Herdeira do caos econômico, social e político que
resultou da dissolução da União Soviética, a Rússia passou a enfrentar desafios
extraordinários: estabelecer a identidade nacional de uma população de grande
variedade étnica e cultural; conquistar seu lugar no cenário internacional; e
implantar a economia de mercado e a democracia liberal de estilo ocidental numa
nação em que, ao longo da história, predominaram figuras fortes como Pedro o
Grande, Catarina a Grande e Stalin.
A Rússia é o país de maior extensão territorial
do mundo, com uma área de 17.075.400km2 que se estende por uma vasta proporção
do leste da Europa e todo o norte da Ásia. Limita-se ao norte com o oceano
Ártico; a leste com o oceano Pacífico; ao sul com Coréia do Norte, China,
Mongólia e as ex-repúblicas soviéticas do Casaquistão, Azerbaijão e Geórgia; e
a oeste com o mar Negro, as ex-repúblicas soviéticas da Ucrânia, Bielorrússia,
Lituânia, Letônia e Estônia, o mar Báltico, Finlândia e Noruega. Junto à
Lituânia localiza-se o encrave da província de Kaliningrado, tocando a Polônia.
No reinado do czar Pedro o Grande, o território
até então conhecido como Moscóvia recebeu, em 1721, o nome de Império Russo.
Após a revolução de outubro de 1917, tornou-se, em 30 de dezembro de 1922, uma
das repúblicas da União Soviética, com o nome de República Socialista
Federativa Soviética da Rússia (RSFSR). Com a dissolução do estado soviético em
dezembro de 1991, recuperou a independência sob a denominação de Rússia ou,
oficialmente, Federação Russa. Formou, com a maioria das antigas repúblicas
soviéticas, a Comunidade dos Estados Independentes (CEI).
Geografia física
Relevo. Na extensão territorial russa há grande
variedade de relevo, estrutura dos solos e clima. As principais regiões, do
oeste para o leste, são a planície russa (ou do leste europeu), os montes
Urais, a planície da Sibéria ocidental, o planalto da Sibéria central e o
extremo leste.
A planície russa ocupa o noroeste do país e vai
do mar Báltico, a oeste, aos Urais, a leste, e do Ártico, ao norte, aos mares
Negro e Báltico, ao sul. Na metade norte da planície, que já foi coberta por
geleiras, há numerosos lagos e pantanais entre os vales dos rios; na parte sul,
as bacias hidrográficas ocupam terras mais altas, cortadas por desfiladeiros e
vales. Na planície russa situam-se os rios economicamente mais importantes, o
Don e o Volga.
Os montes Urais, fronteira tradicional entre a
Europa e a Ásia, estendem-se por uma faixa de 2.100km que corre no sentido de
norte a sul e separam a planície russa da planície da Sibéria ocidental. Seu
ponto mais alto, o monte Narodnaia, tem 1.895m de altitude; outros picos variam
de 900 a 1.500m. Os numerosos desfiladeiros impedem que os Urais se tornem
intransponíveis para os transportes terrestres.
A leste dos Urais situa-se uma das mais extensas
faixas de baixadas do mundo, a planície da Sibéria ocidental, drenada pelos
rios Ienissei e Ob. A planície funde-se com o planalto da Sibéria central,
cujas altitudes variam de 300 a 700m entre as bacias dos rios Ienissei e Lena.
O extremo leste da Rússia confina com o oceano
Pacífico e tem na orla várias cadeias de montanhas. Inclui ainda as penínsulas
de Kamtchatka e Tchuktchi, a ilha Sakhalin e as ilhas Kurilas.
Clima. A distância dos oceanos faz com que na
maior parte da Rússia as condições climáticas sejam do tipo continental, com
invernos muito frios e verões quentes ou amenos de acordo com a latitude. O
extremo norte é praticamente inabitável devido aos invernos muito longos e
rigorosos. O clima continental se agrava à medida que se avança para o leste e
é particularmente pronunciado no extremo leste da Sibéria, que experimenta
invernos intensamente frios. Abaixo da faixa do extremo norte da Rússia
européia, a passagem de ventos atlânticos suaviza a temperatura e ocasiona
precipitações, quase sempre de neve. Na região sul o clima é subtropical.
A temperatura média em Moscou é de 19°C em julho
e de -9°C em janeiro, com precipitação média anual de 575mm. Já em Verkhoiansk,
no extremo nordeste da Sibéria, a média térmica de janeiro cai a - 49°C. Nessa
região, a precipitação é quase nula.
Hidrografia. Nas imensas planícies que dominam a
paisagem russa situam-se alguns dos mais longos rios do mundo. Distinguem-se
cinco bacias principais: as dos oceanos Ártico e Pacífico e as dos mares
Báltico, Negro e Cáspio. A mais extensa é a do Ártico, que se localiza
essencialmente na Sibéria, mas inclui também a região norte da planície russa.
A maior parte dessa bacia é banhada por três rios gigantescos: o Ob (e seu
principal tributário, o Irtish), o Ienissei e o Lena. Outros rios dessa bacia
são o Dvina, o Petchora, o Indigirka e o Kolima. Na bacia do Pacífico
destaca-se o sistema do Amur, que forma parte da fronteira entre a Rússia e a
China. Três bacias cobrem a Rússia européia ao sul da bacia do Ártico. Os
sistemas do Dnieper e do Don fluem para o sul e desembocam no mar Negro; uma
pequena bacia no setor noroeste deságua no Báltico; e o sistema do Volga, o
maior rio do setor europeu da Rússia, desemboca no mar Cáspio.
São numerosos e geralmente imensos os lagos
naturais e artificiais da Rússia. No setor europeu, destacam-se os lagos Ladoga
e Onega e o reservatório de Ribinsk, no Volga; na Sibéria, merecem ser citados
o Baikal, o maior lago de água doce do mundo, e o reservatório Bratsk, um dos
maiores do mundo.
Flora e fauna. As paisagens vegetais e os
diversos tipos de solo apresentam-se de modo geral superpostos e se distribuem
em cinturões paralelos de norte a sul do país. No extremo norte, as ilhas do
Ártico e a península de Taimir são um deserto ártico no qual apenas musgos e
liquens sobrevivem no gelo. Em toda a costa do Ártico estende-se a tundra, que
cobre quase dez por cento das terras russas e é constituída de musgos, liquens
e pequenos arbustos que servem de alimento a animais selvagens e manadas de
renas. Ao sul desse cinturão aparecem espécies arbóreas e a seguir surge a
taiga, formação florestal que cobre mais da metade do país e constitui a mais
extensa das zonas naturais do país. Pinheiros, bétulas e cedros formam enormes
florestas nas quais aparecem com freqüência superfícies pantanosas, em virtude
do difícil escoamento das águas nas grandes planícies.
Ao sul da taiga predominam florestas mistas de
coníferas e espécies de climas mais temperados. O cinturão de florestas mistas
tem forma triangular, mais largo ao longo da fronteira ocidental e mais
estreito à medida que se aproxima dos Urais, com decréscimo das chuvas e invernos
mais rigorosos. A seguir, sempre no sentido sul, um novo cinturão de vegetação
constitui a estepe mista, seguida pela estepe propriamente dita, formada de
pradarias herbáceas quase sem árvores e que se tornam progressivamente mais
secas até se converterem em semideserto. No extremo sul do país, na Ásia
central, as condições climáticas são de verdadeiro deserto.
A fauna russa, variada e rica, distribui-se de
acordo com as zonas climáticas. Nas regiões árticas vivem aves e mamíferos
vinculados à vida marinha, como ursos polares, focas, morsas, gaivotas e
mergulhões. São típicos da região da tundra a raposa ártica, a rena e a perdiz
branca. Gansos, cisnes e patos migram para a tundra no verão. Há grande
abundância de vida animal na taiga, onde podem ser encontrados alces, ursos
pardos, renas, linces, martas e, nas zonas temperadas, mamíferos como o javali
e o visom, aves como o verdilhão e o rouxinol e vários tipos de serpentes,
lagartos e tartarugas. Nas estepes herbáceas vivem raposas, marmotas, grous,
águias e calhandras. Nas áreas mediterrâneas encontram-se cabras montesas,
bisões, veados, javalis, leopardos, hienas, ursos, chacais e numerosas espécies
de aves e répteis.
População
Etnias e línguas. Os eslavos, sobretudo russos,
formam a imensa maioria étnica da Rússia e desempenharam durante séculos o
papel principal na vida política, econômica e cultural do Império Russo e da
União Soviética. No país vivem ainda membros de 75 outros grupos étnicos,
geralmente pequenos, alguns em seus locais de origem e que formaram repúblicas
que constituem a Federação Russa. Apenas três outras etnias -- tártaros,
ucranianos e tchuvaches -- atingem mais de um por cento da população. A
multiplicidade de povos se evidencia na quantidade de divisões do território em
repúblicas, províncias e distritos autônomos e regiões e províncias sem
autonomia.
A população da Rússia divide-se em grandes grupos
lingüísticos. O grupo balto-eslavo, a que pertence o russo, a língua oficial, é
o de maior presença no país, sobretudo na parte oeste. No grupo altaico, que se
concentra na Ásia central, incluem-se o turco, o manchu e as línguas
mongólicas. O grupo uraliano, que compreende diversas línguas, está amplamente
disseminado na floresta eurasiana e nas zonas de tundra. O grupo caucásico fala
várias línguas e vive na região russa do norte do Cáucaso. Outros grupos
lingüísticos menores vivem no extremo leste da Sibéria e têm grande variedade
de línguas.
Estrutura demográfica. Uma característica
demográfica marcante, na parte européia da Rússia, tem sido a rápida queda da
taxa de natalidade, devido à crescente urbanização, à intensa presença da
mulher no mercado de trabalho e ao enfraquecimento do modelo familiar
tradicional. Já as repúblicas da parte asiática apresentam uma taxa de natalidade
bem superior. No fim do século XX a pirâmide etária mostrava curva acentuada,
maior no lado masculino do que no feminino, devido à perda de população
ocorrida durante a segunda guerra mundial -- mais de vinte milhões de óbitos,
cerca de metade do total em todo o mundo.
A população distribui-se de forma muito desigual,
com a grande maioria concentrada na faixa territorial mais adequada à produção
agrícola: as grandes planícies da região européia, à exceção dos desertos do
sudeste, e um estreito corredor que corta a Sibéria ao longo da linha da
estrada de ferro transiberiana que chega ao extremo sudeste do país. É também
densa a população das terras em torno do Cáucaso e dos vales irrigados da Ásia
central. Três quartos da população da Rússia é urbana.
Migrações. São reduzidos os movimentos
migratórios para fora das fronteiras russas, mas as migrações internas são
intensas, especialmente para as grandes cidades e as regiões do mar Negro, o
Cáucaso e o extremo sul da Ásia central. Na década de 1980 aumentou muito a
migração do setor europeu para a Sibéria e o extremo leste, mas permaneceu
inalterada a tendência a evitar algumas áreas. A falta de habitantes impede o
progresso de algumas regiões de enorme potencial econômico, como o norte da
Sibéria.
Cidades. No começo da década de 1990, cerca de
160 cidades tinham população superior a cem mil habitantes. Dois grandes
núcleos urbanos se destacam pela densidade populacional: Moscou, a capital, e
São Petersburgo, antiga Leningrado. A grande distância delas ficam as cidades
de Cheliabinsk, Kazan, Nijni Novgorod (antiga Gorki), Novossibirsk, Omsk, Perm,
Rostov-na-Donu, Samara, Iekaterinburg, Ufa e Volgogrado (antiga Stalingrado).
(Para dados demográficos, ver DATAPÉDIA.)
Economia
Entre 1917 e 1991 a Rússia, pelo tamanho e
abundância de recursos naturais, exerceu papel de liderança na economia da
União Soviética. O esforço realizado pelos governos posteriores à revolução de
1917 foi essencial para a modernização da economia, orientada segundo
diretrizes socialistas. A partir do final da segunda guerra mundial, a economia
soviética passou a ser considerada a segunda do mundo, superada apenas pela dos
Estados Unidos.
Na década de 1980, contudo, iniciou-se um período
de relativa estagnação, provocada por profundos desajustes internos. Era
notória a escassez de bens de consumo, como automóveis e eletrodomésticos, e o
rápido crescimento do Japão parecia haver relegado a economia soviética ao
terceiro posto mundial.
Depois da dissolução da União Soviética em 1991,
o governo russo decretou uma série de reformas radicais com o objetivo de
realizar a conversão gradual da economia, que deixaria de ser planificada e de
controle centralizado para tornar-se uma economia de mercado. Foi iniciado o
processo de privatização das empresas estatais, aboliram-se quase todos os
controles de preços e criaram-se empresas privadas. O efeito imediato das
medidas foi uma súbita e generalizada elevação de preços, que gerou incertezas
e aumentou as grandes dificuldades com que se deparava o povo nessa fase de
mudanças e incertezas.
Os indicadores econômicos da primeira metade da
década de 1990 não deixavam dúvidas quanto a uma profunda crise, embora o
retrocesso se tornasse gradualmente menos acelerado: o produto interno bruto
(PIB) caiu 19% em 1992 e 12% em 1993; o orçamento anual apresentou déficits
seguidos (dez por cento do PIB em 1993); caíram de forma constante os índices
de produção de quase todos os setores, sobretudo agricultura, energia,
indústria e comércio exterior; e a inflação crescente tornou-se uma ameaça à
estabilidade econômica e política e fator de desagregação social. Além disso,
era alarmante o crescimento do crime organizado, que não só prejudicava a
economia como afugentava os investidores estrangeiros, que, até meados da
década de 1995, fizeram investimentos muito modestos, embora a Rússia tenha se
tornado membro do Fundo Monetário Internacional (FMI) em junho de 1992.
Agricultura, pecuária, pesca e recursos
florestais. A severidade do clima russo limita o percentual de terra usada para
a agricultura e a pecuária -- as terras agrícolas constituem menos de um sexto
do território total. Cerca de três quintos da terra arável destina-se ao cultivo
e o restante é ocupado por pastagens e campinas.
Os principais produtos agrícolas do país são
tradicionalmente os cereais, que ocupam bem mais da metade da terra cultivada.
O trigo é o mais importante deles, seguido de cevada, centeio e aveia. O
cultivo de forragem, inclusive o milho, constitui mais de um terço do total da
lavoura e o que resta é destinado a culturas industriais, como girassol,
beterraba e linho, e a plantações de batata e outros vegetais. O país produz
metade da necessidade interna de carne e leite.
Quase sempre a colheita não é suficiente para as
necessidades internas nacionais, em parte pelas grandes variações climáticas e
em parte pelas ineficiências do sistema de produção das fazendas coletivas
estatais. Em 1990 o governo deu início a um programa de instalação de fazendas
particulares na tentativa de melhorar o desempenho do setor agropecuário.
A indústria da pesca tem papel significativo na
economia graças ao acesso russo aos oceanos Atlântico e Pacífico. No Atlântico,
sua frota atua numa vasta região que se estende desde o mar de Barents até o
litoral da América do Norte e o oeste da África. A pesca ocorre ainda, em menor
escala, nos mares Negro, Azov e Cáspio, (o esturjão do Cáspio fornece o melhor
caviar do mundo) e nos numerosos rios, lagos e reservatórios do extenso
território. Merecem menção especial os pesqueiros artificiais, que fornecem
grande parte da produção nacional de peixes.
As indústrias de madeira, polpa e papel são
particularmente importantes porque a Rússia tem as maiores reservas florestais
do mundo, nas quais predominam as coníferas. Embora boa parte das matas da zona
temperada tenha desaparecido para dar lugar ao cultivo, há na Sibéria milhões
de quilômetros quadrados de florestas sem exploração sistemática por falta de
meios de transporte.
Energia e mineração. A Rússia conta com imensa
capacidade de produção energética. Embora tenham sido construídas enormes
usinas hidrelétricas, a maior parte da energia elétrica do país procede de
centrais térmicas e nucleares.
O país é grande produtor mundial de carvão,
petróleo, turfa e gás natural, dos quais tem imensas reservas, e de minério de
ferro, de que possui jazidas consideráveis em diversas regiões, como os Urais e
a Sibéria, onde se localizam algumas das maiores usinas siderúrgicas do país. É
grande a variedade de metais não-ferrosos em áreas dispersas pelo território,
mas as reservas mais significativas estão na região dos Urais, onde se situa o
principal centro da metalurgia não-ferrosa do país. A Rússia produz ainda cobalto,
cromo, cobre, ouro, chumbo, manganês, níquel, platina, tungstênio, vanádio e
zinco.
Indústria. A grande quantidade e variedade de
matérias-primas existentes na Rússia contribuíram para o desenvolvimento da
indústria pesada. O país produz boa parte do aço e a maior parte da maquinaria
pesada de que necessita, como caldeiras a vapor, geradores, locomotivas,
tratores, automóveis, caminhões, autopeças e máquinas-ferramentas. A indústria
química também é bastante desenvolvida, graças principalmente à grande produção
de petróleo e gás. A indústria leve produz sobretudo têxteis e bens de consumo
duráveis, como geladeiras, máquinas de lavar roupa, aparelhos de rádio e
televisão etc.
Comércio e turismo. Até o final da década de
1960, o comércio exterior da Rússia soviética era pequeno, devido à política
oficial de auto-suficiência favorecida pela abundância e variedade de
matérias-primas. Quase todo o comércio externo era feito com as outras
repúblicas soviéticas e os países de economia centralizada, especialmente com
base em arranjos bilaterais e multilaterais promovidos pelo Conselho de
Assistência Econômica Mútua (Comecon).
O desaquecimento da economia soviética nas
décadas de 1970 e 1980 levou o governo a promover a importação de equipamentos
de tecnologia de ponta do Ocidente. Para pagar as importações a União Soviética
precisava de volumes crescentes de divisas, o que só poderia ser obtido com o
aumento das exportações para os países capitalistas. Nesse processo, o petróleo
e o gás natural tiveram papel de grande importância e, no final da década de
1980, foram os responsáveis por mais da metade de todas as vendas externas
soviéticas.
Com o colapso do Comecon e da União Soviética, as
antigas repúblicas soviéticas começaram a desenvolver relações comerciais próprias
com o exterior, embora continuassem interdependentes. A Rússia, com amplas
reservas de petróleo, gás e minerais de diversos tipos, ficou em posição
privilegiada para continuar as relações comerciais com os países ocidentais já
desenvolvidas pela União Soviética de passou a exportar principalmente petróleo
e derivados, gás natural, máquinas industriais, madeira e metais; e a importar
cereais, alimentos e bens de consumo. Seus principais parceiros, excluídos os
membros da CEI, são Alemanha, Estados Unidos, Japão, Reino Unido, França e
Itália.
Como acontecia com o comércio, o turismo na
Rússia soviética era predominantemente interno e proveniente das outras
repúblicas ou dos países socialistas.
Transportes e comunicações. A amplidão do
território russo e as grandes distâncias que muitas vezes separam as fontes de
matérias-primas e de gêneros alimentícios das áreas de consumo constituem um
pesado ônus para o sistema de transporte. Por isso, entre os meios de
transporte prevalecem as ferrovias, que respondem por noventa por cento do
movimento de frete e por metade do movimento de passageiros. A urbanização da
Sibéria foi realizada em estreita relação com a Estrada de Ferro Transiberiana,
fundamental para a integração e o desenvolvimento dessa vasta região.
As hidrovias são vitais nas áreas desprovidas de
ferrovias e contribuem para unir as várias regiões do país. Rios, lagos, canais
e represas formam uma extensa rede de transportes de cargas e passageiros, de
especial significado na bacia do Volga.
Excetuadas as vias que ligam os grandes centros
na planície européia, a malha rodoviária é pouco desenvolvida. Responde por
menos de dois por cento do frete e as estradas só são usadas para transporte a
pequenas distâncias ou para lugares inacessíveis por ferrovia.
As linhas aéreas domésticas respondem pelo
transporte de uma fração insignificante do total de mercadorias, em geral
artigos de grande valor que se originam de regiões remotas da Sibéria ou a elas
se destinam e às quais o avião é às vezes o único meio de acesso. O transporte
aéreo é responsável, porém, por cerca de um quinto do movimento de passageiros.
(Para dados econômicos, ver DATAPÉDIA.)
História
Origens. Povos diversos, entre eles indo-europeus
e uralo-altaicos, ocuparam o que é hoje o território russo desde o segundo
milênio antes da era cristã. Nos primeiros séculos da era cristã, povos eslavos
orientais e finlandeses instalaram-se nas estepes russas, espalharam-se pela
extensa região que se estende entre o mar Báltico e o mar Negro e se concentraram
especialmente nas bacias dos rios Dvina, Dnieper, Don e Volga. Nos séculos VIII
e IX, cresceu a penetração da região do Volga. A partir de bases nos estuários
dos rios da região báltica, grupos comerciais e militares germânicos
percorreram os territórios ocupados por tribos finlandesas e eslavas. A partir
do sul, organizações comerciais sediadas no norte da África se tornaram ativas
na região do baixo Volga, do Don e, em menor extensão, da bacia do Dnieper.
As populações nativas, dispersas e desunidas, ofereciam
pouca resistência a essas incursões. A união das tribos eslavas foi realizada
pelos varegos, grupos de guerreiros e comerciantes escandinavos que percorriam
a região e cobravam tributos das populações em forma de âmbar, peles, cera e
mel. Trocavam as mercadorias por metais preciosos e artigos de luxo com a
Bizâncio cristã e a Bagdá islâmica. Aos poucos os varegos, que os eslavos
chamavam de rus, estabeleceram-se de forma mais ou menos definitiva às margens
dos rios, e o território por eles dominado passou a se chamar Rus. Por volta do
ano 830, instalaram um centro comercial próximo à atual cidade de Riazan. A
presença de uma autoridade estatal rus na região nesse período é mencionada em
fontes ocidentais e islâmicas. Esse estado rus do Volga pode ser considerado o
primeiro antecedente político direto do estado de Kiev.
Na segunda metade do século IX, instalou-se em
Novgorod o primeiro governo central do território eslavo sob a liderança de
Rurik, príncipe de um clã escandinavo que foi considerado o fundador da
dinastia que governou Rus até 1598. No século X, os rus fortaleceram e
ampliaram seu território e suas atividades comerciais e guerreiras, um processo
que se intensificou com Sviatoslav, grande príncipe de Kiev, que deu origem à
hegemonia de seu clã e inaugurou a segunda etapa do primeiro estado eslavo
oriental. Seu filho Vladimir, que se converteu ao cristianismo e obrigou os
eslavos a adotarem a religião, organizou a estrutura política do estado de
Kiev, ampliou o reino, destruiu ou incorporou comunidades varegas independentes
e estabeleceu relações com dinastias vizinhas.
Iaroslav I, filho de Vladimir, príncipe herdeiro
de Novgorod, reuniu todo o imenso território eslavo sob o governo de Kiev e
promoveu uma ativa vida cultural. Em seu reinado foi redigido o primeiro
documento legal russo, o Direito russo. Ordenou a construção de igrejas e
mosteiros que se tornaram centros de conhecimento e doutrina religiosa. Com sua
morte, as terras foram divididas entre seus descendentes, que reinaram durante sete
gerações. Muitos desses principados prosperaram, competiram pelo poder,
guerrearam entre si e deixaram de reconhecer o poder central de Kiev, que
declinou até perder quase toda importância político-econômica com a conquista
da maior parte da Rússia pelos mongóis chefiados por Batu, neto de Gengis Khan,
em 1240.
Três centros emergiram das profundas modificações
políticas causadas pela invasão mongol: Halicz (Galícia), Novgorod e Moscou
(Moscóvia). Situada entre o rio Oka e o alto Volga, bem no centro da Rússia,
Moscou já era um grande centro de comércio continental desde o século XII. A
partir do século XIV começou sua expansão territorial e a ascensão à primazia
na região eslava. Na segunda metade do século XV, o grão-duque Ivan III anexou
Novgorod e Tver e mais tarde recusou-se a prestar tributo aos tártaros,
representantes fiscais e políticos do poder mongol no território eslavo, o que
pôs um ponto final a um jugo secular. Ivan III cunhava em suas moedas o título
de "Senhor de todas as Rússias" e, a partir daí, Moscou e Rússia
passaram a se equivaler.
Czarismo. Seu neto Ivan IV o Terrível foi o
primeiro governante russo a usar o título de czar (caesar, em latim), que
adotou ao ser coroado em 1547. Personalidade complexa e cruel, matou o próprio
filho Ivan e algumas de suas esposas. Mas seu reinado, que se estendeu até sua
morte em 1584, foi época de grandes e sistemáticas reformas e período em que
Moscou se transformou em importante centro cultural e administrativo.
Empreendeu guerras de conquistas e expansão territorial. Para comemorar
vitórias sobre adversários externos, mandou construir a catedral de São Basílio
na praça Vermelha, em frente ao Kremlin, ainda hoje um dos símbolos de Moscou.
Combateu a alta nobreza e desapropriou-lhe terras, de que se apossou.
Seu filho e sucessor, Fiodor I, inapto para o
governo, deixou a administração a cargo do cunhado de ascendência mongol, Boris
Godunov. Ao morrer, em 1598, Fiodor não deixou descendentes e com ele
desapareceu a dinastia iniciada por Rurik no século IX. Godunov se fez eleger
czar, procurou conciliar-se com a nobreza e os grupos hostis ao governo central
e reorganizou o sistema de posse da terra, o comércio e os impostos. Sua
ascensão ao trono, porém, marcou o começo da chamada "época de perturbações",
que se prolongou por 15 anos e foi causada pelo surgimento de pretendentes ao
trono que alegavam ser Dmitri, filho de Ivan IV, morto em 1591. A situação
agravou-se depois da morte de Godunov em 1605. A Rússia tornou-se palco de
lutas intensas pelo poder entre as diversas facções que se alinharam a um ou
outro dos pretendentes, algumas apoiadas pela Suécia e outras pela Polônia, que
enviaram tropas para lutar a favor de seus aliados. Uma coalizão finalmente se
formou para expulsar as tropas estrangeiras e eleger um novo czar. A escolha
recaiu em Miguel Romanov, parente distante da casa de Rurik, e com ele se
iniciou a dinastia Romanov, que governou a Rússia até 1917.
Império. O primeiro Romanov a se destacar foi
Pedro I o Grande, que no século XVIII estabeleceu as tendências sociais,
institucionais e intelectuais que dominariam a Rússia nos dois séculos
seguintes. Estendeu as fronteiras russas ao sul, leste e oeste, fundou São
Petersburgo, transformada em capital em 1712, e oficializou a denominação de
Moscóvia como Rússia. Ocidentalizou o país, inseriu-o no cenário europeu e
transformou-o no Império Russo ao assumir o título de imperador em 1721. Sua
morte em 1725 inaugurou uma fase de instabilidade política que só terminou
quando subiu ao trono Catarina II a Grande, que consolidou muitas de suas
reformas em seu longo reinado, consagrado como exemplo de despotismo
esclarecido.
Dentre os grandes feitos de Catarina, coroada
czarina em 1762, está a expansão do território imperial, principalmente a
conquista do litoral norte do mar Negro, a anexação da Criméia e a ampliação de
seus domínios para além dos Urais e ao longo do mar Cáspio, que garantiu maior
segurança militar ao império. Além disso, promoveu gestões para a modernização
do ordenamento jurídico do país, que somente viria a se concretizar no século
seguinte. Nas questões sociais, incentivou a nobreza a atividades econômicas e
culturais, para reduzir sua dependência do estado. Fixou de forma permanente os
limites das propriedades rurais dos nobres e garantiu-lhes o direito de
exploração dos recursos do solo e do subsolo. Essas medidas favoreceram a
nobreza mas agravaram a situação dos servos e levaram a revoltas que se
espalharam por todo o leste da Rússia européia na década de 1770.
O filho e sucessor de Catarina, Paulo I, procurou
reverter as reformas implantadas pela mãe. Inábil, de personalidade instável e
caprichosa, tentou melhorar a vida dos servos com medidas contraditórias e
parciais, que só agravaram a situação dos camponeses e despertaram a revolta dos
nobres. Seu ódio à revolução francesa levou-o a impor severa censura a viagens
ao exterior e a proibir tudo que fosse estrangeiro, como livros, música e
vestuário. Foi assassinado em 1801, depois de apenas cinco anos de reinado. A
ascensão de seu filho, Alexandre I, ao trono marcou o começo de um novo período
na história da Rússia imperial.
Potência européia. Quando Alexandre I assumiu o
poder, a Rússia mostrava-se hostil a quase todos os países da Europa, embora
suas tropas não estivessem engajadas em luta declarada. Em pouco tempo o czar
restabeleceu relações mais amigáveis com a França, a Grã-Bretanha e a Áustria e
tentou concentrar-se nos assuntos internos do império; o recomeço da guerra com
a França, no entanto, impediu-lhe concretizar suas políticas domésticas. Uma
trégua de cinco anos, de 1807 a 1812, permitiu que Alexandre I adotasse medidas
administrativas valiosas, embora sem a profundidade necessária para a reforma
efetiva do estado. A invasão da Rússia por Napoleão em 1812 e a formidável reação
russa mudaram a visão que a Europa tinha do império. A Rússia saiu de dois anos
de luta intensa em direção ao oeste como a maior potência territorial do
continente e a primeira a derrotar Napoleão. O prestígio obtido por essas
campanhas militares prolongou-se até a metade do século XIX. No Congresso de
Viena, em que os países vencedores discutiram em 1814 e 1815 as novas
fronteiras nacionais depois da derrota de Napoleão, Alexandre I inspirou a
criação da mística Santa Aliança, mais tarde transformada em política de
intervenção conservadora por Metternich.
A partir de então, Alexandre I ocupou-se apenas
de planos grandiosos de paz internacional e deixou a política interna entregue a um grupo
conservador, que se preocupou basicamente em manter a ordem estabelecida, a
servidão e o status quo da Rússia ortodoxa. Mas jovens russos que haviam lutado
nas guerras napoleônicas voltaram com novas idéias de liberdade e progresso,
inspiradas sobretudo no exemplo da revolução francesa e da independência dos
Estados Unidos. Uma tentativa de revolta desses grupos, em dezembro de 1825,
depois da morte de Alexandre I, foi reprimida com violência.
Seu sucessor, Nicolau I, profundamente afetado
pelas tentativas de revolta, mostrou-se opositor radical de qualquer mudança
política, embora aceitasse promover reformas administrativas. Depois das
revoluções de 1848 na Europa, cresceu sua oposição a qualquer tipo de mudança e
a toda idéia liberal. Perseguiu os intelectuais e impôs normas rígidas de
censura, o que não impediu o surgimento e a divulgação de idéias de mudanças
políticas e culturais que aproximassem a Rússia dos países mais avançados da
Europa. Em muitos setores, a Rússia da primeira metade do século XIX estava
terrivelmente atrasada em relação aos países industrializados europeus. Cumpria
abolir o sistema de servidão, há muito findo em toda a Europa, criar e promover
um modelo de industrialização, implantar uma rede de transportes e aperfeiçoar
a administração do estado. Esse atraso, camuflado pela poderosa presença russa
no cenário internacional, tornou-se nítido após a derrota na guerra da Criméia
(1853-1856), em que a Rússia combateu o Reino Unido, a França e a Turquia, e
levou às primeiras tentativas de modernização real.
A primeira medida foi tomada por Alexandre II,
que aboliu a servidão em 1861, embora pesadas restrições fossem impostas à
classe emancipada para atender às pressões dos grandes proprietários de terras.
Os camponeses tiveram que pagar pelas terras que ocupavam e consideravam suas.
A indignação de camponeses e intelectuais radicais se traduziu em movimentos
revolucionários localizados e breves, em farta literatura que incitava à
rebelião e em violenta repressão por parte do governo. Alexandre II manteve
seus planos de reforma política e econômica, embora se recusasse a aceitar um
governo nacional representativo. Para ele, o princípio do poder absoluto do
soberano era sagrado. Em outros setores, porém, instituiu um governo municipal
eleito nas principais cidades, reformou os sistemas militar e judiciário,
ampliou as redes de comunicação, principalmente as ferrovias, e aprofundou o
processo de industrialização. Para muitos, a venda do Alasca aos Estados Unidos
em 1867 foi um erro político e tático, enquanto outros consideram que a medida
foi amplamente compensada pela política de expansão para a Ásia e
principalmente a fundação de Vladivostok como a capital do extremo oriente
russo.
Apesar das muitas reformas administrativas
empreendidas e do indiscutível progresso dos camponeses depois do fim da
servidão, embora em ritmo menos acelerado do que o desejável, os movimentos
revolucionários se intensificaram e, ao lado deles, a repressão policial. Em 13
de março de 1881, Alexandre II morreu assassinado num atentado a bomba
realizado pelo grupo revolucionário Vontade do Povo.
Alexandre III manteve a firmeza de seu antecessor
na fidelidade ao princípio de poder autocrático e recusou todo tipo de reforma
política que pudesse ameaçá-lo. Adotou uma política interna extremamente
repressiva, que, no entanto, não impediu o surgimento de novos movimentos
populares, intensificados com a grande fome de 1891, causada pela quebra da
colheita do ano. A última década do século XIX marcou a radicalização de todos
os grupos que defendiam mudanças mais profundas no país. Diversos fatores
contribuíram para o agravamento da questão social. A agricultura usava métodos
arcaicos e a pobreza crescia entre os camponeses; a industrialização acelerada
produzia uma classe operária que vivia em cidades inchadas e em condições de
miséria; minorias étnicas ou religiosas, como judeus e muçulmanos, eram
perseguidas ou discriminadas e o serviço público se caracterizava pela
ineficiência e a arrogância dos burocratas. Nesse período, os socialistas
transformaram-se em marxistas sob a liderança de Georgi Plekhanov, que vivia no
exílio. Alexandre III morreu em 1894 e foi sucedido pelo filho Nicolau.
Revolução de outubro. No reinado de Nicolau II,
homem convicto de seu dever de exercer o poder autocrático, a crise social
continuou a se agravar. O operariado cresceu e suas condições de vida se
mantiveram extremamente duras e difíceis. As idéias de Marx e Engels se
difundiram pelos centros urbanos e diversas greves rebentaram em São
Petersburgo nos anos de 1896 e 1897, quando, pela primeira vez, foram feitas
reivindicações salariais e econômicas. Em 1898 surgiu o Partido
Social-Democrata dos Trabalhadores Russos, que espalhou células secretas por
todo o país. A liderança do partido, exercida por um grupo de emigrantes
russos, era apoiada e orientada pelo periódico Iskra (Faísca), que defendia as
teses políticas e revolucionárias do marxismo e era publicado na Suíça com
redação de Plekhanov e Lenin, pseudônimo de Vladimir Ilitch Ulianov.
A derrota da Rússia na guerra contra o Japão em
1905 acendeu o estopim da revolta. No dia 22 de janeiro de 1905, conhecido como
"domingo sangrento", cerca de mil trabalhadores foram metralhados
pela polícia durante manifestação pacífica em frente ao palácio do governo.
Seguiram-se reivindicações em movimentos de rua, greves operárias e levantes de
camponeses, numa verdadeira revolução popular que ameaçava, pela primeira vez,
o governo autocrático do czar. Nicolau II foi obrigado a prometer liberdades
políticas e civis e a eleição de um órgão legislativo (Duma), que se reuniu
pela primeira vez em 1906. A revolução se frustrara, mas o curso reacionário do
governo do czar não se alterou e perdeu-se a oportunidade de uma solução
pacífica. Seguiu-se uma onda de perseguições, especialmente aos judeus,
identificados como os principais líderes e incentivadores dos revolucionários.
A aliança defensiva de 1893 com a França e o
tratado de 1907 com o Reino Unido, que deram origem à Tríplice Aliança, levaram
a Rússia a entrar na primeira guerra mundial para cumprir o acordo firmado com
os aliados. Em 1915, o czar assumiu pessoalmente o comando dos exércitos. Ao
mesmo tempo, a vida na corte era motivo de crescente indignação das classes
populares e burguesas, especialmente pelo domínio que o aventureiro Grigori
Rasputin exercia sobre a imperatriz.
A entrada na guerra foi um desastre para a
nação. Já no outono de 1915 a Rússia
havia perdido mais de um milhão de homens e enfrentava sérios problemas
econômicos. A falta de mão-de-obra na agricultura e na indústria agravava a
situação de escassez de bens e alimentos e a emissão de papel-moeda adicional
desencadeou a inflação. Combalido pela guerra, a fome e as privações,
soçobrando sob a comprovada inépcia do regime czarista, o país vivia clima de
desespero.
Rasputin foi assassinado em 1916, mas o sistema
já estava condenado. O colapso sobreveio em março de 1917 (fevereiro pelo
calendário juliano), quando uma greve operária em Petrogrado, novo nome dado a
São Petersburgo durante a guerra, evoluiu para contínuas demonstrações de rua contra
o regime e para a luta interna, com o apoio das tropas de Petrogrado. Em 14 de
março, a Duma formou um governo provisório, chefiado pelo príncipe Georgi Lvov
e depois por Aleksandr Kerenski. No dia seguinte, Nicolau II, forçado a
abdicar, foi preso com toda a família.
Em 7 de novembro (25 de outubro no calendário
juliano), a ala radical do Partido Social-Democrata dos Trabalhadores Russos,
chamada bolchevique (do comparativo de "grande" em russo, usado
primeiro para designar os que favoreciam um programa socialista máximo e depois
para identificar o partido majoritário), liderada por Lenin, derrubou o governo
de Kerenski e tomou o poder. No mesmo dia foi proclamada a República Socialista
Federativa Soviética da Rússia (RSFSR).
A partir da vitória da revolução de 1917, a
história da Rússia se confunde com a da União Soviética, conjunto de repúblicas
das quais a Rússia foi a principal. Os bolcheviques constituíram um novo
governo, o Conselho dos Comissários do Povo, presidido por Lenin, e que definiu
seu poder como uma "ditadura do proletariado". Pressionado pelas
terríveis dificuldades políticas e econômicas internas e as demandas populares
pela paz, uma das mais insistentes exigências do movimento de ruas, o novo
governo assinou o Tratado de Brest-Litovsk em 3 de março de 1918, que encerrou
a participação da Rússia na guerra com a Alemanha a um enorme custo -- a
entrega aos alemães da Ucrânia (recuperada em 1919, durante a guerra civil), da
Finlândia e de seus territórios bálticos e poloneses. A capital foi transferida
de Petrogrado para Moscou por medida de segurança. Na noite de 16 para 17 de
julho de 1918, o imperador e sua família foram executados, e a dinastia Romanov
desapareceu depois de 300 anos no poder. A guerra civil e a intervenção
estrangeira adiaram o controle total da Rússia pelos bolcheviques até 1920.
União Soviética. O estabelecimento formal da
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) como uma federação de
repúblicas deu-se em 30 de dezembro de 1922, mas suas raízes estavam firmemente
plantadas no período imediatamente posterior à revolução e que essencialmente
mantinha o antigo Império Russo sob novo regime e nova forma. A República
Socialista Federativa Soviética da Rússia manteve sua posição de componente
central e maior da nova federação.
Depois da morte de Lenin, em 1924, Iosif Stalin
assumiu a liderança política e implantou na União Soviética um programa de
modernização a todo custo. Acelerou o processo de industrialização,
especialmente a indústria pesada, coletivizou à força a agricultura e
incentivou o estabelecimento de um vasto e abrangente programa de educação em
todos os níveis. Para impedir a atuação de rivais e consolidar seu poder,
Stalin realizou numerosos expurgos políticos. A União Soviética tornou-se uma
potência mundial e teve papel fundamental na derrota da Alemanha na segunda
guerra mundial. Depois disso, exerceu predominância indiscutível sobre os
países do leste europeu. Com a morte de Stalin em 1953, Nikita Khrutchev
assumiu o poder e tentou amenizar os controles rígidos sobre a sociedade
soviética enquanto mantinha sua oposição à predominância dos Estados Unidos nos
assuntos mundiais.
Em 1964, Leonid Brejnev derrubou Nikita
Khrutchev, tomou o poder e restabeleceu o controle rígido do governo sobre a
sociedade. Ao longo das décadas de 1960 e 1970, a União Soviética buscou
ampliar sua influência mundial. Depois da morte de Brejnev em 1982, uma série
de líderes buscou pôr um fim à ineficiência burocrática e à corrupção, mas com
pouco sucesso.
Gorbatchev e a dissolução da União Soviética.
Mikhail Gorbatchev assumiu o posto de secretário-geral do partido em março de
1985, disposto a transformar a União Soviética. Deu início ao processo de
reestruturação (perestroika) do sistema político e econômico da nação e a uma
nova transparência (glasnost) na discussão dos problemas públicos, aliada a
maior liberdade nos meios de expressão e manifestação política e cultural. Suas
idéias reformistas conquistaram apoio popular mas também a oposição de setores
comunistas, que não admitiam abrir mão do poder, e de grupos que exigiam maior
rapidez, profundidade e extensão das reformas. Na oposição destacou-se Boris
Yeltsin, antigo partidário de Gorbatchev, que exigia a radicalização do
processo de reformas e o encaminhamento da economia para um sistema
capitalista.
No começo da década de 1990, o reformismo
conseguira erodir o controle monolítico que os comunistas exerciam sobre o
poder na União Soviética e nos países do leste europeu. Yeltsin conquistou
adesão popular a suas posições e em 1991 foi eleito presidente da Rússia,
estabelecendo a primazia da lei russa dentro das fronteiras soviéticas. Em
agosto do mesmo ano comandou a resistência a uma fracassada tentativa de golpe
contra Gorbatchev, por membros conservadores do Partido Comunista, e emergiu da
crise com nova estatura internacional e influência política. O fracasso do
golpe permitiu o avanço do pluralismo político-partidário e das instituições
democráticas, liderado, na Rússia, por Yeltsin, e conduziu ao fim do comunismo
na União Soviética.
O poder de Gorbatchev se esvaziou e a Rússia
passou a ocupar o centro da cena. Por falta de apoio interno e externo,
Gorbatchev não conseguiu reverter o processo de expansão da soberania russa e
de desmembramento do império soviético.
Rússia pós-soviética. Em 8 de dezembro de 1991,
os presidentes da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia --repúblicas co-fundadoras da
União Soviética em 1922 -- firmaram em Minsk um acordo que declarou o fim da
união e criou a Comunidade de Estados Independentes (CEI). No dia 21, 11 países
assinaram em Almaty, capital do Casaquistão, o protocolo de criação formal da
CEI; em 25 de dezembro a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas foi
abolida e o presidente Gorbatchev renunciou. As forças armadas soviéticas foram
colocadas sob o comando da CEI. Rússia, Ucrânia, Bielorrússia e Casaquistão
dividiram o arsenal militar distribuído por seus territórios e tornaram-se
potências nucleares.
A Federação Russa passou a existir formalmente em
31 de março de 1992, quando suas repúblicas, regiões e províncias autônomas e
as cidades de Moscou e São Petersburgo assinaram o Tratado da Federação. As
exceções foram as repúblicas da Tartária e da Tchetchênia, que se declararam
separadas. O russo tornou-se a língua oficial da federação, embora cada
república tenha língua oficial própria. A Rússia assumiu a cadeira da União
Soviética no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e as
embaixadas soviéticas tornaram-se embaixadas russas.
O novo estado tomou o caminho da democracia e da
economia de mercado sem uma concepção clara de como realizar uma transformação
tão profunda e radical, e o choque da transição foi maior do que o esperado. A
euforia inicial deu lugar à luta pela sobrevivência nos termos mais
rudimentares e já superados em muitos países de economia avançada. Além das
dificuldades econômicas e políticas, o país emergia com imensos problemas
étnicos, provocados pela rebelião dos povos das regiões anexadas ainda no tempo
do império.
No Parlamento eleito em março de 1990, composto
de uma maioria ex-comunista, cresceram as divergências entre as forças
reformistas e a oposição, liderada pelo presidente do Congresso dos
Representantes do Povo, Ruslan Khasbulatov. As críticas mais severas eram
feitas ao programa de reformas de Yegor Gaidar, ministro da Fazenda. As
divergências entre Yeltsin e o vice-presidente, Aleksandr Rutskoi, agravaram-se
ao ponto do rompimento. Em setembro de 1993, Yeltsin dissolveu o Congresso de
Deputados do Povo e o Soviete Supremo e marcou para 11 e 12 de dezembro as
eleições para um parlamento bicameral. O Soviete Supremo declarou nulo o
decreto presidencial, afastou Yeltsin e proclamou o vice-presidente Aleksandr
Rutskoi presidente.
Em 27 de setembro de 1993, a sede do legislativo,
conhecida como Casa Branca, foi cercada por tropas governamentais. Liderados
por Rutskoi e Khasbulatov, cerca de 180 deputados se entrincheiraram no
edifício com partidários armados. O impasse transformou-se em conflito armado
na tarde de 3 de outubro, quando seguidores dos rebeldes invadiram e tomaram a
prefeitura de Moscou. Yeltsin declarou estado de emergência na capital e no dia
seguinte tanques do Exército bombardearam a Casa Branca. Os rebeldes se
renderam, foram presos e mais tarde acusados de incitação à desordem popular.
Na "segunda revolução de outubro" morreram aproximadamente 200
pessoas.
Em novembro, Yeltsin apresentou um projeto de
constituição, aprovado por um referendo realizado em 12 de dezembro. Os
eleitores, porém, mostraram-se indiferentes ao processo político -- o
comparecimento às urnas foi de apenas 55% do total dos eleitores. Houve
indicações claras da perda de prestígio de Yeltsin, como a eleição de um número
expressivo de candidatos de oposição às reformas e de pró-comunistas. O maior
vencedor isolado, com 22% dos votos, foi o Partido Democrata Liberal, um
partido nacionalista liderado pelo neofascista Vladimir Jirinovski, que contou
com o apoio de um terço das forças armadas.
Yeltsin reestruturou o governo em linhas mais
conservadoras e demitiu ministros que defendiam reformas radicais, mas as
dificuldades econômicas se agravaram. Em setembro de 1994, o processo de
desvalorização da moeda frente ao dólar se acelerou e culminou em 11 de
outubro, a "terça-feira negra", com a queda de vinte por cento do
valor do rublo diante do dólar. Yeltsin adotou medidas de controle da inflação
com a ajuda à maioria pobre da população, cada vez mais distante de uma minoria
que, por meios quase sempre ilegais, enriqueceu com a apropriação das empresas
estatais em processo acelerado de privatização.
As tensões regionais cresceram. Na Tchetchênia,
que se declarara independente em 1991, aumentaram de intensidade e violência os
conflitos entre os grupos pró-Rússia e os nacionalistas separatistas, liderados
pelo presidente tchetchênio Djokhar Dudaiev. Em dezembro de 1994 tropas russas
invadiram a república e seguiu-se uma guerra que demonstrou graves falhas
táticas e logísticas das forças armadas russas, a inadequação de seus
equipamentos e a desesperada resistência dos nacionalistas muçulmanos. A
capital da república, Grozni, praticamente destruída por bombardeios aéreos,
foi tomada de assalto. Muitos dos combatentes muçulmanos nacionalistas
refugiaram-se nas montanhas, dispostos a continuar a luta pela independência. A
imprensa mundial denunciou atrocidades cometidas por russos contra populações
civis.
A guerra na Tchetchênia expôs o profundo conflito
em que vivia a Rússia e que colocava em confronto muitas vezes violento
variados grupos de interesse que dispõem de poderosa influência na situação
política e social do país. Território rico em petróleo, a Tchetchênia é um dos
cenários desse conflito que, em meados da década de 1990, tinha como vencedor
indiscutível e praticamente isolado o crime organizado, talvez o único setor
com uma estrutura organizacional adequada. A chamada "máfia russa"
era predominantemente controlada por grupos de etnia tchetchena, com aparentes
ligações e ramificações internacionais.
A reação popular à guerra demonstrou que a
sociedade russa desaprovava soluções de força para os conflitos regionais. A
desagregação social nas grandes cidades, o crescimento da pobreza, as
dificuldades que os setores produtivos legais de todas as áreas enfrentam e a
queda permanente dos índices sociais mostravam que a liberação das forças de
mercado, sem mecanismos de proteção social às camadas mais vulneráveis,
implicava um custo talvez alto demais. A expressiva votação popular em
candidatos comunistas ou neofascistas mostrava que a população começava a se
desencantar com a opção pelo capitalismo.
Instituições políticas
Segundo a constituição aprovada em dezembro de
1993, a Rússia é uma república democrática, federativa e presidencialista. Os
poderes executivo, legislativo e judiciário, independentes entre si. São
reconhecidos o multipartidarismo político e o pluralismo ideológico. O estado é
secular e todas as confissões religiosas são iguais perante a lei. Todas as
leis são obrigatoriamente divulgadas e estão de acordo com os princípios
universalmente reconhecidos e com o direito internacional. As liberdades,
direitos e deveres individuais e coletivos são reconhecidos e garantida a
igualdade de todos os cidadãos diante da lei.
A Federação Russa é formada de 89 unidades
territoriais federais, que assinaram o Tratado da Federação em março de 1992.
Esse total engloba 26 repúblicas, cinqüenta regiões autônomas (oblasts), seis
territórios (krays), duas cidades autônomas, Moscou e São Petersburgo, e cinco
distritos autônomos (okrugs).
O presidente da república é o chefe de estado e
de governo e comandante-em-chefe das forças armadas. É eleito em eleições
universais e diretas para um mandato de quatro anos. Tem a prerrogativa de
escolher o primeiro-ministro, sem necessidade da aprovação do legislativo, e os
comandantes militares. O legislativo, formado pela Assembléia Federal, é um
órgão bicameral constituído pelo Conselho da Federação e a Duma Estatal. Cada
uma das 89 unidades da federação indica dois membros para o Conselho da
Federação, num total de 178. A Duma Estatal tem 450 deputados, eleitos por
sufrágio universal para um mandato de quatro anos.
O Tribunal Supremo é a autoridade judicial máxima
da justiça civil, criminal e administrativa. A pedido do Conselho da Federação,
o Supremo decide sobre acusações contra o presidente da Rússia. O Tribunal
Constitucional decide os casos relacionados à lei federal, às constituições e
estatutos e leis dos membros da Federação Russa e tratados internacionais.
Sociedade
Previdência e saúde. Uma das conseqüências das
mudanças políticas do país foi a profunda transformação que se deu no sistema
de proteção social. A antiga União Soviética, desconhecia o desemprego e todos
os trabalhadores tinham o benefício de atendimento médico gratuito, acesso
facilitado a moradia, treinamento funcional, pensões e bolsas de estudo.
Atualmente, todos os cidadãos têm direito legal a um sistema básico de
seguridade social e assistência médica. Em 1990, foi instituído um fundo de
seguridade social, formado por contribuições dos empregadores e gerido pela
Federação dos Sindicatos Independentes da Rússia, que proporciona aos
trabalhadores pagamentos por perda de rendimentos causada por doença e
benefícios à maternidade. Têm direito a aposentadoria a mulher com mais de 55
anos de idade, com período mínimo de trabalho de vinte anos, e o homem com mais
de sessenta anos, com período mínimo de trabalho de 25 anos.
Esses benefícios parecem insuficientes para a
sobrevivência da grande maioria da população. Uma cena comum nas ruas das
grandes cidades russas, especialmente em Moscou, é a proliferação de pessoas de
todas as idades vendendo mercadorias de todo tipo em praças, entradas de metrô
e ruas centrais para complementar as parcas pensões ou suprir a falta total de
rendimentos do trabalho.
Algumas medidas causaram um processo de
deterioração no sistema de saúde pública. Uma delas foi a privatização
desordenada das empresas farmacêuticas, que, sem estrutura adequada e métodos
gerenciais eficientes, sofreram prejuízos financeiros consideráveis e
suspenderam a produção. Outra medida foi a suspensão do financiamento do
sistema de saúde pelo estado, o que causou queda significativa nos níveis
salariais dos trabalhadores que se demitiram em massa. Aliadas à perda de
rendimento das populações, essas dificuldades tiveram conseqüências imediatas
na saúde da população. Aumentaram muito os casos de doenças como tifo, difteria
e disenteria e as razões dadas para isso foram condições ambientais
insatisfatórias, declínio da imunidade natural, escassez de vitaminas e
medicamentos e vacinação inadequada.
Educação. O sistema educacional altamente
centralizado da antiga União Soviética sobrevive na Rússia, cuja população é
quase toda alfabetizada. Os currículos foram inovados depois da dissolução da
União Soviética e sua adoção é livre em cada escola. É extensa a rede de
pré-escolas e alta a proporção de crianças que freqüentam creches e
jardins-de-infância. A freqüência obrigatória à escola começa aos sete anos de
idade e dura no mínimo oito anos. No começo da década de 1990, a escolaridade
média do jovem russo era em torno de dez anos. Ao lado da escola pública
gratuita em todos os níveis, surgiram na Rússia escolas particulares pagas. Os
estudantes não-russos aprendem na língua nativa, mas o russo é obrigatório no
segundo grau.
A admissão à escola superior é seletiva, com alto
nível de competição. Todo o ensino superior é feito em russo, mas em algumas
repúblicas também são usadas as línguas locais. Entre as muitas universidades
da Rússia destacam-se por seu nível de qualidade as de Moscou e São
Petersburgo.
Religião. A constituição do período soviético
garantia a liberdade de religião, mas as práticas religiosas sofriam
constrangimentos severos e era considerada incompatível a participação em
organização religiosa e no Partido Comunista. Depois da glasnost de Gorbatchev,
e especialmente depois da dissolução da União Soviética, a liberdade religiosa
tornou-se uma realidade e vastos setores da população têm aderido a confissões
as mais diversas. A Igreja Ortodoxa Russa ressurgiu como guia moral de grande
parte da população e muitas outras religiões dos grupos minoritários, em
particular o islamismo, começaram a ganhar força depois de décadas de repressão
soviética.
Comunicações. Ao longo da história do estado
soviético, os meios de comunicação foram controlados pelo governo e o Partido
Comunista. Com as mudanças políticas do começo da década de 1990, porém, a
imprensa russa tornou-se uma das mais livres do mundo. Os maiores problemas são
a escassez de papel de imprensa e equipamentos e o desmantelamento das
instalações de distribuição durante as mudanças. (Para dados sobre sociedade,
ver DATAPÉDIA).
Cultura
O antigo estado soviético tentou criar uma
identidade cultural única num estado formado por centenas de culturas nacionais
e étnicas multisseculares e diferenciadas, mas a tentativa fracassou e as
atividades culturais se centralizaram na Rússia, enquanto nas diversas
repúblicas foram incentivadas as manifestações folclóricas locais. Na primeira
década depois da revolução soviética, o governo tentou conciliar a prática
artística com a ideologia estatal universalista sob o comando do Partido
Comunista. A tolerância oficial com formas de experimentação cultural originou
uma explosão de criatividade em literatura, pintura, cinema e teatro.
Na década de 1930, o estado, sob o controle de
Stalin, decidiu implantar uma cultura monolítica e gradualmente fecharam-se as
vias de expressão de artistas que divergiam da política cultural do estado.
Este impôs a todas as áreas da manifestação artística a estética do realismo
socialista, que, nas décadas de 1930 e 1940, predominou na literatura, nas
artes plásticas, no cinema e na música. Os artistas que produziam na forma
aprovada recebiam prêmios e bens não disponíveis à maioria da população; os que
se rebelavam sofriam diversos tipos de punição, desde a censura absoluta até a
prisão em campos de concentração, dos quais muitos nunca retornaram.
Houve uma relativa liberalização no governo de
Khrutchev, mas a repressão voltou na década de 1960 e com ela nasceu uma
dissidência, em que artistas e escritores divulgavam trabalhos de forma
clandestina. A repressão nessa fase foi menos dura do que na época de Stalin.
Os artistas não eram mais condenados à morte, mas encorajados a emigrar.
O período final da cultura soviética começou com
a política da glasnost de Gorbatchev. A censura foi abolida, surgiram editoras
independentes, artistas exilados voltaram e periódicos competiram pela
publicação de livros antes banidos. O colapso da União Soviética deu aos
artistas uma liberdade desconhecida desde a revolução de 1917, mas o complexo
sistema de subsídios estatais para as artes desapareceu.
Todavia, a política cultural soviética teve
também conseqüências positivas. Promoveu a alfabetização universal, multiplicou
em poucos anos a produção de livros, criou bibliotecas, museus e instituições
culturais em toda união, fundou instituições de pesquisa e experimentação nas
mais diversas áreas científicas e realizou um amplo trabalho de elevação do
nível cultural da população das diversas nacionalidades, que, em muitos casos
puderam, pela primeira vez, ler textos em sua língua e estudá-la nas escolas.
Literatura, música e dança ocuparam
historicamente as posições mais proeminentes na vida cultural russa. Os
escritores mais conhecidos são do século XIX e começo do século XX e entre eles
se destacam Aleksandr Puchkin, Nikolai Gogol, Lev Tolstoi, Fiodor Dostoievski,
Anton Tchekhov e Maksim Gorki.
O século XIX produziu também grandes compositores
russos, como Aleksandr Borodin, Modest Mussorgski, Nikolai Rimski-Korsakov e
Piotr Tchaikovski. No período que se seguiu à revolução, criadores como Serguei
Rachmaninov, Igor Stravinski, Serguei Prokofiev e Dmitri Chostakovitch
mantiveram a vitalidade da música soviética com suas sinfonias, óperas e balés,
embora, como sucedeu em outros campos da criação artística, tivessem
dificuldade de acompanhar as modificações que a música ocidental experimentou.
Entre os intérpretes figuram alguns dos grandes nomes internacionais do século
XX, como o violinista David Oistrakh, o violoncelista Mstislav Rostropovitch e
o pianista Sviatoslav Richter.
A tradição do teatro realista russo tem no
trabalho do diretor Konstantin Stanilavski, do Teatro de Arte de Moscou, seu
modelo mais importante. As principais companhias teatrais de balé são o Bolshoi
de Moscou (1776) e o Kirov de São Petersburgo (1735). O balé russo, que
produziu grandes estrelas como Iekaterina Geltzer e Galina Ulanova, exerceu um
papel essencial na formação da dança ocidental pela atuação de personalidades
como Serguei Diaghilev e Vaslav Nijinski. São famosos em todo o mundo os coros
e grupos de dança folclórica, tanto russos como de outras etnias.
Nas artes plásticas, as escolas russas medievais
de Moscou e Novgorod seguiram a tradição bizantina na elaboração de ícones, que
ainda influencia a pintura. No século XIX e começo do século XX, os pintores
cultos incorporaram elementos ocidentais a sua arte e exerceram influência
poderosa na Europa. Pouco antes da revolução começavam suas carreiras artistas
de importância mundial como Vassili Kandinski e Marc Chagall, que tiveram
intensa atuação nos primeiros anos da vida artística soviética, mas emigraram
no começo da década de 1920 por discordarem dos rumos da arte no país. Como
ocorreu nas outras manifestações artísticas, as artes plásticas foram sufocadas
pela obrigatoriedade de adoção da estética do realismo socialista e, embora
muitos artistas tenham produzido obras inovadoras na clandestinidade, as obras
visíveis limitaram-se a monumentos oficiais, decorativos e patrióticos.
O cinema soviético também se beneficiou da
ebulição criativa dos primeiros anos do governo revolucionário e seu diretor
mais famoso, Serguei Eisenstein, produziu obras-primas do cinema mundial. A
imposição da estética do realismo socialista causou menos danos ao cinema do
que às outras manifestações artísticas e nas décadas de 1960 e 1970 surgiram
diretores e filmes de grande sucesso artístico.
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