Tão antiga
quanto a própria existência do homem é sua inquietude diante da percepção e da
compreensão dos objetos e dos fenômenos que o cercam. As noções sobre
astronomia, geometria e física herdadas de antigas civilizações, como a
suméria, a egípcia, a babilônia e a grega, constituem o alicerce do pensamento
científico contemporâneo.
Em termos
gerais, ciência se confunde com qualquer saber humano. Em sentido estrito,
define-se ciência como as áreas do saber voltadas para o estudo de objetos ou
fenômenos agrupados segundo certos critérios e para a determinação dos
princípios que regem seu comportamento, segundo uma metodologia própria.
Origem das
ciências. Em última instância, a origem da ciência radica na capacidade de
raciocínio do homem e em sua disposição natural para observar. Os primeiros
seres humanos se deixaram fascinar pelo espetáculo oferecido pelos astros e,
após observação contínua de sua movimentação, perceberam certa regularidade nos
ciclos solar e lunar e na passagem periódica de cometas. A primeira grande
conquista científica foi, portanto, a constatação de que certos fenômenos se
repetem.
A imitação da
natureza e a necessidade de superá-la e dominá-la, as inovações técnicas
exigidas por cada sociedade para satisfazer seus interesses bélicos e
comerciais e o prazer intelectual do conhecimento foram fatores decisivos no
desenvolvimento inicial da ciência. Cada etapa da evolução científica esteve
impregnada da filosofia de seu tempo e, em algumas épocas, houve grande empenho
em justificar teoricamente certas concepções políticas ou teológicas. O
conflito ideológico entre ciência e religião, ou entre ciência e ética, foi um
traço marcante de muitas civilizações ao longo da história.
O vertiginoso
avanço científico verificado nos séculos XIX e XX favoreceu o aparecimento de
correntes de pensamento que pretendiam substituir os preceitos morais pelos
princípios da ciência. Esse propósito, no entanto, viu-se prejudicado pelas
questões éticas levantadas pela utilização das descobertas científicas. Embora
na maior parte dos casos os estudos científicos não suscitem problemas
metafísicos e proporcionem bem-estar e progresso, comprovou-se que podem
converter-se em poderoso instrumento de destruição quando postos a serviço da
guerra. O aproveitamento da energia nuclear para fins militares toldou em parte
o ideal científico racionalista.
Por outro
lado, surgiram recentemente outras questões polêmicas, envolvendo a engenharia
genética, sobretudo no que se refere à manipulação das primeiras fases da vida
humana, com a inseminação artificial, a fecundação in vitro, o congelamento de
embriões e a possível produção de clones humanos.
Classificação
das ciências. A ambição de saber própria do ser humano fez aumentar de tal
forma o volume do conhecimento acumulado que este supera em muito o saber
particular de cada indivíduo, tornando necessária a criação de sistemas de
ordenação e classificação. O próprio conceito de ciência e sua evolução
histórica trazem a necessidade de estipular a área de conhecimento que compete
a cada disciplina científica. Criou-se assim a taxionomia, ou teoria da
classificação, disciplina independente que determina o objeto de cada área do
conhecimento científico.
Aristóteles formulou
uma primeira classificação que distinguia três grupos: o das ciências teóricas
(física, matemática e metafísica), o das ciências práticas (lógica e moral) e o
das ciências produtivas (arte e técnica). Entre os muitos métodos
classificatórios menciona-se especialmente o do físico francês André-Marie
Ampère, do início do século XIX, segundo o qual as ciências se dividiam em duas
áreas: as chamadas ciências cosmológicas (subdivididas em cosmológicas
propriamente ditas e fisiológicas), que estudavam a natureza, enquanto as
ciências noológicas (subdivididas em noológicas propriamente ditas e sociais)
referiam-se aos raciocínios abstratos e às relações dos seres humanos em
sociedade.
Embora se haja
mantido a pluralidade de critérios no que se refere à ordenação científica, a
tendência moderna é definir várias áreas de conhecimento e englobar em cada uma
delas múltiplas disciplinas. O conjunto das ciências exatas agrupa a
matemática, a física e a química. As
ciências biológicas ocupam-se do estudo dos seres vivos em diversos níveis
(celular, de tecidos, de órgãos etc.) e compreendem grande número de
disciplinas, como a botânica, a zoologia, a genética, a ecologia etc. Uma
terceira área de conhecimento agrupa as ciências geológicas e geográficas, que
tratam dos fenômenos relativos à Terra, e as astronômicas, relacionadas ao
cosmos. Em outra esfera situam-se as ciências médicas, também muito
diferenciadas, e um quinto segmento engloba as ciências sociais (economia,
sociologia, demografia etc.).
As diversas
disciplinas podem também classificar-se em dois grandes grupos, segundo seu
objeto seja puramente científico, sem finalidade prática imediata (a chamada
pesquisa de ponta) ou integrem a área das ciências aplicadas, como as pesquisas
tecnológicas que se desenvolvem nas áreas mais especializadas da engenharia,
arquitetura, metalurgia e muitas outras.
História da
ciência
Admitindo-se a
curiosidade e a ânsia de conhecer como qualidades inatas do gênero humano,
pode-se afirmar que o nascimento da ciência deu-se com as primeiras observações
dos homens primitivos, antes mesmo que fosse inventada a escrita.
Primeiras
civilizações. Alguns monumentos megalíticos, como o cromlech de Stonehenge, na
Inglaterra, são testemunho de que os europeus pré-históricos possuíam noções de
astronomia e geometria muito superiores às que lhes foram atribuídas durante
séculos.
Os primeiros
centros importantes de irradiação científica localizaram-se na China, na Índia
e no Oriente Médio. A sabedoria e a técnica chinesas superaram as ocidentais
durante quase toda a antiguidade. Os sábios chineses mediram fenômenos celestes
em tempos muito remotos e progrediram extraordinariamente na alquimia, na
medicina e na geografia, apoiados por seus governantes. Os indianos, mais
interessados em questões metafísicas, desenvolveram muito a matemática e deram
ao mundo moderno o sistema de numeração, transmitido e aperfeiçoado pelos
árabes. No Egito prestava-se mais atenção à resolução de problemas técnicos,
enquanto na Mesopotâmia os caldeus e babilônios dedicaram-se sobretudo à
astronomia e à matemática, além de aperfeiçoarem as técnicas de irrigação e
construção de canais.
Cultura grega.
O surgimento de uma cultura como a grega, isenta de misticismo exacerbado e
onde os deuses eram mais sobre-humanos que divinos, deu lugar aos primeiros
modelos racionalistas. Sua filosofia foi a mais importante da antiguidade e
serviu de modelo à ciência teórica, baseada na educação e não na experiência,
conhecida como filosofia natural. A tradição helênica consagrou Tales, que
viveu em Mileto, cidade grega da Anatólia ocidental, no século VI a.C., como o
primeiro representante dessa corrente de pensamento. Tales procurou a ordem
universal (kosmos em grego significa ordem) mediante a determinação dos
elementos fundamentais que compõem o mundo e considerou o destino como motor
dos corpos, que se encaminham naturalmente para seu próprio fim. Não deixou
escritos, mas discípulos transmitiram e complementaram suas teorias. Chegou-se
assim à suposição de que todos os corpos conhecidos se formavam dos quatro
elementos: terra, fogo, água e ar.
Fundamental
para a ciência grega foi o pensamento de Pitágoras, um dos primeiros a medir
fenômenos físicos. Estabeleceu ele as leis acústicas pelas quais se relacionam
as notas musicais e aplicou a mesma teoria à disposição dos planetas, do Sol,
da Lua e das estrelas no firmamento: esses corpos celestes girariam em volta da
Terra em sete esferas concêntricas.
A síntese do
pensamento grego veio com Aristóteles, cuja preocupação foi manter a concepção
espiritualista de seu mestre, Platão, integrando-a, porém, numa explicação
científica do mundo físico. Aristóteles adotou o modelo de esferas concêntricas
de Pitágoras. Seus acertos na classificação dos seres vivos foram excepcionais,
embora, por falta de conhecimentos matemáticos suficientes, tenha enunciado
teorias físicas que, devido ao enorme prestígio que conquistaram na Idade
Média, constituíram mais entrave do que benefício na história da ciência.
Destaca-se também a figura de Arquimedes, que, discípulo do matemático
Euclides, descobriu importantes leis da hidrostática, as roldanas e a alavanca.
As teorias
gregas, que atribuíam ao mundo físico os ideais de beleza e perfeição plasmados
em suas esculturas, viram-se seriamente abaladas depois da conquista da
Mesopotâmia por Alexandre o Grande, pois os cálculos e medidas astronômicas dos
caldeus puseram a descoberto falhas e incoerências nos modelos cósmicos
aristotélicos. Mais tarde, Ptolomeu conseguiu reduzir as discrepâncias adotando
o sistema geocêntrico, que situava a Terra no centro do universo.
A medicina
grega atribuía causas naturais a todas as doenças. Hipócrates, estudioso da
anatomia e do corpo humano, é considerado o pioneiro da medicina, embora esta
tenha chegado ao apogeu na época helenística alexandrina. Destacaram-se então
os estudos de Galeno de Pérgamo, que descobriu as veias, as artérias e os
nervos, aos quais caberia propagar a energia vital pelo corpo.
Roma, Islã e
cristianismo medieval. O esplendor da ciência de Arquimedes e Euclides
coincidiu com o estabelecimento do poder romano no Mediterrâneo. Os romanos
limitaram-se a preservar os estudos dos gregos e preferiram resolver problemas
de engenharia e arquitetura. Com a decadência e queda do Império Romano, os
textos da antiguidade clássica praticamente desapareceram na Europa. A expansão
do cristianismo, que se produziu nos últimos séculos do Império Romano, deu
novo alento às interpretações espirituais e teológicas do mundo. Somente os
mosteiros serviram de refúgio para a ciência antiga, pois neles os monges
fizeram cópias manuscritas e comentários dos livros salvos dos saques
promovidos pelas tribos germânicas que invadiram o continente.
A civilização
árabe assimilou o acervo cultural do Ocidente e transmitiu o saber antigo à
cristandade pela ocupação da península ibérica. Traduziram a obra de
Aristóteles e de outros filósofos, fizeram progressos na medicina, na
astronomia e na alquimia e inventaram a álgebra. Nesse contexto, sobressaem as
figuras de Averroés, tradutor e comentarista da obra aristotélica, e de
Avicena, cujo Canon foi o texto básico de medicina durante toda a Idade Média.
A cultura
cristã medieval submeteu todo o conhecimento ao enfoque teológico.
Registraram-se, no entanto, alguns avanços tecnológicos notáveis. As pesquisas
no campo da óptica atingiram grande desenvolvimento e a utilização de novas
máquinas (como jogos de roldanas) e ferramentas (maças, cinzéis, rolos)
permitiram aperfeiçoar os processos de construção e deram base técnica aos
estilos arquitetônicos românico e gótico.
Revolução
científica e revolução industrial. A consolidação do estado como instituição, a
intensificação do comércio e o aperfeiçoamento da tecnologia militar
contribuíram para aumentar o interesse pelas realizações técnicas. O
Renascimento, primeiro na Itália e depois no resto da Europa, contribuiu com
uma visão mais completa dos clássicos da antiguidade e levou ao humanismo, que
concebia o homem como imagem de Deus, capaz e digno de criar. O exemplo máximo
de gênio criador do Renascimento foi Leonardo da Vinci, que se destacou como
artista, inventor, engenheiro e perito em anatomia humana.
Os antigos
modelos teóricos já não comportavam o volume gigantesco dos novos conhecimentos
e, por isso, a maior parte das perguntas ficava sem resposta. Era preciso
estabelecer um modelo básico e uma metodologia que servissem de orientação para
os novos estudos. Esses recursos foram fornecidos por Copérnico, Galileu,
Newton e outros cientistas, que tiveram de superar dois obstáculos de monta: as
idéias e o prestígio de Aristóteles, muito arraigados no espírito medieval, e a
hegemonia dos princípios defendidos pela igreja.
O
heliocentrismo, modelo que situa o Sol no centro do universo, já fora usado por
Aristarco de Samos na Grécia antiga. Não podendo ser confirmado pela
experiência, foi superado pelo geocentrismo de Ptolomeu. Copérnico enfrentou o
mesmo problema ao formular sua teoria heliocêntrica, embora apoiado pelos
estudos e observações de outros astrônomos, como Tycho Brahe, Kepler e Galileu,
que foi o primeiro a utilizar o telescópio.
A obra De
humani corporis fabrica libri septem (1543; Sete livros sobre a organização do
corpo humano), de Andreas Vesalius, aplicou um novo método ao estudo do corpo
humano, que contestava Galeno em algumas
opiniões, até então tidas como irrefutáveis. A química, ainda centrada na
análise da enorme quantidade de substâncias descobertas pelos alquimistas, só
encontrou seu caminho científico moderno com Lavoisier, no século XVIII.
No século
XVII, Newton publicou sua obra magna: Philosophiae naturalis principia
mathematica (1687; Princípios matemáticos da filosofia natural), em que não só
anunciava as leis fundamentais do movimento dos corpos e da gravitação
universal, como apresentava um método de trabalho que se mostraria aplicável a
muitas áreas científicas. Simultaneamente com Leibniz, Newton inventou o
cálculo infinitesimal, que daria a seus sucessores um valioso instrumento
matemático. Uma das conseqüências mais importantes das idéias e do método
newtonianos manifestou-se no século XVIII, quando Coulomb enunciou uma lei
análoga à lei de Newton para a mecânica, aplicável à eletricidade.
As ciências
biológicas progrediram mais lentamente que as ciências técnicas. No século
XVIII, porém, surgiu a primeira classificação rigorosa de animais e vegetais
que se conhece desde a época de Aristóteles. Com ela, o sueco Carl von Linné,
conhecido como Lineu, lançou as bases da taxionomia moderna na classificação
botânica e zoológica.
Atomismo,
evolução e relatividade. No século XIX surgiu um novo enfoque das ciências,
marcado de certa forma pela descoberta do mundo microscópico e pela formulação
de modelos atômicos. A conexão entre as forças elétricas e magnéticas,
corroborada por Oërsted e Faraday, deu origem a uma teoria unitária das
modalidades físicas de ação recíproca que se mantém até hoje. Houve grandes
progressos nos métodos matemáticos e, conseqüentemente, na formulação de
complexos modelos teóricos. Joule e Helmholtz estabeleceram o princípio de
conservação da energia e Helmholtz descobriu também a natureza eletromagnética
da luz.
Com a teoria
atômica de Dalton e o sistema periódico de Mendeleiev, a química consolidou
seus princípios e seu método, enquanto a biologia teve grande impulso com os
estudos de classificação realizados por Cuvier. Ainda no século XIX, o
naturalista inglês Darwin provocou uma autêntica revolução, que durante muitos
anos foi objeto de controvérsia, com a publicação do livro On the Origin of the
Species by Means of Natural Selection (1859; A origem das espécies), onde se
acha exposta a célebre teoria da evolução. Em 1838, Schwann e Schleiden
lançaram as bases da teoria celular. Pouco depois, Pasteur e Koch estudaram a
natureza dos germes microscópicos causadores das enfermidades e criaram as primeiras
vacinas. As ciências sociais progrediram e deram nascimento à sociologia e à
economia como disciplinas científicas e independentes.
O século XX
principiou com a descoberta da radioatividade natural por Pierre e Marie Curie
e o anúncio de novas doutrinas revolucionárias. A confirmação do conceito
evolucionista das espécies e a extensão dessa idéia ao conjunto do universo,
junto com a teoria quântica de Planck e a teoria da relatividade de Einstein,
levaram a um conceito não-causal do cosmo, em que só é lícito adquirir
conhecimento a partir de dados estatísticos, cálculos de probabilidade e
conclusões parciais. Nada disso implica um retrocesso na validade do método
científico, pois não se duvida que esse método assegurou enormes progressos
tecnológicos, mas sim um reconhecimento, por parte da ciência, de sua
incapacidade de dar respostas cabais sobre a natureza e a origem do universo.
Na segunda
metade do século XX, os métodos de observação de alta precisão apresentaram
notáveis progressos com o descobrimento do microscópio eletrônico, no qual as
lentes foram substituídas por campos eletromagnéticos e a luz por um feixe de
prótons, e dos microscópios de raios X e de ultra-som, com grande poder de
resolução.
A reunião de
disciplinas como a automação, destinada ao estudo e controle dos processos em
que o homem não intervém diretamente, e a informática, ou conjunto de técnicas
dedicadas à sistematização automática da informação, nasceram outras
disciplinas como a robótica, que se ocupa do desenho e do planejamento de
sistemas de manipulação a distância. Essa área de conhecimento teve aplicação,
por exemplo, na astronáutica. Permitiu que o homem chegasse à superfície da Lua
ou viajasse pelo espaço cósmico.
No campo da
astronomia foram criadas disciplinas como a astronomia das radiações
ultra-violeta e infravermelha, dos raios X, gama e outros. Esses progressos se
devem aos conhecimentos da física nuclear, que permitiram descobrir uma enorme
quantidade de fenômenos e de corpos celestes, como os buracos negros, objetos
astrais de densidade elevada e que não emitem radiação, e os quasares, objetos
semelhantes às estrelas que emitem radiações de grande intensidade.
A ciência
moderna tem-se esforçado para obter novos materiais e fontes de energia
alternativas para o carvão e o petróleo. O progresso da técnica permitiu a
fabricação de semicondutores e dispositivos eletrônicos que conduziram aos
computadores modernos. O domínio dos processos atômicos e nucleares
possibilitou a construção de centrais elétricas e instrumentos de precisão. A
aplicação de novas tecnologias na medicina e o maior conhecimento do corpo
humano e de seus mecanismos proporcionaram uma melhora apreciável nas condições
de vida dos habitantes do planeta.
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