domingo, 19 de maio de 2013

Suíça



Vários pequenos territórios zelosos de sua autonomia, nos quais se falam quatro idiomas e se praticam duas religiões historicamente conflitantes, compõem a Suíça, país que foi capaz de manter sua independência, no centro da Europa, diante de vizinhos poderosos.
A Suíça (em alemão, Schweiz; em francês, Suisse; em italiano, Svizzera; a forma latina Helvetia é usada em selos postais) é um pequeno país europeu com 41.284km2 de superfície, que se limita ao norte com a Alemanha, a leste com Áustria e Liechtenstein, ao sul com a Itália e a oeste com a França. A fronteira bastante recortada é formada, em grande parte, por acidentes geográficos naturais.
Geografia
Geologia e relevo. A metade meridional da Suíça é dominada pelos Alpes, que se estendem na direção sudoeste-nordeste e cujos maciços principais denominam-se Alpes Berneses, Valaisianos, Tessinianos e Réticos. Compõem-se de duas cadeias principais, separadas pelos profundos vales dos rios Ródano e Reno. Na cadeia meridional, junto à fronteira com a Itália, erguem-se os picos mais elevados do país. O ponto culminante é o Dufour, cume do maciço do monte Rosa, na fronteira ítalo-suíça, com 4.634m. O Dufour, juntamente com o Matterhorn ou Cervino (4.478m), o Dom (4.545m) e outros picos, integra uma extensa zona coberta por neves perpétuas. Nos Alpes setentrionais, os montes Jungfrau, Mönch e Finsteraarhorn superam 4.000m de altitude.
Paralela à fronteira francesa, no noroeste do país, ergue-se a cadeia do Jura, de estrutura geológica mais simples e mais baixa do que a alpina. Entre as duas formações montanhosas, há um planalto sulcado de colinas, o Mittelland ("terra do meio"), a uma altitude que varia entre 250 e 600m. O Mittelland abrange aproximadamente um quarto da superfície do país e se estende do lago Léman, ou Genebra, no sudoeste, até o Constança, no nordeste.
Clima. O clima é em geral frio, mas varia com a altitude. A ação dos ventos atlânticos, úmidos e temperados, pode ser sentida na maior parte do país, que recebe precipitações abundantes. Há uma sensível influência continental na região norte. Nas montanhas dos Alpes e do Jura, a temperatura média gira em torno de 15°C no verão e -1°C no inverno. No planalto central, o clima é menos rude: registra-se em Berna, no mês de julho, 19°C. Nas montanhas com mais de 3.500m, as precipitações caem sempre sob a forma de neve.
Hidrografia. O território suíço é o principal divisor de águas da Europa. No desfiladeiro de São Gotardo, maior nó hidrográfico do país, nascem o Reno, que percorre 375km de terras suíças, atravessa a Alemanha e vai desembocar no mar do Norte; o Ródano, que penetra na França e alcança o mar Mediterrâneo; o Inn, que se une na Áustria ao Danúbio, da vertente do mar Negro; e o Ticino, tributário do maior rio italiano, o Pó, que deságua no mar Adriático. A rede hidrográfica é bastante densa e inclui ainda o Aar, afluente do Reno, e seu tributário, o Reuss.
Há também numerosos lagos, muitos de origem glacial; os maiores são o lago Léman (Genebra), com 582km2, o Constança (538km2), o Neuchâtel (216km2), o Maior (212km2) e o Quatro Cantões (114km2). A topografia acidentada proporciona elevado potencial hidráulico e muitos rios e lagos são aproveitados também para a navegação mercante e turística.
Flora e fauna. Predomina na Suíça a vegetação rasteira: prados e pastagens cobrem 43% do território, mas também é importante o revestimento arbóreo. As florestas revestem 24% do território, com árvores de elevado porte (coníferas, faias etc.). As terras próprias para a agricultura estão situadas no planalto central, ou Mittelland.
A fauna suíça é predominantemente alpina, mas também se podem encontrar espécies próprias do sul e do centro-norte da Europa. Os animais são protegidos por lei, exceto durante uma breve estação anual de caça. Entre as espécies mais comuns estão a marmota, o coelho, a raposa, o texugo, a camurça, a lontra e o veado, além de numerosas espécies de aves.
População
O território suíço foi invadido e habitado ao longo da história por etruscos, romanos, réticos e germânicos. Os tipos físicos predominantes são o alpino, o nórdico, o eslavo e o dinárico. O crescimento vegetativo da população tendia a ser nulo no final do século XX, ao passo que a imigração, procedente sobretudo da Áustria, Itália e outros países mediterrâneos, tem sido intensa desde a década de 1940.
Aproximadamente três quintos dos suíços falam alemão; dois quintos, francês; menos de um quinto, italiano; e uma pequena minoria que habita os Alpes orientais conserva uma língua reto-românica, o romanche, que, embora seja reconhecida como a quarta língua nacional, não é considerada oficial. São línguas oficiais apenas o francês, o alemão e o italiano. Existem também numerosos dialetos locais. Os católicos romanos formam um pouco menos de metade da população. Os protestantes representam mais de quarenta por cento, e há uma minoria de judeus e muçulmanos.
A população tende a se concentrar no Mittelland, onde se encontram as principais cidades. Embora ofereçam serviços comparáveis aos dos maiores centros urbanos da Europa, essas cidades apresentam tamanho mediano. As mais populosas são Zurique, destacado centro financeiro; Basiléia, cidade industrial e grande porto fluvial; Berna, a capital federal; Lausanne e Genebra, na área de língua francesa, sendo a última sede de importantes organizações internacionais. (Para dados demográficos, ver DATAPÉDIA.)
Economia
A Suíça tem uma economia de mercado desenvolvida, baseada essencialmente no comércio exterior e em transações bancárias internacionais, assim como em indústrias leves e pesadas. A economia é altamente dependente da mão-de-obra estrangeira, que representa aproximadamente 25% da força de trabalho do país. O produto nacional bruto cresce mais rapidamente do que a população e a renda per capita é a mais alta do mundo.
Agricultura, pecuária e extrativismo. A agricultura é um importante setor da economia, apesar da pobreza do solo e da improdutividade da terra. Para impedir que os agricultores migrem para as cidades, o governo subsidia a agricultura, o que eleva o preço dos gêneros agrícolas para o consumidor final.
Cerca de dez por cento da área total do país é cultivada. Os principais produtos agrícolas são beterraba, batata, trigo e cevada. O cultivo de verduras, frutas e vinhas também é importante. A receita da indústria de laticínios e da criação de gado representa 75% da renda agropecuária.
A Suíça impõe uma severa regulamentação do extrativismo vegetal como forma de evitar a redução da cobertura florestal do país. A agricultura e a silvicultura empregam 5,5% da força de trabalho e contribuem com menos de 4% do produto interno bruto.
Energia e mineração. Os suíços produzem menos de vinte por cento da energia que consomem, pois não têm petróleo e suas jazidas de carvão são inexpressivas. O país é muito rico, porém, em energia elétrica, graças a seu imenso potencial hidráulico. No final do século XX, mais de 95% do potencial hidrelétrico do país já era utilizado. O esgotamento das possibilidades energéticas levou à construção de centrais térmicas e de algumas usinas nucleares.
Indústria. O processo de industrialização da Suíça começou na segunda metade do século XIX. A falta de matérias-primas determinou uma alta especialização na fabricação de relógios e outros aparelhos de precisão. A sobrevivência da indústria suíça baseia-se não só nessa especialização, mas também em alguns fatores como garantia da data de entrega dos produtos; oferta do financiamento necessário por intermédio de uma eficiente rede bancária; prestação de eficazes serviços pós-venda; comercialização de produtos para todo o mundo; e, quando necessário, instalação de fábricas no local do mercado.
Grandes empresas multinacionais têm sua matriz no pequeno país alpino. Destaca-se, além da produção de relógios e equipamentos de precisão, a fabricação de produtos químicos, medicamentos e artigos têxteis. Em geral, as empresas são de pequeno e médio porte e estão distribuídas por todo o país, mas concentram-se sobretudo no planalto central. Em 1990, a indústria empregava mais de um terço da mão-de-obra suíça.
Comércio e finanças. A Suíça precisa exportar produtos acabados para pagar suas importações de matérias-primas, petróleo, gêneros alimentícios e artigos manufaturados. Aproximadamente 75% das importações suíças e 60% das exportações são negociadas com a União Européia. Entre os principais parceiros comerciais do país estão a Alemanha, a França, a Itália, os Estados Unidos, o Reino Unido e o Japão.
Sua localização no centro da Europa, a estabilidade política e as leis de garantia de privacidade foram os principais fatores que tornaram a Suíça um dos mais importantes centros financeiros do mundo, com centenas de bancos. Características antes exclusivas aos bancos suíços foram absorvidas por outros países, em virtude da crescente globalização do sistema financeiro. Além disso, o alívio das tensões entre o Ocidente e o Oriente tornou menos relevante a condição de "porto seguro" dos bancos suíços. Juntamente com os bancos e outros serviços financeiros, desenvolveu-se no país uma vigorosa indústria especializada em seguros e resseguros.
Turismo. Importante fonte de divisas, que ajuda a equilibrar a balança de pagamentos do país, o turismo é intensamente promovido na Suíça. A beleza das paisagens, o fácil acesso às pistas de esqui e a prática do alpinismo atraem a cada ano milhões de visitantes. Cerca de oitenta por cento dos turistas provêm de países da Europa, sendo que metade é da própria Suíça. A indústria turística como um todo emprega mais pessoas do que a agricultura e depende de mão-de-obra estrangeira.
Transporte e comunicações. Pelo controle que exerce sobre as passagens alpinas e sobre a antiga rota que atravessa o Mittelland, entre os rios Reno, Ródano e Danúbio, a Suíça ocupa posição chave no tráfego europeu de veículos. A densa e moderna rede de ferrovias soma milhares de quilômetros e conta com centenas de túneis, entre os quais o Simplon II, que, com 19,7km, está entre os maiores do mundo. O estado controla os troncos de tráfego mais intenso, e a rede ferroviária, quase totalmente eletrificada, opera de forma rápida e eficiente, arcando com metade do transporte de carga do país.
A Suíça apresenta um dos mais elevados índices de automóveis por habitante da Europa. O uso excessivo de carros resulta em congestão de tráfego e problemas de estacionamento. O intenso tráfego de veículos, especialmente nos vales alpinos, é responsável por uma grave poluição atmosférica e sonora.
Embora distante do litoral, o país conta com uma importante frota oceânica, fluvial e lacustre, que opera até a foz do rio Reno, no qual está situado seu principal porto, em Basiléia. O transporte aéreo é explorado por uma empresa de economia mista, que mantém linhas regulares para as principais cidades do mundo. Os maiores aeroportos do país estão em Zurique e Genebra. (Para dados econômicos, ver DATAPÉDIA.)
História
Tribos célticas e réticas viviam no atual território suíço quando as legiões romanas de Júlio César invadiram e dominaram a região, no século I a.C. A partir do século III da era cristã, sucederam-se incursões de povos bárbaros. Burgúndios e alamanos estabeleceram-se no norte e oeste no século IV e, dois séculos mais tarde, os reis francos conseguiram conquistar a região. No começo do século VIII, missionários cristãos iniciaram a conversão dos helvécios. Em meados do século XI, toda a Helvécia passou a fazer parte do Sacro Império Romano-Germânico.
O declínio gradual do poder do império permitiu o surgimento de senhores feudais que exerciam seu domínio sobre vastas extensões de terra. Os Zähringen, os Savóias, os Habsburgos adquiriram, assim, enorme força e prestígio. Durante os séculos XI e XII, essas famílias fundaram novas cidades com o objetivo de oferecer um pouso seguro para o número crescente de mercadores, decorrente da rápida expansão comercial na Europa ocidental. Muitos dos centros fortificados tinham a dupla função de defender territórios recém-conquistados e de servir de postos para uma futura expansão dinástica.
Início da federação. No fim do século XIII, os Habsburgos tornaram-se a família dominante na Suíça. A expansão de sua influência e território ameaçava a independência de algumas pequenas comunidades e precipitou eventos que levaram à criação da confederação suíça. Em julho de 1291, os cantões de Uri, Unterwalden e Schwyz uniram-se contra os Habsburgos numa aliança que lhes garantia ajuda mútua perpétua e tornou-se o núcleo da Confederação Suíça.
A coalizão de 1291 pode ser considerada revolucionária para a época, pois estabeleceu no centro da Europa uma ilha democrática livre da tutela do feudalismo e administrada por camponeses, embora fosse reconhecida a autoridade do rei e os cantões continuassem sob a jurisdição do Sacro Império. Na batalha de Morgarten, em 1315, os confederados derrotaram as tropas imperiais e, em 1324, o imperador teve que confirmar a liberdade dos três cantões.
Novos aliados logo se uniram à confederação: Lucerna em 1332, Zurique em 1351, Glarus e Zug no ano seguinte e Berna em 1353. Os oito cantões tinham ampla autonomia interna e o único órgão comum de governo era a Dieta. No século XV, os cantões começaram a conquistar pela força territórios vizinhos. Os confederados expandiram-se para o sul, com o que entraram em conflito com o ducado de Milão. Ao mesmo tempo, surgiram desentendimentos internos que culminaram na "antiga guerra de Zurique". Este cantão foi derrotado, e a confederação, mantida.
Registraram-se duas outras guerras com inimigos externos -- Carlos de Borgonha e Sigismundo do Tiro -- das quais a liga saiu vencedora, anexando novas possessões. No final do século XV, a luta interna tornou-se tão aguda que a guerra civil parecia iminente. Nesse momento, o eremita Nicolau de Flue (canonizado em 1947) conseguiu, na dieta de Stans, apaziguar os ânimos e estabelecer a unidade de direito dos cantões associados, aos quais se juntaram Fribourg e Solothurn. Em 1499, o imperador reconheceu a independência dos cantões.
Reforma protestante. Durante o século XVI, a Suíça tornou-se o centro de uma reforma protestante. As cidades, particularmente os importantes centros de Berna, Basiléia, Genebra, Lausanne, Schaffhausen e Zurique, eram muito mais receptivas à reforma pregada por homens como Huldrych Zwingli, João Calvino e John Knox do que os conservadores cantões rurais. Essa divergência resultou na atual distribuição geográfica irregular de áreas protestantes e católicas, que desrespeita as fronteiras físicas e língüísticas.
De certa forma, apesar dos conflitos religiosos no século XVI -- o próprio Zwingli morreu na batalha de Kappel e depois sobreveio a guerra dos trinta anos -- o respeito às diferenças religiosas entre os cantões evitou uma grande guerra civil. Além disso, os dois grupos religiosos punham sua lealdade à Suíça acima da ideologia e cooperaram para manter sua neutralidade durante a destruidora guerra dos trinta anos.
As diferenças religiosas impediram os cantões de adotarem abertamente uma atitude favorável a qualquer uma das potências rivais, por temor que irrompesse uma guerra civil. Assim nasceu a tradição de neutralidade que, pouco a pouco, tornou-se característica da política externa suíça. Finalmente, em 1648, a Paz de Vestfália pôs fim à guerra e reconheceu a independência da Suíça com relação ao Sacro Império Romano-Germânico, após 350 anos de conflito.
Os séculos XVII e XVIII foram períodos de paz e prosperidade. Iniciou-se então a expansão manufatureira do país. O afluxo de refugiados da guerra foi particularmente importante para reabilitar antigas manufaturas, como a têxtil, e fundar novas empresas. O capital acumulado principalmente nas atividades comercial e artesanal estava disponível para financiar a expansão fabril. Como a Suíça não tinha companhias de navegação e possessões coloniais, a manufatura era o alvo natural do desenvolvimento econômico. No final do século XVII, mais de 25% dos suíços trabalhavam nos setores têxtil e de fabricação de relógios.
República Helvética. A localização da Suíça entre a França e a Áustria -- duas grandes potências que se enfrentaram quase continuamente nos 15 anos que se seguiram à revolução francesa -- abalou a neutralidade do país, sacudido primeiro por duas revoluções internas e finalmente invadido pelas tropas de Napoleão, em 1798. Em 12 de abril desse ano, os franceses proclamaram a República Helvética, com capital em Lucerna.
Em 1802, um movimento contra-revolucionário no Aargau e em Berna, inspirado pelos federalistas, amigos dos austríacos e defensores do antigo regime, levou Napoleão a intervir e impor sua mediação. Em 1803, o primeiro cônsul reuniu então, em Paris, os representantes dos cantões e sancionou o ato de mediação, com o qual estabilizou o país.
Após a derrota de Napoleão na batalha de Leipzig, a Dieta proclamou a neutralidade do país, o que não impediu que seu território fosse invadido pelas tropas aliadas anglo-austríacas, pela fronteira do Reno, em dezembro de 1813. O Congresso de Viena atribuiu Valtellina, Chiavenna e Bormio à Áustria, mas restituiu Genebra, o Valais e Neuchâtel, que passaram a formar três novos cantões. Ao mesmo tempo, a neutralidade suíça foi reconhecida e assegurada, decisão que a Paz de Paris veio confirmar em novembro de 1815.
Século XIX. Com a restauração do absolutismo na Europa, a vida política suíça se configurou, em princípio, em torno da influência de grandes famílias conservadoras; mas o triunfo das revoltas populares de 1830 permitiu adotar constituições liberais em diversos cantões. As acentuadas diferenças políticas entre os cantões tradicionais e os liberais, somadas às tensões religiosas, levaram à instabilidade interna da confederação, que teve sua maior crise em 1845, quando sete cantões católicos, ameaçados pelos radicais que pretendiam expulsar os jesuítas de Lucerna e Fribourg, formaram uma liga, o Sonderbund. Em 1847, o exército confederativo, muito superior em forças, dominou os católicos e ocupou suas terras. Simultaneamente às revoluções européias de 1848, os liberais suíços conseguiram elaborar uma constituição federal para todo o país.
A segunda metade do século caracterizou-se pela estabilidade política e pela expansão econômica. Desenvolveram-se a indústria, a agricultura e as comunicações. Em 1874, o voto popular impôs modificações na constituição federal. Aumentou o controle dos cidadãos sobre o governo, secularizou-se o ensino, transformou-se a educação elementar em dever do estado e ampliaram-se as liberdades públicas. Surgiram novos partidos e sindicatos profissionais. O movimento operário expandiu-se.
A rápida expansão da rede ferroviária fortaleceu a posição estratégica da Suíça como ponte entre as principais rotas européias leste-oeste e norte-sul. Em 1882, a abertura do túnel de São Gotardo ligou os cantões de Uri e Ticino ao resto da Suíça, e criou uma linha direta entre Zurique e Milão.
Século XX. Ao começar a primeira guerra mundial, o interesse da própria confederação em manter sua neutralidade foi posto à prova: na Suíça alemã, a popularidade dos impérios centrais era grande, enquanto a Suíça romanda defendia a causa dos aliados. A união da confederação, porém, conservou sua solidez. A neutralidade suíça apresentava vantagens para ambas as partes em conflito, o que afastou o perigo de ataques armados a suas fronteiras e possibilitou até mesmo certo grau de comércio internacional. Livre dos combates sangrentos, o país tornou-se abrigo natural dos que fugiam aos horrores da guerra e pôde exercer atividades humanitárias por intermédio da Cruz Vermelha.
Em maio de 1920, instalou-se em Genebra a Liga das Nações, e criou-se um delicado problema para a Suíça, cuja neutralidade dificultava-lhe a associação a qualquer organismo que se obrigava a manter a segurança coletiva, inclusive pelo emprego da força. Pela Declaração de Londres (fevereiro de 1920), porém, o conselho da Liga reconhecia a situação especial da Suíça: embora fosse estabelecido seu compromisso de participar das eventuais sanções econômicas, a neutralidade militar suíça considerava-se justificada pelos interesses da paz.
A desintegração da Liga das Nações durante a conturbada década de 1930 levou a Suíça a abandonar a preocupação com a segurança coletiva em favor de sua antiga posição de absoluta neutralidade. O país agora estava mais preparado para um conflito mundial do que em 1914. O regime nazista não tinha quase adeptos suíços e, a despeito do sucesso relativo e transitório que as frentes de extrema direita haviam obtido entre 1933 e 1935, não surgiram divisões internas nem conflitos sociais.
Por temer a anexação da Suíça alemã por parte do Terceiro Reich, os suíços se prepararam psicológica, econômica e militarmente para um possível conflito. Quando a guerra eclodiu, seu Exército, com 850.000 homens, achava-se perfeitamente armado e treinado. Embora cercada por inimigos fascistas e nazistas, a Suíça sobreviveu como o único estado democrático da Europa central. Três fatores foram essencialmente responsáveis por isso: se invadida, a Suíça teria destruído as conexões por estrada e ferrovia que atravessam os Alpes; o Exército suíço representava uma formidável força de combate; e o país teria usado o acidentado relevo em seu próprio benefício.
Após a segunda guerra mundial, o estado suíço pôs em marcha programas de bem-estar social, como concessão de aposentadorias e elaboração de planos de saúde. Em 1959, o país tornou-se membro da Associação Européia de Livre Comércio e, em 1972, assinou um acordo de livre comércio com a Comunidade Econômica Européia (atual União Européia). Em 1971, as mulheres adquiriram o direito de votar em eleições nacionais. Em 1979, a região do Jura foi reconhecida como novo cantão e, sete anos depois, o eleitorado suíço rechaçou mais uma vez o ingresso do país na Organização das Nações Unidas.
No início da década de 1990, a decisão sobre o ingresso da Suíça na União Européia tornou-se uma das mais importantes questões políticas do país. Num referendo realizado em dezembro de 1992, por uma diferença de apenas 0,3% os suíços decidiram não aderir à Área Econômica Européia -- um estágio intermediário para obter associação plena à União Européia. No final do século XX, o país enfrentava um tríplice desafio: formular uma política capaz de solucionar o problema da recessão econômica e do desemprego, reprimir o consumo de drogas e deter a disseminação da AIDS.
Instituições políticas
A constituição de 1848, reformada em 1874, define a Suíça como uma república federal. O poder executivo do governo central é exercido por um conselho de sete membros, eleitos a cada quatro anos pela Assembléia Federal. Esta exerce o poder legislativo e compõe-se de duas câmaras: o Conselho dos Estados, cujos 46 membros são eleitos, dois por cada cantão e um por cada meio-cantão, e o Conselho Nacional, composto de 200 conselheiros eleitos a cada quatro anos por sufrágio universal.
O país compreende vinte cantões e seis meios-cantões. Há também divisões menores, os distritos, por sua vez subdivididos em mais de três mil. Cada cantão tem sua própria constituição, governo e assembléia legislativa. O referendo, que pode ser realizado em escala comunal, cantonal ou nacional, assegura a participação direta da população no processo de tomada de decisões. Os principais partidos políticos são o Partido Democrata Radical, o Partido Popular Democrata Cristão, o Partido Democrata Social e o Partido Popular Suíço.
Sociedade
O sistema de previdência social suíço oferece benefícios e atendimento de saúde gratuito ou subsidiado em casos de doença, maternidade e invalidez temporária; ajudas de custo para famílias com crianças; e pensões para idosos e inválidos. O seguro-desemprego é obrigatório para todos os assalariados. Um sistema de previdência social abrangente e um elevado nível de vida ajudaram a criar condições de saúde excelentes na Suíça.
A taxa de alfabetização do país é praticamente de cem por cento, o que comprova a eficiência de seu sistema educacional. A educação é compulsória em todo o país e gratuita entre os 7 e 13 anos. A instrução secundária pode conduzir ao ensino profissionalizante ou superior. Há várias escolas particulares (primárias e secundárias), que fornecem excelente educação e atendem principalmente estudantes estrangeiros. O ensino superior é oferecido por diversas universidades.
A maioria dos jornais é de abrangência local ou regional. O Tages Anzeiger e o Neue Zürcher Zeitung, entre outros, estão entre os maiores do mundo. As transmissões de rádio e televisão são supervisionadas por uma empresa estatal e, em grande parte, não têm caráter comercial. Três diferentes sistemas de comunicação atendem aos três principais grupos lingüísticos do país. (Para dados sobre sociedade, ver DATAPÉDIA.)
Cultura
Embora não esteja entre os principais centros de cultura européia, a Suíça contribuiu de forma decisiva para a arte e a ciência. Alguns dos cérebros mais criativos da Suíça escolheram viver no exterior, em função da limitação de oportunidades oferecidas em seu próprio país. Isso ocorreu especialmente com os arquitetos. Além disso, a tradicional neutralidade suíça e suas leis de asilo político tornaram o país um ímã que atraiu muitas personalidades durante períodos de inquietação ou guerra na Europa, como em meados do século XIX e nas décadas de 1930 e 1940, quando a ascensão do fascismo levou grande número de escritores alemães, austríacos e italianos, como Thomas Mann, Stefan George e Ignazio Silone, a buscar refúgio na Suíça.
No século XX, o suíço Le Corbusier foi um dos nomes mais importantes da arquitetura mundial. Entre os artistas plásticos de reputação internacional estão os suíços Alberto Giacometti e Paul Klee. No campo da literatura, a Suíça produziu Jean-Jacques Rousseau, Jacob Burckhardt, Madame de Staël, Gottfried Keller, Hermann Hesse, Carl Spitteler, além de diversos escritores de língua romanche.
Friedrich Dürrenmatt e Max Frisch (também importante romancista) são dois dos mais famosos dramaturgos do século XX. Compositores modernos como Arthur Honegger, Othmar Schoeck e Frank Martin ganharam fama em todo o mundo. Realiza-se anualmente em Lucerna um festival de música internacional, e ao longo do ano ocorrem diversos outros eventos de jazz, e música popular internacional, especialmente o famoso festival de Montreux.
A Suíça tem também uma longa tradição de excelência científica. O Instituto Federal de Tecnologia de Zurique é a maior instituição científica do país e formou mais ganhadores do Prêmio Nobel do que qualquer outra escola científica do mundo.


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