domingo, 19 de maio de 2013

Japão




As características da civilização japonesa e a amplitude do mercado interno foram a base do "milagre japonês" que, depois do desastre da segunda guerra mundial, conseguiu implantar um crescimento econômico sustentado e cumulativo. Os japoneses devem ao confucionismo o princípio de refinada interdependência e hierarquização que rege sua vida social; e ao agnosticismo religioso sua capacidade de sincretismo e adaptação.
O Japão (Nihon ou Nippon em japonês) é um arquipélago situado em frente à costa leste da Ásia, na parte noroeste do oceano Pacífico. Abrange cerca de 3.400 ilhas, com uma superfície total de 377.835km2. As quatro ilhas principais são, em ordem de tamanho, Honshu, Hokkaido, Kyushu e Shikoku.
Hokkaido, no extremo norte, está a 300km de distância do continente asiático, enquanto Kyushu, no extremo sul, dista do continente cerca de cem quilômetros. A capital do país, Tóquio, situa-se em Honshu. O país se separa da República Popular da China, a sudoeste, pelo mar da China; da Rússia, Coréia do Norte e Coréia do Sul, a oeste, pelo mar do Japão; e das ilhas russas de Sakhalin e Kurilas, a norte e nordeste, respectivamente, pelo estreito de La Pérouse (Soya), o mar de Okhotsk e o estreito de Nemuro. Toda a costa leste do Japão é banhada pelo oceano Pacífico.
Geografia física
Geologia e relevo. O caráter montanhoso do país é resultado de forças orogênicas geologicamente recentes, como demonstra a freqüência de terremotos violentos, atividade vulcânica e as alterações do nível do mar ao longo do litoral. São escassas as planícies e planaltos, ao contrário do que ocorre em regiões mais estáveis e antigas da Terra, niveladas pela erosão. As montanhas cobrem mais de quatro quintos do Japão e se agrupam em seis pequenas cadeias, que de nordeste para sudeste são: cadeia Chishima, das ilhas Kurilas; cadeia de Sakhalin-Hokkaido; cadeias do nordeste e do sudoeste da ilha Honshu; cadeia das ilhas Shichito-Mariana e as formações das ilhas Ryukyu.
Existem no Japão cerca de 200 vulcões, dos quais pelo menos quarenta permanecem em atividade. O pico vulcânico mais elevado, e também o mais famoso, é o monte Fuji ou Fujiyama (3.776m). Também são importantes o Aso, o Minami e o Asamayama. Próximo ao litoral encontram-se fossas marítimas muito profundas: a 200km a leste de Honshu, a profundidade chega aos 8.491m.
Clima. A extensão em latitude do país explica a diversidade de climas, do tropical ao temperado, sujeitos também à influência das monções (ventos sazonais) e da altitude. No sul do país o clima é ameno, mesmo durante o inverno. Hokkaido e Honshu têm nessa estação temperaturas muito baixas. Em geral, a vertente do Pacífico é mais quente e menos enevoada do que a vertente voltada para o continente, devido ao obstáculo interposto pelas cadeias de montanhas aos ventos frios continentais. As precipitações são abundantes durante todas as estações e atingem médias anuais de 1.500mm no norte e até 2.500mm nas regiões a sudoeste. As neves são freqüentes em todo o país no inverno.
Hidrografia. A estrutura do terreno faz com que o Japão tenha rios de pequena extensão, quase sempre torrenciais e de reduzida bacia hidrográfica. Somente oito rios ultrapassam 200km de extensão. O Shinano, em Honshu, é o maior, com 367km. Outros cursos importantes são: Teshio e Ishikari, em Hokkaido; Kitakami, Tone, Kiso e Tenryu, em Honshu; e Chikugo, em Kiushu. Alguns dos rios procedentes das zonas vulcânicas do nordeste de Honshu têm águas ácidas e inúteis para a agricultura. Os rios carreiam, geralmente, grandes quantidades de aluviões e formam deltas em suas embocaduras. O maior lago, de origem tectônica (causado por fraturas da crosta terrestre), é o Biwa, com 672km2. Mais numerosos são os de origem vulcânica, como o lago Kutcharo, de Hokkaido, o Towada e o Ashi, de Honshu.
Flora e fauna. A maior parte da vegetação original foi substituída por lavouras ou espécies originárias de outras partes do mundo. Nas ilhas Ryukyu e Bonin encontram-se vários tipos de amoreiras, canforeiras e carvalhos. Há bosques de loureiros desde as ilhas do sudoeste até o norte de Honshu. As dunas litorâneas são dominadas pelos pinheiros, e os cedros japoneses, alguns com mais de dois mil anos, são encontrados no sul de Kyushu. São numerosas as coníferas no norte e no leste de Hokkaido.
Apesar da densidade populacional humana, os mamíferos terrestres do Japão são relativamente abundantes nas regiões florestais montanhosas (ursos, raposas, cervos, antílopes, macacos etc.). As águas japonesas são povoadas por baleias, golfinhos e peixes, como salmão, sardinha e bacalhau. Entre os répteis, encontram-se tartarugas, lagartos e cobras. É famosa a salamandra gigante de Kyushu e Honshu, de 1,5m de comprimento.
População
Com exceção dos ainos, povo indígena do qual há uma pequena população remanescente em Hokkaido, considera-se que os japoneses constituem um único grupo étnico. Classificam-se como um ramo da raça mongolóide, estreitamente relacionada com os povos da Ásia oriental. Suas características físicas gerais são cabelo negro, liso e forte; pele amarela, olhos escuros e oblíquos; e corpo pouco piloso. A língua nacional é o japonês, incluída no grupo lingüístico altaico e afim ligada ao coreano. A introdução de caracteres e textos chineses, no século IV da era cristã, enriqueceu enormemente o idioma. Inicialmente empregaram-se os caracteres chineses para escrever, mas no século IX desenvolveu-se um silabário, o kana, desde então usado para o japonês escrito, junto com cerca de quatro mil caracteres chineses, reduzidos a dois mil após a segunda guerra mundial. É grande a quantidade de dialetos, mas o de Tóquio difundiu-se pelo país ao longo do século XIX e se impôs graças ao sistema educativo e aos modernos meios de comunicação.
A partir do século XIX as mudanças sociais e econômicas se estenderam às mais distantes aldeias rurais, ainda que muitos costumes tradicionais tenham sobrevivido. Assim também ocorre com os sistemas cooperativos da agricultura e a assistência mútua entre os habitantes de um mesmo povoado. A unidade autônoma rural, conhecida como mura, consta de trinta a cinqüenta famílias. Os assentamentos rurais são em sua maioria bastante antigos, embora muitos tenham surgido no século XVI. Nenhum núcleo populacional, porém, pode considerar-se exclusivamente rural, pois a comunicação com os centros urbanos é intensa e nos meses de inverno a população rural fornece mão-de-obra sazonal para as cidades. As aldeias de pescadores se multiplicaram a partir do século XVII e o mesmo ocorreu com os núcleos de montanheses, que surgiram quando a madeira, o carvão vegetal e outros produtos encontraram mercado nas cidades.
Visto que mais de oitenta por cento do país se constituem de montanhas e zonas inóspitas, a população se concentra nas grandes cidades e conurbações das planícies. Os assentamentos urbanos são de origem recente. À exceção das primeiras capitais (Nara, Quioto e Kamakura), não existia nenhuma cidade grande antes do século XVI. Desde o final desse século, os poderosos templos e senhores feudais começaram a construir cidades que atraíram comerciantes e artesãos. O crescimento urbano se acelerou no século XIX com o desenvolvimento dos portos internacionais de Kobe, Yokohama, Niigata, Hakodate e Nagasaki e com as bases navais de Yokosuka, Kure e Sasebo.
A industrialização também influiu no crescimento de cidades como Yawatahama, Niihama, Kawasaki e Amagasaki. Nos aglomerados urbanos japoneses se misturam o antigo e o novo, pois neles um núcleo tipicamente oriental coexiste com os mais modernos centros comerciais e sofisticadas indústrias. Casas de construção frágil se erguem junto a imponentes arranha-céus. A capital nacional, Tóquio (denominada Edo até 1868), é uma das cidades mais populosas do mundo. Outras cidades importantes são Yokohama, Osaka, Nagoya e Sapporo. (Para dados demográficos, ver DATAPÉDIA.)
Economia
O Japão tem uma economia próspera e bem desenvolvida, baseada principalmente em produtos industriais e serviços. Nos últimos anos do século XX, sua renda per capita estava entre as maiores do mundo.
Organização da economia. O sistema japonês de gestão da economia apresenta características muito peculiares. Ainda que a participação direta do estado nas atividades econômicas seja limitada, o controle oficial e sua influência sobre as empresas é maior e mais intenso que na maioria dos países com economia de mercado. Esse controle não se exerce por meio de legislação ou ação administrativa, mas pela orientação constante ao setor privado e pela intervenção indireta nas atividades bancárias. Existem, também, várias agências e departamentos estatais relacionados com diversos aspectos da economia, como exportações, importações, investimentos e preços, assim como desenvolvimento econômico. O objetivo dos organismos administrativos é interpretar todos os indicadores econômicos e responder imediatamente e com eficácia às mudanças conjunturais. A mais importante dessas instituições é a Agência de Planejamento Econômico, submetida ao controle direto do primeiro-ministro, que tem a importante missão de dirigir dia a dia o curso da economia nacional e o planejamento a longo prazo.
De maneira geral, esse sistema funciona satisfatoriamente e sem crises nas relações entre governo e empresas, devido à excepcional autodisciplina dos empregados japoneses em relação às autoridades e ao profundo conhecimento do governo sobre as funções, necessidades e problemas dos negócios. O ministro da Fazenda e o Banco do Japão exercem considerável influência nas decisões sobre investimentos de capital, devido à estreita interdependência entre as empresas, os bancos comerciais e o banco central. As Ferrovias Nacionais Japonesas é a única empresa estatal.
Agricultura, recursos florestais e pesca. Os recursos agrícolas e florestais são manifestamente insuficientes para as necessidades de uma população tão numerosa como a japonesa. Isso se deve ao relevo montanhoso e à baixa fertilidade dos solos. A madeira, procedente das florestas de coníferas, é potencialmente abundante, embora a localização de boa parte desses bosques em zonas montanhosas inacessíveis dificulte a exploração.
A produção agrícola, da mesma forma que a exploração florestal e pesqueira, cresceu mais lentamente do que a produção nacional total, da qual só participa em pequena proporção. O setor agrícola emprega uma porcentagem relativamente grande da população ativa em comparação com sua contribuição para a economia nacional. A agricultura japonesa caracteriza-se pelo elevado número de propriedades pequenas e ineficientes. Somente em Hokkaido encontram-se empreendimentos maiores.
O arroz é o principal produto agrícola do país. Outros produtos importantes são batata, rabanete, tangerina, repolho, batata-doce, cebola, pepino e maçã. A política agrícola do governo tem consistido em elevar o preço do arroz -- a fim de diminuir a defasagem entre a renda dos trabalhadores industriais e agrícolas -- e em impulsionar a pecuária, com o objetivo de reduzir a importação de carne e derivados, produtos em que o Japão é deficiente.
A frota pesqueira japonesa é a maior do mundo em tonelagem, ainda que a pesca seja realizada por empresas de pequeno porte e que utilizam técnicas obsoletas. A convenção que fixou em 200 milhas a extensão do mar territorial em diversos países constituiu um sério entrave para a pesca japonesa. Devido a isso, os japoneses tiveram que intensificar a exploração de seu próprio litoral, bem como de rios e lagos.
Energia e mineração. Os recursos minerais são insuficientes para as necessidades do país. É baixa a qualidade dos minerais, cujos depósitos se encontram muito dispersos, o que, somado ao escasso volume das reservas, impede a aplicação de métodos modernos de extração em grande escala. As ilhas têm algumas jazidas de carvão, ferro, zinco, chumbo, prata, cromita e manganês, mas carecem quase completamente de níquel, cobalto, bauxita, nitratos, sal-gema, potássio, fosfatos e petróleo. A extração de carvão, principal recurso energético do país, concentra-se em Hokkaido e Kyushu. A escassa produção de petróleo é feita numa faixa que vai do norte de Honshu, no mar do Japão, às planícies de Ishikari-Yufutsu, em Hokkaido.
Os recursos hidrelétricos são abundantes, devido aos altos índices de pluviosidade e ao relevo abrupto. A rede fluvial, embora sofra freqüentes inundações, é também utilizada para a irrigação. O maior potencial hidrelétrico encontra-se na Honshu central, ao longo dos rios Shinano, Tenryu, Tone e Kiso e é intensamente aproveitado.
Indústria. A característica mais notável do crescimento econômico do Japão após a segunda guerra mundial foi a rápida industrialização. O "milagre econômico" japonês ficou patente tanto no crescimento quantitativo como na qualidade e variedade dos produtos e no alto nível tecnológico. O Japão se alçou, com os Estados Unidos, à liderança da produção em quase todas os setores industriais. Uma das nações mais industrializadas do mundo, é também um dos maiores produtores de navios, automóveis, fibras e resinas sintéticas, papel, cimento e aço, além de produtos eletrônicos de alta precisão e equipamentos de telecomunicações. O crescimento econômico se atribui principalmente ao rápido crescimento dos investimentos, à concentração da indústria em grandes empresas e à cooperação entre governo e empresários.
A sólida posição industrial do Japão, tanto em qualidade como em preços, tem permitido ao país exportar grande parte de seus produtos manufaturados e equilibrar a balança comercial. Por outro lado, a expansão internacional das empresas permitiu a ampliação do mercado nos países consumidores de produtos japoneses, por meio da construção ou compra de fábricas, ou por associação com produtores desses países. Essa estratégia se observa claramente no setor automobilístico: as principais empresas japonesas estabeleceram parcerias com grupos em outros países.
Finanças. O sistema financeiro japonês apresenta algumas peculiaridades se comparado a outros países desenvolvidos. Em primeiro lugar, o crédito bancário desempenha papel primordial na acumulação de bens de capital. Em segundo lugar, o grau de dependência entre o banco central (Banco do Japão, criado em 1882), os bancos comerciais e a indústria é muito superior em relação aos demais países industrializados. Tóquio é um dos mais importantes centros financeiros do mundo e seu mercado de ações se equipara aos de Londres e Nova York.
Transportes. Até o fim do século XIX, a maior parte dos japoneses viajava a pé. A primeira ferrovia foi construída em 1872, entre Tóquio e Yokohama. Na segunda metade do século XX, estabeleceram-se no Japão as ferrovias mais rápidas e automatizadas do mundo, e a quantidade de veículos e caminhões cresceu enormemente. A rede de comunicações e o serviço postal são de primeira qualidade. O país possui uma das principais frotas mercantes do mundo e suas linhas aéreas chegam a todos os grandes aeroportos internacionais. As zonas industriais -- Tóquio, a área metropolitana de Osaka (que inclui Osaka, Kobe e Quioto) e a de Nagoya -- apresentam excelente rede de transporte. Os principais portos são Yokohama, Kobe, Nagoya, Kawasaki, Chiba, Kita-Kyushu, Mizushima e Sakai. (Para dados econômicos ver DATAPÉDIA.)
História
Pré-história. A idade paleolítica no Japão remonta, segundo alguns arqueólogos, a trinta mil anos, ainda que outros afirmem ser de dez mil anos. A imigração, procedente do continente asiático, realizou-se em faixas de terra depois convertidas em estreitos (Coréia, Tsushima, La Pérouse e Tsugaru).
O período pré-cerâmico foi seguido de duas culturas neolíticas, a de Jomon e a de Yayoi. A cerâmica Jomon foi utilizada desde o oitavo milênio, aproximadamente, até o século III antes da era cristã. Essa cultura caracterizou-se pela fabricação de instrumentos de pedra polida e de objetos de cerâmica, embora ainda não se conhecesse a agricultura, o pastoreio e a confecção de tecidos. O povo do período Jomon viveu principalmente da caça, da pesca e da coleta de frutos e raízes. A cultura Yayoi desenvolveu-se entre os anos 250 a.C. e 250 da era cristã, aproximadamente. Surgiu em Kyushu, impôs-se sobre a cultura Jomon e alcançou as zonas setentrionais de Honshu. A cerâmica Yayoi era cozida a temperaturas mais altas do que a de Jomon. O cultivo do arroz, possivelmente trazido do sul da China, foi um dos principais traços dessa cultura. Conhecia-se a confecção de tecidos de fibras vegetais e enterravam-se os mortos em urnas de argila ou em pesados cofres de pedra.
Período antigo (250-710). Em torno do ano 250 da era cristã, o Japão sofreu a invasão de cavaleiros mongóis, que não tardaram em firmar-se como a aristocracia do país. Uma das famílias nobres adquiriu precedência sobre as demais e recorreu a uma suposta origem divina para afiançar seu poder. Assim, segundo a mitologia japonesa, o primeiro membro terreno da família foi o neto de Amaterasu, a deusa do Sol. Enviado do céu para estabelecer a ordem com três símbolos preciosos -- a jóia curvada (magatama), o sabre e o espelho, que permaneceram como símbolos do poder imperial ao longo dos séculos --, o "augusto neto" estabeleceu-se no sudoeste de Kyushu. Um de seus descendentes humanos foi Jimmu Tenno, o quase legendário primeiro imperador do Japão, que ampliou seus domínios até incluir a planície de Yamato, em Honshu, perto da moderna cidade de Osaka.
De acordo com as crônicas chinesas, os japoneses, ou wo, divididos em mais de cem estados até o ano 300, foram capazes de enviar um exército à Coréia no ano de 391 para submetê-la, o que em parte conseguiram. Essa façanha não poderia ter sido realizada por pequenos estados, o que pressupõe a unificação sob um poder único e confirma a lenda.
O poder se transmitia por hereditariedade. Os membros da corte de Yamato, que procediam de poderosas famílias muraji (cabeças de clãs), deviam vassalagem ao imperador. Outro grupo de famílias poderosas, os omi (caudilhos militares), surgiram durante o processo de unificação nacional. O poder executivo era exercido por um funcionário, semelhante a um primeiro-ministro, cujo cargo era disputado pelos clãs, que podiam recrutar exércitos próprios para conseguir seu propósito.
As lutas civis pelo poder debilitaram a ação na Coréia. O Japão foi perdendo as possessões conquistadas na península e com elas os tributos necessários para a manutenção do estado. No ano 562 perdeu o domínio de Mimana para o reino coreano de Silla. No fim do século VI, o país havia chegado ao ponto mais baixo de sua decadência, tanto em assuntos internos como na política de expansão na Coréia.
Durante esses anos houve um acontecimento da maior importância cultural. No ano 552, o soberano do reino coreano de Paekche enviou à corte de Yamato uma imagem em bronze de Buda, alguns textos budistas e uma carta na qual louvava o budismo, que, vindo de seu distante berço na Índia, se propagara na Coréia depois de consolidar-se na China. Iname, ministro do clã Soga, dominante na época, viu no budismo não só um eficaz transmissor da cultura e das idéias chinesas, como também o instrumento político adequado para resistir ao poder dos sacerdotes xintoístas do país.
A pressão em favor do budismo foi mantida pelo filho e sucessor de Iname, Unako, que teve o apoio do príncipe Shotoku Taishi. O príncipe estabeleceu, no ano 604, a primeira constituição do Japão, com 17 artigos, nos quais se estabelecem os ideais do estado e as normas da conduta humana. À morte de Shotoku, no ano 622, seguiu-se um período de guerras civis que teve como conseqüência o extermínio do clã Soga, em 645. Nesse mesmo ano, o imperador Kotoku, com o apoio do poderoso clã Fujiwara, empreendeu a reforma Taika, que proclamava a monarquia absoluta, declarava o trono proprietário de todas as terras de lavoura e estabelecia sua distribuição em pequenas parcelas às unidades camponesas, que seriam obrigadas a entregar parte de suas colheitas ao estado, como imposto. O sistema, copiado da China dos Tang, seria administrado por funcionários nomeados pelo imperador e seus ministros, e regido pelo código penal (ritsu) e pelos códigos administrativo e civil (rio).
Período Nara (710-784). No ano 710, a capital imperial transferiu-se de Asuka para Nara, no centro da planície de Yamato, onde foi construída uma réplica de Changan, capital da dinastia chinesa Tang. O imperador Shomu e sua consorte Komio se encarregaram de difundir o budismo e a cultura chinesa. Uma de suas medidas foi a fundação de templos budistas, conhecidos como kokubunji. No princípio do século VIII, as tradições japonesas foram reunidas nas duas obras literárias mais antigas do Japão: o Kojiki (Crônica das coisas de antanho) e Nihongi (Crônicas do Japão).
Período Heian (794-1185). O imperador Kammu transferiu a capital para Heian-kio (capital da paz) ou Quioto e rompeu os laços entre o governo e o budismo, cujos sacerdotes se haviam tornado excessivamente ricos e ambiciosos. Durante o século X, sob a hegemonia da família Fujiwara, firmou-se uma cultura autênticamente japonesa, que tinha entre seus principais elementos um silabário próprio, o kana. O idioma japonês, composto foneticamente de apenas 46 signos básicos, não precisava do complexo sistema de escrita chinês. A adoção do novo sistema, sobretudo pelas mulheres, possibilitou o surgimento de uma literatura ágil, desenvolta e às vezes picaresca.
Nessa fase, em que o Japão viveu um longo período de paz, forjou-se uma aristocracia cortesã brilhante, refinada e formalista. O budismo, entretanto, foi conquistando lentamente o país, difundindo-se na classe média. Nessa época surgiu a classe dos guerreiros (samurais) que atuavam como polícia militar na corte. Entre eles destacaram-se os Minamoto, da linhagem do imperador Seiwa, e os Taira, descendentes do imperador Kammu. Nos distúrbios de Heiji, em 1159, a família Minamoto foi derrotada e subiu ao poder Taira Kiyomori. Quando os Minamoto se recuperaram, houve uma guerra civil que durou cinco anos e terminou em 1185 com a derrota dos Taira, numa grande batalha naval.
Período Kamakura (1192-1333). Yoritomo, do clã vencedor Minamoto, estabeleceu um governo militar, ou xogunato, em Kamakura. Isso significou o fim do antigo sistema monárquico e o início do exercício do poder pela classe dos samurais, baseada num sistema feudal. O xogum e sua administração, o bakufu, apesar de serem a autoridade mais forte do Japão, não constituíam o governo oficial do país: na teoria, a corte imperial de Quioto desempenhava essa função. Depois da morte de Yoritomo, assumiu o poder a família Hojo.
Nesse período, o governo do país foi exercido de maneira obscura. O titular era o imperador, que se encontrava em Quioto, mas seus poderes eram exercidos de fato por um imperador "aposentado", que costumava ser o pai do primeiro. O imperador "aposentado", por sua vez, delegava o poder ao xogum militar de Kamakura, e o próprio xogum era dominado pelo regente Hojo.
Durante grande parte do século XIII, o Japão viveu em relativa prosperidade. A população aumentou, os povoados começaram a crescer e alguns se converteram em cidades. Ampliou-se o comércio com a China, com aquisição de riquezas e novas idéias. O código de honra dos samurais, de uma simples série de lealdades feudais, transformou-se em vigoroso código moral, que se manteve nos séculos posteriores.
Durante a regência da família Hojo, houve duas invasões de mongóis procedentes da China, onde haviam conquistado o poder. Em ambas (1274 e 1281), os mongóis foram derrotados pelos japoneses, com a ajuda de dois violentos e oportunos furacões. O kamikaze, ou "vento divino", fez os japoneses acreditarem que eram um povo protegido pelos deuses. A derrota mongol foi de importância crucial na história japonesa e contribuiu como nenhum outro acontecimento anterior para criar um arraigado sentimento de orgulho nacional.
Xogunato Muromachi ou Ashikaga (1338-1573). Em 1318, o príncipe Takaharu subiu ao trono imperial com o nome de Go-Daigo. Em 1333 retornou a Quioto, fato conhecido como restauração Kemmu, e tentou recuperar o governo direto. Não obteve êxito, e a família Ashikaga estabeleceu um bakufu no distrito de Muromachi (Quioto) com a mesma estrutura de seu predecessor de Kamakura. Nesse período surgiu uma nova classe de senhores feudais, os daimios, de base camponesa. O xogunato sofreu um progressivo enfraquecimento, que conduziu a uma sangrenta guerra civil, a guerra Onin (1467-1477) entre os partidos Kosokawa e Yamana. O confronto teve como conseqüência a extinção do poder político do bakufu. O Japão entrou, então, num período de desordem. O poder feudal dos daimios predominou nessa época, conhecida como "país em guerra".
"País em guerra" e unificação. Os daimios conquistaram um poder quase ilimitado em seus domínios e chegaram a cunhar moedas. Simultaneamente, muitos jovens se lançaram à busca de riquezas no litoral chinês. Os piratas japoneses levaram o terror aos litorais da China, Filipinas, Tailândia, Formosa, Indonésia, Malásia e Indochina. Os viquingues do Oriente, como foram chamados, encontraram, no entanto, um poderoso rival nos navios portugueses, maiores e armados com canhões. Os missionários jesuítas espanhóis e portugueses obtiveram relativo êxito na imposição do catolicismo à classe aristocrática japonesa. A penetração européia favoreceu o comércio e familiarizou os japoneses com as armas de fogo, fato importante para uma sociedade militarista. Os mosquetes que o senhor de Tanegashima havia comprado de aventureiros portugueses em 1543 multiplicaram-se com surpreendente rapidez.
Entre 1550 e 1560, um dos daimios, o genial estrategista Oda Nobunaga, conseguiu dominar os demais e estabelecer um só estado. A capacidade de adaptação dos japoneses às inovações estrangeiras manifestou-se quando Nobunaga derrotou a cavalaria samurai, empregando armas de fogo. O processo de unificação continuou com seu filho Hideyoshi, que em 1590 tinha sob seu domínio todo o Japão, de Kyushu, no sudoeste, a Tohoku, no nordeste.
Xogunato dos Tokugawa (1603-1867). Com a morte de Hideyoshi, Ieyasu, do clã Tokugawa, ganhou a batalha de Sekigahara em 1600 e conseguiu a supremacia nacional. Em 1603 fundou o bakufu de Edo (Tóquio), mais conhecido como xogunato dos Tokugawa, que durou até 1867. Uma das principais decisões do governo de Edo foi, em 1639, fechar o Japão à penetração estrangeira. A partir dessa data, somente foi permitida a entrada de navios chineses e holandeses previamente autorizados. Em conseqüência disso, a sociedade japonesa permeneceu isolada por mais de dois séculos. As características principais desse xogunato foram: (1) a auto-suficiência econômica; (2) o estrito controle da natalidade; (3) o triunfo do budismo zen entre os samurais; (4) o estabelecimento de uma disciplina feudal, em que os daimios tinham grande quantidade de "fiéis guerreiros", os samurais, que os serviam em troca de dinheiro ou de outro tipo de mercadoria, mas nunca de terras; (5) o florescimento da literatura em língua vulgar (século de Osaka, 1650-1750); (6) a criação, ao lado do teatro tradicional nô, de um teatro vivo, meio cantado, meio falado, o kabuki. Em 1853, a chegada de uma frota americana sob o comando de Matthew C. Perry  a Uraga-ko foi o detonador que introduziu o Japão na era moderna.
Período Meiji (1868-1912). Em 1868, os samurais de Satsuma, Choshu, Tosa e Saga suprimiram o xogunato dos Tokugawa com o grito de "Sonno joi" (Reverenciai o imperador! Fora os bárbaros!). O imperador Mutsuhito, que havia subido ao trono em 1868, foi encarregado de pôr em prática a modernização da sociedade japonesa, que, entretanto, não perdeu seus valores tradicionais. As transformações socioeconômicas mais importantes foram a abolição do feudalismo, a igualdade de todos os japoneses e a introdução e desenvolvimento da grande indústria e do moderno sistema bancário. Do mesmo modo, organizou-se o ensino de acordo com os modelos europeus, foram impulsionados os sistemas de comunicação e transporte segundo a tecnologia ocidental, modernizou-se o sistema financeiro, promulgou-se em 1889 uma nova constituição que consagrou a monarquia hereditária e criaram-se um exército e uma marinha potentes e modernos. As guerras vitoriosas de 1894-1895, contra a China, e de 1904-1905, contra a Rússia, elevaram o Japão à categoria de potência mundial.
Participação do Japão nas guerras mundiais. O imperador Mutsuhito (Meiji) morreu em 1912 e sucedeu-lhe seu filho Taisho ( "A grande integridade", 1912-1926). O Japão entrou na primeira guerra mundial ao lado dos aliados, de acordo com o tratado firmado com o Reino Unido, mas limitou sua participação à ocupação das ilhas alemãs no Pacífico e da península de Shandong.
Entre 1918 e 1929, o governo japonês pôs em prática uma política de moderação, traduzida em redução do poder militar e da burocracia, em maior liberdade para a atividade sindical e contenção da expansão na China. No entanto, a grande depressão econômica de 1929 provocou uma virada radical nessa orientação. Os setores militaristas aproveitaram o descontentamento social criado pelo desemprego para argumentar que as leis contra a imigração nos Estados Unidos e na Europa haviam condenado à fome os japoneses e que só pela força poderiam encontrar os territórios necessários para seu excedente demográfico: a população havia crescido de trinta milhões de habitantes, no período Meiji, para 65 milhões em 1930. O resultado não se fez esperar: em 1931 o exército japonês invadiu a Manchúria. Apesar da oposição do jovem imperador Hirohito (que subiu ao trono em 1926), os militaristas conseguiram impor sua vontade. Em 1933, o Japão retirou-se da Liga das Nações e fez da Manchúria a base para o novo império asiático que pretendia instaurar. Em 1937 iniciou uma guerra não declarada contra a China. Em setembro de 1940 firmou um pacto com a Alemanha e a Itália. A entrada na segunda guerra mundial foi o passo seguinte.
O ataque de surpresa dos japoneses à base militar americana de Pearl Harbor, no Havaí, em 7 de dezembro de 1941, obrigou os Estados Unidos a entrarem na guerra. Os primeiros meses foram favoráveis ao Japão, que se apoderou rapidamente das Filipinas, Indonésia, Indochina e Malásia. No entanto, a partir de 1943, as forças americanas começaram a vencer a guerra. As bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos sobre Hiroxima, em 6 de agosto de 1945, e sobre Nagasaki, três dias depois, aceleraram a rendição japonesa.
Período do pós-guerra. O general americano Douglas MacArthur, chefe das forças de ocupação aliadas no Japão, recebeu o encargo de desmilitarizar e democratizar o país. A nova constituição democrática do Japão, revisada por MacArthur, foi promulgada em 3 de novembro de 1946 e entrou em vigor em 3 de maio de 1947. Em 1951 firmou-se a paz com o Ocidente e no ano seguinte o Japão recuperou sua soberania.
Reduzido aos limites que tinha antes do período Meiji e sem a obrigação de sustentar a máquina militar, o país apresentou notável crescimento econômico. O superávit comercial converteu-o em potência financeira. A vida política japonesa viu-se dominada, entretanto, pelo Partido Liberal Democrático, que governou com uma sucessão de primeiros-ministros a partir de 1955. Entretanto, os escândalos financeiros e pessoais em que se viram envolvidos alguns deles, como Tanaka Kakuei -- que teve que deixar o poder em 1974 -- e Takeshita Noboru -- que renunciou em 1989 --, fortaleceram a oposição. Como reação, o Partido Liberal Democrático decidiu apoiar uma nova geração de políticos, liderada por Kaifu Toshiki. Nesse mesmo ano morreu o imperador Hirohito, que foi sucedido por seu filho Akihito. Em 1993, pela primeira vez desde 1955 assumiu a chefia do governo um primeiro-ministro não pertencente ao Partido Liberal Democrático -- Hosokawa Morihiro, do Novo Partido Japonês.
Instituições políticas
A constituição de 1947 difere da Meiji, de 1889, nos seguintes pontos: (1) o imperador, em lugar de assumir toda a autoridade, é o símbolo do estado e da unidade do povo; (2) o Japão renuncia à guerra como direito soberano; e (3) os direitos humanos fundamentais são considerados eternos e invioláveis. O poder executivo é exercido pelo gabinete, cujo primeiro-ministro é nomeado pelo imperador, depois de designado pela Dieta (Parlamento). A Dieta se compõe da Câmara de Representantes (cujos 511 membros, 200 dos quais são eleitos, segundo um sistema de representação proporcional a partir de 1994, para um período de quatro anos), e da Câmara de Conselheiros (cujos 252 membros são eleitos para um período de seis anos). Existem mais de dez mil partidos políticos registrados. Os principais são o Liberal Democrático (Jiyu-Minshuto), que dominou a política japonesa a partir de meados do século XX; o Partido Socialista do Japão (Nihon Shakaito), e o Partido para um Governo Limpo (Komeito).
O Japão está dividido em 47 prefeituras, 43 das quais são ken (prefeituras propriamente ditas), uma (Tóquio) é um to (prefeitura metropolitana), outra (Hokkaido) é um do (distrito) e duas (Osaka e Quioto) são fu (prefeituras urbanas).
O poder judiciário é independente do poder executivo e consta de um Supremo Tribunal, oito altos tribunais, um tribunal de distrito em cada prefeitura -- com exceção de Hokkaido, que tem quatro -- e numerosos tribunais para assuntos de menor importância.
Sociedade
O alto nível de vida, uma nutrição adequada e abundante, assim como o organizado sistema de saúde pública contribuíram para aumentar a expectativa de vida dos japoneses. Numerosos hospitais, clínicas e centros de saúde em toda a nação, aliados à educação sanitária nas escolas, tiveram como resultado a erradicação de doenças como o tifo, difteria e escarlatina. Em contrapartida, aumentaram as chamadas doenças da civilização moderna. Hipertensão, moléstias cardiovasculares e distúrbios psíquicos tornaram-se as principais causas de morte, junto com os acidentes de trânsito. As práticas médicas são predominantemente ocidentais, mas também se aplicam técnicas chinesas tradicionais.
Os serviços de previdência social aperfeiçoaram-se notavelmente depois da segunda guerra mundial e incluem pensões por doença, aposentadoria, viuvez e orfandade, desemprego e seguro de acidentes. Desde 1961, o sistema ampara todos os japoneses. Muitas instituições privadas proporcionam assistência complementar.
A escassez de habitação, um dos principais problemas políticos e sociais do Japão, tem como causas: (1) a destruição de setenta por cento das moradias nas principais cidades do país durante a segunda guerra mundial; (2) a constante elevação dos preços das residências nas grandes cidades; (3) o uso generalizado da madeira como material de construção, que exige substituição mais freqüente que o tijolo; (4) a freqüência de terremotos, tufões e inundações produzidas pelas chuvas; (5) a tendência do governo a incentivar mais o crescimento industrial do que a construção de edifícios e casas; e (6) a elevação do nível de vida, que provocou o aumento da demanda por casas melhores e maiores.
Antes da restauração Meiji, funcionavam diversas instituições educativas, muitas delas influenciadas pela cultura chinesa. As escolas privadas (terakoia), principalmente nas cidades, ministravam o ensino primário. Os senhores provinciais (daimios) também criaram escolas especiais para os filhos da classe guerreira. O sistema educativo moderno foi implantado a partir de 1868 e, quatro anos depois, abriram-se escolas primárias e secundárias em todo o país. A educação gratuita obrigatória foi promulgada em 1900 e em 1908 foi fixada em seis anos.
Desde 1947, a educação obrigatória compreende um período de nove anos, que começa aos seis anos de idade. O sistema educativo está organizado da seguinte maneira: os jardins de infância duram de um a três anos e são facultativos. A escola primária dura seis anos; a escola secundária três; e o bacharelado superior (não obrigatório), outros três. O ensino superior é ministrado em centros de ensino e universidades, em cursos de dois a quatro anos de duração. O doutorado exige três anos de especialização depois de obtido o título de graduação. Existem ainda escolas técnicas, em cinco modalidades. O Japão é um dos poucos países do mundo que proporcionam educação completa e gratuita para toda a população. A administração do ensino é descentralizada e o Ministério da Educação desempenha papel de mero coordenador. A responsabilidade sobre orçamento, planos de estudo e supervisão compete às autoridades locais.
Os sindicatos japoneses são relativamente recentes, pois embora as organizações operárias funcionassem antes da segunda guerra mundial, foi a partir da derrota que, por influência americana, se concedeu aos trabalhadores o direito de organização, de negociar com os patrões e declarar greves. As questões trabalhistas no Japão, julgadas em função dos dias de trabalho perdidos, são mais facilmente resolvidas que em outros países industrializados, como Estados Unidos, Reino Unido ou Itália.
Várias religiões coexistem no Japão, ainda que nenhuma delas tenha a grande quantidade de adeptos verificada em outros países da Ásia. Destacam-se o xintoísmo, única religião de origem nipônica, várias seitas budistas e o cristianismo. Algumas crenças novas (shinko shukio) surgiram no século XX. O xintoísmo, de caráter politeísta, elevou à categoria de deuses personagens históricos e elementos da natureza. Boa parte da população professa ao mesmo tempo o xintoísmo e o budismo. O cristianismo penetrou com as missões católicas do século XVI. Entre as novas religiões, cabe destacar a Soka Gakkai (Sociedade da Criação Valiosa), que constitui poderosa organização política. (Para dados sobre sociedade, ver DATAPÉDIA.)
Cultura
A longa história do Japão produziu uma cultura  significativamente diferente das de outras nações, caracterizada em geral por uma mistura indissociável da tradição autóctone com formas chinesas e ocidentais. A cultura pré-histórica japonesa sofreu contínua influência da antiga China, num processo iniciado há aproximadamente 1.500 anos. A escrita chinesa também foi adotada inicialmente pelo Japão e a religião budista exerceu profunda influência na vida cultural do arquipélago. No entanto, o processo de nacionalização cultural nunca cessou, tendo mesmo se acelerado durante os 250 anos em que o Japão se manteve isolado, até 1868, quando se abriu para o mundo ocidental. O clima do Japão, por exemplo, muito mais úmido que o da China, levou à substituição do tijolo pela madeira na arquitetura. De forma similar, a escrita chinesa foi substituída em grande parte pelo silabário kana, mais adaptado às características da língua japonesa.
Depois da restauração Meiji (1868), o Japão iniciou sua modernização e industrialização, conforme os modelos europeu e americano. As influências russa, britânica, francesa, alemã e espanhola são evidentes na cultura japonesa, tanto em sua literatura como em educação, artes plásticas, música, ciência, diversões e ideologia. O racionalismo, o cristianismo e o socialismo impregnaram o cotidiano dos japoneses. O uso da vestimenta ocidental em lugar do quimono está muito difundido e a música ocidental parece ser preferida à música japonesa tradicional.
A milenar cultura japonesa inclui muitas formas de arte e práticas refinadas. Assim ocorre com o arranjo de flores (ikebana), a cerimônia do chá (cha-no-yu), a pintura, a caligrafia artística, a dança, a música, a arte de jardinagem e a arquitetura. Entre as diversas formas teatrais sobressaem, entre outras, o kabuki, drama estilizado com música, canto e dança, o bunraku, teatro de marionetes, o nô, drama bailado tradicional, e o gagaku, música cortesã.
O cinema, que começou a ser feito no Japão ao mesmo tempo que no Ocidente, produz obras de excepcional qualidade. Nas primeiras décadas do século XX, os filmes correspondiam a dois gêneros bem definidos: o jidai geki ou histórico, e o gendai-geki ou da vida real. Cineastas como Mizoguchi Kenji, Kobayashi Masaki, Kurosawa Akira, Kinoshita Keisuke, Ozu Yasujiro, Shindo Kaneto e Oshima Nagisa são internacionalmente reconhecidos como dos maiores da história do cinema.

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