
A Itália
situa-se entre os mares Adriático, Tirreno e Jônico. O país limita-se ao norte
com a Áustria; a leste, com a Eslovênia e o mar Adriático; ao sul, com os mares
Jônico e Mediterrâneo; e a oeste com os mares Tirreno, Mediterrâneo e da
Ligúria; a noroeste com a França e a Suíça.
O território
italiano, com 301.303km2, compreende a península itálica e as ilhas da Sicília,
Sardenha e outras menores. San Marino, com 62km2, e a cidade do Vaticano, com
44ha, não são considerados na área total. A capital do país é Roma, principal
cidade da península, situada na Itália média, entre o sul, pobre e com excedentes
de mão-de-obra, e o norte, rico e industrializado.
Geografia
física
Geologia e
relevo. A península itálica formou-se no fim da era cenozóica, mediante o
dobramento dos Apeninos, com intensa atividade vulcânica, da Toscana à
Campania, e soerguimento dos planaltos calcários na Apulia. A planície do Pó se
formou mais tarde, com a deposição de aluviões entre os Alpes e os Apeninos.
Duas grandes
cadeias de montanhas cortam o país: os Alpes, que se elevam como fronteira
natural com a França, Suíça, Áustria e Eslovênia; e os Apeninos, que se
prolongam até a Sicília. No passo de Cadibona, próximo à costa do golfo de
Gênova, encontram-se as duas cadeias. A cordilheira alpina é como um grande
arco, que se estende da costa lígure à adriática. Divide-se em Alpes Ocidentais,
Centrais e Orientais. Os Alpes Ocidentais vão do passo de Cadibona ao vale de
Aosta e descem bruscamente sobre a planície do Piemonte. Nele se encontram as
maiores montanhas puramente italianas, como o Gran Paradiso (4.061m) e o monte
Viso (3.841m). Os Alpes Centrais vão do vale de Aosta até o passo de Brennero,
na fronteira com a Suíça, onde se situa o monte Branco, o mais alto da Europa
ocidental, e ainda o Rosa e o Matterhorn. Nos cumes nevados de Adamello
(3.556m), Cevedale (3.769m), e Palla Bianca (3.736m) há extensos vales
glaciários, que drenam para o rio Pó. Nos Alpes Orientais, entre o passo de
Brennero e a costa adriática, destacam-se os Alpes Dolomíticos, de escarpas
agrestes. Os cumes alcançam pouco mais de 3.000m.
Os Apeninos se
ligam aos Alpes pelo oeste e formam como que a ossatura da península itálica. A
cadeia se estende da Ligúria à Sicília. As montanhas não têm grandes altitudes,
mas nos Abruzzi a erosão criou picos como o Gran Sasso d'Italia (2.914m). No
extremo sul encontram-se as cadeias La Sila (granítica e mais antiga que os
Apeninos) e Aspromonte, que atingem quase dois mil metros. Na Sardenha, o
maciço de Gennargenta atinge 1.834m, e os montes Limbara 1.362m. Entre os
vulcões italianos destacam-se o Vesúvio, perto de Nápoles, a 1.132m, que em 79
da era cristã soterrou Pompéia e Herculano, e o Etna, na Sicília, a 3.200m.
Apesar de
estreita, a península tem terras planas. A mais extensa é a planície do Pó, com
500km de extensão de oeste a leste, e largura entre 75 e 180km, de norte a sul.
Entre os Alpes e os Apeninos setentrionais fica a planície padano-veneziana.
Seguem-se o Tavoliere (tabuleiro), na Apulia, a Pontine e a Campania Romana, no
Lácio, a Maremma e a do baixo vale do Arno, na Toscana, e as de Catânia, na
Sicília, e Campidano, na Sardenha.
Clima. A
Itália apresenta duas grandes zonas climáticas: a continental, que compreende
as montanhas e vales alpinos e a grande planície do Pó; e a mediterrânea,
formada pela península e pelas ilhas. Dada a grande extensão norte-sul, as
variações climáticas são comuns: o clima é subtropical mediterrâneo no sul; na
planície padano-veneziana, é temperado marítimo, como o da Europa ocidental.
O clima dos
Alpes é típico das altas regiões montanhosas. Varia muito de acordo com a
altitude, desde as temperaturas moderadas dos vales profundos e bem protegidos
até os níveis térmicos extremamente baixos dos picos, cobertos por neves
eternas. Na região alpina, as chuvas são abundantes e bem distribuídas ao longo
do ano. Observa-se o efeito regulador das massas de água dos lagos alpinos em
suas margens, onde crescem oliveiras, ciprestes e até limoeiros.
O verão na
Itália é quente. As temperaturas no norte e no sul quase se igualam, a não ser
pelas chuvas e umidade do ar. No sul, os dias são quentes e luminosos, mas
extremamente secos. A estiagem pode prolongar-se por cinco meses e até mais;
quando isso ocorre, as chuvas caem em violentos aguaceiros.
Na planície do
Pó, o inverno é frio, com períodos de densa neblina. O verão é cálido e permite
cultivar cereais, como o arroz. As
chuvas, abundantes durante a primavera e o outono, não diminuem no verão. Por
ser ilha, a Sicília tem clima suave no inverno; já a Sardenha sofre
periodicamente a influência do forte vento mistral, que vem do noroeste. O
siroco, sufocante vento sudoeste procedente do Saara, afeta a península e as
ilhas no verão.
Hidrografia.
Os rios italianos são relativamente curtos. O maior deles, o Pó, tem apenas
643km. Nasce no monte Viso e desemboca no Adriático, onde forma um delta de
cinco braços. O Adige, o segundo em extensão, com 408km, o Brenta e o Piave
nascem na cadeia alpina e desembocam no Adriático; o volume atinge o máximo na
primavera, quando se derretem as neves das montanhas. Dos Apeninos, correm para
o Adriático, o Reno (220km), o Savio e o Rubicão. Outros rios caudalosos são o
Arno (241km), em cujas margens está Florença, e o Tibre (405km), que banha
Roma. Na Sicília destacam-se o Simeto e o Salso, e na Sardenha o Tirso.
Os lagos
pré-alpinos da Lombardia, na região norte -- Garda (370km2), Maggiore (212km2),
Como (145km2), Lugano, Iseo --, são de grande interesse turístico pela beleza
da paisagem. Na península, há lagos que ocupam crateras de vulcões extintos
(Trasimeno, Bolsena, Vico e Bracciano).
Flora e fauna.
Os milhares de anos de civilização alteraram profundamente a fisionomia
original da vegetação. No entanto, algumas áreas da Toscana e da Campania,
extremamente urbanizadas, são tidas como modelos de harmonia entre o homem e a
natureza. Os carvalhos, faias, azinheiras e pinheiros foram substituídos, em
muitos lugares, por culturas típicas mediterrâneas, como vinhedos, olivais e
cereais. Nos planaltos e colinas da Itália central e meridional encontra-se a
garrigue ou estepe arbustiva mediterrânea, enquanto na Sardenha o revestimento
florístico, mais denso, constitui o maquis. Na Sardenha, Sicília e no sudeste
da península abundam as paisagens desnudas e degradadas.
Nas zonas
montanhosas ficam os parques nacionais, que conservam parte da fauna natural:
veados, linces, cabritos monteses, gazelas, arminhos e ursos pardos, na região
alpina; em outras áreas, javalis, lobos e coiotes. São numerosos os roedores --
lebres, coelhos selvagens, esquilos, marmotas e porcos-espinhos. Há também
carnívoros - gatos-do-mato, fuinhas e doninhas. No verão, as principais aves
migratórias são o gavião e a andorinha; no outono, o estorninho, a cotovia e a
gaivota. Em maiores altitudes encontram-se falcões, águias e outras aves de
rapina. Reservas biológicas, no Gran Paradiso, nos Abruzzos, e em Stelvio e
Circeo, protegem as espécies ameaçadas de extinção.
População
É grande a
variedade de tipos humanos na Itália. Nas regiões montanhosas prevalece o tipo
alpino, de estatura média ou alta, claro, cabelos castanhos ou alourados, olhos
azuis-cinzentos ou verdes; no sul predomina o tipo mediterrâneo -- mais baixo,
moreno, cabelos e olhos escuros.
A língua da
imensa maioria da população é o italiano, que deriva fundamentalmente do
dialeto culto toscano, embora tenha perdido, no resto do país, o sotaque típico
daquela região. Os dialetos do norte revelam influência do francês e do alemão;
o sardo, dialeto da Sardenha, é um idioma diferenciado e afim ao catalão. As principais minorias
étnico-lingüísticas são os franco-provençais do vale de Aosta, que falam
francês, e os tiroleses do Alto-Adige, que tem como idioma o alemão. Os gregos
e albaneses da Calábria e da Sicília são núcleos reduzidos, cuja importância só
tende a diminuir.
A densidade
demográfica da Itália é bastante inferior à de outros países europeus, como
Reino Unido e Países Baixos. A taxa de natalidade está em queda constante desde
o século XIX; a taxa de mortalidade também diminui e é uma das mais baixas do
mundo. O final do século XIX foi marcado por intensa emigração, que se estendeu
até o começo da primeira guerra mundial -- principalmente para Estados Unidos,
Argentina, Brasil, Austrália e Canadá. Dificuldades econômicas e a ascensão do
fascismo reduziram esse fluxo, que recomeçou após a segunda guerra mundial,
sobretudo para os países do norte da Europa.
Internamente, permanece a migração de trabalhadores do atrasado
Mezzogiorno (sul) para o norte industrializado, das ilhas para o continente, e
de leste para oeste (do Vêneto para a Lombardia, e da Úmbria para a Toscana e
Roma). (Para dados demográficos, ver DATAPÉDIA.)
Economia
A economia
italiana passou por transformações marcantes no século XX. Até 1931, mais da
metade da população ativa do país ocupava-se de atividades primárias; na década
de 1960, o número de trabalhadores na indústria superava em muito o de
agricultores.
Após enfrentar
as dificuldades da década de 1970, com a crise do petróleo, instabilidade
política e outros fatores, a economia italiana entrou num ritmo estável e
moderado de expansão, com a inflação sob controle e os primeiros resultados do
esforço nacional de saneamento da economia e das estruturas sociais, conhecido
como il risanamento. Na área política, um saudável espírito prático tomou conta
dos partidos, que passaram a discutir problemas concretos, como eliminar a
poluição ambiental, reduzir a despesa pública e acabar com o déficit do
orçamento nacional.
Depois de
internacionalizar a economia e realizar parcerias com os concorrentes
estrangeiros, o país enfrentou com tranqüilidade acordos internacionais, compra de tecnologia e outras práticas
condenadas no passado. A antiga habilidade artesanal que ganhou fama em certos
setores -- calçados, tecidos, malharia, máquinas, mobiliário se aliou à tecnologia de ponta e tornou possível
fabricar produtos de alta qualidade e design sofisticado, a preços
competitivos.
A estatização
é uma forte característica da economia italiana. O Ministério das Participações
Estatais, criado em 1956, controla diretamente as empresas públicas e
sociedades de capital majoritariamente estatal, por meio de órgãos como o
Instituto para Reconstrução Industrial (IRI), a Companhia Nacional de Derivados
de Petróleo (ENI) e a Companhia Nacional de Energia Elétrica (ENE), que dão
suporte financeiro à indústria pesada e controlam ramos vitais da economia,
como siderurgia, bancos, construção naval, petróleo e gás natural, equipamento
eletrônico, transportes, eletricidade, telefonia, telecomunicações, produtos
químicos e cimento.
Agricultura e
pecuária. A Itália é o terceiro país da Europa em área agrícola, mas só obtém
rendimento elevado em áreas de solos férteis, climas brandos ou terrenos
irrigados. O país é auto-suficiente em trigo, o cereal mais cultivado no país.
Embora a maior área de trigais esteja na Sicília, os principais produtores são
Emilia-Romagna, Lombardia, Vêneto, Marche e Piemonte. O milho é cultivado no
verão na planície padano-veneziana. A Itália é o maior produtor europeu de
arroz, cultivado no Piemonte e oeste da Lombardia. No Mezzogiorno cultivam-se
olivais e cítricos. Há vinhedos em todas as grandes regiões da Itália. As
principais áreas vinícolas são Monti del Chianti, na Toscana; Asti, no
Piemonte; Orvieto, na Úmbria; e Marsala, no oeste da Sicília. A produção de
carne e leite é insuficiente para o mercado interno, o que obriga o país a
importar. A maior concentração de gado está na planície setentrional. Lombardia
e Emilia-Romagna respondem pela maior produção de queijos e criam o maior
rebanho suíno do país.
Pesca e
recursos florestais. A maior parte do movimento dos barcos pesqueiros se faz a
partir dos portos do Adriático. Enguias e outras espécies muito apreciadas são
capturadas nas zonas pantanosas, como o delta do Pó e a laguna de Veneza. A
principal atividade pesqueira (atuns, sardinhas, enxovas, cavalas e outros
peixes pequenos) se desenvolve nos mares circunvizinhos à península, em
pequenas embarcações. A pesca em grande escala é feita nas costas da Mauritânia
(norte da África) e da Terra Nova (Canadá).
As reservas
florestais ocupam vinte por cento da superfície do país. As principais regiões
de extrativismo florestal são a Ligúria, a Toscana e o Trentino-Alto Adige.
Energia e
mineração. A industrialização da Itália acarretou carência de combustíveis. As
grandes usinas hidrelétricas, que aproveitaram o potencial dos Alpes, foram o
primeiro passo para resolver o problema energético do país. Dois terços de toda
a energia da Itália são gerados no norte. Parte da energia hidráulica vem de
represas instaladas nos Abruzzos, Sardenha e Sicília. Centrais termelétricas
complementam a produção. Uma usina aproveita o gás vulcânico de Larderello, no
sul da Toscana. Há usinas termonucleares em Latina, Garigliano e Trino
Vercellese. As reservas e a exploração do metano tendem a diminuir no vale do
Pó e aumentar na Basilicata e na Sicília. O petróleo é extraído no sul da
Sicília e na Basilicata.
O subsolo
italiano é pobre em minerais metálicos e carvão. O minério de ferro é de boa
qualidade; as principais jazidas ficam na ilha de Elba e no vale de Aosta. A
mineração de chumbo e zinco se processa sobretudo em La Argentiera, no noroeste
da Sardenha, com excedentes exportáveis. O mercúrio é explorado na região de
Monte Amiata, na Toscana. O enxofre vem da Sicília, a bauxita da Apúlia e o sal
da Toscana. Extraem-se também manganês, arsênico e antimônio.
Indústria. A
indústria italiana está distribuída desigualmente por suas várias regiões.
Dentre as modernas regiões italianas, o noroeste -- que compreende o Piemonte,
a Lombardia, a Ligúria e o vale de Aosta -- comanda a economia do país. A área
industrial mais importante é o triângulo Milão-Turim-Gênova. Lá se encontram
boa parte dos solos férteis do país e metade das indústrias em funcionamento. A
energia elétrica é abundante e barata, já que os vales alpinos próximos foram
bem aproveitados para a construção de usinas hidrelétricas. O intercâmbio com o
exterior faz-se através dos túneis dos Alpes e do porto de Gênova. A oferta de alimentos é
garantida por uma agricultura intensiva e altamente irrigada. Milão, segunda
cidade da Itália, é também o maior centro industrial e o principal
entroncamento das vias de transporte do país. Em torno da cidade se desenvolveu
um importante parque industrial, com indústrias mecânicas, de
máquinas-ferramenta e material elétrico, metalúrgicas, têxteis, de cimento,
vidro, borracha, anilinas e produtos farmacêuticos.
O
centro-nordeste se estende da fronteira com a Áustria até Roma. Compreende as
Três Venezas (Trentino-Alto Adige, Vêneto e Friuli-Venezia Giulia), a
Emilia-Romagna, a Toscana, a Úmbria, as Marche e o norte do Lácio. Do ponto de
vista da industrialização, essa região vem atraindo grande atenção desde a
segunda metade da década de 1980, quando começou a se transformar no que os
italianos hoje conhecem como "a terceira Itália" -- um importante
aglomerado de prósperas cidades médias.
O sul da
Itália, ou Mezzogiorno, é a região menos desenvolvida do país. Compreende a
parte meridional do Lácio (a partir de Roma), os Abruzzos, Molise, Campânia,
Apúlia, Basilicata, Calábria e as ilhas da Sicília e da Sardenha. De seus
habitantes, conhecidos como meridionali, mais da metade trabalha na agricultura
e menos de um quarto tem empregos industriais. A renda per capita equivale à
metade da média encontrada no triângulo industrial do norte. Nápoles e Bari
abrigam indústrias de petróleo, aço, alimentos, confecções e estaleiros. Mais
de quarenta por cento da população economicamente ativa trabalha na indústria,
enquanto somente a metade desse percentual está ocupada na agricultura. Dentre
os setores industriais, o de mecânica é o mais importante, tanto em número de
empregados como em valor da produção. Dois quintos das fábricas estão na
Lombardia (principalmente na província de Milão), Piemonte e Ligúria. A
mecânica pesada é forte em Sesto San Giovanni e Gênova, que também centraliza
os estaleiros navais da costa da Ligúria. Dois terços dos navios construídos na
Itália são lançados no trecho entre Pietra Ligure e La Spezia.
O principal
centro da indústria automobilística é Turim, mas há fábricas também em Milão,
Brescia e Desio. A indústria de máquinas elétricas também é importante no
triângulo industrial. O potencial da planície padano-veneziana atraiu
indústrias de máquinas, bicicletas, motocicletas e eletrodomésticos.
Finanças e
comércio. O balanço cambial da Itália, embora desfavorável, equilibra-se com a
receita do turismo, remessas de emigrantes e serviços diversos. Na pauta de
importações destacam-se produtos alimentícios, metais e minerais, maquinaria e
equipamentos, combustíveis e têxteis. Os principais fornecedores são a
Alemanha, França, Estados Unidos e Países Baixos. As exportações mais
importantes são máquinas e equipamento de transporte, massas alimentícias,
produtos químicos, roupas, tecidos, fibras, ferro e aço.
Transportes e
comunicações. A maior parte das importações da Itália entra no país por via
marítima, e a frota mercante italiana é uma das maiores do mundo. Há também
intenso movimento de passageiros e carga entre o continente e as ilhas. A
navegação de cabotagem é intensa ao longo de toda a costa. Os portos mais
importantes são os de Gênova, La Spezia e Livorno, na costa da Ligúria;
Civitavecchia, Nápoles, Reggio di Calabria, Messina e Palermo, no mar Tirreno;
Cagliari, na Sardenha; e Brindisi, Bari, Ancona, Veneza e Trieste, no Adriático.
A malha
ferroviária é em grande parte estatal. Quase todo o sistema emprega a tração
elétrica, e noventa por cento das estradas de ferro têm bitola internacional.
As rodovias ligam as principais cidades do continente italiano e da Sicília, e
se comunicam com os sistemas viários da França, Suíça e Áustria, através de
túneis imensos, um deles sob o monte Branco. O transporte aéreo civil é
controlado pela estatal Alitalia. Os aeroportos mais movimentados são os de
Roma e Milão. O estado controla a telefonia e o serviço de correios e
telégrafos. Embora exista um sistema oficial de rádio e televisão, empresas
privadas também operam no ramo. (Para dados econômicos, ver DATAPÉDIA.)
História
A pré-história
da península itálica se caracteriza por invasões de povos do norte. A
distribuição desigual dessas vagas invasoras deu lugar a diferentes culturas
regionais. As civilizações de Molfetta, Stentinello e Remedello apareceram no
período neolítico; logo a seguir, a Itália entrou na proto-história, com a
civilização das terramaras, no segundo milênio a.C., entre a idade do bronze e
a do ferro, e cujo nome deriva do tipo de povoamento -- estações terrestres
construídas sobre estacas, em zonas de lagos, com plataformas e cabanas de
madeira -- que se estabeleceu na planície norte e se prolongou a sudeste, na
costa oriental. Esses povos falavam dialetos indo-europeus, cremavam os mortos,
cultivavam a cevada e o trigo, trabalhavam o metal e, ao que tudo indica, já
conheciam o vinho.
Primeiros
povoadores. A partir de aproximadamente 1100 a.C., a introdução do ferro
superou a cultura do bronze, com o afluxo de uma nova onda de invasores: os
vilanovianos (nome derivado do sítio arqueológico de Vilanova, perto de
Bolonha). Quando chegaram à península, já encontraram uma população bem
diversificada, formada por grupos indo-europeus presentes desde o período
calcolítico (lígures, enganos, elímios e outros). Ao dominarem os vilanovianos,
no século IX a.C., os etruscos fizeram a Itália se abrir para novas formas de
cultura. Exploraram os minerais da Toscana e da ilha de Elba, criaram uma
indústria de metais e tecidos, que comercializaram na região do Mediterrâneo.
No século VIII a.C., controlavam rotas marítimas até o estreito de Messina. Nos
séculos VII e VI a.C., dividiam o controle do Tirreno com Cartago e Massília.
A partir do
século VIII a.C., os gregos começaram a colonizar o sul da península. Fundaram
Nápoles e Paestum (atual Pesto) e estabeleceram vários núcleos na costa
meridional e na jônica (Metaponto, Locros, Síbaris, Crotona, Reggio e outros),
que vieram a formar a chamada Magna Grécia. Logo começaram as guerras; em 540
a.C., os etruscos aliaram-se aos cartagineses e derrotaram os gregos na batalha
de Alália. A influência grega, contudo, esteve presente do século VIII ao
século VI a.C., num vasto território que compreendia desde a Magna Grécia até a
Apúlia e o Piceno, devido às relações comerciais. A partir de 474 a.C., a
hegemonia etrusca limitou-se à planície padana (Bolonha etrusca). Com a revolta
da aristocracia latina no fim do século VI a.C., formou-se uma república
oligárquica e patrícia, que substituiu o regime monárquico dos etruscos.
Alicerçado no campo, onde viviam os poderosos, o estado romano do século V a.
C. representou um rompimento com as tradições etruscas em relação às atividades
urbanas e ao comércio por via marítima.
Hegemonia de
Roma. O Império Romano só veio a consolidar-se completamente em 42 a.C., após
enfrentar lutas internas, dominar diversos povos (etruscos, volscos, latinos,
samnitas) e submeter os invasores. O sistema imperial alterou profundamente a
organização da Itália, com a diminuição dos poderes do Senado e a criação de
diversos cargos intermediários (prefeitos, cônsules e outros). Pouco a pouco,
os municípios perderam autonomia para prepostos dos governadores, que
controlavam as finanças e se encarregavam de cobrar altíssimos impostos.
Dentre as
invasões ocorridas no final do império, destacam-se a dos visigodos, comandados
por Alarico (c.370-410), e a dos hunos, sob o comando do célebre Átila (452),
que morreu antes de poder anexar os territórios que conquistara. No ano 476,
Rômulo Augústulo, último imperador romano do Ocidente, foi deposto por Odoacro,
rei dos hérulos. O governo passou para o Império Romano do Oriente; em
Constantinopla, o imperador Zenão reconheceu a autoridade de Odoacro, que
desejava governar como vice-rei da Itália e rei dos godos. Em 493, o chefe
ostrogodo Teodorico venceu Odoacro. A instalação do reino ostrogodo na Itália
não acarretou ruptura com a cultura romana. Teodorico preservou as antigas
instituições, sem violentar o sistema de vida do povo. Sua morte, contudo,
trouxe dificuldades para o reino, que caminhava para a estabilidade. O
imperador bizantino Justiniano enviou então Belisário para reconquistar a Itália.
Em 555, com a queda do último reduto gótico, a Itália caiu sob domínio
bizantino.
Os lombardos,
chefiados por Alboíno, invadiram a Itália em 568. Com o tempo, assimilaram
grande parte do que restava da civilização romana, inclusive o idioma,
principalmente em conseqüência da adoção do cristianismo, em meados do século
VII. A paz dos lombardos com Bizâncio foi celebrada em 680. A partir de então,
o equilíbrio da Itália passou a depender das relações do estado lombardo com o
papa. O rei lombardo Astolfo, que reinou de 749 a 756, enfrentou duas
expedições francas e teve de ceder terras ao papa. O acontecimento mais
significativo, porém, foi a criação de um estado pontifício independente de
Bizâncio e sob a proteção do rei franco. Pouco a pouco o papa foi substituindo
o poder do imperador na Itália não lombarda. O papa Estêvão II pedira auxílio a
Pepino o Breve, rei dos francos, a quem conferiu o título de patrício dos
romanos, em troca do exarcado de Ravena e do ducado de Roma. Com a morte de
Astolfo, Estêvão tentou obter os territórios mas Pepino o fez renunciar a tais
pretensões.
Novos ataques
dos lombardos levaram à intervenção dos francos, dessa vez sob Carlos Magno.
Coroado pelo papa Leão III, no ano 800,
Carlos Magno criou o Sacro Império Romano-Germânico, cuja estrutura
político-religiosa dominou a Europa até o Renascimento. O período que se seguiu
a sua morte caracterizou-se pela desagregação do poder carolíngio na Itália e
pelos constantes ataques dos sarracenos. Após conquistarem a Sicília, que ficou
três séculos sob domínio árabe, os muçulmanos estabeleceram-se na península.
Roma foi parcialmente saqueada no ano 846. Consolidaram-se, no entanto, os
estados pontifícios no centro da Itália. No norte, estabeleceu-se um sistema
feudal semelhante ao da Europa central.
Comunas. A
partir do início do século XI, as freqüentes tensões entre o papado e o
imperador em torno de questões do poder temporal, debilitaram o sistema feudal
em todo o território italiano. Por essa época várias cidades tinham-se tornado
prósperas devido ao comércio com o Oriente. O movimento comunal, que ganhou
força a partir de 1080 no norte e centro da península, marcou durante muitos
séculos a vida política da Itália. Veneza se transformou numa poderosa
república, que comerciava com Constantinopla e o Mediterrâneo oriental; Amalfi,
uma das principais cidades comerciais do Mediterrâneo, conseguiu eliminar os
piratas do mar Tirreno; Gênova e Pisa se revelaram como potências marítimas. A
partir do século XI, as comunas transformaram-se em cidades-estados; a
assembléia-geral deu lugar a um conselho e à magistratura dos cônsules
(proprietários de terras e comerciantes ricos). A cidade-estado absorveu as
cidadelas rurais e as pequenas propriedades.
Interessados
em manter a independência da igreja frente ao poder temporal, os papas entraram
freqüentemente em choque com o imperador, devido às intromissões nas eleições
papais e na nomeação dos bispos. Tomou corpo assim a questão das investiduras,
que só se resolveu em 1122, com a concordata de Worms. A partir de 1155, a
monarquia centralizada da família Hohenstaufen dominou o reino da Itália.
Frederico I Barba-Roxa tornou-se imperador e reclamou para si os direitos reais
usurpados pelas comunas, bispos e nobres. A resistência de Milão foi esmagada em
1162 e o papa Alexandre III aliou-se às cidades antiimperiais. Logo depois
formaram-se as ligas veronesa (1164) e lombarda (1167). Após muitas lutas e
revoltas, fez-se a paz com o papa em 1177. O filho e herdeiro de Frederico,
Henrique VI, casou-se com a herdeira da Sicília, Constança, e conquistou o
reino normando em 1194. Após sua morte, Constança renunciou em favor do filho
menor, Frederico, coroado em 1212, após a morte do rei alemão Oto IV, que fora
sagrado imperador em 1209. Ao contrário do que prometera ao papa, Frederico II
não separou o reino da Sicília do império, e por isso foi excomungado e
enfrentou a oposição da igreja até sua morte em 1250; em 1263, o papa Clemente
IV investiu o francês Carlos de Anjou na Sicília e marcou o fim do período Hohenstaufen.
Domínio
francês. O período em que a Itália esteve submetida aos franceses foi marcado
por muitas lutas e pela oposição a Carlos de Anjou, e culminou com uma série de
rebeliões e conflitos sociais no sul da península. A derrota final de Carlos de
Anjou deu-se em Messina, e cresceu um movimento comprometido com as classes
populares. Por essa época, os papas normalmente pertenciam a poderosas famílias
italianas, que assim consolidavam seu poder.
Com a Itália
sob a intervenção dos Valois, a ingerência dos papas nos assuntos franceses deu
margem a conflitos com Filipe IV, o que levou à desintegração do poder papal na
península; em 1303, os papas trocaram Roma por Avignon, na França. O poderoso
Amadeu VI, conde de Savóia, restabeleceu a autoridade papal e em 1357, o papa
retornou a Roma.
Renascimento.
Em 1455, foi formada a Liga Italiana, ratificada pelo papa Nicolau V e que se
tornou garantia para os estados menores. Livre de grandes guerras, a Itália
gozou um período de prosperidade, em que todas as artes floresceram e os vários
estados se aproximaram, em nome de interesses comuns. As instituições
políticas, de caráter despótico, procuraram exercer autoridade direta sobre os
estados da igreja. Por volta de 1490, a península experimentou o período de maior
prosperidade, que marcou a fase mais brilhante da história italiana -- o
Renascimento.
Por volta de
1500, começou novo período de lutas internas e renovadas intervenções
estrangeiras: com Carlos VIII, herdeiro da casa de Anjou, e Luís XII da França,
estabeleceu-se novo domínio dos franceses, expulsos em 1504. Em 1508 o papa
Júlio II formou a Liga de Cambrai e pôs fim ao domínio territorial de Veneza.
Em 1512 os suíços, membros da Santa Liga criada pelo papa, ocuparam a Lombardia
e expulsaram os últimos franceses. No mesmo ano, a Liga restaurou o poder dos
Medici em Florença. Os franceses voltaram à carga em 1515, quando Francisco I
reconquistou o ducado de Milão, mas Carlos da Áustria, que já dominava os
reinos espanhóis, foi coroado imperador do Sacro Império em 1519. Em 1530, após
conquistar Milão e saquear Roma, tornou-se senhor da Itália.
Inquisição.
Durante a supremacia espanhola, o reino italiano entrou em crescente declínio
econômico. A guerra intermitente com a França recrudesceu. Carlos V entregou a
Itália ao filho, o futuro Filipe II da Espanha, e transferiu todos os direitos
imperiais sobre o território para aquele país. Em 1542, a Inquisição foi
estabelecida em Roma e sufocou qualquer oposição política aos papas. Os estados
ainda lutavam por manter seus privilégios. Contudo, a Itália sofreu os efeitos
econômicos da descoberta do Novo Mundo, e perdeu a supremacia financeira e
naval.
Entre 1713 e
1748 estabeleceu-se o domínio austríaco, marcado pelos conflitos entre
Habsburgos e Bourbons. No período entre 1748 e 1792, os principais governantes
da Itália procuraram remediar a miséria da população, a riqueza excessiva do
clero e os abusos do privilégio senhorial. A expulsão dos jesuítas de Nápoles
(1767) e o fim do tributo anual ao papa simbolizaram a emancipação dos
governantes seculares em relação ao papado. As obras de intelectuais e
cientistas e a popularidade da maçonaria indicaram nova fermentação política na
Itália, às vésperas da revolução francesa.
Período
napoleônico. O Diretório, que governava a França após a revolução, escolheu
Napoleão Bonaparte para comandar as forças da Itália. Este, em rápida campanha,
derrotou as forças piemontesas e conquistou Parma, Módena, Milão e Nápoles;
logo depois, invadiu os territórios papais em Bolonha e Ferrara. Em meio a
rebeliões, Napoleão reorganizou a península e criou as repúblicas Cisalpina (ao
norte), Cispadana (Reggio nell' Emilia, Módena e Bolonha) e Partenopéia
(Nápoles). Por um breve período, exércitos austro-russos derrotaram os
franceses e derrubaram as repúblicas, novamente restauradas por Napoleão a
partir de 1800.
Em maio de
1804, após a proclamação do primeiro império francês, Napoleão foi coroado rei
em Milão e anexou Parma ao império. Ameaçadas de perderem a independência, as
principais cidades tentaram juntar-se a uma coalizão anglo-austro-russa, mas
depois de várias derrotas foram forçadas a reconhecer a presença de Napoleão, a
entrega da Veneza austríaca ao rei da Itália e a ocupação da Ístria e da
Dalmácia. Em 1808, após divergências com o papado, Napoleão ocupou Roma e
proclamou o fim do poder temporal do papa. Roma foi anexada ao império como sua
segunda cidade. Logo em seguida, reformas políticas instituíram o código
napoleônico, um sistema comum de administração, rudimentos de educação pública
e serviço militar obrigatório.
Risorgimento.
A partir da batalha de Leipzig, em 1813, começou a invasão austríaca, com a
ajuda de grupos patrióticos que acreditavam na independência após a derrota dos
franceses. Os austríacos ocuparam a Lombardia mas não entregaram o poder aos
patriotas, mais uma vez desiludidos. Com a restauração, os estados que haviam
formado o reino da Itália foram tomados pela agitação revolucionária,
organizada em sociedades secretas, como os carbonários e os federados. Movimentos
revolucionários em Nápoles e Palermo (1820) e no Piemonte (1821) foram
sufocados pelos austríacos. A influência da sociedade Jovem Itália, fundada em
1831 por Giuseppe Mazzini, espalhou-se rapidamente: propunha uma insurreição
nacional que unificasse a Itália como república, mas o programa fracassou. Com
a eleição do papa Pio IX, em 1846, começou a crise do Risorgimento. O novo papa
aprovou reformas liberais que ameaçaram os austríacos e deram exemplo para
outros estados. Logo a Toscana, a Sardenha e o Piemonte fizeram concessões
democráticas, como a liberdade de imprensa.
O surto de
liberalismo encorajou a revolução na Sicília, que em 1848 se proclamou
independente da monarquia Bourbon. Logo depois, os soberanos da Toscana e do
Piemonte outorgaram constituições a seus estados. Milão se rebelou e expulsou o
exército austríaco; outra revolução, em Veneza, restaurou a república. Carlos
Alberto, rei do Piemonte, acuou os austríacos e lhes declarou guerra.
A situação
ficou fora de controle. Carlos Alberto abdicou em 1849, e seu sucessor, Vítor
Emanuel II, apressou-se em firmar a paz. A Itália ficou à disposição dos
austríacos. O exército popular de Giuseppe Garibaldi resistiu por algum tempo
às forças francesas enviadas para restaurar o poder papal em Roma, mas a cidade
foi logo tomada. O levante na Sicília foi esmagado e Veneza também capitulou.
Ainda em 1849, um tratado de paz entre Áustria e Piemonte completou a
pacificação.
Unificação da
Itália. Em 1850 tornou-se primeiro-ministro do Piemonte Camillo Benso di
Cavour, cuja carreira política confundiu-se com a marcha para a unificação da
Itália. O Piemonte era o único estado italiano a possuir constituição liberal,
e com habilidade política, Cavour conseguiu o apoio francês no secreto Tratado
de Plombières e, em abril de 1859, forçou uma aliança franco-piemontesa contra
a Áustria. Após as derrotas de Magenta e Solferino, a Áustria assinou a paz em
Villafranca e cedeu a Lombardia, com exceção de Mântua e Peschiera, à França,
que se comprometeu a repassar o território ao Piemonte. A Toscana, a
Emilia-Romagna e os ducados de Parma e Modena somaram-se voluntariamente ao
novo reino. Enquanto isso, Garibaldi invadia a Sicília à frente de um grupo de voluntários
e expulsava de Nápoles o rei Francisco II. Alarmado com o êxito do caudilho,
Cavour ocupou as Marcas e a Úmbria e convenceu Napoleão III a fazer apenas um
protesto formal. Concordou que Roma e o Lácio continuariam sob o poder papal,
enquanto o restante da Itália tornava-se um reino constitucional. Sem poder
contar com o apoio popular, Garibaldi foi forçado a entregar Nápoles e a
Sicília ao rei piemontês, a quem reconheceu como o novo monarca da Itália.
A maior parte
da Lombardia passou para o Piemonte. Depois de um breve afastamento da chefia
do governo, em 1860 Cavour ofereceu Nice e a Savóia à França em troca da
unificação das províncias do norte e assegurou por plebiscito a união das
províncias do centro e sul (exceto Roma e a Sicília) ao Piemonte. Em 17 de
março de 1861, o Parlamento reunido em Turim proclamou formalmente o reino da
Itália. A anexação de Veneza, em 1866, e de Roma, em 1870, completaram a
unificação italiana. A Lei de Garantias (1871) assegurou ao papa completa
liberdade eclesiástica.
De 1870 a
1914, os sucessivos governos trataram de implantar um programa de modernização
econômica, administrativa e militar. Para equilibrar a situação financeira, o
ministério formado em 1869 por Giovanni Lanza e Quintino Sella tratou de
diminuir os gastos públicos e aumentar os impostos. Com a queda de Sella em
1873, assumiu a chefia do governo Marco Minghetti, que buscou combater a
inflação. A ele seguiu-se Agostino Depretis, líder esquerdista do Risorgimento,
que dominou a vida política italiana de 1876 até 1887. Hábil negociador,
conseguiu realizar um governo estável apesar dos antagonismos, graças à
política do "transformismo", que visava incluir nas minorias
parlamentares e no gabinete elementos de extrema esquerda e extrema direita.
Precavendo-se contra a possibilidade de um ataque da França, Depretis assinou a
Tríplice Aliança, que uniu Itália, Alemanha e Áustria-Hungria, mas o fracasso
da expedição colonizadora à Etiópia em 1887, na qual morreram 500 soldados
italianos, determinou sua renúncia.
Depretis foi
sucedido por Francesco Crispi, cujo governo inaugurou uma nova fase na política
italiana, caracterizada por uma linha autoritária no plano interno e por uma
ideologia expansionista que se expressou pelo estabelecimento de protetorados
na África, por uma crescente hostilidade à França e por uma progressiva
aproximação com a Alemanha. Foi substituído por Antonio di Rudinì, que renovou
por mais 12 anos a Tríplice Aliança.
Primeira
guerra mundial. Ao gabinete Rudinì sucedeu o do ex-ministro das Finanças de
Crispi, Giovanni Giolitti, que adotou uma linha mais progressista e dominou a
cena política do início do século XX até a primeira guerra mundial. Continuou
as reformas internas, deu certa liberdade aos incipientes movimentos operários,
criou uma avançada legislação social e protegeu a indústria do norte. Com
algumas concessões, obteve apoio dos grupos católicos, e em 1913 instaurou o
sufrágio universal. Foi sucedido por Antonio Salandra, político de direita,
após demissão forçada.
A Itália proclamou-se
neutra na primeira guerra mundial, mas depois se uniu aos aliados pelo Tratado
de Londres, por interesse em terras do império austro-húngaro. Derrotados em
Caporetto em 1917, os italianos resistiram e obtiveram ampla vitória em
Vittorio Veneto (1918), mas os resultados foram decepcionantes: a conferência
de Paris só concedeu à Itália uma parte dos territórios prometidos (o
Trentino-Alto Adige). A intranqüilidade social se instalou, e as eleições de
1919 deram a vitória aos democrata-cristãos. Apesar de majoritários, os
socialistas se recusaram a participar do governo e apoiaram uma série de
greves, com ocupação de fábricas. Em 1920, a Itália celebrou com a Iugoslávia o
Tratado de Rapallo, pelo qual ganhou quase toda a Dalmácia; ainda assim, a
opinião pública não se satisfez. A burguesia, preocupada com o avanço do
movimento operário, começou a apoiar maciçamente o movimento fascista, cujo
líder, Benito Mussolini, encabeçou em 1922 uma marcha contra Roma, com o
objetivo de tomar o poder. O rei Vítor Emanuel III, que sucedera ao pai,
Humberto I, em 1900, depois de seu assassínio por um anarquista, convidou
Mussolini a formar novo ministério.
Fascismo. Em
1924, com práticas duvidosas, Mussolini revalidou o poder nas urnas. A oposição
questionou os resultados; o deputado socialista Giacomo Matteotti denunciou no
Parlamento a violência fascista e pouco depois foi assassinado. Logo no início
de 1925, o governo fascista modificou totalmente a estrutura e o funcionamento
dos órgãos do estado. Todo o poder ficou concentrado nas mãos de Mussolini, que
só nominalmente era responsável perante o rei. A Câmara dos Deputados foi
substituída pela Câmara Fascista e de Corporações, com membros nomeados. Certas
liberdades foram abolidas, como o direito de greve, expressão e associação. A
oposição teve de emigrar ou agir na clandestinidade. Os comunistas pagaram caro
por fomentar greves e infiltrar-se nas associações operárias fascistas. O líder
do Partido Comunista Italiano (PCI), Antonio Gramsci, preso em 1926, morreu após
11 anos de prisão. Mas a existência ininterrupta do PCI e a luta clandestina
criaram as condições para torná-lo um grande partido após a queda do fascismo.
A estrutura do partido fascista se sobrepôs à do estado. Em 1929, o Tratado de
Latrão restabeleceu a paz entre a Igreja Católica e o estado italiano:
Mussolini concedeu ao papa a soberania sobre o estado do Vaticano e privilégios
à igreja.
Segunda guerra
mundial. A política expansionista que Mussolini levou a efeito na África, a
partir da conquista da Etiópia, criou dificuldades com as democracias
ocidentais, sobretudo França e Reino Unido. Após a invasão da Albânia,
Mussolini se aproximou da Alemanha nacional-socialista durante a guerra civil
espanhola. Ao iniciar-se a segunda guerra mundial, Mussolini declarou guerra
aos aliados e empreendeu a conquista da Grécia.
A guerra
representou uma sucessão de derrotas para o exército italiano, e o
descontentamento interno cresceu. Em 1943, o Grande Conselho Fascista destituiu
Mussolini, e Vítor Emanuel III nomeou chefe do governo o marechal Pietro
Badoglio, que firmou com os aliados o armistício, em 3 de setembro do mesmo
ano. Em abril de 1945, o líder fascista caiu em mãos dos partigiani (membros da
resistência italiana), que o executaram, e no mesmo mês, as tropas alemãs
capitularam ante os aliados.
República. Os
resultados da guerra foram desastrosos para a Itália. Em 1946, Vítor Emanuel
III abdicou em favor do filho, Humberto II, mas um plebiscito substituiu a
monarquia pela república. O democrata-cristão Alcide De Gasperi, considerado o
político italiano mais capaz desde Cavour, formou um governo de coalizão. As
eleições para a Assembléia Constituinte deram vitória aos democrata-cristãos.
Em janeiro de 1948 entrou em vigor a constituição republicana, e Luigi Einaudi
foi eleito presidente da república. No ano seguinte a Itália participou da
fundação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e tornou-se membro
do Conselho da Europa.
Após De
Gasperi, sucederam-se gabinetes de curta duração: Giuseppe Pella, Amintore
Fanfani, Mario Scelba e Antonio Segni. Em 1963, o democrata-cristão Aldo Moro
formou um governo de centro-esquerda e manteve-se no poder até 1968.
Seguiram-se vários governos de coalizão: Mariano Rumor, Emilio Colombo (que fez
aprovar a lei do divórcio, apesar da
oposição do Vaticano), Giulio Andreotti, novamente Rumor, Aldo Moro,
Andreotti. Em 1978, Moro foi seqüestrado e morto pelas Brigadas Vermelhas,
grupo terrorista de esquerda. No mesmo ano chegou à presidência o socialista
Sandro Pertini, veterano da resistência contra o fascismo, que negociou com o
Vaticano nova concordata, quando a Igreja Católica deixou de ser oficial.
Em 1979,
Francesco Cossiga sucedeu a Andreotti como primeiro-ministro, mas renunciou em
1980. Seguiram-se Arnaldo Forlani, Giovanni Spadolini, Amintore Fanfani e
Bettino Craxi, o primeiro socialista a governar o país. Nas eleições
presidenciais, Francesco Cossiga sucedeu a Pertini. O governo Craxi sobreviveu
às graves crises políticas que marcaram a década de 1980, principalmente a do
navio Achille Lauro, quando o primeiro-ministro se recusou a entregar aos
Estados Unidos os terroristas árabes responsáveis pelo seqüestro do barco e o
negociador Abul Abas, enviado pelo líder da Organização para a Libertação da
Palestina, Yasser Arafat.
No começo da
década de 1990, a Itália enfrentou três grandes desafios: os problemas
econômicos, a luta contra a Máfia e o combate à corrupção. A dívida interna
obrigou o governo a cortar os gastos públicos e iniciar privatizações. Na
guerra contra a Máfia, em resposta ao assassínio de juízes e a atentados a
bomba, a polícia prendeu vários líderes do crime organizado. No combate à
corrupção, a "operação Mãos Limpas", iniciada em 1992, condenou
dezenas de empresários, funcionários públicos e políticos.
Dois anos
depois, o direitista Silvio Berlusconi, dono do segundo conglomerado de
comunicações do país, fez uma aparição súbita e meteórica pela cena política
italiana. Eleito primeiro-ministro, Berlusconi assumiu o cargo em maio, quando
quando se divulgavam graves denúncias de extorsão, chantagem, roubos e
falsificações contra a classe política que há décadas dominava o poder. Também
atingido por um escândalo, que envolvia o grupo empresarial por ele controlado,
Berlusconi passou a ser investigado pela "operação Mãos Limpas" e
acabou renunciando ao cargo de primeiro-ministro em dezembro de 1994.
Incapaz de
encontrar um sucessor para Berlusconi que obtivesse maioria no Congresso, o
presidente Oscar Scalfaro nomeou um governo provisório formado por elementos
que não pertenciam ao governo e liderado pelo economista Lamberto Dini,
conhecido por suas tendências direitistas. Seu programa de governo incluía a
solução para o enorme déficit italiano, mudanças na concessão de pensões e um
novo sistema eleitoral regional.
Instituições
políticas
A constituição
italiana de 1948 estabelece como regime político a democracia parlamentar, com
divisão de poderes. O Parlamento é composto da Câmara dos Deputados e do
Senado. Os deputados (630) e senadores (315) são eleitos por cinco anos; há
sete senadores vitalícios -- ex-presidentes da república e mais cinco
personalidades nomeadas pelo chefe de estado, por seus méritos no campo das
ciências ou das artes. Em 1993, emendas constitucionais determinaram que 75%
dos senadores e deputados fossem eleitos por voto majoritário e os restantes
segundo um sistema de representação proporcional. Embora os cidadãos possam
votar com 18 anos, só os maiores de 25 anos podem votar para o Senado.
O presidente
da república é eleito por um colégio eleitoral formado pelas duas câmaras do
Parlamento e por 58 representantes regionais, e tem mandato de sete anos. Como
chefe de estado, nomeia o primeiro-ministro, mas a indicação requer aprovação
parlamentar. O presidente da república não pode ser destituído pelo Parlamento,
que, no entanto, tem o poder de demitir o primeiro-ministro.
Dois grandes
partidos, o Democrata Cristão e o PCI, passaram a dominar a cena política
depois da segunda guerra, mas a Democracia Cristã, sozinha ou em coalizão com
partidos menores, sempre esteve à frente do governo.
Politicamente,
a Itália está dividida em vinte regiões administrativas, que correspondem em
termos gerais à divisão histórica do país antes da unificação. Cinco delas
possuem maior autonomia e um sistema administrativo mais complexo: Valle
d'Aosta, Trentino-Alto Adige, Friuli-Venezia Giulia, por serem regiões de
fronteira com características lingüísticas e sociais diferenciadas, e as
grandes ilhas da Sicília e Sardenha. As regiões estão subdivididas em províncias
e municípios.
Sociedade
Mais de
noventa por cento da população italiana é declaradamente católica romana, mas
na segunda metade do século XX observou-se um declínio no número de católicos
praticantes. Em 1984 deixou de haver qualquer religião oficial, aboliu-se o
ensino religioso compulsório nas escolas públicas e foram reduzidas as
contribuições financeiras oficiais à igreja. Em 1967 foi fundada a Federação
das Igrejas Evangélicas da Itália, que congrega luteranos, batistas, metodistas
e membros de outras denominações.
A constituição
garante a liberdade de arte, ciência e ensino, a existência de escolas
particulares e a autonomia universitária. A educação é compulsória entre os
seis e os 14 anos. O sistema escolar começa no jardim da infância, para crianças
de três a seis anos. O primeiro grau destina-se a crianças do seis aos 11 anos,
e o segundo grau dos 11 ao 14, mas os alunos interessados em educação musical
são encaminhados diretamente aos conservatórios. A educação pós-secundária não
é obrigatória e engloba uma vasta gama de escolas técnicas, de comércio, arte,
pedagogia e escolas preparatórias para os cursos universitários clássicos e
científicos. O ensino superior é público em sua grande maioria.
A Itália
possui um sistema bastante amplo de previdência social, que cobre a grande
maioria da população. Todos os serviços sociais e benefícios em casos de
doença, acidente, deficiência, velhice e desemprego, são prestados por diversas
repartições públicas, das quais a maior é o Instituto Nacional da Previdência
Social. Existe uma ampla rede de saúde pública financiada pelo governo e
baseada em unidades sanitárias locais. (Para dados sobre sociedade, ver
DATAPÉDIA.)
Cultura
A Itália é
pródiga em tesouros de arte, criados sobretudo durante o Renascimento. Esses
tesouros estão presentes tanto nas pequenas cidades medievais quanto nos
grandes centros culturais, como Florença, Roma e Veneza, onde a fortuna de
poderosas famílias pôde sustentar todo um florescimento das artes.
Música. As
primeiras manifestações musicais registradas na Itália surgiram na igreja, nos
primeiros séculos do cristianismo. Sua base é o cantochão (cantus planus). A
primeira figura de destaque foi são Gregório Magno, papa entre os anos 590 e
604, que deu à música uma organização convincente, fundou uma escola de canto e
mandou escrever o antifonário. No século XI, a figura mais importante foi Guido
d'Arezzo, que sistematizou a notação musical.
A Renascença
do século XIII marcou o início da fusão entre a música erudita e a profana.
Surgiram a ballata (associação de música e poesia), cujo grande representante
foi Niccolò da Perugia, e o madrigal, estruturado por Giovanni da Cascia. Nos
séculos XV e XVI surgiram vários gêneros musicais na Itália. A influência
flamenga foi marcante na obra de Adriaan Willaert, que fundou a escola
instrumental de Veneza e deixou missas, motetes, salmos, hinos e madrigais. Os
gêneros mais típicos do século XVI foram a frottola, o madrigal e a vilanella.
Na música religiosa surgiu a polifonia, que alcançou a realização mais plena
com Palestrina.
No século
XVII as manifestações profanas
expressaram-se por meio da ópera, de que foi pioneiro Jacopo Peri. Na música
instrumental multiplicaram-se as sonatas, suítes, cantatas e concerti grossi,
enquanto o oratório tornou-se o novo gênero na música religiosa. O organista
Girolamo Frescobaldi fez florescer a tocata. Na escola de Veneza, Claudio
Monteverdi deu maior dramaticidade à ópera, mas a ópera napolitana, com
Alessandro Scarlatti, teve maior vigor lírico. No gênero bufo, destacou-se
Giovan Battista Pergolese.
No oratório,
os maiores nomes da época foram Giacomo Carissimi e Alessandro Stradella, a
quem se deve também o pioneirismo das cantatas de câmera e dos primeiros
concerti grossi. Arcangelo Corelli, Felice Dall'Abaco, Tomaso Albinoni e
sobretudo Antonio Vivaldi foram os destaques nos concertos grossos. Sua
influência foi marcante na obra de Johann Sebastian Bach, Georg Friedrich
Haendel e outros. Nas obras de Francesco Maria Veracini, Giuseppe Tartini e
Domenico Scarlatti, o estilo instrumental do rococó alcançou expressão
inigualável. O violoncelista Luigi Boccherini
introduziu o quinteto nas orquestras de câmara, com a adição de um
segundo violoncelo.
No século
XVIII, o teatro dominou a cena musical com força total, com destaque para
Domenico Cimarosa. Niccolò Jommelli, Tommaso Traetta e Niccolò Piccinni
anteciparam o estilo de Gluck. No Romantismo do século XIX, o destaque na
música instrumental foi Niccolò Paganini, o maior virtuose do violino de todos
os tempos. As figuras que realmente marcaram o estilo musical italiano nesse
século foram os operistas Gioacchino Rossini, Vincenzo Bellini, Gaetano
Donizetti, que se destacou em todos os gêneros operísticos, e Giuseppe Verdi,
cuja obra reflete todo o cenário social e político da Itália na época do
Risorgimento, graças às constantes alusões ao patriotismo. O verismo, estilo
que afirmou o direito do artista de representar a realidade de forma absoluta,
está representado na ópera italiana por Pietro Mascagni, Ruggero Leoncavallo, Umberto Giordano e
Giacomo Puccini.
O início do
século XX caracterizou-se como período neoclássico, com tentativas de retorno à
música instrumental. O único compositor posterior a Puccini a se tornar
conhecido internacionalmente foi Ottorino Respighi, cuja obra une os elementos
tradicionais a uma certa tendência ao modernismo. Luigi Dallapiccola foi o
primeiro representante do dodecafonismo na Itália e Luigi Russolo tornou-se o
maior nome da música concreta.
Arquitetura,
escultura e pintura. No século IV, a decoração das catacumbas marcou as origens
da pintura e escultura ocidentais. Com o reconhecimento oficial do
cristianismo, iniciou-se a construção de santuários por toda a Itália, com
destaque para as basílicas. A principal foi a antiga basílica de São Pedro,
erguida no Vaticano no ano 344 e hoje desaparecida. A catedral de Ravenna, em
estilo bizantino, foi erguida em 390. A igreja de San Giovanni Evangelista, o
mausoléu de Galla Placidia e o batistério dos Ortodoxos datam do século V. A
igreja de San Vitale é a última obra-prima da arte antiga em Ravenna.
A partir do
século VIII, o mosaico renasceu na Itália; até 840, a igreja acolheu muitos
artistas orientais. A arquitetura sofreu influência lombarda, principalmente em
Pavia, Monza e Milão. Na pintura, o mosaico com fundo de ouro predominou até o
século IX, e os afrescos mantiveram a tradição romana ao lado da grega. A
escultura mais notável do período é o famoso altar de ouro de Sant'Ambrogio
(Milão), assinado por Vuolvinius, que resume a arte carolíngia.
Dos séculos XI
a XIII, a fusão dos estilos antigos e novos da cristandade do Ocidente e do
Oriente se traduziu em novas e poderosas formas arquitetônicas: a nova basílica
ambrosiana em Milão, o conjunto de Pisa, o batistério de Parma, a igreja de San
Miniato em Florença. A escultura fundiu tendências rústicas com experiências
mais sofisticadas. A pintura denota antecedentes carolíngios. Em Verona, foi
construída a basílica de San Lorenzo, cuja fachada representa o último estágio
ornamental lombardo. A basílica de San Marco, em Veneza, é um dos mais ricos
tesouros da cristandade; seus mosaicos foram completados e restaurados
continuamente, até o século XIX.
Na Toscana, a
igreja de San Miniato (século XI) resume toda a arquitetura românica
florentina. Em Pisa e Lucca, o tema da pintura é o crucifixo; em Florença e
Siena, a madona. Em Roma floresceram o mosaico e a arte dos marmoristas, com
destaque para Jacopo de Lorenzo e seu filho Cosma. A assimilação das formas
lombardas revela-se na igreja de Santa Maria di Castello (1121) e o reencontro
com a tradição basilical na de Santa Maria Maggiore (século XII).
No século
XIII, os estilos se transformaram em toda a Itália, em virtude da pregação
franciscana. Formou-se em Roma uma escola de mosaicistas e afresquistas, em que
sobressaíram-se Pietro Cavallini e Jacopo Torriti. O pintor mais importante foi
Giovanni Gualtieri Cimabue, que executou todos os afrescos da igreja, entre
1277 e 1281. A reação gótica, que penetrou na Itália pelo Lácio e pela Sicília,
mostra-se nas abadias de Fossanova e de Casamar. A renovação da escultura
deveu-se a Nicola Pisano e seu filho Giovanni, a partir de 1270. Na arte da
miniatura, a influência grega se manteve, sobretudo na Lombardia.
No século XIV,
o santuário de Assis, a igreja de San Domenico em Perugia e a capela de Santa
Maria della Spina, em Pisa, foram exemplos do estilo gótico difundido em toda a
Itália. A obra mais singular da época é o Duomo de Florença (catedral de Santa
Maria del Fiore), cuja direção foi entregue a Arnolfo di Cambio e depois a
Giotto, que iniciou a construção do célebre campanário. Filippo Brunelleschi,
na terceira fase, construiu a cúpula.
A grande
figura da pintura foi Giotto, que deu maior expressão ao estilo figurativo. Na
capela Bardi de Santa Croce (1317-1323) está a versão definitiva da lenda de
são Francisco de Assis, por Giotto. Em Siena estão as obras-primas de Duccio di
Buoninsegna e Pietro Lorenzetti. Em Florença, destacaram-se na pintura
monumental Giovanni da Milano, Altichiero e Giusto Menabuoi. Gentile da
Fabriano e Antonio Pisano foram os mestres na escola fundada por Altichiero.
Renascimento:
o Quattrocento. Com a volta do papado para Roma, as principais cidades
italianas voltaram a receber encomendas de arte. A obra de Antonello da Messina
integrou a Itália ao desenvolvimento da arte ocidental. Em Florença,
Brunelleschi inaugurou um novo estilo arquitetônico. Destacaram-se também Leon
Battista Alberti e os irmãos Bernardo e Antonio Rosselino. Donatello, uma das
mais complexas figuras da arte italiana, influenciou arquitetos, decoradores e
escultores. Na pintura, firmaram-se Masaccio, Domenico Veneziano, Andrea del
Castagno e Antonio Pollaiuolo, este também notável escultor. Os principais
pintores foram Stefano di Giovanni, dito il Sasseta, Giovanni di Paolo e
sobretudo Piero della Francesca.
Durante o
quattrocento, Roma se tornou o centro da arquitetura e para lá acorreram
artistas de todas as regiões, especialmente da Toscana. Na arquitetura
assistiu-se à fusão do gótico e do estilo árabe; na pintura, as ligações com a
Espanha, França e Flandres se manifestam claramente e Antonello da Messina
representou a fusão dos estilos italiano e flamengo. Em Florença, sobressaíram-se
Lorenzo Monaco e fra Angelico. Desenvolveu-se também a ilustração de livros
litúrgicos. Em Veneza, os artistas florentinos trazidos pelos doges
influenciaram a arte de Antonio Vivarini. Os Bellini (Jacopo e seus filhos
Gentile e Giovanni) definiram a pintura veneziana.
Leonardo da
Vinci, aluno de Verrochio, foi o herdeiro de todas as aspirações do
quattrocento florentino em todas as artes. Produziu pouco e de sua pintura
subsistem só raras obras, várias delas inacabadas. Afora Leonardo, Sandro Botticelli
é o maior pintor florentino da época; sua linguagem valoriza os contornos em
detrimento da atmosfera. Inicialmente influenciado por Verrochio, tornou-se
depois pintor de alegorias mitológicas intensamente poéticas.
O Cinquecento.
Na primeira década do século XV, Florença ressurgiu como centro de arte, mas a
escola romana, desenvolvida em torno de Rafael, cresceu em importância. O
primeiro grande arquiteto foi Donato Bramante, com quem o classicismo voltou a
dominar o efeito de conjunto. Rafael Sanzio, pintor, escultor e arquiteto, tem
como ponto alto de sua obra os trabalhos do Vaticano. Como arquiteto, procurou
acentuar o valor pictórico das estruturas de harmoniosa geometria. A
extraordinária personalidade de Michelangelo Buonarroti afirmou o ideal
neoplatônico da beleza e opôs o espiritual ao material, numa linha que diverge
completamente da pintura de Leonardo e Rafael e da arquitetura de Bramante.
Pintor, escultor, arquiteto e poeta, foi um dos maiores artistas de todos os
tempos.
Sob a influência
de Leonardo, o norte da Itália foi palco de movimentos paralelos ao classicismo
romano, com destaque para a arquitetura de Bartolomeo Suardi, a pintura de
Bernardino Luini, Gaudenzio Ferrari, fra Bartolomeo e Andrea del Sarto e a
escultura de Jacopo Sansovino (ou Jacopo Tatti), Vincenzo Scamozzi e Michele
Sanmicheli. Com a revolução "luminista", a pintura de Giovanni
Bellini foi ampliada por Ticiano, que deu continuidade e prestígio à pintura
veneziana em toda a Europa. Antonio Allegri, o Correggio, foi um temperamento
voluptuoso. Isolado em Parma, captou como nenhum outro a ternura do erotismo.
O maneirismo,
tendência surgida com a Contra-Reforma, difundiu-se por toda a Europa a partir
de 1540. O escultor Benvenuto Cellini foi a grande personalidade do período. Na
pintura, destacaram-se Jacopo da Pontormo e Agnolo Tori. Em Veneza, o
maneirismo arquitetônico está representado na obra de Palladio. A crise na
pintura foi superada pelo gênio de Ticiano na velhice e por Tintoretto,
Veronese e Bassano. A Roma de meados do século voltou-se para as grandes
decorações pintadas, em que se destacou Daniele da Volterra, o mais imaginoso
dos discípulos de Michelangelo.
O barroco. A
arquitetura foi a arte que melhor caracterizou o estilo barroco, no período de
1620 a 1750. Sua vitalidade transbordante deu asas ao gênio de Gian Lorenzo
Bernini, cuja primeira obra importante é o baldaquino de São Pedro, sob a
cúpula de Michelangelo. Francesco Borromini foi o único arquiteto puro entre os
mestres do barroco. Michelangelo Caravaggio realizou a revolução pictórica do
século, por meio do vigoroso sentimento realista, em composições grandiosas,
como as de Santa Maria del Popolo, em Roma.
Séculos XIX e
XX. A criatividade dos artistas plásticos italianos pareceu eclipsar-se durante
o século XIX, quando a França passou a dominar a cena artística. No início do
século XX o movimento futurista, fundado em 1909 pelo escritor Filippo Tommaso
Marinetti, abriu uma nova etapa de experiências e indagações para a arte
italiana, que tomou novo impulso. Na pintura, a tendência foi expressada por
Giacomo Balla, Carlo Carrà, Umberto Boccioni e Gino Severini, enquanto a
pintura metafísica de Giorgio de Chirico trilhou caminho totalmente oposto.
Giorgio Morandi pintou naturezas-mortas extremamente expressivas. Outros
renovadores foram Amedeo Modigliani, célebre por suas figuras longilíneas,
Alberto Magnelli e Massimo Campigli. Na escultura destacaram-se Medardo Rosso,
Umberto Boccioni e Marino Marini. A partir de 1948, a arte italiana foi
revitalizada com as bienais de Veneza, que contribuíram para divulgar na Itália
as principais realizações da arte moderna.
Cinema. Com um
dos melhores cinemas do mundo, a Itália tem uma filmografia vasta e variada,
que abrange desde a comédia ao drama. Em pleno pós-guerra surgiu o movimento
denominado neo-realismo, que teve como expressões principais Vittorio de Sica,
Luchino Visconti e Roberto Rosselini. Outros nomes de peso sucederam a esses
mestres, como Pietro Germi, Giuseppe De Santis e Alberto Lattuada. O neo-realismo
celebrizou também alguns atores de valor, como Aldo Fabrizi, Anna Magnani,
Silvana Mangano e Raf Vallone.
Na comédia,
destacaram-se De Sica, Mario Monicelli e Germi. Para atrair o grande público, o
cinema italiano continuou a explorar o filão da comédia regional, como são
exemplos os filmes de Luigi Comencini, que também teve seus atores e atrizes de
primeira linha, entre eles o próprio De Sica e duas das principais divas do
cinema italiano, Gina Lollobrigida e Sophia Loren. Da série de comédias saiu um
cineasta, Dino Risi, que se notabilizou na comédia dramática. O grande
comediante do período pós-guerra foi Totò (Antonio de Curtis Gagliardi), que
atuou em dezenas de filmes.
Federico
Fellini, um dos expoentes do cinema mundial, foi autor de obras-primas. Outros
cineastas que merecem citação especial são os irmãos Vittorio e Paolo Taviani,
Visconti, Bernardo Bertolucci, Francesco Rosi, Mario Monicelli, Michelangelo
Antonioni, Pier Paolo Pasolini, Mauro Bolognini e Gillo Pontecorvo.
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