Vários
pequenos territórios zelosos de sua autonomia, nos quais se falam quatro
idiomas e se praticam duas religiões historicamente conflitantes, compõem a Suíça,
país que foi capaz de manter sua independência, no centro da Europa, diante de
vizinhos poderosos.
A Suíça (em
alemão, Schweiz; em francês, Suisse; em italiano, Svizzera; a forma latina
Helvetia é usada em selos postais) é um pequeno país europeu com 41.284km2 de
superfície, que se limita ao norte com a Alemanha, a leste com Áustria e
Liechtenstein, ao sul com a Itália e a oeste com a França. A fronteira bastante
recortada é formada, em grande parte, por acidentes geográficos naturais.
Geografia
Geologia e
relevo. A metade meridional da Suíça é dominada pelos Alpes, que se estendem na
direção sudoeste-nordeste e cujos maciços principais denominam-se Alpes
Berneses, Valaisianos, Tessinianos e Réticos. Compõem-se de duas cadeias
principais, separadas pelos profundos vales dos rios Ródano e Reno. Na cadeia
meridional, junto à fronteira com a Itália, erguem-se os picos mais elevados do
país. O ponto culminante é o Dufour, cume do maciço do monte Rosa, na fronteira
ítalo-suíça, com 4.634m. O Dufour, juntamente com o Matterhorn ou Cervino
(4.478m), o Dom (4.545m) e outros picos, integra uma extensa zona coberta por
neves perpétuas. Nos Alpes setentrionais, os montes Jungfrau, Mönch e
Finsteraarhorn superam 4.000m de altitude.
Paralela à
fronteira francesa, no noroeste do país, ergue-se a cadeia do Jura, de
estrutura geológica mais simples e mais baixa do que a alpina. Entre as duas
formações montanhosas, há um planalto sulcado de colinas, o Mittelland
("terra do meio"), a uma altitude que varia entre 250 e 600m. O
Mittelland abrange aproximadamente um quarto da superfície do país e se estende
do lago Léman, ou Genebra, no sudoeste, até o Constança, no nordeste.
Clima. O clima
é em geral frio, mas varia com a altitude. A ação dos ventos atlânticos, úmidos
e temperados, pode ser sentida na maior parte do país, que recebe precipitações
abundantes. Há uma sensível influência continental na região norte. Nas
montanhas dos Alpes e do Jura, a temperatura média gira em torno de 15°C no
verão e -1°C no inverno. No planalto central, o clima é menos rude: registra-se
em Berna, no mês de julho, 19°C. Nas montanhas com mais de 3.500m, as
precipitações caem sempre sob a forma de neve.
Hidrografia. O
território suíço é o principal divisor de águas da Europa. No desfiladeiro de
São Gotardo, maior nó hidrográfico do país, nascem o Reno, que percorre 375km
de terras suíças, atravessa a Alemanha e vai desembocar no mar do Norte; o
Ródano, que penetra na França e alcança o mar Mediterrâneo; o Inn, que se une
na Áustria ao Danúbio, da vertente do mar Negro; e o Ticino, tributário do
maior rio italiano, o Pó, que deságua no mar Adriático. A rede hidrográfica é
bastante densa e inclui ainda o Aar, afluente do Reno, e seu tributário, o
Reuss.
Há também
numerosos lagos, muitos de origem glacial; os maiores são o lago Léman
(Genebra), com 582km2, o Constança (538km2), o Neuchâtel (216km2), o Maior
(212km2) e o Quatro Cantões (114km2). A topografia acidentada proporciona
elevado potencial hidráulico e muitos rios e lagos são aproveitados também para
a navegação mercante e turística.
Flora e fauna.
Predomina na Suíça a vegetação rasteira: prados e pastagens cobrem 43% do
território, mas também é importante o revestimento arbóreo. As florestas
revestem 24% do território, com árvores de elevado porte (coníferas, faias
etc.). As terras próprias para a agricultura estão situadas no planalto
central, ou Mittelland.
A fauna suíça
é predominantemente alpina, mas também se podem encontrar espécies próprias do
sul e do centro-norte da Europa. Os animais são protegidos por lei, exceto
durante uma breve estação anual de caça. Entre as espécies mais comuns estão a
marmota, o coelho, a raposa, o texugo, a camurça, a lontra e o veado, além de
numerosas espécies de aves.
População
O território
suíço foi invadido e habitado ao longo da história por etruscos, romanos,
réticos e germânicos. Os tipos físicos predominantes são o alpino, o nórdico, o
eslavo e o dinárico. O crescimento vegetativo da população tendia a ser nulo no
final do século XX, ao passo que a imigração, procedente sobretudo da Áustria,
Itália e outros países mediterrâneos, tem sido intensa desde a década de 1940.
Aproximadamente
três quintos dos suíços falam alemão; dois quintos, francês; menos de um
quinto, italiano; e uma pequena minoria que habita os Alpes orientais conserva
uma língua reto-românica, o romanche, que, embora seja reconhecida como a
quarta língua nacional, não é considerada oficial. São línguas oficiais apenas
o francês, o alemão e o italiano. Existem também numerosos dialetos locais. Os
católicos romanos formam um pouco menos de metade da população. Os protestantes
representam mais de quarenta por cento, e há uma minoria de judeus e
muçulmanos.
A população
tende a se concentrar no Mittelland, onde se encontram as principais cidades. Embora
ofereçam serviços comparáveis aos dos maiores centros urbanos da Europa, essas
cidades apresentam tamanho mediano. As mais populosas são Zurique, destacado
centro financeiro; Basiléia, cidade industrial e grande porto fluvial; Berna, a
capital federal; Lausanne e Genebra, na área de língua francesa, sendo a última
sede de importantes organizações internacionais. (Para dados demográficos, ver
DATAPÉDIA.)
Economia
A Suíça tem
uma economia de mercado desenvolvida, baseada essencialmente no comércio exterior
e em transações bancárias internacionais, assim como em indústrias leves e
pesadas. A economia é altamente dependente da mão-de-obra estrangeira, que
representa aproximadamente 25% da força de trabalho do país. O produto nacional
bruto cresce mais rapidamente do que a população e a renda per capita é a mais
alta do mundo.
Agricultura,
pecuária e extrativismo. A agricultura é um importante setor da economia,
apesar da pobreza do solo e da improdutividade da terra. Para impedir que os
agricultores migrem para as cidades, o governo subsidia a agricultura, o que
eleva o preço dos gêneros agrícolas para o consumidor final.
Cerca de dez
por cento da área total do país é cultivada. Os principais produtos agrícolas
são beterraba, batata, trigo e cevada. O cultivo de verduras, frutas e vinhas
também é importante. A receita da indústria de laticínios e da criação de gado
representa 75% da renda agropecuária.
A Suíça impõe
uma severa regulamentação do extrativismo vegetal como forma de evitar a
redução da cobertura florestal do país. A agricultura e a silvicultura empregam
5,5% da força de trabalho e contribuem com menos de 4% do produto interno
bruto.
Energia e
mineração. Os suíços produzem menos de vinte por cento da energia que consomem,
pois não têm petróleo e suas jazidas de carvão são inexpressivas. O país é
muito rico, porém, em energia elétrica, graças a seu imenso potencial
hidráulico. No final do século XX, mais de 95% do potencial hidrelétrico do
país já era utilizado. O esgotamento das possibilidades energéticas levou à
construção de centrais térmicas e de algumas usinas nucleares.
Indústria. O
processo de industrialização da Suíça começou na segunda metade do século XIX.
A falta de matérias-primas determinou uma alta especialização na fabricação de
relógios e outros aparelhos de precisão. A sobrevivência da indústria suíça
baseia-se não só nessa especialização, mas também em alguns fatores como
garantia da data de entrega dos produtos; oferta do financiamento necessário
por intermédio de uma eficiente rede bancária; prestação de eficazes serviços
pós-venda; comercialização de produtos para todo o mundo; e, quando necessário,
instalação de fábricas no local do mercado.
Grandes
empresas multinacionais têm sua matriz no pequeno país alpino. Destaca-se, além
da produção de relógios e equipamentos de precisão, a fabricação de produtos
químicos, medicamentos e artigos têxteis. Em geral, as empresas são de pequeno
e médio porte e estão distribuídas por todo o país, mas concentram-se sobretudo
no planalto central. Em 1990, a indústria empregava mais de um terço da
mão-de-obra suíça.
Comércio e
finanças. A Suíça precisa exportar produtos acabados para pagar suas
importações de matérias-primas, petróleo, gêneros alimentícios e artigos
manufaturados. Aproximadamente 75% das importações suíças e 60% das exportações
são negociadas com a União Européia. Entre os principais parceiros comerciais
do país estão a Alemanha, a França, a Itália, os Estados Unidos, o Reino Unido
e o Japão.
Sua
localização no centro da Europa, a estabilidade política e as leis de garantia
de privacidade foram os principais fatores que tornaram a Suíça um dos mais
importantes centros financeiros do mundo, com centenas de bancos.
Características antes exclusivas aos bancos suíços foram absorvidas por outros
países, em virtude da crescente globalização do sistema financeiro. Além disso,
o alívio das tensões entre o Ocidente e o Oriente tornou menos relevante a
condição de "porto seguro" dos bancos suíços. Juntamente com os
bancos e outros serviços financeiros, desenvolveu-se no país uma vigorosa
indústria especializada em seguros e resseguros.
Turismo.
Importante fonte de divisas, que ajuda a equilibrar a balança de pagamentos do
país, o turismo é intensamente promovido na Suíça. A beleza das paisagens, o
fácil acesso às pistas de esqui e a prática do alpinismo atraem a cada ano
milhões de visitantes. Cerca de oitenta por cento dos turistas provêm de países
da Europa, sendo que metade é da própria Suíça. A indústria turística como um
todo emprega mais pessoas do que a agricultura e depende de mão-de-obra
estrangeira.
Transporte e
comunicações. Pelo controle que exerce sobre as passagens alpinas e sobre a
antiga rota que atravessa o Mittelland, entre os rios Reno, Ródano e Danúbio, a
Suíça ocupa posição chave no tráfego europeu de veículos. A densa e moderna
rede de ferrovias soma milhares de quilômetros e conta com centenas de túneis,
entre os quais o Simplon II, que, com 19,7km, está entre os maiores do mundo. O
estado controla os troncos de tráfego mais intenso, e a rede ferroviária, quase
totalmente eletrificada, opera de forma rápida e eficiente, arcando com metade
do transporte de carga do país.
A Suíça
apresenta um dos mais elevados índices de automóveis por habitante da Europa. O
uso excessivo de carros resulta em congestão de tráfego e problemas de
estacionamento. O intenso tráfego de veículos, especialmente nos vales alpinos,
é responsável por uma grave poluição atmosférica e sonora.
Embora
distante do litoral, o país conta com uma importante frota oceânica, fluvial e
lacustre, que opera até a foz do rio Reno, no qual está situado seu principal
porto, em Basiléia. O transporte aéreo é explorado por uma empresa de economia
mista, que mantém linhas regulares para as principais cidades do mundo. Os
maiores aeroportos do país estão em Zurique e Genebra. (Para dados econômicos,
ver DATAPÉDIA.)
História
Tribos
célticas e réticas viviam no atual território suíço quando as legiões romanas
de Júlio César invadiram e dominaram a região, no século I a.C. A partir do
século III da era cristã, sucederam-se incursões de povos bárbaros. Burgúndios
e alamanos estabeleceram-se no norte e oeste no século IV e, dois séculos mais
tarde, os reis francos conseguiram conquistar a região. No começo do século
VIII, missionários cristãos iniciaram a conversão dos helvécios. Em meados do
século XI, toda a Helvécia passou a fazer parte do Sacro Império
Romano-Germânico.
O declínio
gradual do poder do império permitiu o surgimento de senhores feudais que
exerciam seu domínio sobre vastas extensões de terra. Os Zähringen, os Savóias,
os Habsburgos adquiriram, assim, enorme força e prestígio. Durante os séculos
XI e XII, essas famílias fundaram novas cidades com o objetivo de oferecer um
pouso seguro para o número crescente de mercadores, decorrente da rápida
expansão comercial na Europa ocidental. Muitos dos centros fortificados tinham
a dupla função de defender territórios recém-conquistados e de servir de postos
para uma futura expansão dinástica.
Início da
federação. No fim do século XIII, os Habsburgos tornaram-se a família dominante
na Suíça. A expansão de sua influência e território ameaçava a independência de
algumas pequenas comunidades e precipitou eventos que levaram à criação da confederação
suíça. Em julho de 1291, os cantões de Uri, Unterwalden e Schwyz uniram-se
contra os Habsburgos numa aliança que lhes garantia ajuda mútua perpétua e
tornou-se o núcleo da Confederação Suíça.
A coalizão de
1291 pode ser considerada revolucionária para a época, pois estabeleceu no
centro da Europa uma ilha democrática livre da tutela do feudalismo e
administrada por camponeses, embora fosse reconhecida a autoridade do rei e os
cantões continuassem sob a jurisdição do Sacro Império. Na batalha de Morgarten,
em 1315, os confederados derrotaram as tropas imperiais e, em 1324, o imperador
teve que confirmar a liberdade dos três cantões.
Novos aliados
logo se uniram à confederação: Lucerna em 1332, Zurique em 1351, Glarus e Zug
no ano seguinte e Berna em 1353. Os oito cantões tinham ampla autonomia interna
e o único órgão comum de governo era a Dieta. No século XV, os cantões
começaram a conquistar pela força territórios vizinhos. Os confederados
expandiram-se para o sul, com o que entraram em conflito com o ducado de Milão.
Ao mesmo tempo, surgiram desentendimentos internos que culminaram na
"antiga guerra de Zurique". Este cantão foi derrotado, e a
confederação, mantida.
Registraram-se
duas outras guerras com inimigos externos -- Carlos de Borgonha e Sigismundo do
Tiro -- das quais a liga saiu vencedora, anexando novas possessões. No final do
século XV, a luta interna tornou-se tão aguda que a guerra civil parecia
iminente. Nesse momento, o eremita Nicolau de Flue (canonizado em 1947)
conseguiu, na dieta de Stans, apaziguar os ânimos e estabelecer a unidade de
direito dos cantões associados, aos quais se juntaram Fribourg e Solothurn. Em
1499, o imperador reconheceu a independência dos cantões.
Reforma
protestante. Durante o século XVI, a Suíça tornou-se o centro de uma reforma
protestante. As cidades, particularmente os importantes centros de Berna,
Basiléia, Genebra, Lausanne, Schaffhausen e Zurique, eram muito mais receptivas
à reforma pregada por homens como Huldrych Zwingli, João Calvino e John Knox do
que os conservadores cantões rurais. Essa divergência resultou na atual
distribuição geográfica irregular de áreas protestantes e católicas, que
desrespeita as fronteiras físicas e língüísticas.
De certa
forma, apesar dos conflitos religiosos no século XVI -- o próprio Zwingli
morreu na batalha de Kappel e depois sobreveio a guerra dos trinta anos -- o
respeito às diferenças religiosas entre os cantões evitou uma grande guerra
civil. Além disso, os dois grupos religiosos punham sua lealdade à Suíça acima da
ideologia e cooperaram para manter sua neutralidade durante a destruidora
guerra dos trinta anos.
As diferenças
religiosas impediram os cantões de adotarem abertamente uma atitude favorável a
qualquer uma das potências rivais, por temor que irrompesse uma guerra civil.
Assim nasceu a tradição de neutralidade que, pouco a pouco, tornou-se
característica da política externa suíça. Finalmente, em 1648, a Paz de
Vestfália pôs fim à guerra e reconheceu a independência da Suíça com relação ao
Sacro Império Romano-Germânico, após 350 anos de conflito.
Os séculos
XVII e XVIII foram períodos de paz e prosperidade. Iniciou-se então a expansão
manufatureira do país. O afluxo de refugiados da guerra foi particularmente
importante para reabilitar antigas manufaturas, como a têxtil, e fundar novas
empresas. O capital acumulado principalmente nas atividades comercial e
artesanal estava disponível para financiar a expansão fabril. Como a Suíça não
tinha companhias de navegação e possessões coloniais, a manufatura era o alvo
natural do desenvolvimento econômico. No final do século XVII, mais de 25% dos
suíços trabalhavam nos setores têxtil e de fabricação de relógios.
República
Helvética. A localização da Suíça entre a França e a Áustria -- duas grandes
potências que se enfrentaram quase continuamente nos 15 anos que se seguiram à
revolução francesa -- abalou a neutralidade do país, sacudido primeiro por duas
revoluções internas e finalmente invadido pelas tropas de Napoleão, em 1798. Em
12 de abril desse ano, os franceses proclamaram a República Helvética, com
capital em Lucerna.
Em 1802, um
movimento contra-revolucionário no Aargau e em Berna, inspirado pelos
federalistas, amigos dos austríacos e defensores do antigo regime, levou
Napoleão a intervir e impor sua mediação. Em 1803, o primeiro cônsul reuniu
então, em Paris, os representantes dos cantões e sancionou o ato de mediação,
com o qual estabilizou o país.
Após a derrota
de Napoleão na batalha de Leipzig, a Dieta proclamou a neutralidade do país, o
que não impediu que seu território fosse invadido pelas tropas aliadas
anglo-austríacas, pela fronteira do Reno, em dezembro de 1813. O Congresso de
Viena atribuiu Valtellina, Chiavenna e Bormio à Áustria, mas restituiu Genebra,
o Valais e Neuchâtel, que passaram a formar três novos cantões. Ao mesmo tempo,
a neutralidade suíça foi reconhecida e assegurada, decisão que a Paz de Paris
veio confirmar em novembro de 1815.
Século XIX.
Com a restauração do absolutismo na Europa, a vida política suíça se
configurou, em princípio, em torno da influência de grandes famílias
conservadoras; mas o triunfo das revoltas populares de 1830 permitiu adotar
constituições liberais em diversos cantões. As acentuadas diferenças políticas
entre os cantões tradicionais e os liberais, somadas às tensões religiosas,
levaram à instabilidade interna da confederação, que teve sua maior crise em
1845, quando sete cantões católicos, ameaçados pelos radicais que pretendiam
expulsar os jesuítas de Lucerna e Fribourg, formaram uma liga, o Sonderbund. Em
1847, o exército confederativo, muito superior em forças, dominou os católicos
e ocupou suas terras. Simultaneamente às revoluções européias de 1848, os
liberais suíços conseguiram elaborar uma constituição federal para todo o país.
A segunda
metade do século caracterizou-se pela estabilidade política e pela expansão
econômica. Desenvolveram-se a indústria, a agricultura e as comunicações. Em
1874, o voto popular impôs modificações na constituição federal. Aumentou o
controle dos cidadãos sobre o governo, secularizou-se o ensino, transformou-se
a educação elementar em dever do estado e ampliaram-se as liberdades públicas.
Surgiram novos partidos e sindicatos profissionais. O movimento operário
expandiu-se.
A rápida
expansão da rede ferroviária fortaleceu a posição estratégica da Suíça como
ponte entre as principais rotas européias leste-oeste e norte-sul. Em 1882, a
abertura do túnel de São Gotardo ligou os cantões de Uri e Ticino ao resto da
Suíça, e criou uma linha direta entre Zurique e Milão.
Século XX. Ao
começar a primeira guerra mundial, o interesse da própria confederação em
manter sua neutralidade foi posto à prova: na Suíça alemã, a popularidade dos
impérios centrais era grande, enquanto a Suíça romanda defendia a causa dos
aliados. A união da confederação, porém, conservou sua solidez. A neutralidade
suíça apresentava vantagens para ambas as partes em conflito, o que afastou o
perigo de ataques armados a suas fronteiras e possibilitou até mesmo certo grau
de comércio internacional. Livre dos combates sangrentos, o país tornou-se
abrigo natural dos que fugiam aos horrores da guerra e pôde exercer atividades
humanitárias por intermédio da Cruz Vermelha.
Em maio de
1920, instalou-se em Genebra a Liga das Nações, e criou-se um delicado problema
para a Suíça, cuja neutralidade dificultava-lhe a associação a qualquer
organismo que se obrigava a manter a segurança coletiva, inclusive pelo emprego
da força. Pela Declaração de Londres (fevereiro de 1920), porém, o conselho da
Liga reconhecia a situação especial da Suíça: embora fosse estabelecido seu
compromisso de participar das eventuais sanções econômicas, a neutralidade
militar suíça considerava-se justificada pelos interesses da paz.
A
desintegração da Liga das Nações durante a conturbada década de 1930 levou a
Suíça a abandonar a preocupação com a segurança coletiva em favor de sua antiga
posição de absoluta neutralidade. O país agora estava mais preparado para um
conflito mundial do que em 1914. O regime nazista não tinha quase adeptos
suíços e, a despeito do sucesso relativo e transitório que as frentes de
extrema direita haviam obtido entre 1933 e 1935, não surgiram divisões internas
nem conflitos sociais.
Por temer a
anexação da Suíça alemã por parte do Terceiro Reich, os suíços se prepararam
psicológica, econômica e militarmente para um possível conflito. Quando a
guerra eclodiu, seu Exército, com 850.000 homens, achava-se perfeitamente
armado e treinado. Embora cercada por inimigos fascistas e nazistas, a Suíça
sobreviveu como o único estado democrático da Europa central. Três fatores
foram essencialmente responsáveis por isso: se invadida, a Suíça teria
destruído as conexões por estrada e ferrovia que atravessam os Alpes; o
Exército suíço representava uma formidável força de combate; e o país teria usado
o acidentado relevo em seu próprio benefício.
Após a segunda
guerra mundial, o estado suíço pôs em marcha programas de bem-estar social,
como concessão de aposentadorias e elaboração de planos de saúde. Em 1959, o
país tornou-se membro da Associação Européia de Livre Comércio e, em 1972,
assinou um acordo de livre comércio com a Comunidade Econômica Européia (atual
União Européia). Em 1971, as mulheres adquiriram o direito de votar em eleições
nacionais. Em 1979, a região do Jura foi reconhecida como novo cantão e, sete
anos depois, o eleitorado suíço rechaçou mais uma vez o ingresso do país na
Organização das Nações Unidas.
No início da
década de 1990, a decisão sobre o ingresso da Suíça na União Européia tornou-se
uma das mais importantes questões políticas do país. Num referendo realizado em
dezembro de 1992, por uma diferença de apenas 0,3% os suíços decidiram não
aderir à Área Econômica Européia -- um estágio intermediário para obter
associação plena à União Européia. No final do século XX, o país enfrentava um
tríplice desafio: formular uma política capaz de solucionar o problema da
recessão econômica e do desemprego, reprimir o consumo de drogas e deter a
disseminação da AIDS.
Instituições
políticas
A constituição
de 1848, reformada em 1874, define a Suíça como uma república federal. O poder
executivo do governo central é exercido por um conselho de sete membros,
eleitos a cada quatro anos pela Assembléia Federal. Esta exerce o poder
legislativo e compõe-se de duas câmaras: o Conselho dos Estados, cujos 46
membros são eleitos, dois por cada cantão e um por cada meio-cantão, e o
Conselho Nacional, composto de 200 conselheiros eleitos a cada quatro anos por
sufrágio universal.
O país
compreende vinte cantões e seis meios-cantões. Há também divisões menores, os
distritos, por sua vez subdivididos em mais de três mil. Cada cantão tem sua
própria constituição, governo e assembléia legislativa. O referendo, que pode
ser realizado em escala comunal, cantonal ou nacional, assegura a participação
direta da população no processo de tomada de decisões. Os principais partidos
políticos são o Partido Democrata Radical, o Partido Popular Democrata Cristão,
o Partido Democrata Social e o Partido Popular Suíço.
Sociedade
O sistema de
previdência social suíço oferece benefícios e atendimento de saúde gratuito ou
subsidiado em casos de doença, maternidade e invalidez temporária; ajudas de
custo para famílias com crianças; e pensões para idosos e inválidos. O
seguro-desemprego é obrigatório para todos os assalariados. Um sistema de
previdência social abrangente e um elevado nível de vida ajudaram a criar
condições de saúde excelentes na Suíça.
A taxa de
alfabetização do país é praticamente de cem por cento, o que comprova a
eficiência de seu sistema educacional. A educação é compulsória em todo o país
e gratuita entre os 7 e 13 anos. A instrução secundária pode conduzir ao ensino
profissionalizante ou superior. Há várias escolas particulares (primárias e
secundárias), que fornecem excelente educação e atendem principalmente estudantes
estrangeiros. O ensino superior é oferecido por diversas universidades.
A maioria dos
jornais é de abrangência local ou regional. O Tages Anzeiger e o Neue Zürcher
Zeitung, entre outros, estão entre os maiores do mundo. As transmissões de
rádio e televisão são supervisionadas por uma empresa estatal e, em grande
parte, não têm caráter comercial. Três diferentes sistemas de comunicação
atendem aos três principais grupos lingüísticos do país. (Para dados sobre
sociedade, ver DATAPÉDIA.)
Cultura
Embora não
esteja entre os principais centros de cultura européia, a Suíça contribuiu de
forma decisiva para a arte e a ciência. Alguns dos cérebros mais criativos da
Suíça escolheram viver no exterior, em função da limitação de oportunidades
oferecidas em seu próprio país. Isso ocorreu especialmente com os arquitetos.
Além disso, a tradicional neutralidade suíça e suas leis de asilo político
tornaram o país um ímã que atraiu muitas personalidades durante períodos de
inquietação ou guerra na Europa, como em meados do século XIX e nas décadas de
1930 e 1940, quando a ascensão do fascismo levou grande número de escritores
alemães, austríacos e italianos, como Thomas Mann, Stefan George e Ignazio
Silone, a buscar refúgio na Suíça.
No século XX,
o suíço Le Corbusier foi um dos nomes mais importantes da arquitetura mundial.
Entre os artistas plásticos de reputação internacional estão os suíços Alberto
Giacometti e Paul Klee. No campo da literatura, a Suíça produziu Jean-Jacques
Rousseau, Jacob Burckhardt, Madame de Staël, Gottfried Keller, Hermann Hesse,
Carl Spitteler, além de diversos escritores de língua romanche.
Friedrich
Dürrenmatt e Max Frisch (também importante romancista) são dois dos mais
famosos dramaturgos do século XX. Compositores modernos como Arthur Honegger,
Othmar Schoeck e Frank Martin ganharam fama em todo o mundo. Realiza-se
anualmente em Lucerna um festival de música internacional, e ao longo do ano
ocorrem diversos outros eventos de jazz, e música popular internacional,
especialmente o famoso festival de Montreux.
A Suíça tem
também uma longa tradição de excelência científica. O Instituto Federal de
Tecnologia de Zurique é a maior instituição científica do país e formou mais
ganhadores do Prêmio Nobel do que qualquer outra escola científica do mundo.
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