domingo, 19 de maio de 2013

Rússia






Herdeira do caos econômico, social e político que resultou da dissolução da União Soviética, a Rússia passou a enfrentar desafios extraordinários: estabelecer a identidade nacional de uma população de grande variedade étnica e cultural; conquistar seu lugar no cenário internacional; e implantar a economia de mercado e a democracia liberal de estilo ocidental numa nação em que, ao longo da história, predominaram figuras fortes como Pedro o Grande, Catarina a Grande e Stalin.
A Rússia é o país de maior extensão territorial do mundo, com uma área de 17.075.400km2 que se estende por uma vasta proporção do leste da Europa e todo o norte da Ásia. Limita-se ao norte com o oceano Ártico; a leste com o oceano Pacífico; ao sul com Coréia do Norte, China, Mongólia e as ex-repúblicas soviéticas do Casaquistão, Azerbaijão e Geórgia; e a oeste com o mar Negro, as ex-repúblicas soviéticas da Ucrânia, Bielorrússia, Lituânia, Letônia e Estônia, o mar Báltico, Finlândia e Noruega. Junto à Lituânia localiza-se o encrave da província de Kaliningrado, tocando a Polônia.
No reinado do czar Pedro o Grande, o território até então conhecido como Moscóvia recebeu, em 1721, o nome de Império Russo. Após a revolução de outubro de 1917, tornou-se, em 30 de dezembro de 1922, uma das repúblicas da União Soviética, com o nome de República Socialista Federativa Soviética da Rússia (RSFSR). Com a dissolução do estado soviético em dezembro de 1991, recuperou a independência sob a denominação de Rússia ou, oficialmente, Federação Russa. Formou, com a maioria das antigas repúblicas soviéticas, a Comunidade dos Estados Independentes (CEI).
Geografia física
Relevo. Na extensão territorial russa há grande variedade de relevo, estrutura dos solos e clima. As principais regiões, do oeste para o leste, são a planície russa (ou do leste europeu), os montes Urais, a planície da Sibéria ocidental, o planalto da Sibéria central e o extremo leste.
A planície russa ocupa o noroeste do país e vai do mar Báltico, a oeste, aos Urais, a leste, e do Ártico, ao norte, aos mares Negro e Báltico, ao sul. Na metade norte da planície, que já foi coberta por geleiras, há numerosos lagos e pantanais entre os vales dos rios; na parte sul, as bacias hidrográficas ocupam terras mais altas, cortadas por desfiladeiros e vales. Na planície russa situam-se os rios economicamente mais importantes, o Don e o Volga.
Os montes Urais, fronteira tradicional entre a Europa e a Ásia, estendem-se por uma faixa de 2.100km que corre no sentido de norte a sul e separam a planície russa da planície da Sibéria ocidental. Seu ponto mais alto, o monte Narodnaia, tem 1.895m de altitude; outros picos variam de 900 a 1.500m. Os numerosos desfiladeiros impedem que os Urais se tornem intransponíveis para os transportes terrestres.
A leste dos Urais situa-se uma das mais extensas faixas de baixadas do mundo, a planície da Sibéria ocidental, drenada pelos rios Ienissei e Ob. A planície funde-se com o planalto da Sibéria central, cujas altitudes variam de 300 a 700m entre as bacias dos rios Ienissei e Lena.
O extremo leste da Rússia confina com o oceano Pacífico e tem na orla várias cadeias de montanhas. Inclui ainda as penínsulas de Kamtchatka e Tchuktchi, a ilha Sakhalin e as ilhas Kurilas.
Clima. A distância dos oceanos faz com que na maior parte da Rússia as condições climáticas sejam do tipo continental, com invernos muito frios e verões quentes ou amenos de acordo com a latitude. O extremo norte é praticamente inabitável devido aos invernos muito longos e rigorosos. O clima continental se agrava à medida que se avança para o leste e é particularmente pronunciado no extremo leste da Sibéria, que experimenta invernos intensamente frios. Abaixo da faixa do extremo norte da Rússia européia, a passagem de ventos atlânticos suaviza a temperatura e ocasiona precipitações, quase sempre de neve. Na região sul o clima é subtropical.
A temperatura média em Moscou é de 19°C em julho e de -9°C em janeiro, com precipitação média anual de 575mm. Já em Verkhoiansk, no extremo nordeste da Sibéria, a média térmica de janeiro cai a - 49°C. Nessa região, a precipitação é quase nula.
Hidrografia. Nas imensas planícies que dominam a paisagem russa situam-se alguns dos mais longos rios do mundo. Distinguem-se cinco bacias principais: as dos oceanos Ártico e Pacífico e as dos mares Báltico, Negro e Cáspio. A mais extensa é a do Ártico, que se localiza essencialmente na Sibéria, mas inclui também a região norte da planície russa. A maior parte dessa bacia é banhada por três rios gigantescos: o Ob (e seu principal tributário, o Irtish), o Ienissei e o Lena. Outros rios dessa bacia são o Dvina, o Petchora, o Indigirka e o Kolima. Na bacia do Pacífico destaca-se o sistema do Amur, que forma parte da fronteira entre a Rússia e a China. Três bacias cobrem a Rússia européia ao sul da bacia do Ártico. Os sistemas do Dnieper e do Don fluem para o sul e desembocam no mar Negro; uma pequena bacia no setor noroeste deságua no Báltico; e o sistema do Volga, o maior rio do setor europeu da Rússia, desemboca no mar Cáspio.
São numerosos e geralmente imensos os lagos naturais e artificiais da Rússia. No setor europeu, destacam-se os lagos Ladoga e Onega e o reservatório de Ribinsk, no Volga; na Sibéria, merecem ser citados o Baikal, o maior lago de água doce do mundo, e o reservatório Bratsk, um dos maiores do mundo.
Flora e fauna. As paisagens vegetais e os diversos tipos de solo apresentam-se de modo geral superpostos e se distribuem em cinturões paralelos de norte a sul do país. No extremo norte, as ilhas do Ártico e a península de Taimir são um deserto ártico no qual apenas musgos e liquens sobrevivem no gelo. Em toda a costa do Ártico estende-se a tundra, que cobre quase dez por cento das terras russas e é constituída de musgos, liquens e pequenos arbustos que servem de alimento a animais selvagens e manadas de renas. Ao sul desse cinturão aparecem espécies arbóreas e a seguir surge a taiga, formação florestal que cobre mais da metade do país e constitui a mais extensa das zonas naturais do país. Pinheiros, bétulas e cedros formam enormes florestas nas quais aparecem com freqüência superfícies pantanosas, em virtude do difícil escoamento das águas nas grandes planícies.
Ao sul da taiga predominam florestas mistas de coníferas e espécies de climas mais temperados. O cinturão de florestas mistas tem forma triangular, mais largo ao longo da fronteira ocidental e mais estreito à medida que se aproxima dos Urais, com decréscimo das chuvas e invernos mais rigorosos. A seguir, sempre no sentido sul, um novo cinturão de vegetação constitui a estepe mista, seguida pela estepe propriamente dita, formada de pradarias herbáceas quase sem árvores e que se tornam progressivamente mais secas até se converterem em semideserto. No extremo sul do país, na Ásia central, as condições climáticas são de verdadeiro deserto.
A fauna russa, variada e rica, distribui-se de acordo com as zonas climáticas. Nas regiões árticas vivem aves e mamíferos vinculados à vida marinha, como ursos polares, focas, morsas, gaivotas e mergulhões. São típicos da região da tundra a raposa ártica, a rena e a perdiz branca. Gansos, cisnes e patos migram para a tundra no verão. Há grande abundância de vida animal na taiga, onde podem ser encontrados alces, ursos pardos, renas, linces, martas e, nas zonas temperadas, mamíferos como o javali e o visom, aves como o verdilhão e o rouxinol e vários tipos de serpentes, lagartos e tartarugas. Nas estepes herbáceas vivem raposas, marmotas, grous, águias e calhandras. Nas áreas mediterrâneas encontram-se cabras montesas, bisões, veados, javalis, leopardos, hienas, ursos, chacais e numerosas espécies de aves e répteis.
População
Etnias e línguas. Os eslavos, sobretudo russos, formam a imensa maioria étnica da Rússia e desempenharam durante séculos o papel principal na vida política, econômica e cultural do Império Russo e da União Soviética. No país vivem ainda membros de 75 outros grupos étnicos, geralmente pequenos, alguns em seus locais de origem e que formaram repúblicas que constituem a Federação Russa. Apenas três outras etnias -- tártaros, ucranianos e tchuvaches -- atingem mais de um por cento da população. A multiplicidade de povos se evidencia na quantidade de divisões do território em repúblicas, províncias e distritos autônomos e regiões e províncias sem autonomia.
A população da Rússia divide-se em grandes grupos lingüísticos. O grupo balto-eslavo, a que pertence o russo, a língua oficial, é o de maior presença no país, sobretudo na parte oeste. No grupo altaico, que se concentra na Ásia central, incluem-se o turco, o manchu e as línguas mongólicas. O grupo uraliano, que compreende diversas línguas, está amplamente disseminado na floresta eurasiana e nas zonas de tundra. O grupo caucásico fala várias línguas e vive na região russa do norte do Cáucaso. Outros grupos lingüísticos menores vivem no extremo leste da Sibéria e têm grande variedade de línguas.
Estrutura demográfica. Uma característica demográfica marcante, na parte européia da Rússia, tem sido a rápida queda da taxa de natalidade, devido à crescente urbanização, à intensa presença da mulher no mercado de trabalho e ao enfraquecimento do modelo familiar tradicional. Já as repúblicas da parte asiática apresentam uma taxa de natalidade bem superior. No fim do século XX a pirâmide etária mostrava curva acentuada, maior no lado masculino do que no feminino, devido à perda de população ocorrida durante a segunda guerra mundial -- mais de vinte milhões de óbitos, cerca de metade do total em todo o mundo.
A população distribui-se de forma muito desigual, com a grande maioria concentrada na faixa territorial mais adequada à produção agrícola: as grandes planícies da região européia, à exceção dos desertos do sudeste, e um estreito corredor que corta a Sibéria ao longo da linha da estrada de ferro transiberiana que chega ao extremo sudeste do país. É também densa a população das terras em torno do Cáucaso e dos vales irrigados da Ásia central. Três quartos da população da Rússia é urbana.
Migrações. São reduzidos os movimentos migratórios para fora das fronteiras russas, mas as migrações internas são intensas, especialmente para as grandes cidades e as regiões do mar Negro, o Cáucaso e o extremo sul da Ásia central. Na década de 1980 aumentou muito a migração do setor europeu para a Sibéria e o extremo leste, mas permaneceu inalterada a tendência a evitar algumas áreas. A falta de habitantes impede o progresso de algumas regiões de enorme potencial econômico, como o norte da Sibéria.
Cidades. No começo da década de 1990, cerca de 160 cidades tinham população superior a cem mil habitantes. Dois grandes núcleos urbanos se destacam pela densidade populacional: Moscou, a capital, e São Petersburgo, antiga Leningrado. A grande distância delas ficam as cidades de Cheliabinsk, Kazan, Nijni Novgorod (antiga Gorki), Novossibirsk, Omsk, Perm, Rostov-na-Donu, Samara, Iekaterinburg, Ufa e Volgogrado (antiga Stalingrado). (Para dados demográficos, ver DATAPÉDIA.)
Economia
Entre 1917 e 1991 a Rússia, pelo tamanho e abundância de recursos naturais, exerceu papel de liderança na economia da União Soviética. O esforço realizado pelos governos posteriores à revolução de 1917 foi essencial para a modernização da economia, orientada segundo diretrizes socialistas. A partir do final da segunda guerra mundial, a economia soviética passou a ser considerada a segunda do mundo, superada apenas pela dos Estados Unidos.
Na década de 1980, contudo, iniciou-se um período de relativa estagnação, provocada por profundos desajustes internos. Era notória a escassez de bens de consumo, como automóveis e eletrodomésticos, e o rápido crescimento do Japão parecia haver relegado a economia soviética ao terceiro posto mundial.
Depois da dissolução da União Soviética em 1991, o governo russo decretou uma série de reformas radicais com o objetivo de realizar a conversão gradual da economia, que deixaria de ser planificada e de controle centralizado para tornar-se uma economia de mercado. Foi iniciado o processo de privatização das empresas estatais, aboliram-se quase todos os controles de preços e criaram-se empresas privadas. O efeito imediato das medidas foi uma súbita e generalizada elevação de preços, que gerou incertezas e aumentou as grandes dificuldades com que se deparava o povo nessa fase de mudanças e incertezas.
Os indicadores econômicos da primeira metade da década de 1990 não deixavam dúvidas quanto a uma profunda crise, embora o retrocesso se tornasse gradualmente menos acelerado: o produto interno bruto (PIB) caiu 19% em 1992 e 12% em 1993; o orçamento anual apresentou déficits seguidos (dez por cento do PIB em 1993); caíram de forma constante os índices de produção de quase todos os setores, sobretudo agricultura, energia, indústria e comércio exterior; e a inflação crescente tornou-se uma ameaça à estabilidade econômica e política e fator de desagregação social. Além disso, era alarmante o crescimento do crime organizado, que não só prejudicava a economia como afugentava os investidores estrangeiros, que, até meados da década de 1995, fizeram investimentos muito modestos, embora a Rússia tenha se tornado membro do Fundo Monetário Internacional (FMI) em junho de 1992.
Agricultura, pecuária, pesca e recursos florestais. A severidade do clima russo limita o percentual de terra usada para a agricultura e a pecuária -- as terras agrícolas constituem menos de um sexto do território total. Cerca de três quintos da terra arável destina-se ao cultivo e o restante é ocupado por pastagens e campinas.
Os principais produtos agrícolas do país são tradicionalmente os cereais, que ocupam bem mais da metade da terra cultivada. O trigo é o mais importante deles, seguido de cevada, centeio e aveia. O cultivo de forragem, inclusive o milho, constitui mais de um terço do total da lavoura e o que resta é destinado a culturas industriais, como girassol, beterraba e linho, e a plantações de batata e outros vegetais. O país produz metade da necessidade interna de carne e leite.
Quase sempre a colheita não é suficiente para as necessidades internas nacionais, em parte pelas grandes variações climáticas e em parte pelas ineficiências do sistema de produção das fazendas coletivas estatais. Em 1990 o governo deu início a um programa de instalação de fazendas particulares na tentativa de melhorar o desempenho do setor agropecuário.
A indústria da pesca tem papel significativo na economia graças ao acesso russo aos oceanos Atlântico e Pacífico. No Atlântico, sua frota atua numa vasta região que se estende desde o mar de Barents até o litoral da América do Norte e o oeste da África. A pesca ocorre ainda, em menor escala, nos mares Negro, Azov e Cáspio, (o esturjão do Cáspio fornece o melhor caviar do mundo) e nos numerosos rios, lagos e reservatórios do extenso território. Merecem menção especial os pesqueiros artificiais, que fornecem grande parte da produção nacional de peixes.
As indústrias de madeira, polpa e papel são particularmente importantes porque a Rússia tem as maiores reservas florestais do mundo, nas quais predominam as coníferas. Embora boa parte das matas da zona temperada tenha desaparecido para dar lugar ao cultivo, há na Sibéria milhões de quilômetros quadrados de florestas sem exploração sistemática por falta de meios de transporte.
Energia e mineração. A Rússia conta com imensa capacidade de produção energética. Embora tenham sido construídas enormes usinas hidrelétricas, a maior parte da energia elétrica do país procede de centrais térmicas e nucleares.
O país é grande produtor mundial de carvão, petróleo, turfa e gás natural, dos quais tem imensas reservas, e de minério de ferro, de que possui jazidas consideráveis em diversas regiões, como os Urais e a Sibéria, onde se localizam algumas das maiores usinas siderúrgicas do país. É grande a variedade de metais não-ferrosos em áreas dispersas pelo território, mas as reservas mais significativas estão na região dos Urais, onde se situa o principal centro da metalurgia não-ferrosa do país. A Rússia produz ainda cobalto, cromo, cobre, ouro, chumbo, manganês, níquel, platina, tungstênio, vanádio e zinco.
Indústria. A grande quantidade e variedade de matérias-primas existentes na Rússia contribuíram para o desenvolvimento da indústria pesada. O país produz boa parte do aço e a maior parte da maquinaria pesada de que necessita, como caldeiras a vapor, geradores, locomotivas, tratores, automóveis, caminhões, autopeças e máquinas-ferramentas. A indústria química também é bastante desenvolvida, graças principalmente à grande produção de petróleo e gás. A indústria leve produz sobretudo têxteis e bens de consumo duráveis, como geladeiras, máquinas de lavar roupa, aparelhos de rádio e televisão etc.
Comércio e turismo. Até o final da década de 1960, o comércio exterior da Rússia soviética era pequeno, devido à política oficial de auto-suficiência favorecida pela abundância e variedade de matérias-primas. Quase todo o comércio externo era feito com as outras repúblicas soviéticas e os países de economia centralizada, especialmente com base em arranjos bilaterais e multilaterais promovidos pelo Conselho de Assistência Econômica Mútua (Comecon).
O desaquecimento da economia soviética nas décadas de 1970 e 1980 levou o governo a promover a importação de equipamentos de tecnologia de ponta do Ocidente. Para pagar as importações a União Soviética precisava de volumes crescentes de divisas, o que só poderia ser obtido com o aumento das exportações para os países capitalistas. Nesse processo, o petróleo e o gás natural tiveram papel de grande importância e, no final da década de 1980, foram os responsáveis por mais da metade de todas as vendas externas soviéticas.
Com o colapso do Comecon e da União Soviética, as antigas repúblicas soviéticas começaram a desenvolver relações comerciais próprias com o exterior, embora continuassem interdependentes. A Rússia, com amplas reservas de petróleo, gás e minerais de diversos tipos, ficou em posição privilegiada para continuar as relações comerciais com os países ocidentais já desenvolvidas pela União Soviética de passou a exportar principalmente petróleo e derivados, gás natural, máquinas industriais, madeira e metais; e a importar cereais, alimentos e bens de consumo. Seus principais parceiros, excluídos os membros da CEI, são Alemanha, Estados Unidos, Japão, Reino Unido, França e Itália.
Como acontecia com o comércio, o turismo na Rússia soviética era predominantemente interno e proveniente das outras repúblicas ou dos países socialistas.
Transportes e comunicações. A amplidão do território russo e as grandes distâncias que muitas vezes separam as fontes de matérias-primas e de gêneros alimentícios das áreas de consumo constituem um pesado ônus para o sistema de transporte. Por isso, entre os meios de transporte prevalecem as ferrovias, que respondem por noventa por cento do movimento de frete e por metade do movimento de passageiros. A urbanização da Sibéria foi realizada em estreita relação com a Estrada de Ferro Transiberiana, fundamental para a integração e o desenvolvimento dessa vasta região.
As hidrovias são vitais nas áreas desprovidas de ferrovias e contribuem para unir as várias regiões do país. Rios, lagos, canais e represas formam uma extensa rede de transportes de cargas e passageiros, de especial significado na bacia do Volga.
Excetuadas as vias que ligam os grandes centros na planície européia, a malha rodoviária é pouco desenvolvida. Responde por menos de dois por cento do frete e as estradas só são usadas para transporte a pequenas distâncias ou para lugares inacessíveis por ferrovia.
As linhas aéreas domésticas respondem pelo transporte de uma fração insignificante do total de mercadorias, em geral artigos de grande valor que se originam de regiões remotas da Sibéria ou a elas se destinam e às quais o avião é às vezes o único meio de acesso. O transporte aéreo é responsável, porém, por cerca de um quinto do movimento de passageiros. (Para dados econômicos, ver DATAPÉDIA.)
História
Origens. Povos diversos, entre eles indo-europeus e uralo-altaicos, ocuparam o que é hoje o território russo desde o segundo milênio antes da era cristã. Nos primeiros séculos da era cristã, povos eslavos orientais e finlandeses instalaram-se nas estepes russas, espalharam-se pela extensa região que se estende entre o mar Báltico e o mar Negro e se concentraram especialmente nas bacias dos rios Dvina, Dnieper, Don e Volga. Nos séculos VIII e IX, cresceu a penetração da região do Volga. A partir de bases nos estuários dos rios da região báltica, grupos comerciais e militares germânicos percorreram os territórios ocupados por tribos finlandesas e eslavas. A partir do sul, organizações comerciais sediadas no norte da África se tornaram ativas na região do baixo Volga, do Don e, em menor extensão, da bacia do Dnieper.
As populações nativas, dispersas e desunidas, ofereciam pouca resistência a essas incursões. A união das tribos eslavas foi realizada pelos varegos, grupos de guerreiros e comerciantes escandinavos que percorriam a região e cobravam tributos das populações em forma de âmbar, peles, cera e mel. Trocavam as mercadorias por metais preciosos e artigos de luxo com a Bizâncio cristã e a Bagdá islâmica. Aos poucos os varegos, que os eslavos chamavam de rus, estabeleceram-se de forma mais ou menos definitiva às margens dos rios, e o território por eles dominado passou a se chamar Rus. Por volta do ano 830, instalaram um centro comercial próximo à atual cidade de Riazan. A presença de uma autoridade estatal rus na região nesse período é mencionada em fontes ocidentais e islâmicas. Esse estado rus do Volga pode ser considerado o primeiro antecedente político direto do estado de Kiev.
Na segunda metade do século IX, instalou-se em Novgorod o primeiro governo central do território eslavo sob a liderança de Rurik, príncipe de um clã escandinavo que foi considerado o fundador da dinastia que governou Rus até 1598. No século X, os rus fortaleceram e ampliaram seu território e suas atividades comerciais e guerreiras, um processo que se intensificou com Sviatoslav, grande príncipe de Kiev, que deu origem à hegemonia de seu clã e inaugurou a segunda etapa do primeiro estado eslavo oriental. Seu filho Vladimir, que se converteu ao cristianismo e obrigou os eslavos a adotarem a religião, organizou a estrutura política do estado de Kiev, ampliou o reino, destruiu ou incorporou comunidades varegas independentes e estabeleceu relações com dinastias vizinhas.
Iaroslav I, filho de Vladimir, príncipe herdeiro de Novgorod, reuniu todo o imenso território eslavo sob o governo de Kiev e promoveu uma ativa vida cultural. Em seu reinado foi redigido o primeiro documento legal russo, o Direito russo. Ordenou a construção de igrejas e mosteiros que se tornaram centros de conhecimento e doutrina religiosa. Com sua morte, as terras foram divididas entre seus descendentes, que reinaram durante sete gerações. Muitos desses principados prosperaram, competiram pelo poder, guerrearam entre si e deixaram de reconhecer o poder central de Kiev, que declinou até perder quase toda importância político-econômica com a conquista da maior parte da Rússia pelos mongóis chefiados por Batu, neto de Gengis Khan, em 1240.
Três centros emergiram das profundas modificações políticas causadas pela invasão mongol: Halicz (Galícia), Novgorod e Moscou (Moscóvia). Situada entre o rio Oka e o alto Volga, bem no centro da Rússia, Moscou já era um grande centro de comércio continental desde o século XII. A partir do século XIV começou sua expansão territorial e a ascensão à primazia na região eslava. Na segunda metade do século XV, o grão-duque Ivan III anexou Novgorod e Tver e mais tarde recusou-se a prestar tributo aos tártaros, representantes fiscais e políticos do poder mongol no território eslavo, o que pôs um ponto final a um jugo secular. Ivan III cunhava em suas moedas o título de "Senhor de todas as Rússias" e, a partir daí, Moscou e Rússia passaram a se equivaler.
Czarismo. Seu neto Ivan IV o Terrível foi o primeiro governante russo a usar o título de czar (caesar, em latim), que adotou ao ser coroado em 1547. Personalidade complexa e cruel, matou o próprio filho Ivan e algumas de suas esposas. Mas seu reinado, que se estendeu até sua morte em 1584, foi época de grandes e sistemáticas reformas e período em que Moscou se transformou em importante centro cultural e administrativo. Empreendeu guerras de conquistas e expansão territorial. Para comemorar vitórias sobre adversários externos, mandou construir a catedral de São Basílio na praça Vermelha, em frente ao Kremlin, ainda hoje um dos símbolos de Moscou. Combateu a alta nobreza e desapropriou-lhe terras, de que se apossou.
Seu filho e sucessor, Fiodor I, inapto para o governo, deixou a administração a cargo do cunhado de ascendência mongol, Boris Godunov. Ao morrer, em 1598, Fiodor não deixou descendentes e com ele desapareceu a dinastia iniciada por Rurik no século IX. Godunov se fez eleger czar, procurou conciliar-se com a nobreza e os grupos hostis ao governo central e reorganizou o sistema de posse da terra, o comércio e os impostos. Sua ascensão ao trono, porém, marcou o começo da chamada "época de perturbações", que se prolongou por 15 anos e foi causada pelo surgimento de pretendentes ao trono que alegavam ser Dmitri, filho de Ivan IV, morto em 1591. A situação agravou-se depois da morte de Godunov em 1605. A Rússia tornou-se palco de lutas intensas pelo poder entre as diversas facções que se alinharam a um ou outro dos pretendentes, algumas apoiadas pela Suécia e outras pela Polônia, que enviaram tropas para lutar a favor de seus aliados. Uma coalizão finalmente se formou para expulsar as tropas estrangeiras e eleger um novo czar. A escolha recaiu em Miguel Romanov, parente distante da casa de Rurik, e com ele se iniciou a dinastia Romanov, que governou a Rússia até 1917.
Império. O primeiro Romanov a se destacar foi Pedro I o Grande, que no século XVIII estabeleceu as tendências sociais, institucionais e intelectuais que dominariam a Rússia nos dois séculos seguintes. Estendeu as fronteiras russas ao sul, leste e oeste, fundou São Petersburgo, transformada em capital em 1712, e oficializou a denominação de Moscóvia como Rússia. Ocidentalizou o país, inseriu-o no cenário europeu e transformou-o no Império Russo ao assumir o título de imperador em 1721. Sua morte em 1725 inaugurou uma fase de instabilidade política que só terminou quando subiu ao trono Catarina II a Grande, que consolidou muitas de suas reformas em seu longo reinado, consagrado como exemplo de despotismo esclarecido.
Dentre os grandes feitos de Catarina, coroada czarina em 1762, está a expansão do território imperial, principalmente a conquista do litoral norte do mar Negro, a anexação da Criméia e a ampliação de seus domínios para além dos Urais e ao longo do mar Cáspio, que garantiu maior segurança militar ao império. Além disso, promoveu gestões para a modernização do ordenamento jurídico do país, que somente viria a se concretizar no século seguinte. Nas questões sociais, incentivou a nobreza a atividades econômicas e culturais, para reduzir sua dependência do estado. Fixou de forma permanente os limites das propriedades rurais dos nobres e garantiu-lhes o direito de exploração dos recursos do solo e do subsolo. Essas medidas favoreceram a nobreza mas agravaram a situação dos servos e levaram a revoltas que se espalharam por todo o leste da Rússia européia na década de 1770.
O filho e sucessor de Catarina, Paulo I, procurou reverter as reformas implantadas pela mãe. Inábil, de personalidade instável e caprichosa, tentou melhorar a vida dos servos com medidas contraditórias e parciais, que só agravaram a situação dos camponeses e despertaram a revolta dos nobres. Seu ódio à revolução francesa levou-o a impor severa censura a viagens ao exterior e a proibir tudo que fosse estrangeiro, como livros, música e vestuário. Foi assassinado em 1801, depois de apenas cinco anos de reinado. A ascensão de seu filho, Alexandre I, ao trono marcou o começo de um novo período na história da Rússia imperial.
Potência européia. Quando Alexandre I assumiu o poder, a Rússia mostrava-se hostil a quase todos os países da Europa, embora suas tropas não estivessem engajadas em luta declarada. Em pouco tempo o czar restabeleceu relações mais amigáveis com a França, a Grã-Bretanha e a Áustria e tentou concentrar-se nos assuntos internos do império; o recomeço da guerra com a França, no entanto, impediu-lhe concretizar suas políticas domésticas. Uma trégua de cinco anos, de 1807 a 1812, permitiu que Alexandre I adotasse medidas administrativas valiosas, embora sem a profundidade necessária para a reforma efetiva do estado. A invasão da Rússia por Napoleão em 1812 e a formidável reação russa mudaram a visão que a Europa tinha do império. A Rússia saiu de dois anos de luta intensa em direção ao oeste como a maior potência territorial do continente e a primeira a derrotar Napoleão. O prestígio obtido por essas campanhas militares prolongou-se até a metade do século XIX. No Congresso de Viena, em que os países vencedores discutiram em 1814 e 1815 as novas fronteiras nacionais depois da derrota de Napoleão, Alexandre I inspirou a criação da mística Santa Aliança, mais tarde transformada em política de intervenção conservadora por Metternich.
A partir de então, Alexandre I ocupou-se apenas de planos grandiosos de paz internacional e deixou a  política interna entregue a um grupo conservador, que se preocupou basicamente em manter a ordem estabelecida, a servidão e o status quo da Rússia ortodoxa. Mas jovens russos que haviam lutado nas guerras napoleônicas voltaram com novas idéias de liberdade e progresso, inspiradas sobretudo no exemplo da revolução francesa e da independência dos Estados Unidos. Uma tentativa de revolta desses grupos, em dezembro de 1825, depois da morte de Alexandre I, foi reprimida com violência.
Seu sucessor, Nicolau I, profundamente afetado pelas tentativas de revolta, mostrou-se opositor radical de qualquer mudança política, embora aceitasse promover reformas administrativas. Depois das revoluções de 1848 na Europa, cresceu sua oposição a qualquer tipo de mudança e a toda idéia liberal. Perseguiu os intelectuais e impôs normas rígidas de censura, o que não impediu o surgimento e a divulgação de idéias de mudanças políticas e culturais que aproximassem a Rússia dos países mais avançados da Europa. Em muitos setores, a Rússia da primeira metade do século XIX estava terrivelmente atrasada em relação aos países industrializados europeus. Cumpria abolir o sistema de servidão, há muito findo em toda a Europa, criar e promover um modelo de industrialização, implantar uma rede de transportes e aperfeiçoar a administração do estado. Esse atraso, camuflado pela poderosa presença russa no cenário internacional, tornou-se nítido após a derrota na guerra da Criméia (1853-1856), em que a Rússia combateu o Reino Unido, a França e a Turquia, e levou às primeiras tentativas de modernização real.
A primeira medida foi tomada por Alexandre II, que aboliu a servidão em 1861, embora pesadas restrições fossem impostas à classe emancipada para atender às pressões dos grandes proprietários de terras. Os camponeses tiveram que pagar pelas terras que ocupavam e consideravam suas. A indignação de camponeses e intelectuais radicais se traduziu em movimentos revolucionários localizados e breves, em farta literatura que incitava à rebelião e em violenta repressão por parte do governo. Alexandre II manteve seus planos de reforma política e econômica, embora se recusasse a aceitar um governo nacional representativo. Para ele, o princípio do poder absoluto do soberano era sagrado. Em outros setores, porém, instituiu um governo municipal eleito nas principais cidades, reformou os sistemas militar e judiciário, ampliou as redes de comunicação, principalmente as ferrovias, e aprofundou o processo de industrialização. Para muitos, a venda do Alasca aos Estados Unidos em 1867 foi um erro político e tático, enquanto outros consideram que a medida foi amplamente compensada pela política de expansão para a Ásia e principalmente a fundação de Vladivostok como a capital do extremo oriente russo.
Apesar das muitas reformas administrativas empreendidas e do indiscutível progresso dos camponeses depois do fim da servidão, embora em ritmo menos acelerado do que o desejável, os movimentos revolucionários se intensificaram e, ao lado deles, a repressão policial. Em 13 de março de 1881, Alexandre II morreu assassinado num atentado a bomba realizado pelo grupo revolucionário Vontade do Povo.
Alexandre III manteve a firmeza de seu antecessor na fidelidade ao princípio de poder autocrático e recusou todo tipo de reforma política que pudesse ameaçá-lo. Adotou uma política interna extremamente repressiva, que, no entanto, não impediu o surgimento de novos movimentos populares, intensificados com a grande fome de 1891, causada pela quebra da colheita do ano. A última década do século XIX marcou a radicalização de todos os grupos que defendiam mudanças mais profundas no país. Diversos fatores contribuíram para o agravamento da questão social. A agricultura usava métodos arcaicos e a pobreza crescia entre os camponeses; a industrialização acelerada produzia uma classe operária que vivia em cidades inchadas e em condições de miséria; minorias étnicas ou religiosas, como judeus e muçulmanos, eram perseguidas ou discriminadas e o serviço público se caracterizava pela ineficiência e a arrogância dos burocratas. Nesse período, os socialistas transformaram-se em marxistas sob a liderança de Georgi Plekhanov, que vivia no exílio. Alexandre III morreu em 1894 e foi sucedido pelo filho Nicolau.
Revolução de outubro. No reinado de Nicolau II, homem convicto de seu dever de exercer o poder autocrático, a crise social continuou a se agravar. O operariado cresceu e suas condições de vida se mantiveram extremamente duras e difíceis. As idéias de Marx e Engels se difundiram pelos centros urbanos e diversas greves rebentaram em São Petersburgo nos anos de 1896 e 1897, quando, pela primeira vez, foram feitas reivindicações salariais e econômicas. Em 1898 surgiu o Partido Social-Democrata dos Trabalhadores Russos, que espalhou células secretas por todo o país. A liderança do partido, exercida por um grupo de emigrantes russos, era apoiada e orientada pelo periódico Iskra (Faísca), que defendia as teses políticas e revolucionárias do marxismo e era publicado na Suíça com redação de Plekhanov e Lenin, pseudônimo de Vladimir Ilitch Ulianov.
A derrota da Rússia na guerra contra o Japão em 1905 acendeu o estopim da revolta. No dia 22 de janeiro de 1905, conhecido como "domingo sangrento", cerca de mil trabalhadores foram metralhados pela polícia durante manifestação pacífica em frente ao palácio do governo. Seguiram-se reivindicações em movimentos de rua, greves operárias e levantes de camponeses, numa verdadeira revolução popular que ameaçava, pela primeira vez, o governo autocrático do czar. Nicolau II foi obrigado a prometer liberdades políticas e civis e a eleição de um órgão legislativo (Duma), que se reuniu pela primeira vez em 1906. A revolução se frustrara, mas o curso reacionário do governo do czar não se alterou e perdeu-se a oportunidade de uma solução pacífica. Seguiu-se uma onda de perseguições, especialmente aos judeus, identificados como os principais líderes e incentivadores dos revolucionários.
A aliança defensiva de 1893 com a França e o tratado de 1907 com o Reino Unido, que deram origem à Tríplice Aliança, levaram a Rússia a entrar na primeira guerra mundial para cumprir o acordo firmado com os aliados. Em 1915, o czar assumiu pessoalmente o comando dos exércitos. Ao mesmo tempo, a vida na corte era motivo de crescente indignação das classes populares e burguesas, especialmente pelo domínio que o aventureiro Grigori Rasputin exercia sobre a imperatriz.
A entrada na guerra foi um desastre para a nação.  Já no outono de 1915 a Rússia havia perdido mais de um milhão de homens e enfrentava sérios problemas econômicos. A falta de mão-de-obra na agricultura e na indústria agravava a situação de escassez de bens e alimentos e a emissão de papel-moeda adicional desencadeou a inflação. Combalido pela guerra, a fome e as privações, soçobrando sob a comprovada inépcia do regime czarista, o país vivia clima de desespero.
Rasputin foi assassinado em 1916, mas o sistema já estava condenado. O colapso sobreveio em março de 1917 (fevereiro pelo calendário juliano), quando uma greve operária em Petrogrado, novo nome dado a São Petersburgo durante a guerra, evoluiu para contínuas demonstrações de rua contra o regime e para a luta interna, com o apoio das tropas de Petrogrado. Em 14 de março, a Duma formou um governo provisório, chefiado pelo príncipe Georgi Lvov e depois por Aleksandr Kerenski. No dia seguinte, Nicolau II, forçado a abdicar, foi preso com toda a família.
Em 7 de novembro (25 de outubro no calendário juliano), a ala radical do Partido Social-Democrata dos Trabalhadores Russos, chamada bolchevique (do comparativo de "grande" em russo, usado primeiro para designar os que favoreciam um programa socialista máximo e depois para identificar o partido majoritário), liderada por Lenin, derrubou o governo de Kerenski e tomou o poder. No mesmo dia foi proclamada a República Socialista Federativa Soviética da Rússia (RSFSR).
A partir da vitória da revolução de 1917, a história da Rússia se confunde com a da União Soviética, conjunto de repúblicas das quais a Rússia foi a principal. Os bolcheviques constituíram um novo governo, o Conselho dos Comissários do Povo, presidido por Lenin, e que definiu seu poder como uma "ditadura do proletariado". Pressionado pelas terríveis dificuldades políticas e econômicas internas e as demandas populares pela paz, uma das mais insistentes exigências do movimento de ruas, o novo governo assinou o Tratado de Brest-Litovsk em 3 de março de 1918, que encerrou a participação da Rússia na guerra com a Alemanha a um enorme custo -- a entrega aos alemães da Ucrânia (recuperada em 1919, durante a guerra civil), da Finlândia e de seus territórios bálticos e poloneses. A capital foi transferida de Petrogrado para Moscou por medida de segurança. Na noite de 16 para 17 de julho de 1918, o imperador e sua família foram executados, e a dinastia Romanov desapareceu depois de 300 anos no poder. A guerra civil e a intervenção estrangeira adiaram o controle total da Rússia pelos bolcheviques até 1920.
União Soviética. O estabelecimento formal da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) como uma federação de repúblicas deu-se em 30 de dezembro de 1922, mas suas raízes estavam firmemente plantadas no período imediatamente posterior à revolução e que essencialmente mantinha o antigo Império Russo sob novo regime e nova forma. A República Socialista Federativa Soviética da Rússia manteve sua posição de componente central e maior da nova federação.
Depois da morte de Lenin, em 1924, Iosif Stalin assumiu a liderança política e implantou na União Soviética um programa de modernização a todo custo. Acelerou o processo de industrialização, especialmente a indústria pesada, coletivizou à força a agricultura e incentivou o estabelecimento de um vasto e abrangente programa de educação em todos os níveis. Para impedir a atuação de rivais e consolidar seu poder, Stalin realizou numerosos expurgos políticos. A União Soviética tornou-se uma potência mundial e teve papel fundamental na derrota da Alemanha na segunda guerra mundial. Depois disso, exerceu predominância indiscutível sobre os países do leste europeu. Com a morte de Stalin em 1953, Nikita Khrutchev assumiu o poder e tentou amenizar os controles rígidos sobre a sociedade soviética enquanto mantinha sua oposição à predominância dos Estados Unidos nos assuntos mundiais.
Em 1964, Leonid Brejnev derrubou Nikita Khrutchev, tomou o poder e restabeleceu o controle rígido do governo sobre a sociedade. Ao longo das décadas de 1960 e 1970, a União Soviética buscou ampliar sua influência mundial. Depois da morte de Brejnev em 1982, uma série de líderes buscou pôr um fim à ineficiência burocrática e à corrupção, mas com pouco sucesso.
Gorbatchev e a dissolução da União Soviética. Mikhail Gorbatchev assumiu o posto de secretário-geral do partido em março de 1985, disposto a transformar a União Soviética. Deu início ao processo de reestruturação (perestroika) do sistema político e econômico da nação e a uma nova transparência (glasnost) na discussão dos problemas públicos, aliada a maior liberdade nos meios de expressão e manifestação política e cultural. Suas idéias reformistas conquistaram apoio popular mas também a oposição de setores comunistas, que não admitiam abrir mão do poder, e de grupos que exigiam maior rapidez, profundidade e extensão das reformas. Na oposição destacou-se Boris Yeltsin, antigo partidário de Gorbatchev, que exigia a radicalização do processo de reformas e o encaminhamento da economia para um sistema capitalista.
No começo da década de 1990, o reformismo conseguira erodir o controle monolítico que os comunistas exerciam sobre o poder na União Soviética e nos países do leste europeu. Yeltsin conquistou adesão popular a suas posições e em 1991 foi eleito presidente da Rússia, estabelecendo a primazia da lei russa dentro das fronteiras soviéticas. Em agosto do mesmo ano comandou a resistência a uma fracassada tentativa de golpe contra Gorbatchev, por membros conservadores do Partido Comunista, e emergiu da crise com nova estatura internacional e influência política. O fracasso do golpe permitiu o avanço do pluralismo político-partidário e das instituições democráticas, liderado, na Rússia, por Yeltsin, e conduziu ao fim do comunismo na União Soviética.
O poder de Gorbatchev se esvaziou e a Rússia passou a ocupar o centro da cena. Por falta de apoio interno e externo, Gorbatchev não conseguiu reverter o processo de expansão da soberania russa e de desmembramento do império soviético.
Rússia pós-soviética. Em 8 de dezembro de 1991, os presidentes da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia --repúblicas co-fundadoras da União Soviética em 1922 -- firmaram em Minsk um acordo que declarou o fim da união e criou a Comunidade de Estados Independentes (CEI). No dia 21, 11 países assinaram em Almaty, capital do Casaquistão, o protocolo de criação formal da CEI; em 25 de dezembro a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas foi abolida e o presidente Gorbatchev renunciou. As forças armadas soviéticas foram colocadas sob o comando da CEI. Rússia, Ucrânia, Bielorrússia e Casaquistão dividiram o arsenal militar distribuído por seus territórios e tornaram-se potências nucleares.
A Federação Russa passou a existir formalmente em 31 de março de 1992, quando suas repúblicas, regiões e províncias autônomas e as cidades de Moscou e São Petersburgo assinaram o Tratado da Federação. As exceções foram as repúblicas da Tartária e da Tchetchênia, que se declararam separadas. O russo tornou-se a língua oficial da federação, embora cada república tenha língua oficial própria. A Rússia assumiu a cadeira da União Soviética no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e as embaixadas soviéticas tornaram-se embaixadas russas.
O novo estado tomou o caminho da democracia e da economia de mercado sem uma concepção clara de como realizar uma transformação tão profunda e radical, e o choque da transição foi maior do que o esperado. A euforia inicial deu lugar à luta pela sobrevivência nos termos mais rudimentares e já superados em muitos países de economia avançada. Além das dificuldades econômicas e políticas, o país emergia com imensos problemas étnicos, provocados pela rebelião dos povos das regiões anexadas ainda no tempo do império.
No Parlamento eleito em março de 1990, composto de uma maioria ex-comunista, cresceram as divergências entre as forças reformistas e a oposição, liderada pelo presidente do Congresso dos Representantes do Povo, Ruslan Khasbulatov. As críticas mais severas eram feitas ao programa de reformas de Yegor Gaidar, ministro da Fazenda. As divergências entre Yeltsin e o vice-presidente, Aleksandr Rutskoi, agravaram-se ao ponto do rompimento. Em setembro de 1993, Yeltsin dissolveu o Congresso de Deputados do Povo e o Soviete Supremo e marcou para 11 e 12 de dezembro as eleições para um parlamento bicameral. O Soviete Supremo declarou nulo o decreto presidencial, afastou Yeltsin e proclamou o vice-presidente Aleksandr Rutskoi presidente.
Em 27 de setembro de 1993, a sede do legislativo, conhecida como Casa Branca, foi cercada por tropas governamentais. Liderados por Rutskoi e Khasbulatov, cerca de 180 deputados se entrincheiraram no edifício com partidários armados. O impasse transformou-se em conflito armado na tarde de 3 de outubro, quando seguidores dos rebeldes invadiram e tomaram a prefeitura de Moscou. Yeltsin declarou estado de emergência na capital e no dia seguinte tanques do Exército bombardearam a Casa Branca. Os rebeldes se renderam, foram presos e mais tarde acusados de incitação à desordem popular. Na "segunda revolução de outubro" morreram aproximadamente 200 pessoas.
Em novembro, Yeltsin apresentou um projeto de constituição, aprovado por um referendo realizado em 12 de dezembro. Os eleitores, porém, mostraram-se indiferentes ao processo político -- o comparecimento às urnas foi de apenas 55% do total dos eleitores. Houve indicações claras da perda de prestígio de Yeltsin, como a eleição de um número expressivo de candidatos de oposição às reformas e de pró-comunistas. O maior vencedor isolado, com 22% dos votos, foi o Partido Democrata Liberal, um partido nacionalista liderado pelo neofascista Vladimir Jirinovski, que contou com o apoio de um terço das forças armadas.
Yeltsin reestruturou o governo em linhas mais conservadoras e demitiu ministros que defendiam reformas radicais, mas as dificuldades econômicas se agravaram. Em setembro de 1994, o processo de desvalorização da moeda frente ao dólar se acelerou e culminou em 11 de outubro, a "terça-feira negra", com a queda de vinte por cento do valor do rublo diante do dólar. Yeltsin adotou medidas de controle da inflação com a ajuda à maioria pobre da população, cada vez mais distante de uma minoria que, por meios quase sempre ilegais, enriqueceu com a apropriação das empresas estatais em processo acelerado de privatização.
As tensões regionais cresceram. Na Tchetchênia, que se declarara independente em 1991, aumentaram de intensidade e violência os conflitos entre os grupos pró-Rússia e os nacionalistas separatistas, liderados pelo presidente tchetchênio Djokhar Dudaiev. Em dezembro de 1994 tropas russas invadiram a república e seguiu-se uma guerra que demonstrou graves falhas táticas e logísticas das forças armadas russas, a inadequação de seus equipamentos e a desesperada resistência dos nacionalistas muçulmanos. A capital da república, Grozni, praticamente destruída por bombardeios aéreos, foi tomada de assalto. Muitos dos combatentes muçulmanos nacionalistas refugiaram-se nas montanhas, dispostos a continuar a luta pela independência. A imprensa mundial denunciou atrocidades cometidas por russos contra populações civis.
A guerra na Tchetchênia expôs o profundo conflito em que vivia a Rússia e que colocava em confronto muitas vezes violento variados grupos de interesse que dispõem de poderosa influência na situação política e social do país. Território rico em petróleo, a Tchetchênia é um dos cenários desse conflito que, em meados da década de 1990, tinha como vencedor indiscutível e praticamente isolado o crime organizado, talvez o único setor com uma estrutura organizacional adequada. A chamada "máfia russa" era predominantemente controlada por grupos de etnia tchetchena, com aparentes ligações e ramificações internacionais.
A reação popular à guerra demonstrou que a sociedade russa desaprovava soluções de força para os conflitos regionais. A desagregação social nas grandes cidades, o crescimento da pobreza, as dificuldades que os setores produtivos legais de todas as áreas enfrentam e a queda permanente dos índices sociais mostravam que a liberação das forças de mercado, sem mecanismos de proteção social às camadas mais vulneráveis, implicava um custo talvez alto demais. A expressiva votação popular em candidatos comunistas ou neofascistas mostrava que a população começava a se desencantar com a opção pelo capitalismo.
Instituições políticas
Segundo a constituição aprovada em dezembro de 1993, a Rússia é uma república democrática, federativa e presidencialista. Os poderes executivo, legislativo e judiciário, independentes entre si. São reconhecidos o multipartidarismo político e o pluralismo ideológico. O estado é secular e todas as confissões religiosas são iguais perante a lei. Todas as leis são obrigatoriamente divulgadas e estão de acordo com os princípios universalmente reconhecidos e com o direito internacional. As liberdades, direitos e deveres individuais e coletivos são reconhecidos e garantida a igualdade de todos os cidadãos diante da lei.
A Federação Russa é formada de 89 unidades territoriais federais, que assinaram o Tratado da Federação em março de 1992. Esse total engloba 26 repúblicas, cinqüenta regiões autônomas (oblasts), seis territórios (krays), duas cidades autônomas, Moscou e São Petersburgo, e cinco distritos autônomos (okrugs).
O presidente da república é o chefe de estado e de governo e comandante-em-chefe das forças armadas. É eleito em eleições universais e diretas para um mandato de quatro anos. Tem a prerrogativa de escolher o primeiro-ministro, sem necessidade da aprovação do legislativo, e os comandantes militares. O legislativo, formado pela Assembléia Federal, é um órgão bicameral constituído pelo Conselho da Federação e a Duma Estatal. Cada uma das 89 unidades da federação indica dois membros para o Conselho da Federação, num total de 178. A Duma Estatal tem 450 deputados, eleitos por sufrágio universal para um mandato de quatro anos.
O Tribunal Supremo é a autoridade judicial máxima da justiça civil, criminal e administrativa. A pedido do Conselho da Federação, o Supremo decide sobre acusações contra o presidente da Rússia. O Tribunal Constitucional decide os casos relacionados à lei federal, às constituições e estatutos e leis dos membros da Federação Russa e tratados internacionais.
Sociedade
Previdência e saúde. Uma das conseqüências das mudanças políticas do país foi a profunda transformação que se deu no sistema de proteção social. A antiga União Soviética, desconhecia o desemprego e todos os trabalhadores tinham o benefício de atendimento médico gratuito, acesso facilitado a moradia, treinamento funcional, pensões e bolsas de estudo. Atualmente, todos os cidadãos têm direito legal a um sistema básico de seguridade social e assistência médica. Em 1990, foi instituído um fundo de seguridade social, formado por contribuições dos empregadores e gerido pela Federação dos Sindicatos Independentes da Rússia, que proporciona aos trabalhadores pagamentos por perda de rendimentos causada por doença e benefícios à maternidade. Têm direito a aposentadoria a mulher com mais de 55 anos de idade, com período mínimo de trabalho de vinte anos, e o homem com mais de sessenta anos, com período mínimo de trabalho de 25 anos.
Esses benefícios parecem insuficientes para a sobrevivência da grande maioria da população. Uma cena comum nas ruas das grandes cidades russas, especialmente em Moscou, é a proliferação de pessoas de todas as idades vendendo mercadorias de todo tipo em praças, entradas de metrô e ruas centrais para complementar as parcas pensões ou suprir a falta total de rendimentos do trabalho.
Algumas medidas causaram um processo de deterioração no sistema de saúde pública. Uma delas foi a privatização desordenada das empresas farmacêuticas, que, sem estrutura adequada e métodos gerenciais eficientes, sofreram prejuízos financeiros consideráveis e suspenderam a produção. Outra medida foi a suspensão do financiamento do sistema de saúde pelo estado, o que causou queda significativa nos níveis salariais dos trabalhadores que se demitiram em massa. Aliadas à perda de rendimento das populações, essas dificuldades tiveram conseqüências imediatas na saúde da população. Aumentaram muito os casos de doenças como tifo, difteria e disenteria e as razões dadas para isso foram condições ambientais insatisfatórias, declínio da imunidade natural, escassez de vitaminas e medicamentos e vacinação inadequada.
Educação. O sistema educacional altamente centralizado da antiga União Soviética sobrevive na Rússia, cuja população é quase toda alfabetizada. Os currículos foram inovados depois da dissolução da União Soviética e sua adoção é livre em cada escola. É extensa a rede de pré-escolas e alta a proporção de crianças que freqüentam creches e jardins-de-infância. A freqüência obrigatória à escola começa aos sete anos de idade e dura no mínimo oito anos. No começo da década de 1990, a escolaridade média do jovem russo era em torno de dez anos. Ao lado da escola pública gratuita em todos os níveis, surgiram na Rússia escolas particulares pagas. Os estudantes não-russos aprendem na língua nativa, mas o russo é obrigatório no segundo grau.
A admissão à escola superior é seletiva, com alto nível de competição. Todo o ensino superior é feito em russo, mas em algumas repúblicas também são usadas as línguas locais. Entre as muitas universidades da Rússia destacam-se por seu nível de qualidade as de Moscou e São Petersburgo.
Religião. A constituição do período soviético garantia a liberdade de religião, mas as práticas religiosas sofriam constrangimentos severos e era considerada incompatível a participação em organização religiosa e no Partido Comunista. Depois da glasnost de Gorbatchev, e especialmente depois da dissolução da União Soviética, a liberdade religiosa tornou-se uma realidade e vastos setores da população têm aderido a confissões as mais diversas. A Igreja Ortodoxa Russa ressurgiu como guia moral de grande parte da população e muitas outras religiões dos grupos minoritários, em particular o islamismo, começaram a ganhar força depois de décadas de repressão soviética.
Comunicações. Ao longo da história do estado soviético, os meios de comunicação foram controlados pelo governo e o Partido Comunista. Com as mudanças políticas do começo da década de 1990, porém, a imprensa russa tornou-se uma das mais livres do mundo. Os maiores problemas são a escassez de papel de imprensa e equipamentos e o desmantelamento das instalações de distribuição durante as mudanças. (Para dados sobre sociedade, ver DATAPÉDIA).
Cultura
O antigo estado soviético tentou criar uma identidade cultural única num estado formado por centenas de culturas nacionais e étnicas multisseculares e diferenciadas, mas a tentativa fracassou e as atividades culturais se centralizaram na Rússia, enquanto nas diversas repúblicas foram incentivadas as manifestações folclóricas locais. Na primeira década depois da revolução soviética, o governo tentou conciliar a prática artística com a ideologia estatal universalista sob o comando do Partido Comunista. A tolerância oficial com formas de experimentação cultural originou uma explosão de criatividade em literatura, pintura, cinema e teatro.
Na década de 1930, o estado, sob o controle de Stalin, decidiu implantar uma cultura monolítica e gradualmente fecharam-se as vias de expressão de artistas que divergiam da política cultural do estado. Este impôs a todas as áreas da manifestação artística a estética do realismo socialista, que, nas décadas de 1930 e 1940, predominou na literatura, nas artes plásticas, no cinema e na música. Os artistas que produziam na forma aprovada recebiam prêmios e bens não disponíveis à maioria da população; os que se rebelavam sofriam diversos tipos de punição, desde a censura absoluta até a prisão em campos de concentração, dos quais muitos nunca retornaram.
Houve uma relativa liberalização no governo de Khrutchev, mas a repressão voltou na década de 1960 e com ela nasceu uma dissidência, em que artistas e escritores divulgavam trabalhos de forma clandestina. A repressão nessa fase foi menos dura do que na época de Stalin. Os artistas não eram mais condenados à morte, mas encorajados a emigrar.
O período final da cultura soviética começou com a política da glasnost de Gorbatchev. A censura foi abolida, surgiram editoras independentes, artistas exilados voltaram e periódicos competiram pela publicação de livros antes banidos. O colapso da União Soviética deu aos artistas uma liberdade desconhecida desde a revolução de 1917, mas o complexo sistema de subsídios estatais para as artes desapareceu.
Todavia, a política cultural soviética teve também conseqüências positivas. Promoveu a alfabetização universal, multiplicou em poucos anos a produção de livros, criou bibliotecas, museus e instituições culturais em toda união, fundou instituições de pesquisa e experimentação nas mais diversas áreas científicas e realizou um amplo trabalho de elevação do nível cultural da população das diversas nacionalidades, que, em muitos casos puderam, pela primeira vez, ler textos em sua língua e estudá-la nas escolas.
Literatura, música e dança ocuparam historicamente as posições mais proeminentes na vida cultural russa. Os escritores mais conhecidos são do século XIX e começo do século XX e entre eles se destacam Aleksandr Puchkin, Nikolai Gogol, Lev Tolstoi, Fiodor Dostoievski, Anton Tchekhov e Maksim Gorki.
O século XIX produziu também grandes compositores russos, como Aleksandr Borodin, Modest Mussorgski, Nikolai Rimski-Korsakov e Piotr Tchaikovski. No período que se seguiu à revolução, criadores como Serguei Rachmaninov, Igor Stravinski, Serguei Prokofiev e Dmitri Chostakovitch mantiveram a vitalidade da música soviética com suas sinfonias, óperas e balés, embora, como sucedeu em outros campos da criação artística, tivessem dificuldade de acompanhar as modificações que a música ocidental experimentou. Entre os intérpretes figuram alguns dos grandes nomes internacionais do século XX, como o violinista David Oistrakh, o violoncelista Mstislav Rostropovitch e o pianista Sviatoslav Richter.
A tradição do teatro realista russo tem no trabalho do diretor Konstantin Stanilavski, do Teatro de Arte de Moscou, seu modelo mais importante. As principais companhias teatrais de balé são o Bolshoi de Moscou (1776) e o Kirov de São Petersburgo (1735). O balé russo, que produziu grandes estrelas como Iekaterina Geltzer e Galina Ulanova, exerceu um papel essencial na formação da dança ocidental pela atuação de personalidades como Serguei Diaghilev e Vaslav Nijinski. São famosos em todo o mundo os coros e grupos de dança folclórica, tanto russos como de outras etnias.
Nas artes plásticas, as escolas russas medievais de Moscou e Novgorod seguiram a tradição bizantina na elaboração de ícones, que ainda influencia a pintura. No século XIX e começo do século XX, os pintores cultos incorporaram elementos ocidentais a sua arte e exerceram influência poderosa na Europa. Pouco antes da revolução começavam suas carreiras artistas de importância mundial como Vassili Kandinski e Marc Chagall, que tiveram intensa atuação nos primeiros anos da vida artística soviética, mas emigraram no começo da década de 1920 por discordarem dos rumos da arte no país. Como ocorreu nas outras manifestações artísticas, as artes plásticas foram sufocadas pela obrigatoriedade de adoção da estética do realismo socialista e, embora muitos artistas tenham produzido obras inovadoras na clandestinidade, as obras visíveis limitaram-se a monumentos oficiais, decorativos e patrióticos.
O cinema soviético também se beneficiou da ebulição criativa dos primeiros anos do governo revolucionário e seu diretor mais famoso, Serguei Eisenstein, produziu obras-primas do cinema mundial. A imposição da estética do realismo socialista causou menos danos ao cinema do que às outras manifestações artísticas e nas décadas de 1960 e 1970 surgiram diretores e filmes de grande sucesso artístico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário