. Devido à influência oceânica, as médias oscilam, no inverno, entre 4°e
6°C, no norte e, no verão, entre 12°e 17°C no sul. Embora no inverno caiam
nevadas, em geral estas só apresentam certa importância nos planaltos da
Escócia e nas maiores elevações. Nas planícies do sudeste, as temperaturas de
verão permitem o cultivo de trigo, e as costas do canal desfrutam de clima
relativamente ensolarado.
Nas diversas partes das ilhas, os dias de
nevoeiro variam entre 5 e 55 por ano. O outrora famoso fog londrino, que
misturado à fumaça das fábricas constituía o smog, diminuiu muito, em
decorrência das rigorosas medidas antipoluição.
Hidrografia. Os rios britânicos são curtos, mas
por causa do clima úmido relativamente volumosos, com moderadas enchentes de
outono-inverno. Os maiores ocorrem nas baixas do sul: o Severn (290km) e o
Tâmisa (338km) são os mais longos. O primeiro desemboca no interior do profundo
canal de Bristol, aberto ao Atlântico, e o segundo abre-se em amplo estuário ao
desembocar no mar do Norte. Outros rios dignos de nota são o Ouse, o Trent, o
Tyne. Na Irlanda do Norte, o Bann e o Mourne. O relevo moderado e as grandes
descargas facilitaram a abertura de canais que interligam os rios.
Em sua maioria, os rios são de escasso desnível,
e muitos deles navegáveis em grande parte de seu curso. A larga plataforma
continental provoca acentuadas correntes de maré, que limpam naturalmente os
estuários, facilitando o acesso aos portos. Somente no Wash, na costa leste,
ocorreu apreciável assoreamento, que permitiu a instalação de pôlderes na
região de Fens.
Os lagos são mais numerosos nos velhos maciços e
originaram-se em vales de geleiras. Na Escócia, onde são chamados lochs, há
muitos deles, de forma alongada. O maior, porém, o Lough Neagh, fica na Irlanda
do Norte.
Flora e fauna. A vegetação natural das ilhas
Britânicas, formada principalmente por florestas de árvores caducifólias, com
predominância de carvalhos, faias, freixos e olmos, reduziu-se, em grande
parte, como conseqüência da exploração agropecuária. Assim, apenas uma pequena
porção do território britânico é ocupada por reservas florestais, sobretudo no
norte e no leste da Escócia e no sudeste da Inglaterra. Nos planaltos do norte,
os solos são pobres e finos, e nos moors ou terras turfosas crescem e florescem
urzes, gramíneas e tojos.
A fauna do Reino Unido, similar à do continente
europeu, conquanto bem mais pobre em espécies, é protegida por leis severas,
que regulamentam a caça. Ainda assim, restam-lhe poucas espécies de mamíferos,
como os cervos (que só existem ainda na Escócia), lobos, raposas e coelhos.
População
O Reino Unido é um dos países mais densamente
povoados do mundo. Nos século XVII e XVIII, a população britânica experimentou
um crescimento contínuo, por se atenuarem as epidemias, por manter-se alta a
taxa de natalidade da sociedade tradicional e ainda por cair a taxa de
mortalidade após a adoção de modernas técnicas de higiene. A revolução
industrial -- e agrícola -- do século XVIII permitiu a alimentação adequada da
crescente população, de modo que se deu no país, pela primeira vez, o fenômeno
da explosão demográfica que caracterizou a transição de algumas sociedades para
a modernidade.
No começo do século XX ainda se mantinham no
Reino Unido taxas de natalidade relativamente altas (média de 1900-1917: 27 por
mil), enquanto as de mortalidade haviam caído para menos de 16 por mil, então
entre as mais baixas do mundo. A partir da primeira guerra mundial, contudo, a
taxa de natalidade baixou drasticamente -- e mais ainda na década de 1930.
Pouco antes da segunda guerra mundial produziu-se
uma elevação, mas em meados da década de 1960 começou a cair de novo, até ao
ponto de, no começo da década de 1990, a taxa de natalidade aproximar-se
bastante da taxa de mortalidade, que se mantinha quase constantemente por volta
de 12 por mil. A expectativa de vida ao nascer, de 74 anos em média no início
dessa década, era uma das mais altas do mundo. A população britânica, no final
do século XX, era fundamentalmente madura, ou seja, os grupos de idades médias
eram os mais numerosos.
Movimentos migratórios. Durante muitas gerações o
Reino Unido foi um importante país e emigração. A partir do início do século
XX, vários milhões de britânicos emigraram para os Estados Unidos, Canadá,
Austrália, Nova Zelândia e África do Sul, principalmente, num movimento
migratório contínuo. Entretanto, desde a década de 1930 ganhou força uma
corrente imigratória para o Reino Unido, integrada principalmente por
britânicos que regressavam dos domínios e colônias, mas também por europeus
procedentes da Europa central, Itália, Irlanda e outros países.
Nos últimos anos da década de 1950 e primeiros da
de 1960 produziu-se uma entrada considerável de imigrantes de cor, procedentes
das Índias Ocidentais, Paquistão, Índia e outros países, que foi sentida como
uma verdadeira "invasão" por parte de muitos britânicos. Como
resultado aprovaram-se leis fortemente restritivas da imigração. Apesar disso,
nas últimas décadas do século os negros e mestiços constituíam uma minoria
importante nas grandes cidades, onde freqüentemente desempenhavam trabalhos
recusados pela população autóctone. O fenômeno deu origem a focos de racismo e
conflitos raciais.
As migrações internas, no Reino Unido, não são de
grande envergadura. Ao longo de muitas décadas, porém, tem-se desenrolado uma
característica corrente populacional no sentido norte-sul. No sul da Inglaterra
são mais abundantes as indústrias de criação recente, dinâmicas, com oferta de
empregos mais qualificados, assim como as oportunidades no setor terciário, o
que motiva ininterrupto deslocamento da população em idade de trabalho,
sobretudo na área da Grande Londres, o que aumenta paulatinamente seu peso
populacional em relação ao conjunto do Reino Unido.
Ao mesmo tempo, boa parte da população aposentada
deseja passar seus últimos anos em climas mais favoráveis, de maneira que se
agrupa nas estações balneárias do canal da Mancha, como Brighton, e em boa
parte procura países europeus mais ensolarados, como a Espanha, França ou
Itália.
Línguas. Mais de um quarto da população de Gales
pode expressar-se em galês, língua céltica majoritária nas áreas rurais. Outros
idiomas célticos que sobrevivem, mas já em fase de desaparecimento, são o
manquês (manx), falado por poucas pessoas na ilha de Man, e o gaélico escocês,
que se refugiou nas ilhas mais afastadas. Também se perdeu quase totalmente o
gaélico antigamente usado no norte da Irlanda.
O idioma inglês tem suas raízes nos dialetos
germânicos utilizados por anglos, saxões e outros povos que invadiram a ilha no
século V. Depois da conquista normanda desenvolveu-se na Inglaterra uma
linguagem de estrutura anglo-saxônica e vocabulário em grande parte francês, já
que este último idioma era falado pelos conquistadores normandos, convertidos
em classe dominante. Dessa superposição provém o inglês moderno, que com o
tempo se estendeu não só pelas ilhas Britânicas como pelas diversas
dependências e colônias, inclusive como segunda língua fora da esfera cultural
anglo-saxônica, até chegar a ser o idioma mais difundido no mundo.
Distribuição geográfica da população. A população
britânica é uma das mais urbanizadas do mundo. Mais de 90% dos britânicos
habitam em cidades e, dos 10% que vivem nos núcleos considerados rurais, mais
da metade trabalha também nas cidades. O fenômeno do êxodo rural no Reino Unido
alcançou sua máxima intensidade ao longo do século XIX.
Boa parte do território britânico é pouco
povoada: os planaltos da Escócia e as zonas montanhosas do norte da Inglaterra
e de Gales contam-se entre as escassas áreas despovoadas da Europa ocidental.
Pelo contrário, a população concentra-se em grandes aglomerados urbanos. A
maioria dos habitantes da Escócia vive no vale central, na área de Glasgow e na
vizinha Edimburgo. Dois terços da população galesa residem na bacia carbonífera
e no vale de Glamorgan, em menos da décima parte da superfície. Quase a metade
da população da Inglaterra habita nas aglomerações de Londres, Manchester,
Leeds, Birmingham, Liverpool e Newcastle. Belfast concentra boa parte da
população da Irlanda do Norte.
Uma eficaz política de ordenação territorial,
posta em prática desde o fim da segunda guerra mundial, impôs o
descongestionamento dos superpovoados centros urbanos e fez deslocar parte da
população para cidades-satélites de criação recente ou para centros urbanos
menores e preexistentes na periferia das grandes cidades. Por isso, a maior
parte das grandes cidades aparentemente perdeu população nos últimos decênios,
embora as grandes áreas urbanizadas se tenham estendido ainda mais.
Ocupam boa parte da planície britânica
intermináveis conjuntos de casas com
jardim e pomar, de densidade bastante baixa, com grandes superfícies
ajardinadas e geralmente servidas por um eficiente sistema de transportes
públicos, em que predominam as soluções ferroviárias. (Para dados demográficos,
ver DATAPÉDIA.)
Economia
O Reino Unido foi, no século XIX, líder
indiscutível e centro da economia mundial. Ao longo do século XX, contudo, sua
posição pouco a pouco declinou e sua importância econômica foi ultrapassada
pela de um grupo de países que se industrializaram rapidamente e
substituíram-no em diversos mercados.
O ingresso do Reino Unido na Comunidade Econômica
Européia, em janeiro de 1973, teve como conseqüência um estímulo ainda maior do
processo de concentração do comércio britânico com outros países da Europa
ocidental, enquanto as relações econômicas com as antigas colônias sofreram
progressivo esvaziamento.
Agricultura, pecuária e pesca. Nas últimas
décadas do século XX, apenas uma pequena parte da população ativa britânica,
inferior a dois por cento, estava empregada no setor agrícola, altamente
mecanizado. O grande aumento de produtividade, experimentado desde o começo do
século e superior ao da população, fez cair muito a dependência do Reino Unido,
em matéria de alimentos, para com o comércio exterior, embora continuasse
considerável.
Trigo, cevada, batata e beterraba açucareira são
os principais produtos agrícolas, enquanto ovelhas, vacas, porcos e galinhas
são criados em grandes quantidades e por processos de alta modernização
tecnológica. O leite e seus derivados constituem um dos itens mais importantes
da produção pecuária.
Ao longo de muitas décadas protegeu-se a
agricultura para estimular-lhe o crescimento, com a subvenção de seus custos
para baratear o produto final. Desde a entrada na Comunidade Econômica
Européia, a política agrícola teve de se alinhar com a desta última, tendente a
manter preços agrícolas artificialmente elevados, o que gerou numerosos atritos
entre o Reino Unido e seus parceiros.
Os mares que circundam as ilhas Britânicas são
ricos em pescado de variadas espécies, razão pela qual a atividade pesqueira do
Reino Unido é significativa e de raízes tradicionais, principalmente na
Escócia. A ameaça de superexploração levou a acordos internacionais para limitar
as capturas em diversos setores marítimos, submetidos a estrito controle.
Aproximadamente 6,5% da superfície do Reino Unido
estão cobertos de florestas. A produção madeireira, apesar do ativo
reflorestamento, só cobre uma pequena proporção das necessidades domésticas,
supridas, principalmente, por importações de países do norte da Europa, Canadá
e diversos países tropicais.
Energia e mineração. A primeira revolução
industrial, que levou o Reino Unido à primazia econômica mundial no século XIX,
baseou-se no emprego do carvão, que se encontra em grande quantidade no solo da
Grã-Bretanha. Nas proximidades de Newcastle, os veios superficiais já eram
explorados no século XIII. O rápido desmatamento da Inglaterra desde cedo impôs
o emprego do carvão mineral para a calefação. Além disso, a invenção da máquina
a vapor e o emprego de altos-fornos para a obtenção de ferro, desde as últimas
décadas do século XVIII, estimularam a produção de tal maneira, que o sistema
industrial inglês, pouco depois, ficou concentrado em torno das jazidas mais
rentáveis do minério.
As planícies da Escócia, as terras situadas a
leste e a oeste da cadeia Penina, a zona que rodeia Manchester, Leeds e o sul
de Gales apresentam extensos e amplos veios carboníferos, que, ao ritmo de
exploração atingido no final do século XX, ainda continham reservas para vários
séculos.
Nos primeiros anos do século XX, o carvão
britânico era exportado para todo o mundo. Em 1913 chegaram-se a extrair mais
de 300 milhões de toneladas, mas depois da primeira guerra mundial a produção
passou a cair, ainda que lentamente, e as exportações baixaram de forma
drástica, por serem os custos de extração bem maiores que os dos países
concorrentes.
Modernamente, a disseminação do uso dos derivados
do petróleo eliminou boa parte das aplicações do carvão (calefação, obtenção de
gás encanado, transporte), que continua utilizado sobretudo para geração de
energia elétrica em centrais térmicas e a produção de coque para a siderurgia.
Numerosas minas foram fechadas, algumas por esgotamento e as demais por falta
de rentabilidade, de forma que extensas áreas industriais e mineiras perderam a
atividade, enquanto o número de mineiros empregados nos trabalhos de extração
reduziu-se rapidamente, com os conseqüentes bolsões de desemprego e de
conflitos sociais.
Até a década de 1970, apenas uma pequena
quantidade de petróleo era obtida na região dos Midlands, e o Reino Unido tinha
de importar grande quantidade do golfo Pérsico, da Nigéria e de outros países.
Apesar disso, o consumo de carvão nacional diminuía progressivamente, devido
aos baixos preços do petróleo. Na década de 1960 foram descobertas grandes
jazidas de petróleo e gás natural no mar do Norte, boa parte delas no setor
atribuído ao Reino Unido. Os elevados custos de exploração só tornaram
rentáveis a extração de petróleo quando o preço mundial dos hidrocarbonetos, em
1973, repentinamente quadruplicou.
Dois anos mais tarde começou a exploração em
grande escala das jazidas e, na década de 1980, o Reino Unido havia passado de
importador a exportador de derivados de petróleo, de que se transformou num dos
principais produtores do mundo.
Mais próximas à costa britânica, algumas jazidas
de gás natural da plataforma continental do mar do Norte começaram a ser
exploradas em 1965. Gasodutos submarinos logo as uniram à Grã-Bretanha, que se
cobriu de uma densa rede de oleodutos e gasodutos, entre as principais cidades
e centros industriais.
O governo britânico foi um dos primeiros a se
interessar pela energia nuclear. A primeira usina a entrar em operação foi a
Calder Hall, conectada à rede de distribuição em 1956. Seguiram-se muitas
outras, de tecnologia aperfeiçoada. Apesar de proporcionarem uma substancial
parcela da eletricidade consumida no país, sua rentabilidade, no entanto, é
problemática. A maior parte da eletricidade do Reino Unido continua a ser de
geração térmica convencional, em sua quase totalidade de centrais construídas
junto a minas. A energia hidrelétrica é bastante escassa.
Indústria. No final do século XX, as principais
indústrias tradicionais do Reino Unido, aquelas que constituíram a base de sua
hegemonia econômica, estavam em crise. A siderurgia precisava importar a maior
parte do minério de ferro e achava-se em plena reestruturação, após ser
submetida a sucessivas estatizações e desestatizações pelos governos
trabalhistas e conservadores. A construção naval achava-se em crise profunda e
a indústria automobilística, na maior parte, estava controlada por capitais
americanos.
A indústria aeronáutica associou-se, em muitos
casos, à de outros países da Europa ocidental, sobretudo a França. A indústria
mecânica e, sobretudo, a eletrônica encontram-se muito desenvolvidas. O setor
químico acha-se concentrado em algumas poucas grandes empresas, e seu
crescimento na segunda metade do século XX foi rápido, especialmente no campo
da petroquímica.
A indústria têxtil algodoeira perdeu importância,
embora a de fibras artificiais tenha recebido forte impulso. Indústrias de
tecnologia avançada, muito relacionadas com o setor de serviços, apresentaram
extraordinário desenvolvimento, como a microeletrônica, a editorial, a
discográfica e outras. São numerosas as empresas que mantêm sede real de
operações no Reino Unido e que, contudo, realizam todo, ou quase todo, seu
ciclo de produção em países onde a mão-de-obra é mais barata.
Finanças e comércio. O sistema financeiro do
Reino Unido é um dos mais adiantados do mundo e orgulha-se de uma história de
séculos. É encabeçado pelo Banco da Inglaterra, fundado em 1694, e que foi
entidade privada até sua estatização em 1946. Tem o monopólio de emissão de
papel-moeda na Inglaterra e em Gales, e é o principal instrumento do governo
para levar adiante sua política monetária e financeira. Atua como banqueiro do
governo e dos outros bancos, inclusive de bancos centrais de outros países.
Um grande número de entidades financeiras de
todos os tipos atua no Reino Unido, cujo cerne indiscutível é a City londrina,
o núcleo central da cidade, onde têm seus escritórios as principais entidades,
não somente bancárias como de seguros (encabeçadas pelo consórcio Lloyd's),
companhias de navegação, a bolsa,
diversos mercados financeiros e de matérias-primas, que fazem dela um
dos maiores centros financeiros do mundo, ainda o primeiro deles em muitos
campos.
A estrutura do comércio exterior britânico é
própria de um país altamente industrializado. A maior parte das exportações
compreende bens manufaturados, a que nas últimas décadas se acrescentaram os
produtos petrolíferos que se dirigem aos países vizinhos. Parte significativa
das importações compõe-se de alimentos e matérias-primas. Embora o Reino Unido
mantenha relações comerciais com praticamente todos os países do mundo, na
segunda metade do século XX foi espetacular o incremento dos intercâmbios com a
Comunidade Econômica Européia, sobretudo a Alemanha. Fora da Europa, são os
Estados Unidos o principal parceiro comercial do Reino Unido.
O nível relativamente baixo dos preços britânicos
diante dos de outros países de desenvolvimento mais rápido tem favorecido a
afluência de turistas. Londres constitui o destino mais freqüente dos
visitantes estrangeiros, graças a seus monumentos artísticos, às obras de arte
de todo o mundo reunidas em seus museus e a sua intensa vida cultural.
Transportes e comunicações. A rede britânica de
estradas de rodagem é bastante densa, embora seja pequena a extensão das
rodovias em comparação com a de outros países da Europa continental e de parque
automobilístico similar. O serviço de estradas de ferro continua a ser um dos
melhores da Europa, com uma malha que, na segunda metade do século XX, era
maior que a do Brasil, país de território 34 vezes maior que o do Reino Unido.
Diversos canais de navegação atravessam o país e proporcionam um sistema eficaz
de transporte, especialmente concebido para as mercadorias pesadas.
O eixo comercial mais importante da Grã-Bretanha
atravessa-a de norte a sul, desde Glasgow, com passagem por Manchester,
Birmingham e Londres, até os portos do canal da Mancha que ligam a ilha ao
continente europeu. É constituído basicamente de rodovias e ferrovias rápidas
mas, entre Londres e Manchester, também conta com canais de navegação. Em 1987
iniciou-se a construção do Eurotúnel, entre a França e o Reino Unido, sob o
canal da Mancha. Foi inaugurado no fim de 1994.
As ilhas Britânicas contam com grande número de
excelentes portos marítimos, que canalizam intenso tráfego de mercadorias.
Salientam-se os de Londres, Southampton e Liverpool. O transporte marítimo de
passageiros, absorvido pelo avião para as grandes distâncias, ficou reduzido à
travessia do canal, à ligação com a Irlanda e as ilhas menores.
A maior parte do movimento de passageiros entre o
Reino Unido e outros países realiza-se por via aérea. Londres constitui um dos
mais movimentados centros de transporte aéreo do mundo. O saturado aeroporto de
Heathrow se complementa com os serviços próximos de Gatwick, Southend, Luton e
Stansted. Os aeroportos de Prestwick, perto de Glasgow, e Manchester também
recebem intenso tráfego aéreo internacional. As ilhas adjacentes estão ligadas
à Grã-Bretanha por meio de rotas aéreas. (Para dados econômicos, ver
DATAPÉDIA.)
História
Depois do desaparecimento do homem paleolítico e
do fim do período glacial, as ilhas Britânicas foram habitadas, em torno do ano
3000 a.C., por grupos neolíticos nômades, procedentes do noroeste da Europa,
que trouxeram consigo a prática da pecuária e da agricultura dentro de áreas
cercadas, em associação com a cerâmica e instrumentos de pedra aperfeiçoados.
As gigantescas ruínas próximas à cidade de Avebury,
o monumento megalítico de Stonehenge e as colinas artificiais da colina dos
Gigantes indicam a existência, a partir de 2000 a.C., de uma população
numerosa, habituada a se unir para ação coletiva sob a direção de uma
autoridade comum.
Antiguidade. Entre os séculos VI e IV a.C.
chegaram à Inglaterra e à Irlanda vagas sucessivas de tribos pastoris e
guerreiras, pertencentes a um povo celta, ocupantes de territórios imensos no
vale do Danúbio, ao norte dos Alpes, e na Gália. Como parte integrante da lenta
penetração celta vieram os bretões, cuja língua permaneceu entre os galeses e
bretões da França e desapareceu na Inglaterra sob o influxo das invasões
germânicas.
Esses povos, organizados em clãs, não tinham a
noção de estado nem deixaram uma herança política. Sua arte prendia-se
diretamente à cultura La Tène, dos celtas continentais. A classe mais
prestigiosa era a dos religiosos ou druidas, praticantes de magias e de ritos
bárbaros, com sacrifícios humanos. Celtas bretões e celtas belgas, fixados em
lados opostos da Mancha, estabeleceram relações estreitas e constantes. Quando
a civilização romana invadiu a Gália belga, transferiu-se assim, sem
dificuldade, às ilhas Britânicas. Júlio César invadiu a Bretanha (a futura
Grã-Bretanha) entre 55 e 54 a.C., mas a conquista romana foi empreendida
efetivamente pelo imperador Cláudio, no ano de 43 da era cristã. A maior parte
da ilha era já romana nas últimas décadas do século I.
A Escócia, porém, não despertava interesse
econômico e era habitada por tribos de obstinada resistência. No ano 122, após
o massacre de uma legião, o imperador Adriano deslocou-se pessoalmente para a
Bretanha, à frente de novas tropas. Um exame da situação levou-o a renunciar à
conquista do norte e a fortificar uma linha entre o estuário do Tyne e o golfo
de Solway, construindo 14 fortes unidos por uma muralha de pedra, com guarnição
militar permanente (muralha de Adriano). A Escócia e a Irlanda, assim, não
foram romanizadas.
Anglos e saxões. No século V, quando o Império
Romano se decompôs, a Bretanha foi invadida pelos anglos, pelos saxões e jutos,
que se estabeleceram nas terras mais ricas do sul e leste, deslocando os povos
restantes, quase totalmente cristãos, para as terras mais pobres do norte e
oeste. Segundo a tradição estabelecida no século VIII por Beda o Venerável, os
anglos eram originários do Schleswig; os saxões provinham do vale inferior do
Elba; e os jutos, da península da Jutlândia. Além desses, outros grupos, como
os frísios, participaram da migração para a Bretanha.
Entre os séculos VI e VII existiu na Inglaterra a
chamada heptarquia, composta dos reinos da Mércia, Ânglia Oriental e
Nortúmbria, no norte, e Kent, Essex, Sussex e Wessex, no sul. No século VIII,
subsistiam três desses reinos: a Nortúmbria, a Mércia e o Wessex; e no século
IX, somente o último perdurava.
A introdução do cristianismo na Inglaterra,
ocorrida nesse período histórico, foi obra de dois grupos de missionários, um
vindo de Roma e outro dos países celtas e, sobretudo, da Irlanda. São Patrício
evangelizou as tribos celtas e criou mosteiros de onde partiram os missionários
responsáveis pela conversão dos celtas da Escócia. Na Irlanda, no País de Gales
e na Escócia formou-se, assim, uma igreja nacional, independente da igreja de
Roma. Por seu lado, o papa Gregório I enviou, no ano 596, uma missão de
quarenta monges, chefiada por santo Agostinho de Canterbury, a fim de converter
os povos ingleses.
Invasões dinamarquesas. As primeiras incursões
escandinavas contra pontos isolados da costa britânica ocorreram no final do
século VIII. Esses ataques cresceram em força e freqüência até que, no ano 851,
uma frota dinamarquesa de 300 navios desembarcou seus homens na foz do Tâmisa e
tomou de assalto Canterbury e Londres.
Os êxitos surpreendentes dessas expedições, compostas,
inicialmente, de pequenos grupos, mas que chegaram a incluir cerca de dez mil
homens, se deveram ao fato de pertencer aos viquingues o domínio do mar. Os
saxões, homens dos campos e das florestas, esquecidos de suas tradições
marítimas, permitiram aos invasores a conquista de quase todo o país. A Irlanda
foi a primeira a ser subjugada, seguindo-se a Nortúmbria, Mércia e grande parte
do próprio Wessex.
A ameaça de uma ocupação completa dos domínios
saxões pelos dinamarqueses levou o rei Alfredo, em 878, a refugiar-se nos
alagados de Somerset, onde construiu um pequeno forte. Um ano depois, o monarca
convocou secretamente os chefes saxões de Somerset, Wiltshire e Hampshire e
derrotou os dinamarqueses na batalha de Edington. Alfredo, que veio a ser chamado
o Grande, fortaleceu as forças terrestres e navais e reformou a justiça e a
educação. Os efetivos militares cresceram com a elevação à categoria de thanes
(chefes militares) de todos os homens livres, proprietários de terras. Essa
pequena nobreza, prenúncio do feudalismo, prestava serviço na cavalaria e
guardava as antigas fortificações romanas reconstruídas.
A paz de que o país desfrutou por algum tempo se
deveu tanto à bravura dos anglo-saxões quanto ao fato de que os escandinavos
lutavam entre si para a formação dos reinos da Noruega e Dinamarca. Terminado
esse período de lutas internas, recomeçaram as incursões, que aos poucos se
transformaram em nova e maciça invasão. Ethelred II, ao invés de defender o
país procurou comprar a retirada dos agressores com o pagamento de um tributo de dez mil libras. Em
1013, Sweyn I da Dinamarca voltou a invadir a Inglaterra sem resistência. Seu
filho mais moço, Knud ou Canuto I, sucedeu-lhe no comando das forças invasoras
e no governo do país conquistado. Com a morte de Edmundo II Ironside, último
monarca saxão a oferecer resistência no Wessex, em 1016 o conselho de sábios
resolveu oferecer a coroa da Inglaterra ao invasor vitorioso. Uma dinastia
escocesa, enquanto isso, juntou em um só reino as terras do norte da Grã-Bretanha.
O império anglo-escandinavo era, porém, demasiado
artificial para resistir à morte de seu fundador. Depois de lutas entre os
herdeiros de Canuto, o conselho de sábios, atendendo agora aos anseios do povo,
entregou a chefia do reino a um príncipe saxão, filho de Ethelred. O reino de
Eduardo, chamado o Confessor, que reinou de 1042 a 1066, é considerado o
prelúdio da conquista normanda.
Inglaterra normanda. Eduardo, último rei saxão,
era homem virtuoso, porém fraco. Mais preocupado com a salvação de sua alma do
que com o destino do reino, educado na Normandia e grato pelo acolhimento
recebido durante o domínio dinamarquês, prometeu o trono da Inglaterra a seu
primo, o duque Guilherme o Bastardo, depois Guilherme o Conquistador. A mesma
promessa teria sido feita a Sweyn II da Dinamarca e a Haroldo, filho de Godwin,
conde de Wessex e Kent.
Com a morte de Eduardo em 1066, o conselho de
sábios decidiu entregar a coroa a Haroldo, de preferência ao jovem Edgard
Atheling, neto de Edmundo Ironside. Guilherme da Normandia reivindicou
imediatamente a sucessão ao trono britânico. Moveu campanha em toda a Europa,
sobretudo em Roma, acusando "seu
vassalo" Haroldo de arrebatar-lhe "uma coroa prometida pelo soberano
desaparecido", em violação das leis feudais e de um juramento solene.
O papa, a quem o duque normando prometera a
reforma da igreja na Inglaterra, segundo as idéias de Hildebrando (papa
Gregório VII), abençoou a empresa. A célebre tapeçaria de Bayeux, atribuída à
rainha Matilde, mulher de Guilherme, mostra como florestas foram abatidas para
construir os 750 navios necessários ao transporte de 12.000 a 15.000 homens,
recrutados em toda a França, sob promessa de terras na Inglaterra e recompensas
financeiras.
Haroldo foi morto na batalha de Hastings, e Guilherme
o Conquistador foi coroado rei da Inglaterra em Westminster, em 25 de dezembro
de 1066. Com ele começou a governar o país uma dinastia normanda, de cultura e
língua francesas, com grandes possessões territoriais no continente europeu, o
que haveria de conduzir à intervenção da coroa inglesa nos assuntos da França
durante séculos.
Plantagenetas, casas de Lancaster e York.
Estabeleceu-se na Inglaterra um eficaz sistema administrativo centralizado e
instaurou-se um feudalismo de amplitude continental. O monarca Henrique II, da
casa de Anjou, conquistou a Irlanda na segunda metade do século XII. Teve
início, em sua época, uma sucessão de conflitos entre a coroa, a nobreza e o
alto clero. Thomas à Becket, arcebispo de Canterbury, foi assassinado por ordem
de Henrique. Os nobres obrigaram seu filho, João Sem Terra, a outorgar em 1215
a Magna Carta, que se considera tradicionalmente como o ponto de partida das
liberdades e do sistema parlamentar inglês.
No final do século XIII, Eduardo I apoderou-se de
Gales. Instituiu o título de príncipe de Gales, que ainda corresponde ao de
herdeiro da coroa britânica, e iniciou as primeiras reuniões de um corpo
deliberativo, integrado por nobres, funcionários do Tesouro e representantes
dos diversos condados, que se denominou "parlamento modelo", germe da
moderna instituição. Também tentou apoderar-se da Escócia, mas a resistência de
seus habitantes conseguiu garantir a independência do país.
Em 1337 começou a guerra dos cem anos, que se
prolongaria, com escassos períodos de trégua, até 1453. Os poderosos reis
ingleses, senhores de grandes domínios continentais, enfrentaram o rei da
França, com sorte diversa. A guerra desenvolveu-se no continente e, ao seu
final, os ingleses viram-se expulsos dali. A partir de então acentuou-se a
insularidade do país e fortaleceu-se o nacionalismo inglês. A corte deixou
paulatinamente de utilizar o idioma francês e desde 1362 os procedimentos
judiciais começaram a desenvolver-se em língua inglesa. Geoffrey Chaucer, nos
Canterbury Tales (Contos de Canterbury), escritos entre 1390 e 1400, deu
dimensão literária ao idioma do povo, atestando que este se impunha sobre o da
nobreza normanda.
Em 1455 começou um período turbulento, de quase
permanente guerra civil ao longo de trinta anos. Foi a guerra das duas rosas,
entre a casa de Lancaster e a de York, que deixou a Inglaterra exaurida. A
entronização, em 1485, de Henrique VII, fundador da dinastia Tudor,
restabeleceu a unidade do país.
Absolutismo Tudor. Depois de derrotar Ricardo III
na batalha de Bosworth Field (1485), Henrique Tudor, conde de Richmond,
inaugurou a dinastia Tudor, com o nome de Henrique VII. Durante seu reinado, de
1485 a 1509, mostrou-se autoritário e prudente, transformou a Inglaterra num
país próspero e favoreceu a classe emergente dos comerciantes e armadores.
Seu filho Henrique VIII, soberano de 1509 a 1547,
foi, além de excelente político, um extraordinário poeta e músico. Ante a
Reforma religiosa que abalava a Europa, definiu-se a princípio favorável a
Roma. Mais tarde, quando o papa se negou a conceder-lhe o divórcio de Catarina
de Aragão, erigiu-se em chefe da Igreja da Inglaterra, cisma sancionado em 1534
pelo Estatuto de Supremacia. Os mosteiros foram suprimidos e seus bens
confiscados em favor da coroa. As execuções de luteranos (tidos como hereges) e
de católicos (como traidores à coroa) sucederam-se em seu reinado.
Os três filhos que Henrique teve com três esposas
diferentes reinaram na Inglaterra. Eduardo VI (1547-1553), por sua pouca idade,
apenas pôde intervir nas tarefas do governo. Maria I (1553-1558) restabeleceu o
catolicismo e perseguiu com violência os protagonistas do cisma anterior, pelo
que recebeu o nome de Maria a Sanguinária (Bloody Mary). No mesmo ano de sua
morte, a França apoderou-se de Calais, o último local do continente em poder da
Inglaterra.
Período elisabetano. Elizabeth I (1558-1603),
filha de Henrique VIII e de Ana Bolena, rechaçou de novo o catolicismo.
Reformou a Igreja da Inglaterra e aproximou-a do protestantismo. Com isso
conquistou a simpatia da burguesia cada vez mais poderosa e o apoio decidido da
nobreza latifundiária, que enriquecera com os bens confiscados a conventos e
mosteiros. O Parlamento não opôs obstáculos às ambições da rainha, que
coincidiam com as da maioria dos parlamentares. A Lei dos Trinta e Nove
Artigos, em 1563, deu forma definitiva à Igreja Anglicana.
Ao longo do reinado de Elizabeth I, a Inglaterra
transformou-se em adversária do poder espanhol, cujas colônias americanas
começaram a ser atacadas por navios ingleses. Os comerciantes londrinos fizeram
da capital inglesa um empório econômico de primeira grandeza. A cobiçada lã
inglesa, antes exportada para a manufatura em Flandres, passou a ser trabalhada
na ilha. Começaram a surgir poderosas empresas comerciais, como a Companhia das
Índias.
Nessa etapa, o rei espanhol Filipe II, em várias
ocasiões, tentou derrubar Elizabeth, mediante o apoio às facções católicas
dispostas a destronar a rainha, mas fracassou nesse intento. Em revanche,
Elizabeth favoreceu abertamente a rebelião dos Países Baixos contra o monarca
espanhol, que tentou a invasão das ilhas Britânicas com a Invencível Armada.
Sua destruição, em 1558, pelos navios ingleses, mais leves e manobráveis,
marcou o princípio do declínio do império espanhol.
Os Stuarts e as revoluções inglesas. Quando
Elizabeth I morreu sem deixar descendentes diretos, herdou o trono da
Inglaterra o rei da Escócia, Jaime VI Stuart, que tomou o nome de Jaime I da
Inglaterra (1603-1625). A partir de 1603, os quatro países britânicos --
Inglaterra, Irlanda, Gales e Escócia -- ficaram unidos politicamente sob a
mesma coroa, embora o Parlamento inglês e o escocês só se unificassem em 1707.
Jaime I começou seu reinado seguindo os passos de
Elizabeth. A partir de 1611, porém, suas relações com o Parlamento ficaram
bastante tensas. Seu filho Carlos I (1625-1649), que manifestou abertamente
tendências absolutistas, também logo perdeu o favor do Parlamento. Empenhado em
unificar religiosamente o país sob a Igreja Anglicana, teve de enfrentar a
rebelião da Escócia, que era quase totalmente presbiteriana. Depois da derrota
das tropas reais em Newburn, em agosto de 1640, Carlos I precisou convocar o
"Parlamento longo", com o objetivo de reunir fundos para preparar
novo exército.
O Parlamento, então, ergueu-se diante do rei, a
quem apresentou em junho de 1642 as Dezenove Propostas, cuja aceitação teria
significado, para Carlos I, a perda de todo o poder. A negativa do rei deu
início a uma guerra civil entre a coroa e o Parlamento, que terminou com a
derrota e a prisão do monarca. Condenado por alta traição, ele foi executado em
30 de janeiro de 1649.
Instaurou-se um regime de soberania parlamentar,
denominado Commonwealth, durante o qual se promulgou o Estatuto de Navegação
(1651) que, ao obrigar a realização do comércio britânico com navios
britânicos, impôs o crescimento da frota própria, e prejudicou a similar
holandesa. Oliver Cromwell, o homem que organizara o exército do Parlamento e
forçara a execução de Carlos I, era o verdadeiro dono do poder. A partir de
1653 transformou-se em ditador e dissolveu o Parlamento.
Com a morte de Cromwell, em 1658, sucedeu-lhe seu
filho Richard, que não se sustentou mais de um ano no poder. O general George
Monck, chefe do Exército da Escócia, convocou de novo o Parlamento, o qual
chamou de volta o filho do decapitado Carlos I, que do exílio prometera a
anistia. Em maio de 1660, Carlos II entrava em Londres.
Carlos II tinha convicções absolutistas, como o
pai, e desejava empreender uma política exterior de altos vôos. Estava,
contudo, economicamente preso ao Parlamento, o que tornou vacilante sua
intervenção nas guerras que Luís XIV da França travava com os Países Baixos.
Sua política interna também foi contraditória: contra a Declaração de
Tolerância, que de fato favorecia os católicos, o Parlamento decretou que todos
os funcionários deveriam fazer um juramento que rechaçasse os dogmas do
catolicismo.
Os parlamentares, a partir daí, começaram a
dividir-se em dois partidos: os whigs, decididos a defender suas prerrogativas,
e os tories, partidários do rei. Os primeiros conseguiriam, em 1679, o
reconhecimento do habeas corpus, lei por meio da qual se garantiu a liberdade
individual ante detenções e prisões arbitrárias. Com a morte de Carlos II, em
1685, subiu ao trono seu irmão Jaime II, católico fervoroso. O descontentamento
logo invadiu o país inteiro e um grupo de nobres ofereceu secretamente a coroa
ao holandês Guilherme de Orange, protestante casado com uma das filhas de Jaime
II.
Em novembro de 1688, Guilherme desembarcou na
ilha e, quase sem resistência, avançou em direção a Londres. Jaime II teve de
exilar-se na França. O Parlamento ofereceu a coroa a Guilherme (Guilherme III)
e sua esposa, Maria II, ao mesmo tempo que os fazia aceitar, em 1689, uma
Declaração de Direitos que subordinava as decisões do monarca à autoridade do
Parlamento. A revolução de 1688, dita revolução gloriosa, e quase incruenta, fixou
definitivamente o sistema político britânico, que desde então evoluiu sem
sobressaltos notáveis.
A rainha Maria morreu em 1694, sem filhos.
Guilherme, concentrado na política externa e submetido ao Parlamento, reinou
até 1702. Sucedeu-lhe Ana Stuart (1702-1714), segunda filha do destronado Jaime
II, que também não teve filhos. Nesses primeiros anos do século XVIII, a
Grã-Bretanha (nome oficial do país desde 1707 até 1801), empenhada na luta
contra a França e a Espanha, assentou as peças principais de seu império
colonial. Os tratados de Utrecht (1713), que deram fim à guerra de sucessão ao
trono espanhol, consagraram a soberania britânica sobre Gibraltar e Minorca,
que constituíram as bases de uma frota britânica no Mediterrâneo.
A França teve de ceder a Terra Nova e outros
territórios da América do Norte, onde as colônias da Nova Inglaterra se
desenvolviam rapidamente. O comércio britânico estendeu-se pela Índia, pelas
costas africanas e pequenas Antilhas, assim como a economia de Portugal e suas
possessões ficou em parte submetida aos intermediários britânicos.
Dinastia Hanover. De 1714 a 1789, a Inglaterra
viveu um período de sólida unidade política, social e econômica, somente
interrompida pelas conseqüências da queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789.
Fase de grande atividade econômica e financeira, novos portos, entre eles
Bristol, Liverpool e Glasgow, foram abertos na costa ocidental, dilatando os
horizontes comerciais britânicos. A aquisição do Canadá, o aumento do poderio
da Companhia da Índias Ocidentais e as viagens de James Cook ao Pacífico
(1768-1779) ilustram o expansionismo imperialista que caracterizou essa época.
Ao lado disso, o clima cultural, traduzido por grandes conquistas na
literatura, filosofia, história, ciências naturais e economia política,
contribuiu decisivamente para fomentar o novo substrato econômico.
A rainha Ana morreu repentinamente, em 1714. Ante
o perigo de que lhe sucedesse no trono seu irmão Jaime Eduardo, católico,
exilado na França, o Parlamento apressou-se em proclamar o rei Jorge de
Hannover, como Jorge I, rei de 1714 a 1727. Tanto este como seu filho Jorge II
(1727-1760) continuaram a ser mais alemães do que britânicos. Preocuparam-se
diretamente com os assuntos de seus estados alemães e deixaram o Parlamento
dirigir os destinos da Grã-Bretanha sem interferências. Ao longo do século
XVIII, foi-se estabelecendo o costume de que os assuntos de governo fossem
dirigidos por um gabinete escolhido entre homens que contavam com a confiança
da maioria dos parlamentares. No final do século surgiu, já reconhecida, a
figura do primeiro-ministro.
O Parlamento estava longe de ser um órgão eleito
democraticamente. A Câmara dos Lordes foi perdendo importância, mas a Câmara
dos Comuns, em que residia o verdadeiro poder, estava composta de
representantes da aristocracia territorial e do dinheiro, em muitos casos
coincidentes, já que a nobreza britânica, à diferença da continental, nunca
temeu manchar as mãos com o emprego de seu patrimônio no comércio ou nas
manufaturas. O sufrágio era restrito e as circunscrições eleitorais
praticamente não se haviam modificado desde a Idade Média. O voto não era
secreto e a corrupção era a norma. O sistema só começou a experimentar reformas
no início do século XIX. No resto da Europa, porém, o sistema político
britânico passou a ser visto com admiração.
A guerra dos sete anos (1756-1763) confirmou a
supremacia do império colonial britânico sobre o francês, que teve de ceder
Québec, a Louisiana e a Índia a seu rival. Jorge III, rei durante sessenta anos,
de 1760 a 1820, neto de seu predecessor, já foi um soberano plenamente
britânico. Ao longo dos reinados de seu bisavô e avô, os whigs dominaram o
Parlamento, enquanto os tories, divididos pela fidelidade de muitos deles à
destronada dinastia dos Stuarts, permaneceram na oposição.
Jorge III desejava governar pessoalmente, pelo
que fez uso de todas as prerrogativas que ainda lhe restavam como rei, e levou
intencionalmente os tories ao poder, uma vez assegurada a sua submissão. O
fracasso, porém, da guerra contra as colônias que constituiriam os Estados
Unidos, a que teve de conceder a independência (Tratado de Versalhes, 1783),
provocou uma reação tão intensa da opinião pública que o rei não pôde senão
renunciar ao regime pessoal com um gabinete dócil e chamou para o governo
William Pitt, conhecido como o segundo Pitt, já que seu pai, whig, dirigira a
política exterior do país por ocasião da guerra dos sete anos. Aos 24 anos,
Pitt desfrutava de uma popularidade excepcional; reformou seu partido, o dos
tories, reduziu a corrupção parlamentar e reorganizou as finanças.
Guerras napoleônicas. A revolução francesa foi
assistida com pavor, do outro lado do canal. Em fevereiro de 1793 irrompeu a
guerra entre a França republicana e a Grã-Bretanha. A antiga rivalidade comercial
e política entre as duas potências reavivou-se e deu início a um período de
lutas quase ininterruptas até a derrota definitiva de Napoleão em Waterloo, em
junho de 1815. O esforço econômico britânico foi enorme, já que o Reino Unido
financiou sistematicamente seus aliados no continente europeu, sofreu a perda
de mercados devida ao bloqueio continental, decretado por Bonaparte, e teve de
manter uma poderosa esquadra e colossais forças terrestres.
Ainda assim, conseguiu em Trafalgar (1805),
destruir definitivamente as forças francesa e espanhola, o que transformou os
mares de todo o mundo, como se disse na época, num "lago britânico".
Depois de 1808, o Brasil, ainda colônia portuguesa, e as colônias espanholas_na
América foram abertos ao tráfego de mercadorias britânicas. O Reino Unido
apoderou-se, também, da maior parte das colônias francesas e holandesas na
Ásia, África e América. Quando a estrela de Napoleão se eclipsou, o Reino Unido
era já árbitro da Europa e dono de boa parte do resto do mundo.
Revolução industrial. Antes que em qualquer outro
país, produziu-se na Grã-Bretanha o fenômeno econômico que foi chamado de
"revolução industrial" e que consistiu na passagem de uma forma de
elaboração de bens artesanal e em pequena escala, próprio das sociedades
antigas, para um processo de produção em massa com custos muito inferiores,
característico dos tempos modernos. Ocorreram na Grã-Bretanha as condições
ideais para que isso ocorresse, pois o capital acumulado pelo comércio em todo
o mundo ficou nas mãos de classes altas e médias ainda muito influenciadas pelo
puritanismo e que, em vez de malbaratá-lo ou investi-lo em bens suntuários,
puderam aplicá-lo no sistema produtivo, para financiar os novos processos
idealizados ao longo do século XVIII.
A circunstância de ser o subsolo britânico rico
em carvão propiciou a construção de altos-fornos que utilizavam coque, enquanto
o resto da Europa continuava a obter ferro com fornos artesanais de carvão de
lenha. O ferro e aço baratos permitiram a criação da máquina a vapor (James
Watt, 1769), que, esgotados os escassos recursos hidráulicos disponíveis na
planície inglesa, proporcionou a força adequada para impulsionar os novos
teares semi-automáticos do final do século, assim como para promover os
transportes (barcos e trens a vapor), no princípio do século seguinte.
No campo, o cercamento praticamente completo de
todos os terrenos motivou a ruína dos pequenos camponeses, que tiveram de
vender suas terras aos grandes proprietários e emigrar para as cidades, onde engrossaram
a reserva de mão-de-obra barata para a indústria nascente. Os grandes
proprietários também passaram a ver suas terras como unidades produtivas de
cunho industrial e dedicaram-se à melhoria sistemática de espécies agrícolas e
pecuárias. Experimentaram novos sistemas de rotação das culturas e máquinas que
lhes fizeram multiplicar a produtividade, numa espécie de revolução agrária. Em
resumo, o avanço econômico e tecnológico de meio século em relação à Europa
continental permitiu ao Reino Unido triunfar sobre Napoleão e transformar-se em
potência hegemônica mundial.
A escandalosa vida privada e a índole autoritária
de Jorge IV, rei de 1820 a 1830, debilitaram o prestígio da monarquia. A falta
de representatividade no Parlamento tornou-se insustentável, a miséria da
crescente classe operária acentuou-se e somente as revoluções que em 1830
irromperam no continente mobilizaram a parte mais lúcida da minoria whig
dirigente para empreender uma reforma das leis eleitorais, que se realizou em
1832.
Poucos anos antes haviam sido suspensas as
restrições que pesavam sobre os católicos. A partir da reforma estiveram
representadas no Parlamento, junto às classes altas, boa parte das classes
médias, embora de modo algum os operários e camponeses, que constituíam a
grande maioria da população. Foi nessa fase que os whigs começaram a
denominar-se liberais, e os tories, conservadores. Guilherme IV, que reinou
entre 1830 e 1837, embora pouco dotado de qualidades pessoais, prestou-se
melhor que seu pai às reformas liberalizantes.
Era vitoriana. Os primeiros anos do longo reinado
de Vitória -- de 1837 a 1901 -- se
caracterizaram por ásperas cisões sociais e grande depressão econômica, além do
aparecimento de várias organizações extra-parlamentares, entre elas a que formaram
os cartistas, responsáveis pela agitação social ocorrida no país entre 1838 e
1850. A tudo e a todos, porém, soube enfrentar a rainha, que acabou por
conduzir a Inglaterra a um clima de esplendor jamais visto em toda a sua
história. Em 1876 ela adotou o título de imperatriz da Índia. O império
colonial, dividido pelo Mediterrâneo, Ásia, África, América e Oceania,
ergueu-se como um sistema econômico sólido -- a espinha dorsal, então, do
capitalismo moderno --, que pulsava ao compasso do poderoso coração da
metrópole, cada vez mais rica e industrializada.
O livre-cambismo foi progressivamente implantado
depois da abolição, em 1846, das Leis do Trigo, que se revelou benéfica para a
indústria, ao baratear a alimentação da classe operária. A Grande Exposição de
1851, bem como os jubileus de 1887 e 1897, mostraram ao mundo a nova face do
império britânico, potência industrial e colonialista, cuja influência se
estenderia a todos os continentes. Sucessivas reformas eleitorais levaram ao
sufrágio universal masculino no final do século, ao mesmo tempo que desde 1870
a escolarização se tornou obrigatória. Benjamin Disraeli e William Ewart
Gladstone, chefes respectivamente dos partidos Conservador e Liberal,
revezaram-se no poder durante longo período.
Século XX: primeira guerra mundial. A morte da
rainha Vitória deu lugar ao reinado de Eduardo VII, soberano de 1901 a 1910.
Lentamente, o papel hegemônico do Reino Unido no mundo começou a ser desafiado
por duas novas potências de rápido desenvolvimento, os Estados Unidos e o
império alemão. Nos primeiros anos do século XX os movimentos feministas
ganharam força no país e criaram-se novas leis sociais que limitavam a duração
do trabalho e concediam benefícios e pensões.
Surgiu um forte debate sobre os projetos do
governo liberal no sentido de criar uma contribuição tributária progressiva. O
triunfo dos liberais, em 1911, marcou a divisão de poderes da Câmara dos Lordes
(mediante o Estatuto do Parlamento), que praticara todos os tipos de manobras
de obstrução. Os sindicatos tornaram-se cada vez mais poderosos e, às vésperas
da primeira guerra mundial, o Partido Trabalhista começou a influir
decisivamente no jogo político. A Eduardo VII, sucedeu Jorge V (1910-1936).
Em 4 de agosto de 1914 o Reino Unido declarou
guerra à Alemanha. Os triunfos iniciais dos alemães obrigaram ao envio de
milhões de britânicos à frente francesa, enquanto a esquadra inglesa se viu em
dificuldades para controlar os oceanos devido à guerra submarina praticada pela
Alemanha. Medidas de austera política econômica e controle governamental,
inimagináveis anos antes, foram postas em prática.
De 1915 em diante, formou-se um governo de
coalizão composto de conservadores, liberais e trabalhistas. A partir de 1916
tornou-se de fato obrigatório o serviço militar, que fora tradicionalmente
voluntário, e em 1917 foi decretado o racionamento. Vencedor da guerra, o Reino
Unido viu-se ao final desta muito enfraquecido, com enormes dívidas para com os
Estados Unidos e ultrapassado por estes na qualidade de potência mundial.
Período de entreguerras. A rebelião da Irlanda,
em 1916, obrigou o Reino Unido a enfrentar o problema da ilha desde o fim da
guerra. Dividida em duas partes, em 1921 a maior delas converteu-se no Estado
Livre da Irlanda, primeiro sob a soberania nominal da coroa britânica e mais
tarde como república independente. A recessão do pós-guerra elevou o número de
desempregados, que chegou a mais de dois milhões e meio. Em 1924 assumiu o
poder uma coalizão de liberais e trabalhistas, dirigida por James Ramsay
MacDonald, que empreendeu diversas reformas sociais, mas foi logo desalojada
pelo governo de Stanley Baldwin, conservador, cujo empenho em devolver à libra
o padrão-ouro de antes da guerra originou uma queda dos salários e ampla greve
geral.
Em 1931, por causa da crise econômica mundial, um
governo de liberais e trabalhistas abandonou definitivamente o padrão-ouro. A
criação da Comunidade Britânica de Nações (British Commonwealth of Nations, ou
simplesmente Commonwealth) estava relacionada com a tentativa de formar um
mercado fechado a outros países por uma barreira protecionista. Eduardo VIII
(1936) preferiu abdicar para se casar com uma americana divorciada e foi
sucedido por Jorge VI, rei de 1936 a 1952. Novos governos conservadores
(ministérios Baldwin, 1935-1937, e Neville Chamberlain, 1937-1940) sucederam-se
até o começo da segunda guerra mundial.
A política de pacificação levada a cabo pelo
primeiro-ministro Chamberlain nos acordos de Munique, em 1938, não pôde conter
as ânsias expansionistas da Alemanha nacional-socialista, que no ano seguinte
invadiu a Polônia, desencadeando a guerra.
Segunda guerra mundial. Depois de um ano de
imobilidade nas várias frentes, a Alemanha empreendeu uma ofensiva repentina
que envolveu as tropas aliadas. A França pediu o armistício e o Reino Unido
permaneceu, mal armado, sozinho frente à potência totalitária que dominava o
continente europeu. Um gabinete de unidade natural, presidido por Winston
Churchill, conseguiu, com a ajuda material dos Estados Unidos, conter Adolfo
Hitler até que este atacou também a União Soviética, em junho de 1941. Foram os
tempos da dura resistência, sustentada sobretudo pelos heróis da Royal Air
Force (RAF), na "batalha da Inglaterra".
No final de 1941, dois novos fatores mudaram o
rumo da guerra, em prejuízo da Alemanha: o início da resistência soviética e a
entrada dos Estados Unidos no conflito. Apesar do reforço japonês, os aliados
derrotaram os alemães, mas o Reino Unido, embora vitorioso, pagara um preço
elevadíssimo em perdas econômicas e humanas. Londres e outras cidades ficaram
parcialmente destroçadas pelos bombardeios, e a autoridade britânica, no
império, se enfraquecera.
O Reino Unido depois da segunda guerra mundial.
Nas eleições de 1945, triunfou o Partido Trabalhista. O governo de Clement
Attlee (1945-1951) instaurou com rapidez o "estado do bem-estar"
(welfare state), bastante ambicioso: redistribuiu a renda e, em 1947, concedeu
a independência à Índia e ao Paquistão. No princípio da década de 1950, com a
ajuda dos Estados Unidos, o sistema econômico britânico já estava completamente
restabelecido. O Reino Unido aderiu ao Conselho da Europa, ao Tratado de
Bruxelas e à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), sempre como
aliado, em tudo, dos Estados Unidos.
As eleições de 1951 levaram ao poder os
conservadores, que o mantiveram até 1964, e em 1952 a rainha Elizabeth II,
filha de Jorge VI, ascendeu ao trono. Presidiram os sucessivos gabinetes
Winston Churchill (1951-1955), Anthony Eden (1955-1957), Harold MacMillan (1957-1963)
e Alexander Douglas-Home (1963-1964). O Reino Unido orientou sua política
externa de costas para a Europa, empreendeu uma política de rearmamento com a
aquisição da bomba atômica em 1955 e não se integrou então à Comunidade
Econômica Européia (CEE), criada pelo Tratado de Roma em 1957. Os tempos de
grandeza e isolamento, no entanto, já se haviam passado.
O rápido crescimento econômico dos países da
Europa continental logo os fez alcançar e sobrepujar os níveis alcançados pela
economia britânica. Uma tentativa tardia de incorporação à CEE foi frustrada
pela oposição do presidente francês Charles de Gaulle. Em 1964, os
trabalhistas, liderados por Harold Wilson, subiram ao poder.
A situação econômica que Wilson tinha de
enfrentar era inquietante. O Reino Unido já estava sendo chamado "o doente
da Europa". As enérgicas medidas econômicas não bastaram para erguer a
economia britânica, e os conservadores, liderados por Edward Heath, em 1970
assumiram de novo o poder. Heath conseguiu a admissão do Reino Unido, junto com
a Irlanda e a Dinamarca, na CEE, em janeiro de 1973.
A partir de 1969, expandiu-se um forte movimento
terrorista na Irlanda do Norte (Ulster), cuja situação obrigou o Parlamento
britânico a assumir o governo direto da região em 1972. O problema irlandês e a
crise econômica levaram de novo ao poder o Partido Trabalhista, em fevereiro de
1974. Harold Wilson demitiu-se em março de 1976 e seu companheiro de partido
James Callaghan ocupou-lhe o lugar.
As eleições de 3 de maio de 1979 deram de novo o
leme aos conservadores, encabeçados por Margaret Thatcher, primeira mulher a
ocupar a chefia de governo na história britânica. Thatcher pôs em marcha uma
política liberal: reduziu os impostos, ampliou a margem de atuação da
iniciativa privada e limitou alguns serviços sociais. Em 1981, o Partido
Trabalhista dividiu-se, o que fez surgir o novo Partido Social Democrático,
posteriormente aliado ao bastante fragilizado Partido Liberal.
Em 2 de abril de 1982 o governo militar argentino
levou a efeito uma tentativa de recuperar as ilhas Malvinas (Falkland) e outros
arquipélagos menores do Atlântico sul em poder do Reino Unido. A reação
britânica foi dura. Em junho daquele ano a frota e os fuzileiros enviados para
a região impuseram a rendição dos soldados argentinos deslocados para as ilhas.
O conflito, que se desenrolou principalmente em confrontos navais, causou a
morte de mais de mil militares argentinos e 250 britânicos. A euforia
nacionalista que se seguiu foi aproveitada por Thatcher para convocar novas eleições,
que seu partido ganhou por ampla maioria. Cinco anos depois, o triunfo
conservador nas eleições realizadas em 11 de junho de 1987 fez de Margaret
Thatcher o primeiro estadista britânico capaz de vencer três eleições
consecutivas.
Thatcher, chamada "a dama de ferro",
perdeu terreno nos anos seguintes, por causa do caráter recessivo de sua
política econômica e fiscal. Quando, em 1990, foi derrotada no primeiro turno
das eleições internas de seu partido, renunciou ao cargo e o lugar de
primeiro-ministro passou para seu correligionário, John Major, que enfrentou
tanto uma áspera agitação social, sobretudo em 1992, como o recrudescimento do
terrorismo por parte do Exército Republicano Irlandês (IRA) contra os
unionistas da Irlanda do Norte. Contudo, Major se manteve no poder com a
vitória de seu partido nas eleições de abril de 1992.
Em 1993 o Partido Conservador, dividido, acabou
por aprovar o Tratado de Maastricht, em torno da união européia, e, em 1994,
Major entrou em acordo com a Irlanda sobre o direito de a Irlanda do Norte
decidir sobre seu futuro. No final de agosto, o IRA manifestava sua histórica
decisão de suspender a luta armada e o unionismo fez progressos inesperados.
Instituições políticas
O Reino Unido é uma monarquia constitucional
hereditária e uma democracia parlamentar. A constituição está só parcialmente
expressa em textos escritos, e é flexível, como o prova sua lenta e pacífica
modificação ao longo de séculos. A chefia do estado cabe ao monarca, e a do
governo, ao primeiro-ministro, que é o chefe do partido político que tenha
conseguido a maioria da Câmara dos Comuns.
A soberania cabe ao Parlamento, composto pela
coroa, pela Câmara dos Lordes e pela Câmara dos Comuns. A separação de poderes
não é radical, como em outros sistemas, já que a maioria parlamentar a que
pertence o primeiro-ministro costuma portar-se de modo sumamente disciplinado
quanto a seu voto. O monarca tem a faculdade de nomear primeiro-ministro, mas
ao longo de quase três séculos tem-se limitado a atribuir esse cargo ao líder
da maioria parlamentar.
O primeiro-ministro nomeia cerca de uma centena
de colaboradores entre os membros das câmaras pertencentes a seu partido.
Destes, um número restrito forma parte do gabinete, outros comparecem às
reuniões do gabinete em ocasiões em que se tratará de temas de sua competência,
e um número ainda maior forma o grupo dos chamados junior ministers, com cargos
menos importantes, e sem acesso às reuniões do gabinete. O primeiro-ministro,
além de presidir o gabinete, informa semanalmente ao monarca sobre a marcha dos
assuntos de estado e prepara o discurso da coroa, que o rei pronuncia na sessão
de abertura do Parlamento.
Para que uma lei possa entrar em vigor, tem de
contar com a aprovação das duas câmaras e do monarca. Depois de sofrer sucessivos
cortes em seus poderes, porém, a Câmara dos Lordes não pode fazer mais do que
retardar a entrada em vigor de uma lei aprovada pelos Comuns, e não se concebe
que o monarca se negue a assinar uma lei aprovada pelo Parlamento.
A Câmara dos Lordes compreende mais de 1.200
membros, alguns hereditários e outros vitalícios. A Câmara dos Comuns exerce o
verdadeiro poder dentro do Parlamento, embora na prática suas atribuições
legislativas tenham sido reduzidas pela crescente preponderância do primeiro-ministro
e seu gabinete, que exercem a iniciativa legislativa na maior parte dos casos.
Seus 651 membros são eleitos, em geral a cada cinco anos, em circunscrições
uninominais, o que tem o efeito de concentrar o poder em uns poucos partidos. O
Reino Unido tem vivido, ao longo de séculos, sob um regime praticamente
bipartidário. O monarca pode dissolver a Câmara dos Comuns antes de se cumprir
o prazo máximo de cinco anos, mas na prática é o primeiro-ministro quem exerce
tal poder.
As instituições judiciais britânicas são bastante
diferentes das existentes no resto do continente europeu. As resoluções
judiciais baseiam-se fundamentalmente no direito consuetudinário (common law),
estabelecido pela jurisprudência anterior. O mais alto tribunal de recursos do
reino é constituído pela Câmara dos Lordes e, particularmente, por nove lordes
nomeados por convocação. Princípios jurídicos que se tornaram universais, como
o habeas-corpus, foram aplicados pelos tribunais britânicos antes que em
qualquer outro país. O princípio da segurança jurídica do indivíduo foi
adotado, no Reino Unido, quando no resto da Europa imperavam monarquias
absolutas.
Sociedade
Nível de vida e classes sociais. O Reino Unido é
um país desenvolvido, de economia de mercado. A distribuição da renda, que em
princípios do século XX era muito desigual, passou por um período de
nivelamento depois da segunda guerra mundial e, na segunda metade do século,
apresentava menores desigualdades que na maior parte da Europa ocidental, o que
não impediu um "êxodo de talentos", principalmente para os Estados
Unidos, onde cientistas e dirigentes de empresas obtinham melhor remuneração.
A renda média dos britânicos, embora tenha
aumentado de forma constante desde a segunda guerra mundial, não cresceu no
mesmo ritmo dos demais países da Europa ocidental. No fim da década de 1980,
chegou mesmo, pela primeira vez, a ser inferior à italiana e ainda abaixo de
dois terços da alemã ou da francesa. A qualidade de vida, contudo, é elevada,
como resultado da preocupação com o meio ambiente, do elevado nível das
tradições culturais e outras razões semelhantes.
Embora as distâncias econômicas entre as classes
tenham diminuído sensivelmente depois da segunda guerra mundial, continuava a
existir certo classismo social, que se manifesta na particularidade dos
diferentes sotaques das diversas camadas sociais e culturais. A importância
social que o sotaque ainda possui no Reino Unido é difícil de ser entendida
pelos não-britânicos.
Os poderosos sindicatos britânicos estão
organizados no Trade Unions Congress, que em meados do século XX conseguiu uma
significativa influência política, embora seu poder tendesse a diminuir durante
o governo de Margaret Thatcher. A maior parte dos sindicatos está ligada ao
Partido Trabalhista. A Confederação da Indústria Britânica (Confederation of
British Industry, CBF) agrupa um grande número de organizações empresariais.
Existem também numerosos tribunais e comitês de conciliação e arbitragem.
Saúde e assistência social. O sistema de
assistência médica e previdenciária do estado é muito desenvolvido. Foi no
Reino Unido que teve origem o conceito de estado do bem-estar. Em 1948
fundou-se o Serviço Nacional de Saúde, que proporciona cuidados médicos,
hospitalização, remédios etc., na maior parte dos casos completamente
gratuitos, a todos os cidadãos britânicos. Nada menos que 98% dos médicos do
país encontram-se incorporados pela saúde pública, embora existam consultórios
e clínicas particulares.
O sistema de seguridade social também é muito
abrangente e proporciona aposentadorias, subsídios de desemprego etc. As
autoridades locais estão obrigadas por lei a proporcionar habitações em
condições mínimas para os habitantes de suas jurisdições, e grande número de
britânicos vive em moradias de aluguel construídas pelas autoridades municipais
e subvencionadas em parte pelo estado. O costume de socializar o solo urbano
favoreceu preços relativamente baixos.
Sistema educacional. O ensino é obrigatório e
gratuito entre os 5 e 16 anos de idade. Numerosos centros de ensino privado
coexistem com os públicos. Cerca de um terço dos britânicos tem acesso ao
ensino superior, o que faz do Reino Unido um dos países de maior nível
educacional do mundo. O analfabetismo praticamente não existe e o índice de leitura
de livros e publicações periódicas é bastante alto. Entre os centros de ensino
superior, sobressaem as antigas universidades de Oxford e Cambridge.
Religião. De forma aproximada, pode-se dizer que
a Inglaterra é majoritariamente anglicana, a Escócia, presbiteriana, e Gales,
metodista, enquanto na Irlanda do Norte predominam as várias denominações
protestantes sobre os católicos. Há, contudo, minorias importantes de outras
confissões cristãs nos quatro países. A Igreja Católica possui força e prestígio
ela pertencem 10% dos habitantes do Reino Unido. Os anglicanos somam um pouco
mais de 50%.
As religiões não-cristãs contam com uma
quantidade de adeptos bem menor que as cristãs. A comunidade judaica é numerosa
nas grandes cidades, enquanto muçulmanos e hindus contam-se em bom número entre
os imigrantes recentes. Uma grande parcela da população declara-se agnóstica.
(Para dados sobre sociedade, ver DATAPÉDIA.)
Cultura
Poucos países têm legado ao acervo cultural da
humanidade uma contribuição tão importante como a que proporcionaram os
pensadores britânicos. Talentos como Thomas Hobbes, Thomas Moore e John Stuart
Mill em ciências políticas, Adam Smith, David Ricardo, John Maynard Keynes em
economia, e Francis Bacon, Isaac Newton, John Locke, George Berkeley, David
Hume e Bertrand Russell na matemática, nas ciências e na filosofia, são só uma
pequena parte da relação de pensadores universais que nasceram no Reino
Unido. Geoffrey Chaucer, William
Shakespeare, John Milton, Jonathan Swift e muitos outros fizeram da literatura
britânica um dos maiores tesouros da cultura universal.
Música. Desde suas origens, o Reino Unido
prestigiou a criação musical. Compositores significativos já apareceram no
século XIV, tempo da ars nova, como no caso de John Dunstable. Nos séculos XVI
e XVII, de alta música religiosa e madrigalista, imortalizaram-se figuras como
William Byrd, Thomas Morley, John Dowland e Henry Purcell, fundador da ópera
inglesa. O italianismo, no século seguinte, provocou a célebre reação
nacionalista da ópera-balada, de que é exemplo The Beggar's Opera (A ópera do
mendigo) de John Christopher Pepusch e John Gay, contrapartida satírica à
presença do gênio de Haendel, magnificamente bem-sucedido na Grã-Bretanha.
Na primeira metade do século XIX, é importante a
personalidade de John Field, sobretudo no desenvolvimento da música para piano.
Do fim do século XIX em diante, o panorama se enriqueceu com a light opera de
Arthur Sullivan, cujo nome está ligado ao de William Gilbert, com a obra
orquestral e coral de Edward Elgar, o impressionismo de Frederick Delius e a
vasta atividade criadora de Vaughan Williams. A modernidade, algo metafísica na
fantasia astral de Gustav Holst, e elegíaca na música de câmara de Frank
Bridge, atinge um fascínio crescente na obra vocal e instrumental de Benjamin
Britten, sobretudo em sua ópera Peter Grimes (1945).
Arquitetura. A invasão normanda do século XI
levou para a ilha os estilos artísticos do continente. Construíram-se numerosas
igrejas e catedrais românicas, de estreita semelhança com as que pouco antes se
haviam erguido na Normandia francesa. Salientam-se, entre estas, as catedrais
de Gloucester, Norwich e Durham. Logo se começaram a construir abóbadas de
ogivas cruzadas e desenvolveu-se o estilo gótico, no início muito semelhante ao
do norte da França, mas que a partir do século XIII (catedral de Salisbury)
começou a ganhar características peculiares, como o gosto por abóbadas
estreladas de grande complexidade de formas e, principalmente, o acentuado
sentido de verticalidade.
A nave da capela do King's College, de Cambridge,
a capela do New College de Oxford e a capela do Rei na abadia de Westminster
são amostras representativas do gótico inglês. A paixão dos arquitetos
britânicos pelo estilo gótico, então, tornou-se tradicional. Em meados do século XVI desenvolveu-se o
estilo Tudor, que, sem abandonar as estruturas góticas, incorporou elementos
renascentistas.
No século XVII triunfaram, com grande atraso em
relação ao continente, as formas arquitetônicas neoclássicas, que se mantiveram
simples e despojadas, já que o barroco europeu contemporâneo apenas penetrou na
Grã-Bretanha. Sir Christopher Wren foi autor de grande número de edificações na
Londres que teve de reconstruir depois do grande incêndio de 1666. A catedral
de São Paulo, de Londres, com magnífica cúpula e um pórtico dórico, é a obra
mais representativa da época.
O século XVIII também encaminhou as preferências
para o gosto clássico. Numerosos edifícios e palácios inspiraram-se nos
trabalhos de Andrea Palladio. O século XIX conheceu uma arquitetura eclética,
com numerosas edificações de estilo neoclássico e uma renovação da tradição
gótica, de que é exemplo o edifício do Parlamento. Mais que a arquitetura,
porém, foi a engenharia britânica que brilhou nesse século, com o emprego de
novos materiais e a realização de obras públicas gigantescas. O palácio de
Cristal e as grandes pontes metálicas são criações estupendas da época
vitoriana.
Pintura. Nos séculos XVI e XVII não houve
pintores nem escultores britânicos de destaque. As obras culminantes na pintura
do primeiro período foram os retratos de Hans Holbein o Jovem, e no segundo, os
de Antoon van Dyck, ambos estrangeiros. No século XVIII, contudo, ocorreu o
nascimento de uma escola pictórica verdadeiramente britânica: William Hogarth,
Joshua Reynolds, Thomas Gainsborough e Richard Wilson foram os grandes nomes da
época. Os três primeiros continuaram a tradição britânica do retrato, e os dois
últimos criaram uma escola de paisagística. William Turner e John Constable seriam
os grandes paisagistas britânicos do século XIX, sobressaindo o primeiro como
precursor do impressionismo.
Por volta de 1850 irrompeu o grupo de pintores
pré-rafaelitas, que introduziram em suas obras uma carga de simbolismo
inspirado muitas vezes no primeiro Renascimento italiano. Entre eles
encontravam-se Dante Gabriel Rossetti, John Everett Millais e William Holman
Hunt. Edward Burne-Jones, William Morris e Aubrey Breadsley, já no fim do
século, são considerados modernistas. Morris fundou em 1861 o movimento Arts
and Crafts, que renovou profundamente as artes decorativas.
Durante o século XX, as artes plásticas
britânicas permaneceram geralmente à margem das vanguardas internacionais até
os últimos decênios. As revoluções estéticas iniciadas pelo cubismo foram mais
tarde recebidas nas ilhas. Figuras de expressão indiscutível na escultura,
contudo, foram Barbara Hepworth, Henry Moore e Reg Butler. Na pintura,
distinguiram-se ainda nomes como Augustus John, Ben Nicholson, Paul Nash, Sir
Stanley Spencer, Graham Sutherland, Francis Bacon, David Hockney e muitos
outros.
Cinema. Londres foi uma das cidades em que o
cinema deu seus primeiros passos. Depois da fase do pioneirismo, de Robert
William Paul, George-Albert Smith e James Williamson, seguiu-se um período de
influência fortemente teatral, histórica e literária, marcado, já, pela
penetração do cinema americano.
A paisagem social e humana do Reino Unido só se
firmou nas telas a partir dos documentários do escocês John Grierson e outros
diretores. Depois da segunda guerra mundial, o drama, no cinema, já se mostrou
propriamente inglês sob a direção de David Lean, John Boulting ou Anthony
Asquith. Com as comédias da companhia Ealing ou o retorno à dramaturgia, embora
de excelente qualidade, o cinema inglês não se renovou, o que só aconteceu a
partir da década de 1950, com cineastas como Lindsay Anderson, Karel Reisz,
Jack Clayton e Tony Richardson -- realizador de Tom Jones (1963). Entre outros
cineastas surgidos depois, destacaram-se John Schlesinger, Bryan Forbes,
Desmond Davis, Ken Russell e Richard Lester. O maior cineasta britânico do
período foi, porém, o americano Joseph Losey.
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