A antiga Mesopotâmia, berço de uma das primeiras
civilizações humanas, passou a se chamar Iraque ("terra baixa",
"costa") depois da islamização, ocorrida no século VII. À fertilidade
dos vales do Tigre e do Eufrates acrescentou-se nos tempos atuais a riqueza
petrolífera do subsolo.
O Iraque é um estado independente do Oriente
Médio, situado a noroeste do golfo pérsico. Limita-se ao norte com a Turquia, a
leste com o Irã, a sudoeste com o golfo Pérsico, a oeste com a Síria e a
Jordânia e ao sul com o Kuwait e a Arábia Saudita. Ocupa uma área de
435.052km2.
Geografia física
Os elementos fundamentais da geografia do Iraque
são os vales dos rios Tigre e Eufrates. Podem-se distinguir várias regiões. O
baixo Iraque, que se estende para sudeste até o golfo Pérsico, é uma área plana
e pantanosa, atravessada pelos rios Tigre, Eufrates e seus afluentes. O Iraque
superior compreende os vales médios dos dois rios. Tanto essa região quanto a
anterior são as mais férteis do país. A região do nordeste ou Curdistão
iraquiano é montanhosa, com elevações médias de 2.440m e altitude máxima, no
pico Rawanduz, de 3.658m.
O clima das planícies fluviais caracteriza-se por
verões quentes e secos e invernos temperados. Na região montanhosa, o clima é
acentuadamente continental, com temperaturas extremas. No deserto registram-se
oscilações térmicas muito acentuadas entre o dia e a noite. Em geral, as chuvas
são escassas e irregulares ao longo do ano.
A vegetação é de estepes no norte, com florestas
de carvalhos, choupos e coníferas nas montanhas, e de arbustos e plantas
espinhosas e resistentes à seca no oeste. A fauna, muito reduzida, apresenta
leopardos, antílopes, chacais, hienas e tartarugas.
População
Os árabes, junto com a população arabizada,
constituem três quartos dos habitantes do Iraque. Os curdos do norte e nordeste
do país são uma minoria importante e pouco integrada. Outras minorias são os
turcos e os iranianos (ou persas). Cerca de noventa por cento da população se
concentra nos vales do Tigre e Eufrates, especialmente no sul. Parte da
população do norte e do oeste do país é nômade. Nas cidades se concentram três
quintos da população. Destacam-se a capital, Bagdá, e também Bassora, Mossul,
Irbil, Kirkuk e Sulaimaniya. A população é jovem e a taxa de crescimento,
elevada. A língua oficial e predominante é o árabe, mas também se falam curdo,
farsi (persa) e turco. (Para dados demográficos, ver DATAPÉDIA.)
Economia
Antes da década de 1950, a economia do Iraque se
baseava exclusivamente na agricultura. A partir da revolução de 1958, os
sucessivos governos conseguiram, em parte, industrializar o país mediante a
aplicação de planos qüinqüenais. O progresso obtido com a exportação de petróleo
permitiu ao Iraque dedicar uma porcentagem considerável do orçamento nacional
ao desenvolvimento industrial e à modernização da agricultura. Todos os bancos
e companhias de seguros foram nacionalizados em 1964. O Iraque importa diversos
bens de consumo, máquinas, produtos químicos e farmacêuticos. Exporta petróleo,
alimentos, papel e fertilizantes.
Agricultura e pecuária. Pode-se distinguir dois
tipos de agricultura: a do norte, que depende das chuvas, e a do sul, baseada
na irrigação. O Iraque é um dos principais produtores mundiais de tâmaras.
Outros cultivos importantes são trigo, cevada, cana-de-açúcar, arroz e milho. A
criação de gado -- ovelhas, bois, camelos e búfalos -- se pratica nas estepes
de forma transumante. O país exporta lã para a Europa e animais para os países
vizinhos. A pesca destina-se ao consumo interno.
Indústria e mineração. O Iraque fabrica papel,
cimento, fertilizantes e açúcar, para o que montou um moderno parque industrial
com auxílio tenológico da extinta União Soviética. Os principais campos
petrolíferos localizam-se em Kirkuk, Ain Zala, noroeste de Mossul, Amara,
Ratawi e Rumaila, nas planícies aluviais do sul. Desde 1967 a exploração
petrolífera está a cargo da Companhia Petroleira Nacional do Iraque (Iraq
National Oil Company, INOC). Outros recursos minerais são o calcário, o gesso,
fosfatos e enxofre. O Brasil figura como um dos principais importadores do
petróleo iraquiano.
Transportes. Rodovias e ferrovias, construídas a
partir da revolução de 1958, ligam as regiões do sul, centro e norte. O
transporte marítimo iraquiano faz-se através de cinco portos e a navegação
fluvial no Tigre é importante. O Iraque tem três aeroportos internacionais:
Bagdá, Bassora e Mossul. (Para dados econômicos, ver DATAPÉDIA.)
História
Sumérios, assírios e babilônios foram os
principais criadores da civilização mesopotâmica em suas diversas fases de
evolução. Na segunda metade do século VI a.C., Ciro II da Pérsia conquistou o
território e anexou-o a seu império. A Babilônia manteve seu esplendor cultural
até a conquista de Alexandre o Grande, em 331 a.C., e o posterior governo de
seus sucessores, os selêucidas. Entre os anos 141 e 129 a.C., os partos se
estabeleceram no leste do Irã e estenderam sua influência à Mesopotâmia. Os
romanos fracassaram na primeira tentativa de conquistar o país, entre 54 e 53
a.C., mas de 114 a 117 da era cristã o imperador Trajano tornou-o uma província
de Roma. Depois de abandonado mais uma vez aos partos em 165, o Iraque voltou a
ter sua região nordeste ocupada pelos romanos.
Romanos, bizantinos e persas sassânidas
disputaram o controle da Mesopotâmia desde o princípio do século III até o
início do século VII, quando a região foi conquistada pelos árabes. Nos séculos
seguintes, as cidades iraquianas tornaram-se importantes centros culturais do
Islã, e o país se viu envolvido nos choques entre as três grandes famílias
étnicas do mundo muçulmano: árabes, iranianos e turcos. Depois do período da
dinastia abássida, cujos califas se estabeleceram em Bagdá, o país foi governado
pela dinastia iraniana dos buáiidas (954-1058) e pelos turcos selêucidas
(1058-1258). Depois disso, a cultura iraquiana sofreu um retrocesso com o
domínio mongol. Várias dinastias ocuparam o poder até que, em 1534, o sultão
otomano Suleiman I o Magnífico tomou a cidade de Bagdá, após um breve período
de domínio persa na capital.
De 1638 até a primeira guerra mundial, o
território iraquiano fez parte do império turco- otomano. A chamada Arábia
Turca, formada predominantemente por árabes, era integrada pelos distritos ou
waliatos de Bassora, Bagdá e Mossul.
Mandato britânico. A entrada da Turquia na
primeira guerra mundial, em novembro de 1914, deu motivo para que o Reino Unido
enviasse tropas à região de Chat-al-Arab, para proteger seus interesses
petrolíferos em Abadan e assegurar o controle de Bassora. As conquistas de
Bagdá, em 1917, e de Mossul, em 1918, permitiram aos britânicos estabelecer sua
autoridade sobre o Iraque, que passaram a chamar de Mesopotâmia. Em 1920 a Liga
das Nações deu ao Reino Unido o mandato sobre o Iraque, e isso ocasionou uma
revolta popular que obrigou os britânicos a conceder certo grau de autonomia ao
país e entregar, em 1921, o trono iraquiano ao emir Faiçal, da casa hachemita
do Hedjaz. Em 1932, com a admissão do Iraque na Liga das Nações, o país
conquistou independência completa.
Iraque independente. Ao rei Faiçal I sucedeu seu
filho Ghazi I, que governou de 1933 a 1939 e cujo reinado caracterizou-se pela
instabilidade política e pela intervenção cada vez maior dos militares no
governo do país. Ghazi I morreu num acidente automobilístico e foi sucedido por
Faiçal II, sob a regência de Abdel Ila. Em 1941, um golpe de estado levou ao
poder o germanófilo Rashid Ali al-Gaylani,
o que provocou a ocupação do Iraque por tropas britânicas até o término
da segunda guerra mundial. Faiçal II foi reconduzido ao poder, mas em 1958 um
golpe militar, encabeçado pelo general Abdul Karim Kassem, proclamou a
república. Pouco depois, em 1961, os curdos se rebelaram. A guerra civil só
terminou nove anos mais tarde, com a concessão de certa autonomia à minoria
curda.
Em 1963, um golpe militar liderado pelo coronel
Abdel Salam Aref implantou um regime socialista de feição nasserista (Gamal Abdel
Nasser era então o presidente do Egito). Um novo golpe, em 1968, levou ao poder
a ala direita do partido Baath, de caráter nacionalista e progressista. O
predomínio militar foi abalado em 1971, quando o líder baathista Saddam Hussein
al-Takriti destituiu da vice-presidência o general Salek Mahdi Amas. As
relações entre os partidos Baath e Comunista, até então hostis, melhoraram
bastante.
Em 1972, o estado nacionalizou a Companhia
Petroleira do Iraque e ratificou o tratado de amizade com a União Soviética. A
aliança entre os partidos Baath e Comunista rompeu-se em 1978, quando vários
dirigentes comunistas acusados de traição foram fuzilados. No ano seguinte, o
general Saddam Hussein assumiu a presidência.
Em 1980, confiando numa suposta debilidade do
exército iraniano, em conseqüência da deposição do Mohamed Reza xá Pahlevi, o
governo do Iraque declarou guerra ao Irã para recuperar o estuário de
Chat-al-Arab, cedido em parte por um acordo de 1975. Começou assim uma guerra
sangrenta que só terminou em 1988. Em agosto de 1990 o Iraque invadiu e anexou
o vizinho emirato do Kuwait, o que deu ensejo a uma aliança militar que
congregou 28 países, liderados pelos Estados Unidos, contra as forças
comandadas por Hussein. A guerra do golfo Pérsico começou em 17 de janeiro e
terminou em 28 de fevereiro de 1991, com a fragorosa derrota do exército
iraquiano. Depois da guerra, o povo iraquiano sofreu com as sanções comerciais
impostas pela Organização das Nações Unidas (onu), que acusou o governo de
Saddam Hussein de impedir o trabalho das equipes de inspeção encarregadas de
verificar a presença de armas químicas e biológicas no país.
Instituições políticas
De acordo com a constituição provisória de 1968 e
as emendas de 1970 e 1971, o poder executivo cabe ao presidente e ao Conselho
do Comando Revolucionário, de composição idêntica ao do Comando Regional do
partido Baath. O conselho de ministros assessora o presidente. A Assembléia
Nacional, formada por 250 membros, exerce o poder legislativo. Além do Baath,
funcionam o Partido Comunista e vários partidos curdos. O país divide-se em 15
províncias e três regiões autônomas.
Sociedade
Desde a revolução de 1958, diminuíram
consideravelmente as diferenças econômicas e sociais e surgiu uma classe média.
A Federação Geral dos Sindicatos fixou e fortaleceu a classe trabalhadora. O
regime de orientação socialista privilegiou os serviços de previdência social e
uma lei de 1956 concedeu amplos benefícios sociais aos velhos e doentes.
O sistema educacional, muito precário até 1921,
exceto na área do ensino religioso e tradicional, foi ampliado durante a
monarquia e fez grandes progressos depois de 1958. O ensino superior foi
implantado com a fundação de universidades em Bagdá, Mossul, Bassora e
Sulaimaniya, e de centros de formação técnica. Muitos estudantes foram enviados
à Europa e aos Estados Unidos para aperfeiçoar seus estudos.
A religião majoritária é a islâmica, em duas
seitas: a xiita, difundida principalmente entre os árabes, e a sunita, dos
curdos, turcos e alguns grupos árabes. Pequenas minorias professam o judaísmo e
o cristianismo. (Para dados sobre sociedade, ver DATAPÉDIA.)
Cultura
O artesanato tradicional iraquiano, do qual os
melhores exemplos são os tapetes, baseia-se no rico legado da cultura árabe. Os
iraquianos, do mesmo modo que o resto dos árabes, são particularmente voltados
para a literatura, tanto em prosa como em poesia. Destacaram-se os poetas
Jawahiri e Nazik al-Malaaikah. Na escultura e na pintura sobressaíram Khaled
al-Rahhal, Jawad Salim, Akram Shukri e Hafidh al-Durubi. Para incentivar a
atividade artística, o governo patrocina diversos grupos. O Grupo Nacional para
o Teatro, o Grupo Nacional Rashid, o Grupo Folclórico e os Artistas Unidos
foram criados entre 1965 e 1967 para resgatar os valores da cultura nacional. O
Ministério da Cultura supervisiona os excelentes museus históricos do país,
como o Museu Iraquiano, o Museu de Mossul e a Biblioteca Nacional. Importantes
centros de ensino são a Escola de Balé e Música e o Instituto de Estudos
Rítmicos
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