Berço de uma das civilizações mais antigas do
mundo, o Egito representa papel estratégico para a paz mundial no cenário
contemporâneo do Oriente Médio.
O Egito ocupa um território de forma retangular,
situado no nordeste do continente africano, com uma área de 1.002.000km2, dos
quais apenas 35.500km2 são habitáveis. Limita-se ao norte com o mar
Mediterrâneo, a oeste com a Líbia, ao sul com o Sudão, a leste com Israel, o
golfo de Aqaba e o mar Vermelho. O mar Mediterrâneo banha as costas
setentrionais, onde se abre o delta do Nilo; o mar Vermelho costeia o litoral
oriental. O canal de Suez liga ambos os mares e separa a África da Ásia.
Geografia física
Geologia e relevo. O Egito é um extenso deserto
atravessado por um longo e fértil oásis: o vale do Nilo e seu delta. O país
desenvolveu sua vida e sua história ao longo do estreito vale do Nilo, cujas
inundações anuais fertilizaram durante milênios as terras próximas e permitiram
a prática de uma próspera agricultura. Na segunda metade do século XX, a
construção da represa de Assuã renovou o papel econômico do Nilo, como base do
desenvolvimento e modernização do país. Sem esse rio, a totalidade do país
seria um árido deserto.
O relevo predominante é o planalto, mas o país
também possui áreas montanhosas. Ao longo do mar Vermelho se levantam vários
picos com altitudes superiores a dois mil metros, no planalto Oriental, ou da
Arábia, que é um planalto cristalino arqueozóico, parcialmente recoberto por
extenso lençol de dunas. A região ocidental é ocupada pelo grande planalto da
Líbia, três vezes maior que o da Arábia, constituído de rochas sedimentares
mesozóicas e cenozóicas, também parcialmente recoberto por dunas, onde as
elevações atingem de 900 a mil metros de altitude. O vale do Nilo localiza-se
entre ambos. É uma longa depressão ocupada pela zona de sedimentação
quaternária e recente, produzida pelas enchentes do rio. A nordeste situa-se a
península do Sinai, velho planalto com falhamentos, onde se encontra o ponto
culminante do país: o Djebel Katherina, com 2.638m.
Uma quinta parte do país é formada por depósitos
de rochas calcárias, originárias do eoceno (período terciário). Na parte norte
do deserto Ocidental se encontram rochas calcárias do mioceno, enquanto nas
montanhas do Sinai, no mar Vermelho e na parte sudoeste do deserto afloram
rochas ígneas metamórficas.
O vale do Nilo e seu delta se encontram em terras
aluviais dedicadas ao cultivo, cujos sedimentos foram trazidos das regiões
montanhosas onde se situam as nascentes do rio. A composição do solo varia
nessa região, e é mais arenosa nos extremos das áreas de cultivo. Ao norte do
delta, a salinidade favoreceu a formação de solos estéreis, onde dominam as
regiões denominadas barari.
Clima. O território egípcio, situado ao norte de
uma vasta região árida do continente africano, possui características de clima
desértico, com chuvas escassas e consideráveis diferenças de temperatura entre
o dia e a noite. O vento seco do deserto, o khamsin, sopra entre março e junho,
provocando tempestades de poeira e areia. Esse vento se origina de correntes
tropicais procedentes do sul e é determinado pelas influências do sistema de
baixas pressões do Sudão.
O clima é biestacional. O inverno vai de novembro
a março, e o verão de maio a setembro, separados por curtos períodos de
transição. Os invernos são moderadamente frios. Em Alexandria, os limites
máximo e mínimo de temperaturas médias são de 11 e 18o C, e em Assuã, de 10 e
23o C. A partir da costa mediterrânea até o sul, o clima é mais seco. As chuvas
ocorrem principalmente nos meses de inverno. Em Alexandria, a média
pluviométrica anual é de 178mm. Ao sul do delta as precipitações são mais
escassas, e quase nulas no litoral do mar Vermelho.
Hidrografia. O Nilo é praticamente o único rio do
Egito. Com uma extensão de 6.705km, é considerado o mais longo do mundo. Para
ele afluem pequenos riachos nas regiões montanhosas da península do Sinai. As
chuvas torrenciais criam os chamados uedes, cursos intermitentes nas montanhas
do deserto Oriental.
O Nilo nasce nas proximidades do lago Tanganica
e, depois de percorrer todo o Sudão, penetra no Egito, ao norte de sua segunda
catarata. Antes da primeira catarata, a represa de Assuã forma o enorme lago
Nasser. O rio continua por um estreito vale de três quilômetros de largura até
chegar à região de Assiut, quando desvia para a esquerda o braço lateral do
Bahr al-Yussef, que o acompanha por cerca de 300km até desviar-se para a
depressão de Faiyum. Após passar a pirâmide de Gizé, à esquerda, o Nilo banha o
Cairo e se ramifica para formar um amplo delta, que chega a alcançar 200km de
largura. Damietta, a leste, e Rosetta, a oeste, são os braços principais do
delta. Nessa região se encontram os lagos de Maryut, Burullus, Idku e Manzala,
entre outros.
Flora e fauna. O Egito possui vegetação natural
muito variada, apesar da escassez de chuvas e do clima desértico. No oásis do
deserto e ao longo do Nilo e de seus canais cresce grande diversidade de
plantas: bambus, juncos, acácias, ciprestes, olmos etc. As palmeiras e
tamareiras são típicas dos oásis, ainda que presentes em outras regiões.
Juniper phoenician é a única conífera nativa, mas existem outras coníferas
aclimatadas. As acácias e os eucaliptos são encontrados com freqüência e o
lótus é a flor típica do país.
Os animais do deserto e das zonas próximas ao
vale são a gazela, a raposa, o chacal, o leopardo, a hiena, a cabra montesa, a
lebre egípcia e dois tipos de ratos do deserto. Dois mamíferos carnívoros são
uma espécie semelhante ao gato montês e o mangusto egípcio. As aves mais comuns
são rapinantes como o falcão, e as aquáticas, como a íbis-branca, o ganso e o
pato selvagem. Entre os répteis, há inúmeros tipos de lagartixas e serpentes
venenosas, entre as quais a cobra egípcia (Naja haje), a "áspide" da
antiguidade. Há grande variedade de insetos entre os quais o gafanhoto, e cerca
de 150 espécies de pássaros.
O rio Nilo possui grande variedade de peixes --
cerca de 190 espécies -- com destaque para a perca. Nas margens do rio vivem
ainda o crocodilo e o hipopótamo.
População
Tipos raciais. A população egípcia forma um grupo
homogêneo, resultante da mescla de povos pré-islâmicos, os hamitas, com os
semitas. A homogeneidade étnica se manifesta com maior pureza nos camponeses,
ou felás, do que nos habitantes das cidades. Os coptas, descendentes diretos da
antiga população egípcia, conseguiram manter intactas suas peculiaridades
raciais, por formarem um grupo religioso fechado.
Nos desertos do Egito vivem grupos nômades ou
seminômades com características étnicas distintas. Os habitantes do Sinai e da
zona norte do deserto Oriental são originários da Arábia e apresentam marcas
similares aos beduínos (nariz adunco, pele escura etc.). O sul do deserto
Oriental é habitado por um grupo camita, que se caracteriza pelos rostos
ovalados, narizes retos e grandes olhos. Nas regiões marginais ao deserto
Ocidental vive um povo cuja composição étnica resulta da mescla de árabes e berberes.
Os habitantes dos oásis do deserto Ocidental têm traços berberes.
Além dos povos nativos, habitam o Egito grupos
étnicos estrangeiros, principalmente europeus. Esses exerceram grande
influência na economia e na política do país ao longo do século XIX e
princípios do XX, e chegaram a participar da população em proporção
considerável. Nesse grupo se incluem gregos, italianos, ingleses e franceses.
Árabes, armênios, sírios e judeus completam o contingente humano do país.
Estrutura demográfica e cidades. O quadro
demográfico egípcio registra elevado crescimento, conseqüência da redução dos
índices de mortalidade e do incremento da natalidade ao longo do século XX. A
população se concentra no vale do Nilo e no delta, de forma que o restante do
país é quase desabitado. A população rural predomina sobre a urbana, apesar do
êxodo para as grandes cidades.
A maioria dos habitantes do delta são camponeses.
As cidades mais importantes dessa região são Cairo, a capital, Alexandria,
Gizé, Port Said e Mahala al-Kubra. A comunicação com o Oriente Médio e a Europa
influiu muito nos costumes dos egípcios do delta, menos conservadores que os
habitantes do vale.
Entre o Cairo e Assuã, o vale do Nilo abriga a
maior extensão de terras cultiváveis do país. Os habitantes são muito
tradicionais em seus costumes. Nessa região destacam-se as cidades de Assiut,
Kana, Lúxor, Kom Ombo, al-Minya, al-Fayum.
A maior parte dos habitantes do deserto Oriental
vive em poucas cidades e colônias estabelecidas ao longo da costa, a maior das
quais é Ras Garib. Observa-se um incremento da população nômade em comparação
com a do deserto Ocidental, devido à maior fartura de água, que proporciona
pastos para as criações.
Os habitantes do deserto Ocidental são nômades ou
seminômades em grande parte. Matruh é o principal centro urbano; outras
localidades surgiram ao longo das linhas férreas e nas regiões próximas ao vale
do Nilo. No interior do deserto se encontram diversos oásis, rodeados de
grandes extensões totalmente desabitadas. Os habitantes desses oásis se
distinguem por peculiaridades culturais e étnicas.
A península do Sinai, limitada pelos golfos de
Suez e de Aqaba, é povoada principalmente por árabes sedentários. Nas montanhas
há grupos nômades e seminômades. A população se concentra em al-Aris, al-Qantara e outras cidades da costa
setentrional.
Língua. O idioma oficial é o árabe. Também se
falam inúmeros dialetos regionais, como o beduíno do deserto Oriental e do
Sinai, e os dialetos das populações rurais do Delta e dos oásis. O inglês e o
francês são utilizados nas relações comerciais. (Para dados demográficos, ver
DATAPÉDIA.)
Economia
Agricultura, pecuária e pesca. O regime de águas
do Nilo constituiu, desde a antiguidade, o fator básico da economia egípcia. As
inundações anuais, entre agosto e setembro, permitiam, antes da construção das
diversas represas, o aproveitamento dos ricos nutrientes depositados nas áreas
cobertas durante o período das cheias. Na segunda metade do século XX, a
utilização de fertilizantes químicos e a construção das represas, canais e
outras obras, impulsionaram a produtividade agrícola do vale.
O clima favorável e a disponibilidade de água
permitem duas colheitas por ano, no inverno e no verão. Entre os produtos
agrícolas de verão, o principal é o algodão. Também são importantes o milho, o
arroz, a cana-de-açúcar e sementes oleaginosas. Entre os produtos de inverno
destacam-se cereais (trigo e cevada), o linho, legumes e hortaliças,
principalmente cebola. Também se cultivam muitas frutas: tâmara, laranja,
limão, figo.
A pecuária se fundamenta na criação de búfalos,
camelos, jumentos, bois, ovelhas e cabras, estas últimas criadas em quantidade
graças a sua extrema resistência às condições do deserto Ocidental.
Após a construção da represa de Assuã, o governo
incentivou o desenvolvimento da indústria pesqueira. Para tanto construiu um
complexo piscícola no lago Nasser, que produz anualmente grande quantidade de
pescado.
Energia e mineração. A represa de Assuã,
inaugurada em 1970, aumentou a área irrigada em milhares de hectares e permitiu
a geração de grande quantidade de energia elétrica. As 12 turbinas da usina de
Assuã têm uma capacidade de produzir dois mil megawatts e usinas termelétricas
produzem cerca de metade disso. A maior parte do petróleo egípcio vem dos ricos
campos terrestre e marítimos de Morgan, Ramadã e July, no golfo de Suez, e da
área de Abu Rudays, no Sinai e no golfo.
O primeiro oleoduto do Egito foi o Sumed,
inaugurado em 1977, que uniu o golfo de Suez com o Mediterrâneo, nas proximidades
de Alexandria. Sua construção foi financiada por vários países árabes,
principalmente Arábia Saudita e Kuwait. Em 1981, foi inaugurado mais um grande
oleoduto, que liga Ras Shurq, na costa do mar Vermelho, à refinaria de
Musturud.
Os recursos minerais do Egito são escassos, em
relação à grande extensão do país. Há depósitos de fosfato e de carvão
localizados nas minas de Maghara, na península do Sinai; de manganês, no
deserto Oriental; e de ferro, em Assuã.
Indústria. A partir da segunda metade do século
XX, o governo promoveu o desenvolvimento industrial do país, com base no
potencial de suas próprias matérias-primas agrícolas e minerais.
O algodão nacional supre as modernas fábricas de
tecidos e fios, localizadas em Alexandria, Cairo e Mahala al-Kubra. Outro setor
de ponta é a indústria siderúrgica, com grandes complexos industriais no Cairo
e em Halwan. A indústria química produz fertilizantes na região de Assuã. São
também importantes os setores de produtos alimentícios, cigarros, papel, vidro
e cimento.
Finanças e comércio. O Banco Central do Egito,
criado em 1960, dirige a atividade financeira. Apesar dos recursos obtidos
pelas exportações e pelo turismo, o país registrava, ao final do século XX,
déficit na balança de pagamentos, compensado mediante empréstimos
internacionais, principalmente do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O petróleo e seus derivados constituem mais da
metade da exportação total do país. Seguem-se fibras e produtos têxteis,
produtos químicos, maquinaria, cimento, material de transporte; produtos
minerais, como fosfato; e produtos agrícolas, como alho, cebola e cítricos.
Transportes e comunicações. O sistema de
comunicações é, na quase totalidade, de propriedade estatal. As principais
rotas de transporte seguem o curso norte-sul do Nilo. As cidades são ligadas
por vias expressas e estradas; o país conta com um bom sistema ferroviário,
principalmente na região do delta e ao longo do vale até Assuã. Uma linha
percorre o litoral setentrional até Salum, na fronteira com a Líbia.
O canal de Suez, que esteve fechado entre 1967 e
1975, serve de união entre o Mediterrâneo e o mar Vermelho. O Nilo e seus
canais representam mais de 3.200km de hidrovias para o transporte de
mercadorias e passageiros. O aeroporto do Cairo é importante centro de rotas
internacionais. (Para dados econômicos, ver DATAPÉDIA.)
História
Como assinalou o historiador grego Heródoto, no
século V a.C., "O Egito é uma dádiva do Nilo." Desde os primeiros
momentos de sua história, os egípcios criaram uma sociedade baseada no
aproveitamento das águas do Nilo para a agricultura, mediante a construção de
obras hidráulicas capazes de regular sua vazão anual. No plano institucional,
configuraram um rígido e hierárquico sistema político que se manteve, com
pequenas mudanças, durante cerca de três mil anos.
Arqueologia. Ao compararem as tradições do Egito
com sua própria civilização, os gregos observaram que o passado tinha um grande
papel no presente daquela cultura, enquanto a cultura grega era ainda nova e
inexperiente. Ao conhecerem a terra dos faraós, os viajantes gregos ficaram
maravilhados com as grandes cidades e seus templos. O Periegesis (Viagem ao
redor do mundo), escrito por Hecateu de Mileto, perdeu-se. Heródoto, que também
escreveu sobre o país após uma viagem de alguns meses, fundamentou grande parte
de sua narrativa em informações errôneas de pessoas incultas. Melhores fontes
foram utilizadas pelo sacerdote Mâneto, quando por volta de 240 a.C., escreveu
as Aigyptiaka (Egípcias), obra em que relaciona as trinta dinastias do Egito
faraônico.
Foram os romanos que começaram a colecionar
antiguidades egípcias. Estátuas de faraós e esfinges enfeitavam palácios dos
imperadores romanos e diversos obeliscos foram transportados de Karnak (Tebas)
e Heliópolis e posteriormente reerguidos em Roma e Constantinopla. Entre as
obras dos últimos escritores clássicos destaca-se a descrição do Egito feita
por Estrabão no Livro 17 de sua Geografia, que contém detalhes da topografia do
delta. Plínio o Velho, em sua História natural, e Ptolomeu, em seu tratado
geográfico, descreveram o Egito. Plutarco estudou a mitologia e Horapolon
tentou decifrar os hieróglifos.
A religião egípcia desapareceu com a difusão do
cristianismo e o copta substituiu a escrita antiga. Mas a tradição da
"sabedoria do Egito" atravessou a Idade Média e despertou interesse
durante o Renascimento.
Inícios da moderna egiptologia. A visita de
Napoleão ao Egito, em 1798, a descoberta da pedra de Rosetta e a decifração dos
hieróglifos, pelo inglês Thomas Young e pelo francês Jean-François Champollion,
proporcionaram material para estudos mais profundos sobre o passado do país,
como os de John Gardner Wilkinson e Samuel Birch. Karl Richard Lepsius deu a
conhecer ao mundo uma grande coleção de desenhos e cópias de inscrições. No
mundo todo, diversos museus receberam numerosas doações de antiguidades feitas
por viajantes. Entre os estudiosos que mais se destacaram em meados do século
XIX estão C. W. Goodwin, Heinrich Karl Brugsch, Emmanuel de Rougé e Joseph
Chabas.
Em 1858, o governo egípcio implantou uma nova
política de conservação de suas antiguidades, e nomeou Auguste-Edouard Mariette
para esse trabalho. O governo fundou um museu em Bulaq, no Cairo, que mais
tarde se tornaria o Museu Egípcio. As escavações empreendidas por Mariette, nas
décadas de 1860 e 1870, principalmente em Gizé e Saqqara, forneceram material
suficiente para suprir o museu com esculturas e antiguidades. Após a morte de
Mariette, em 1881, o governo concedeu aos museus e instituições culturais o
direito de escavações no país, com a condição de que a metade dos achados
passasse a integrar o acervo do museu de Bulaq.
Escavações no século XX. Métodos revolucionários
desenvolvidos por William Matthew Flinders Petrie permitiram uma mudança de
atitude em relação às novas descobertas: o antigo sistema de somente descobrir
monumentos e preservá-los foi substituído por escavações sistemáticas, com o
objetivo de examinar e registrar cada objeto, ainda que insignificante ou
fragmentado, e analisar as camadas de terra em que se encontravam. Esse método
possibilitou levantar dados sobre a história dos lugares e de seus habitantes e
também sobre a arte que desenvolviam, seus conhecimentos e sua vida cotidiana.
A descoberta do túmulo de Tutankhamen, em 1922,
aumentou o interesse pela egiptologia. O esvaziamento desse túmulo exigiu um
trabalho de dez anos. Seus descobridores, Lord Carvarnon e Howard Carter,
solicitaram a ajuda de diversos especialistas para a extração e preservação dos
diversos tesouros que continha. O resultado foi que uma grande quantidade de
jóias, armas, móveis e relicários transformaram o acervo do Museu Egípcio do
Cairo em um dos mais valiosos do mundo.
As primeiras décadas do século XX registraram
diversas expedições financiadas pelos governos da França, Alemanha, Estados
Unidos, Itália e Polônia, e por museus e
instituições científicas. Petrie, Henry Edouard Naville, Francis Llewellyn
Griffith, A. M. Blackman, Percy Edward Newberry e T. E. Peet são alguns estudiosos
britânicos que trabalharam no Egito; também merecem destaque as escavações dos
cientistas americanos George Reisner, em Gizé e na Núbia, e de H. E. Winlock,
em Tebas. A descoberta do túmulo de Tutankhamen levantou inúmeras
controvérsias, que levaram o governo do Egito a adotar medidas restritivas à
saída de achados arqueológicos do país. Tal medida, ao desencorajar os museus
estrangeiros, que não se dispunham a financiar projetos de que não se
beneficiassem diretamente, fez com que os estudos se transferissem do plano da
escavação para o do registro. Cabe salientar nessa área, as reproduções
publicadas pelo Museu Metropolitano de Arte, de Nova York, e os volumes
editados pelo Instituto Oriental da Universidade de Chicago. Desenvolveram-se
então preciosos estudos de gabinete, como o dicionário de língua egípcia
antiga, de Adolf Erman e H. Rank, e o trabalho de Kurt Sethe, todos alemães.
Merecem citações ainda os trabalhos dos ingleses Sir Wallis Budge, F. L.
Griffith e Alan Henderson Gardiner, e dos franceses H. Gauthier e G. Lefebvre.
Origens. Os muitos estudos de egiptologia
revelaram que o povo egípcio antigo resultou da fusão de vários grupos de
origem africana e asiática, e permitiram distinguir três tipos principais: um
semítico dolicocéfalo, de estatura mediana; outro semítico-líbio, braquicéfalo,
de nariz recurvado; e um terceiro, mediterrâneo, braquicéfalo, de nariz reto e
curto. Da mistura desses grupos resultou um povo de lavradores, no vale do
Nilo, que absorveu progressivamente os estrangeiros invasores.
Até o século XIX, as únicas fontes utilizáveis
sobre as dinastias do Egito eram os relatos dos autores clássicos, de épocas
posteriores aos acontecimentos por eles descritos. Somente em 1821, com a
decifração da escrita hieroglífica, por Champollion, é que se pôde proceder à
leitura de inscrições, que iluminaram mais de três mil anos da história da
humanidade.
O período histórico da civilização egípcia
começou por volta de 4000 a.C. Os primitivos clãs haviam sido transformados em
províncias ou nomos, e seus chefes elevados à dignidade real. Mais tarde foram
agrupados em dois grandes reinos: um ao norte, cujo primeiro rei-deus foi
Horus, e outro ao sul, que teve Set como primeiro rei-deus. Por volta do ano
3300 a.C., segundo a tradição, o reino do sul venceu o do norte. Quando as dinastias
humanas sucederam às dinastias divinas, Menés, personagem lendário e apontado
como unificador do Egito, se tornou o primeiro faraó. A capital era, segundo
alguns autores, Mênfis, e segundo outros, Tinis, nas proximidades de Abidos.
Menés é identificado como Narmeza (Narmer), representado, num relevo de
Hieracômpolis, com as duas coroas dos reinos unificados.
Dinastias. As escavações realizadas em Abidos,
Saqqara e localidades próximas trouxeram informações sobre as primeiras
dinastias, denominadas tinitas por terem a capital em Tinis. Neste período
houve um aumento da prosperidade econômica do país, incrementado pelas
expedições à costa do mar Vermelho e às minas de cobre e turquesa do Sinai.
Com a III dinastia, iniciada em 2650 a.C., a
capital foi trasladada para Mênfis e os faraós iniciaram a construção das
pirâmides, grandes túmulos reais. Inicia-se então o chamado Antigo Império, que
vai até a VIII dinastia. Erguem-se as pirâmides de Quéops, Quéfren e
Miquerinos, faraós da IV dinastia, e a esfinge de Gizé. A arte egípcia já se
apresentava com todas as suas características, nessa época de maior esplendor
da civilização egípcia. O território se estendeu até a segunda catarata do
Nilo, e realizaram-se expedições à Núbia e à Líbia. Aumentou o comércio marítimo
no Mediterrâneo oriental e se iniciou a exploração das minas de cobre do Sinai,
das pedreiras de Assuã e do deserto núbio.
A VI dinastia realizou expedições à península do
Sinai e sob Pepi II multiplicaram-se as imunidades concedidas aos nobres. Os chefes
dos nomos se tornaram mais independentes e desapareceu o poder centralizador do
faraó. Após longa fase de lutas internas, que marcaram o fim do Antigo Império,
o Egito entrou em decadência. No século XXII a.C., os príncipes de Tebas
afirmaram sua independência e fundaram a XI dinastia, dos Mentuhoep, dando
início ao Médio Império, que durou de 1938 a c. 1600 a.C., com capital em
Tebas.
Restaurou-se e consolidou-se o poder real.
Sobressaíram na XII dinastia, também tebana, Amenemés I, Sesóstris I e Amenemés
III, que colonizaram a Núbia e o Sudão, intensificaram o comércio e as relações
diplomáticas e fizeram respeitar as fronteiras egípcias. O segundo período
intermediário, que abrange da XIII à XVII dinastia, entre c. 1630 e 1540 a.C.,
é de história obscura. Por falta de fontes é impossível analisar o conjunto de
causas determinantes da decadência do estado tebano. Sob a XIV dinastia ocorreu
a invasão dos hicsos. Os monarcas da XVII dinastia abriram luta contra eles e
ferimentos encontrados na múmia de Seqenenre parecem indicar sua morte em
combate.
Ahmés ou Ahmose I assumiu o comando, expulsou
definitivamente os hicsos e fundou a XVIII dinastia. Iniciou-se então o mais
brilhante período da história egípcia, o chamado Novo Império, entre 1539 e
1075 a.C., que abrange também a XIX, a XX e a XXI dinastias. Como grandes
conquistadores, sobressaíram Tutmés I e III, da XVIII dinastia, Ramsés II (XIX
dinastia), Ramsés III (XX dinastia) e Iknaton, Akenaton ou Amenhotep IV (XVIII
dinastia), por sua reforma religiosa.
Após cerca de trinta anos de paz interna, o
Egito, rico e forte, pôde entregar-se às novas tendências imperialistas.
Tornou-se um estado essencialmente militar e por 200 anos dominou o mundo então
conhecido. Alargaram-se as fronteiras do país, da Núbia até o Eufrates. Os
príncipes da Síria, Palestina, Fenícia, Arábia e Etiópia pagaram-lhe tributos.
O tratado firmado em 1278 a.C. com Hattusilis III terminou com a secular guerra
com os hititas. O luxo e o poder econômico refletiram-se nas grandes construções
desse período. Com Ramsés XI findou o Novo Império. Rebentaram guerras civis e
o Egito entrou em decadência, perdeu territórios e sofreu invasões.
Por volta de 722-715 a.C., uma dinastia etiópica,
com capital em Napata, restaurou parcialmente a unidade nacional. Em 667 a.C.,
Assaradão invadiu o Egito e ocupou Mênfis. Em 664 a.C., Assurbanipal tomou e
saqueou Tebas. Os egípcios, comandados pelos chefes do delta, reagiram e em 660
a.C., Psamético I, fundador da XXVI dinastia, expulsou os assírios. O Egito
voltou a conhecer nova fase de esplendor, chamada de renascimento saítico,
devido ao nome de sua capital, Saís. Em 605 a.C., Necau II tentou conquistar a
Síria, mas foi derrotado por Nabucodonosor. Em seu governo concluiu-se o canal
de ligação entre o Mediterrâneo e o mar Vermelho e, sob seus auspícios,
marinheiros fenícios contornaram a África.
Em 525 a.C., o último soberano nacional egípcio,
Psamético III, foi derrotado e morto por Cambises, rei dos persas, em Pelusa. O
Egito foi incorporado ao império persa como uma de suas províncias (satrapia).
A partir de então, até Artaxerxes II, reinou a XXVII dinastia persa. A
organização social e religiosa foi mantida e registrou-se certo desenvolvimento
econômico. A libertação do Egito se deu em 404 a.C. Com Armiteu, único faraó da
XXVIII dinastia, a aristocracia militar do delta subiu ao poder. As
instituições e a cultura revigoraram-se sob as XXIX e XXX dinastias. Depois de
saquear o país, Artaxerxes III restaurou a soberania persa, em 343 a.C. O
segundo período da dominação persa terminou em 332 a.C., quando Alexandre o
Grande da Macedônia, vitorioso, entrou no Egito, após derrotar Dario III.
Período macedônio ou ptolomaico. Nesse período,
que vai até o ano 30 a.C., Alexandre foi recebido como libertador e fez-se
reconhecer como "filho de Amon", sucessor dos faraós, prometendo
respeitar as instituições e restaurar a paz, a ordem e a economia. Lançou as
fundações da cidade de Alexandria. Com sua morte em 323 a.C., o controle do
Egito passou a um de seus generais, Ptolomeu, que a partir de 305 a.C. iniciou
a dinastia dos lágidas. Dentre seus herdeiros destacaram-se, inicialmente,
Ptolomeu Filadelfo, cujo reinado durou de 285 a 246 a.C. e se notabilizou pela
expansão comercial, a construção de cidades, e a criação de um museu e da
biblioteca de Alexandria; sucedeu-lhe Ptolomeu Evérgetes, que reinou de 246 a
222 a.C. e impulsionou as letras e a arquitetura; e finalmente Ptolomeu
Epífano, coroado em 196 a.C., que foi homenageado com a redação do decreto da
pedra de Rosetta, em 204 a.C.
Atacado por reinos helenísticos, o Egito
colocou-se sob proteção romana, com submissão cada vez maior. Seguiram-se
vários e cruéis reinados dos lágidas, até Ptolomeu Auletes que, com apoio
romano, permaneceu no poder até 51 a.C., quando foi expulso pelos egípcios. Sua
filha Cleópatra VII desfez-se, sucessivamente, de dois irmãos e apoiou-se no
imperador romano Júlio César. Com a morte deste, em 44 a.C., ligou-se a Marco Antônio, mas diante da derrota frente
às esquadras romanas, e do assassinato, ordenado por Otávio, do jovem Ptolomeu
César, filho que tivera com César, suicidou-se em 30 a.C. O Egito foi então
transformado em província romana. Soberanos de direito divino e culto imperial,
os lágidas restauraram os templos, honraram a classe sacerdotal e entregaram a
administração aos gregos. Alexandria, cidade grega por suas origens, comércio e
cultura, foi o centro intelectual e comercial do mundo helenístico.
Período romano-bizantino. Em 30 a.C., iniciou-se
o período romano-bizantino. A minoria romana conservou a organização da época
helenística, com base nos nomos (províncias). O camponês era esmagado por altos
impostos e requisições. A indústria e o comércio, que deixaram de ser monopólio
estatal, ganharam impulso e atingiram as mais distantes regiões. A passagem dos
romanos foi marcada ainda pela construção de estradas, templos, teatros,
cisternas, obras de irrigação e cidades. Uma destas foi Antinópolis, construída
por Adriano.
No final do século II da era cristã
generalizaram-se os ataques nômades às fronteiras (Líbia, Etiópia, Palmira) e
as perseguições ligadas à expansão do cristianismo. Após Constantino, começam
as disputas religiosas. Em 451 a adesão da igreja alexandrina ao monofisismo
levou à formação de uma igreja copta, distinta da grega, e dessa forma o que
era tido como heresia, por força das perseguições imperiais, transformou-se na
religião nacional egípcia.
Com a divisão do Império Romano verificou-se uma
progressiva substituição de Alexandria por Constantinopla em importância
cultural e econômica. No século VI o
declínio econômico era generalizado em todos os setores. E no início do século
VII os árabes foram recebidos como autênticos libertadores.
Período medieval. Época árabe. No ano 640, com a
conquista do Egito pelos árabes, começou a era medieval, que durou até 1798. O
período árabe caracterizou-se por lutas internas e constante troca de emires. A
difusão do árabe e do islamismo transformou a invasão muçulmana na mais
importante de todas as que o Egito sofreu. De sua história restou o copta,
designação apenas religiosa. A princípio o Egito foi transformado em uma
província do califado dos omíadas, de Damasco, que transferiram a capital para
al-Fustat, construída nas imediações da fortaleza da Babilônia, erguida pelos
romanos, no lugar hoje ocupado pela cidade velha do Cairo. Os omíadas
conservaram o sistema administrativo egípcio e seus funcionários, mas o governo
era exercido por um emir, auxiliado por um amil, ou diretor de finanças. O
processo de islamização reacelerou com os abássidas, de Bagdá, cujo poder, no
entanto, enfraqueceu ao longo do século IX.
Época independente. Este período corresponde a
quatro dinastias, entre 868 e 1517: os tulúnidas, os ikhchiditas, os fatímidas
e os aiúbidas. Compreende ainda um domínio por parte dos mamelucos.
A dinastia dos tulúnidas dominou de 868 a 905 e
foi fundada pelo oficial turco Ahmad ibn Tulun, que proclamou a independência
do país em relação a Bagdá. Os ikhchiditas governaram independentemente entre
939 e 968, depois de um breve retorno a Bagdá. Entretanto, um novo poder
militar agressivo, oriundo da Tunísia, se apoderou do Egito, sob a família dos
fatímidas, que se consideravam descendentes do califa Ali e de Fátima, filha de
Maomé. Adeptos da doutrina xiita, governaram entre 969 e 1171. Uma nova capital
foi fundada, al-Qahira (Cairo) em 988, e o Egito, organizado como califado,
passou a usufruir de notável desenvolvimento econômico e cultural. Foi fundada
a mesquita e a universidade de al-Azhar, em 970, e o tesouro dos califas passou
a incluir a mais valiosa biblioteca do mundo muçulmano da época.
As disputas internas possibilitaram a intervenção
do sultão de Damasco, Nur-al-Din, por intermédio do general Shirgu e de seu
sobrinho Saladino (Sala al-Din Yusuf ibn Ayyub). Este, feito vizir em 1169,
proclamou-se sultão do Egito logo após a morte do califa, dando início à
dinastia dos aiúbidas, que reinaram de 1171 a 1250, e destacaram-se como
grandes administradores. Reconstituíram um grande estado, da Tripolitânia à
Mesopotâmia, dedicaram-se à agricultura de irrigação, ao comércio, às obras
militares, à construção de escolas, hospitais e mesquitas. Lutaram contra os
cruzados na Palestina, porém lutas internas minaram o poder. A crescente
influência de oficiais mamelucos (conjunto de diferentes etnias, tais como
turcos, mongóis, curdos etc.), tornou-se preponderante.
Uma milícia de mamelucos bahri, isto é, "do
rio", tomou o poder em 1250 sob o comando de Izz al-Din Ayback. Os sultões
mamelucos imperaram no Egito até 1517. Embora o período fosse de paz e
prosperidade econômica, ocorreram tremendas perseguições a judeus e cristãos.
Com os mamelucos, cessou qualquer sucessão hereditária e o sultão passou a ser
eleito pelos emires, o que caracterizou uma verdadeira oligarquia
feudal-militar.
Domínio otomano. Em 1517 Selim I derrotou o
último sultão mameluco, Tuman-bei, e iniciou o período de domínio turco,
caracterizado por tirania e instabilidade. No século XVIII o paxá era figura
decorativa e sucediam-se as lutas pelo poder entre os beis. Foi nessas
condições que Napoleão Bonaparte conquistou o Egito, em 1798, na batalha das
Pirâmides.
Período moderno. A ocupação francesa durou apenas
três anos, até 1801, mas teve conseqüências importantes. Seguiram-se
importantes reformas públicas e empreendimentos culturais que sacudiram o país
do torpor medieval e o levaram à modernização. Marco desse período foi a
fundação do Instituto do Egito e, mais tarde, a publicação dos trabalhos realizados
por seus membros: Description de l'Egypte (1809-1828; Descrição do Egito)
espécie de enciclopédia que despertou grande interesse na Europa.
Turcos e mamelucos, divididos em facções rivais,
ficaram no Egito após a saída dos franceses. Os choques eram atenuados pela
presença britânica, até 1803. O hábil chefe albanês Mohamed Ali aproveitou-se
das oportunidades com inteligência e crueldade e massacrou os mamelucos em duas
oportunidades: 1805 e 1811. Déspota e centralizador, procurou a modernização do
país. Numa guerra que se prolongou até 1818, conquistou a Arábia e lutou contra
os uaabitas; entre 1820 e 1823 conquistou o Sudão; entre 1823 e 1827 empreendeu
campanha contra a Grécia; e entre 1831 e 1841 lutou sem êxito para conquistar a
Síria, mas conseguiu ter reconhecido o direito ao governo hereditário do Egito,
logo estendido ao Sudão. Em 1849 seu neto Abbas Hilmi, fanático e negligente,
assumiu o poder, expulsou os franceses que colaboraram com a administração e
reagiu contra a obra do avô, exceto no estatismo econômico. A situação só se
modificou quando o filho mais moço de Mohamed Ali, Said, deu continuidade à
obra paterna e, entre 1854 e 1863, trouxe de volta os colaboradores
estrangeiros, suprimiu monopólios econômicos e, apesar da oposição dos ingleses,
autorizou o início da construção do canal de Suez. A obra de modernização foi
interrompida em 1875, com a derrocada financeira e a venda de ações do canal de
Suez, compradas pelo Reino Unido por quatro milhões de libras. O país estava
sob a responsabilidade de Ismail, sobrinho de Said. Diante da situação, em 1878
o governo foi obrigado a incluir no gabinete dois controladores-gerais de
finanças, um inglês e um francês. Em 1879, por imposição das potências
estrangeiras, Ismail foi deposto e para seu lugar indicado o sultão quediva
Tawfic, que restabeleceu o domínio franco-inglês. Pressões nacionalistas se
sucederam, lideradas por militares e, em 1882, uma demonstração naval
franco-britânica diante de Alexandria precipitou a reação popular. Os franceses
se retiraram, mas os ingleses bombardearam Alexandria sob o pretexto de
"defesa dos súditos e dos bens estrangeiros e cristãos". Em julho de
1882 as tropas desembarcaram, e foram bem recebidas pelo quediva.
Ocupação britânica. A ocupação do Egito pelos
ingleses deveria ser temporária, mas se prolongou até 1914. A França era hostil
à ocupação, até que em 1904, por um acordo assinado em Marrocos, o país
renunciou a seus direitos. Internamente sucediam-se as trocas de quedivas. Os
ingleses nomearam um cônsul-geral e interferiam na vida do país como se este
fosse uma autêntica colônia. O Egito foi relegado à condição de mero fornecedor
de matéria-prima, o algodão, para a indústria inglesa.
Despertado o nacionalismo egípcio, as reações
tornaram-se constantes. A primeira guerra mundial veio provocar uma mudança no
regime. Em 18 de dezembro de 1914, o Reino Unido decretou o protetorado do
Egito e anunciou o fim da suserania otomana. Abbas II foi destituído, por
aderir aos turcos. Terminada a guerra, os egípcios, sob a liderança de Zaghlul,
exigiram que seu país tivesse autonomia e constituíram uma delegação (wafd)
para negociar em Londres as condições da independência. A oposição inglesa
provocou reações. Zaghlul foi detido e deportado (1919). Entretanto, em março
de 1922 uma declaração do Reino Unido reconheceu a independência do Egito, com
algumas condições, como a manutenção do controle britânico sobre o canal de
Suez, e a 15 de março Fuad tornou-se rei do Egito.
Egito independente. O processo de emancipação
avançou lentamente, mas acelerou-se após a segunda guerra mundial, quando uma
revolução nacionalista, em 1952, depôs a monarquia. A declaração do Reino
Unido, unilateral, reconhecera o Egito como estado soberano, mas reservara
quatro pontos a serem resolvidos por acordo: o direito de linhas de comunicação
com seu império; a proteção dos estrangeiros e das minorias do país; a defesa
militar do Egito; o domínio inglês sobre o Sudão. A partir de 1928, Fuad I
desentendeu-se repetidamente com o Wafd (agora um partido nacional), liderado
por Zaghlul, e em 1930 instaurou um regime de exceção.
Em 1936 subiu ao trono Faruk I e o Wafd ganhou as
eleições. O domínio italiano na Abissínia veio acelerar o acordo entre a corte
egípcia e o Wafd, que se cindiu em dois grupos. Sob pretexto de ameaça de
guerra, os britânicos conservaram suas tropas no Egito, como
"aliadas". Durante a segunda guerra, na qual o Egito se transformou
em campo de batalha entre britânicos e alemães, aqueles ampliaram sua
influência, impondo Nahhas paxá como primeiro-ministro. O regime se enfraquecia
dia a dia, situação que se agravou com os problemas econômicos e sociais do
pós-guerra. No plano interno o Egito manobrou ativamente pela constituição da
Liga Árabe, por sua participação na Organização das Nações Unidas e pela luta
contra o recém-criado Estado de Israel (1948), que levou ao armistício imposto
pela ONU em 1949.
A agitação antibritânica chegou ao máximo em
janeiro de 1952, quando a agitação social promovida pela Irmandade Muçulmana
desembocou no golpe de 1952, liderado pelo general Mohamed Naguib. O rei Faruk
abdicou e em fevereiro de 1953 Naguib tornou-se ditador.
República. A 18 de junho de 1953 foi proclamada a
república, com Naguib na presidência, apoiado pelo líder Gamal Abdel Nasser. Em
1954, Nasser liderou um conflito contra seu ex-aliado e saiu vencedor. Naguib
foi deposto e Nasser assumiu o governo. Após a aprovação plebiscitária da
constituição de 1956, Nasser foi eleito presidente pela assembléia nacional e
confirmado no cargo pelo voto popular, com grande soma de poderes. O novo
governo lançou-se a uma política de modernização das estruturas econômicas,
sociais e militares do país. Em 1956 os Estados Unidos retiraram a oferta de
financiamento da represa de Assuã. Como resposta, o Egito nacionalizou o canal
de Suez. Tal medida provocou intervenção militar da França, Reino Unido e
Israel, terminada com mediação da ONU.
Depois da efêmera união com a Síria na República
Árabe Unida (1958-1961), presidida por Nasser, este reforçou os vínculos com a União
Soviética. A constituição de 1964 adotou para o país o regime democrático e
socialista, e um plebiscito realizado em 1965 confirmou Nasser na presidência.
As disputas entre os países árabes e Israel se intensificaram e agravaram-se em
1967, quando a aviação israelense, entre 5 e 8 de junho, destruiu grande parte
da força aérea egípcia, na chamada guerra dos seis dias, enquanto tropas de
terra ocupavam a faixa de Gaza e toda a península do Sinai, às margens do canal
de Suez. A intervenção da ONU fez cessar o conflito. Nasser assumiu a
responsabilidade pela derrota e renunciou, mas um amplo movimento popular o
manteve no poder.
Com a morte de Nasser, em 28 de setembro de 1970,
assumiu o vice-presidente Anwar al-Sadat, que no ano seguinte afastou os nasseristas
de esquerda, procurou com habilidade neutralizar os árabes mais radicais, como
o coronel Kadafi, da Líbia, e o presidente da Síria, Hafez al-Assad. Tentou a
formação de uma Federação das Repúblicas Árabes, mas o projeto não se
concretizou. Em 1976, anulou o tratado de amizade e cooperação com a União
Soviética, firmado em 1971, e que deveria se prolongar por 15 anos.
A iniciativa da guerra de 1973, contra Israel, e
seu desempenho à frente das forças egípcias, deram a Sadat prestígio e
autoridade para empreender uma nova política, de paz com Israel, reaproximação
com o Ocidente e desenvolvimento nacional. A 19 de novembro de 1977, foi
recebido festivamente pelos israelenses em Jerusalém, onde cumpriu, segundo
suas próprias palavras, uma "sagrada missão de paz". Essa iniciativa
teve vários desdobramentos: conversações no Cairo; uma conferência de cúpula
entre Sadat, o primeiro-ministro israelense Menahem Begin e o presidente
americano Jimmy Carter nos Estados Unidos; e os acordos de Camp David. Denunciados
pelos demais países árabes e pela Organização para Libertação da Palestina
(OLP), mas ratificados pelos governos do Egito e de Israel, esses acordos
constituíram a base do tratado de 1979, que deu aos dirigentes egípcio e
israelense o Prêmio Nobel da paz de 1978.
Em 1981, Sadat fez um extenso expurgo nas
fileiras da oposição política e religiosa. A 6 de outubro foi assassinado por
militares radicais. O vice-presidente Hosni Mubarak assumiu o cargo e iniciou
uma política de reconciliação interna. Em 1982, depois de conseguir a devolução
do Sinai -- em poder de Israel desde a guerra de 1967 -- nos termos do acordo
de Camp David, Mubarak distanciou-se de Israel e voltou a se aproximar da União
Soviética e dos países árabes. Consumada a invasão do Kuwait pelo Iraque
(agosto de 1990), o Egito teve atuação destacada no conflito pelo qual o
território kuwaitiano foi libertado no começo do ano seguinte.
Instituições políticas
Segundo a constituição de 1971, o Egito é um
estado socialista e democrático. O presidente da república exerce a autoridade
executiva junto com o primeiro-ministro e o conselho de ministros. É um
parlamentarismo com presidente forte.
O poder legislativo é exercido por uma Assembléia
Popular de 454 membros, dez dos quais escolhidos pelo presidente. As eleições
se realizam a cada cinco anos. O regime é de pluripartidarismo. A constituição
também consagra a independência do poder judiciário.
Desde 1960 o sistema administrativo é
desenvolvido em três tipos de circunscrições: os muhafazat (governadorias), os
distritos e os povoados. As cidades do Cairo, Alexandria, Port Said e Suez têm
estatuto de muhafazat. O governador, escolhido pelo presidente da república, é
a mais alta autoridade executiva e tem autoridade administrativa sobre todos os
funcionários de sua governadoria, salvo os magistrados.
Sociedade
Em termos gerais, o Egito chegou ao final do
século XX com um nível de vida bastante baixo, principalmente no setor rural.
Os trabalhadores das indústrias urbanas possuem nível social mais elevado. Como
conseqüência do intenso êxodo rural e com os problemas habitacionais causados
por essa recomposição demográfica, o governo empreendeu, a partir de 1970, um
amplo programa para alojar a população, juntamente com uma política de controle
da natalidade.
Nas últimas décadas do século XX foram
incrementados os serviços de saúde pública e assistenciais, tanto em número de
leitos ofertados por hospitais públicos como em pessoal especializado. Foram
realizados grandes esforços na implantação de programas de medicina preventiva
e se promoveram intensas campanhas de vacinação obrigatória contra difteria, tuberculose e poliomielite.
A educação experimentou grande desenvolvimento a
partir do fim da segunda guerra mundial. Existem quatro níveis escolares:
primário, pós-primário ou preparatório, secundário e técnico. A freqüência à
escola primária é compulsória dos 6 aos 12 anos. O ensino superior é ministrado
nas cinco universidades públicas: al-Azhar, Cairo (principal centro de estudos
da cultura árabe), Alexandria, Ayn Shams e Assiut. Existem outras instituições
particulares de ensino superior.
O islamismo é a região oficial do Egito. Existem
outros grupos religiosos como cristãos coptas, católicos, cristãos ortodoxos,
maronitas, anglicanos e protestantes. (Para dados sobre sociedade, ver
DATAPÉDIA.)
Cultura
Malgrado a herança das antigas civilizações que
ocuparam seu território, o Egito faz parte do mundo cultural árabe-islâmico. O
estado promove a cultura por meio do Instituto do Egito, fundado em 1859, sobre
a base de um instituto criado por Napoleão, e da Academia de Língua Árabe,
fundada em 1932. Outras instituições, também sob administração do Ministério da
Cultura, se dedicam ao fomento das artes, letras e ciências. Diversos museus conservam
o rico patrimônio cultural legado pela antiga civilização.
Arte. A tradição árabe, com influências
ocidentais e peculiaridades autóctones, determinaram as manifestações
artísticas do Egito moderno. O campo da música, na segunda metade do século XX,
recebeu incentivos governamentais com vistas a um retorno a suas raízes
tradicionais. O estilo ocidental adaptado à personalidade egípcia marcou as
composições de Yusuf Greiss e Abu Bakr Jariat. O retorno ao folclore se
manifestou também nas demais artes, com destaque para a dança, a pintura e as
atividades artesanais.
Os temas melodramáticos e a mensagem nacionalista
marcaram a produção cinematográfica egípcia. Após a nacionalização do cinema
egípcio, em 1963, prevaleceu um estilo realista, orientado para os problemas
sociais da vida no campo e do trabalhador urbano.
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