Em 1990,
depois de longo período de divisão, a Alemanha recuperou a unidade com a
reintegração da República Democrática Alemã (RDA ou Alemanha oriental),
constituída após a segunda guerra mundial,
à República Federal da Alemanha (RFA ou Alemanha ocidental). Desse modo,
o novo estado alemão reafirmava sua posição de grande potência demográfica e
econômica no centro da Europa.
A República
Federal da Alemanha (o país reunificado conservou essa denominação) ocupa uma
superfície de 357.050km2, incluindo o território da antiga Alemanha oriental.
Limita-se ao norte com a Dinamarca e os mares do Norte e Báltico; a leste com a
Polônia, pela linha fluvial do Oder e do Neisse; a sudeste com a República
Tcheca; ao sul com a Áustria e a Suíça; e a oeste com a França, Luxemburgo, a
Bélgica e os Países Baixos. O país se compõe de 16 estados federados autônomos
denominados Länder (no singular, Land).
Geografia
física
Geologia e
relevo. Do ponto de vista do relevo, o território alemão faz parte de um
conjunto mais amplo que se estende por toda a área centro-européia. De fato,
não existem fronteiras naturais bem diferenciadas com os países vizinhos, a não
ser na parte meridional. São três as regiões naturais em que se divide o
território: a planície setentrional, a região dos maciços centrais e a área
alpina.
Planície
setentrional. A região norte, parte da planície setentrional européia,
compreende os Länder de Schleswig-Holstein, Mecklenburgo e Baixa Saxônia; os
pequenos estados de Bremen e Hamburgo; a parte norte-ocidental da Renânia do
Norte-Vestfália; e a parte setentrional da Saxônia-Anhalt e Brandenburgo. Essa
planície se formou em decorrência da erosão e da sedimentação derivadas das
glaciações quaternárias. De grande importância agrícola e mineira
(especialmente por seu gás natural), essa região caracteriza-se por acidentes
que rompem a monotonia da planície.
Os cursos dos
rios Weser, Aller, Elba, Havel, Spree e Oder seguem parcialmente o leito de
antigos vales, formados pela fusão da calota glacial e orientados em linhas
paralelas de sudeste para noroeste. No leste de Schleswig-Holstein e em
Mecklenburgo, o terreno ondula-se ligeiramente e forma as chamadas colinas
bálticas, constituídas por sedimentos procedentes das morenas (acumulações de
pedra e barro) glaciais. Outras colinas mais baixas se estendem pelas zonas
ocidental e meridional da planície, onde existem algumas terras de loess
(sedimentos da era glacial que formam solos muito férteis).
No setor
setentrional da região, assim como no oeste de Schleswig-Holstein e na Baixa
Saxônia, estende-se um terreno arenoso e ondulado em que abundam os pântanos
turfosos. No litoral do mar do Norte aparecem os Marschen, bancos arenosos cuja
configuração se assemelha à dos pôlderes holandeses. As ilhas Frísias
setentrionais e orientais formam um cordão litorâneo paralelo a esses bancos de
areia.
Maciços
centrais (Mittelgebirge). Os montes Weser e a floresta de Teutoburgo são as
primeiras elevações que limitam, em direção ao sul, a planície setentrional.
Com eles se inicia a grande região central, constituída por um conjunto de
maciços separados por depressões fluviais. O Hesse, o Palatinado Renano, o
Sarre, a Turíngia, a parte meridional da Renânia do Norte-Vestfália, da Baixa
Saxônia, da Saxônia-Anhalt e da Saxônia, assim como a parte setentrional da
Baviera e de Baden-Württemberg, encontram-se dentro dessa variada e
compartimentada região.
Os maciços
característicos da região se formaram em conseqüência dos dobramentos
hercinianos, originados durante a segunda fase da era paleozóica. Mais tarde,
por efeito da erosão, as montanhas se transformaram num planalto ondulado. Este
se fraturou em conseqüência da orogenia dos Alpes, que deu origem a
soerguimentos chamados Horst e a fossas tectônicas.
No sudoeste da
região encontra-se o maciço granítico da floresta Negra, que continua ao norte
com o Odenwald; ambos formam a abrupta vertente oriental do vale do Reno. A
oeste estende-se o maciço xistoso renano Schiefergebirde, cujos principais blocos
(Eifel, Hunsrück, Westerwald e Taunus) são separados pelos vales dos rios Reno,
Mosela e Lahn. No curso alto de Weser, os maciços de Rhön e Vogelsberg
apresentam marcas de fenômenos vulcânicos do período terciário. No centro do
país encontra-se o maciço do Harz e na direção leste alinham-se a floresta da
Turíngia e os montes Metálicos (Erzgebirge). No leste da Baviera erguem-se as
florestas da Boêmia e da Baviera.
Sulcam esse
conjunto de maciços diversas bacias sedimentares e corredores, que em geral
procedem de fossas tectônicas surgidas durante a orogenia alpina. Além da bacia
do Reno, as mais importantes são as da Suábia e da Francônia, regiões
históricas situadas respectivamente em Baden-Württenberg e no norte da Baviera,
atravessadas pelos rios Neckar e Meno (Main). Entre a bacia do Reno e o vale do
Danúbio, a sudeste, erguem-se os Jura da Suábia e da Francônia, mesetas
calcárias com pronunciadas encostas cobertas de florestas.
Alemanha
alpina e subalpina. A região alpina e subalpina se estende pelo sul do país, a
leste do lago Constança e ao sul do Danúbio, nos Länder da Baviera e de
Baden-Württenberg. A cordilheira alpina propriamente dita só ocupa uma pequena
faixa na fronteira com a Áustria, onde forma três conjuntos diferenciados de
oeste para leste: os Alpes da Argóvia (Aargau), que margeiam a bacia do Iller;
os Alpes bávaros, onde fica o Zugspitze (2.964m), ponto culminante da Alemanha;
e os Alpes de Berchtesgaden, no extremo sul-oriental do país. Nessas regiões a
paisagem é tipicamente alpina, com grandes lagos e vales de origem glacial. As
formações montanhosas se compõem de dobramentos de sedimentos calcários da era
mesozóica e não alcançam as grandes altitudes da vertente central austríaca e
suíça.
Ao norte das
montanhas estende-se uma zona subalpina conhecida como planalto bávaro, região
fria com cerca de 500m de altitude
média, cuja morfologia é de tipo glacial, com abundantes morenas originadas na
glaciação alpina quaternária.
Clima. Como
toda a região centro-européia, a Alemanha tem clima de transição entre o
atlântico (temperaturas suaves, chuvas abundantes e regulares) e o continental
(temperaturas baixas no inverno e menos umidade), este último próprio da Europa
oriental. O caráter temperado do clima se observa numa amplitude térmica
relativamente limitada: a temperatura média oscila entre 20o C em julho e 0o C
em janeiro. Contudo, a continentalidade se manifesta na queda gradual das
temperaturas médias em direção ao leste e também no sul, no planalto bávaro,
onde os invernos são rigorosos.
As
precipitações procedem das massas de ar atlântico que penetram pelo oeste e
pelo noroeste. Embora o nível de chuvas seja regular ao longo do ano, a
influência do anticiclone continental (zona de alta pressão atmosférica)
durante o inverno determina uma menor quantidade de precipitações nessa
estação. Apesar da relativa homogeneidade climática do território, é possível
distinguir certa variação de oeste para leste e de norte para sul, com
precipitações maiores nos litorais setentrionais e nas regiões ocidentais; e
condições climáticas temperadas no centro, bem como progressivo esfriamento no
sul e no sudeste, em conseqüência da altitude e da continentalidade.
Hidrografia. À
exceção do Danúbio, que flui de oeste para leste até desembocar no mar Negro,
os demais grandes rios da Alemanha correm de sul para norte. Todos eles são
caudalosos e regulares e constituem importantes vias de comunicação fluvial,
cujo tráfego é incrementado pela densa rede de canais que os une.
No extremo
setentrional do país, em Schleswig-Holstein, a porção alemã da península da
Jutlândia apresenta riqueza hidrográfica inferior à da parte dinamarquesa. O
canal do imperador Guilherme ou de Kiel, no entanto, supre a carência de cursos
fluviais e serve de ligação entre as costas do mar do Norte, nas proximidades
da desembocadura do Elba, e o litoral báltico.
O Elba, o
Weser, o Ems e o Reno deságuam no mar do Norte. O Elba, procedente da Boêmia,
na República Tcheca, liga as cidades de Dresden, Magdeburgo e Hamburgo. O Weser
nasce na floresta da Turíngia e o Ems na de Teutoburgo. Ambos apresentam
coloração escura, decorrente da existência de turfeiras em suas cabeceiras, e
correm lentamente até as desembocaduras. O canal de Mitteland, na Baixa
Saxônia, constitui a principal artéria fluvial da região, sulcada por muitos
canais que formam uma rede de comunicação entre o Ems, o Weser, o Aller
(afluente do anterior), o Elba e o Oder.
O Reno nasce
no maciço de São Gotardo, nos Alpes suíços, atravessa o lago Constança, faz a
fronteira da Alemanha com a Suíça na direção leste-oeste e com a França de sul
para norte; em seguida penetra em território alemão, passando por Espira
(Speyer), Mannheim, Mogúncia (Mainz), Bonn, Colônia (Köln) e Düsseldorf, para
finalmente desembocar no litoral holandês do mar do Norte. Por conseguinte,
liga quatro nações -- Suíça, França, Alemanha e Países Baixos --, permitindo a
navegação até Basiléia, na Suíça. Além disso, a criação de um amplo sistema de
canais possibilitou o acesso, a partir do Reno, a outros grandes cursos
fluviais, como o Elba, o Danúbio, o Ródano e o Marne. Em torno do Reno e de
seus importantes afluentes (Neckar, Meno, Sarre, Mosela, Lahn e Ruhr)
desenvolveram-se grandes centros urbanos, núcleos industriais, zonas agrícolas
e minas.
O Danúbio, que
se origina da confluência de dois pequenos rios procedentes da floresta Negra,
o Brigach e o Breg, percorre os planaltos subalpinos de oeste para leste, pondo
em comunicação a Alemanha com a Áustria e a Hungria com a Romênia, mas sua
importância comercial é inferior à do Reno. Ao longo de seu curso alemão recebe
as águas do Altmühl e do Naab, pela vertente setentrional, e as do Iller (em
Ulm, a partir de onde o Danúbio se torna navegável), do Lech, do Isar e do Inn
pelo lado sul, a partir das vertentes alpinas.
O Oder
determina a fronteira com a Polônia, país em que fica sua foz. Seu principal
afluente em território alemão é o Neisse. A ação dos fenômenos glaciais sobre a
planície setentrional determinou a formação de numerosos lagos, como o Müritz,
o Mecklenburgen e o Schwerin, e de pequenos cursos fluviais.
Flora e fauna.
O alto desenvolvimento industrial, agrícola e urbano da Alemanha contribuiu
para modificar e, em alguns casos, degradar o ambiente vegetal. A vegetação
natural se diferencia segundo a altitude das regiões. No litoral setentrional
existe uma flora pobre, composta por espécies herbáceas e arbustos, como a urze
e outras ericáceas. Mais para o sul, a planície alemã apresenta espécies
arbóreas (faia, olmo, freixo, bétula e abeto). Nos maciços centrais, os bosques
originais de espécies de folhas caducas (faia, carvalho) foram em parte
substituídos pelo reflorestamento com coníferas (pinheiro, abeto, cedro). Os
bosques se situam sobretudo nas zonas montanhosas e disso decorre o nome
"floresta" (Wald em alemão), com que se identificam alguns desses
maciços. A faixa alpina apresenta vegetação típica de montanha, com pradarias,
arbustos e bosques.
A fauna alemã,
em grande medida conservada em parques e em reservas biológicas, também sofreu
um contínuo processo de degradação que provocou a extinção de algumas espécies,
como o urso pardo, o lobo e o bisão. Também correm risco de desaparecimento o
lince, nos Alpes, e o gato montês. As espécies típicas da Europa central que se
acham conservadas são a lebre-dos-alpes, o cervo, o cabrito montês, a camurça,
o javali e diversos roedores, aves e répteis.
População
A Alemanha é o
segundo país da Europa em população, superado apenas pela Rússia. A afluência à
zona ocidental de alemães de outros pontos do país e de imigrantes de
diferentes nacionalidades, assim como a tendência ao estancamento do
crescimento vegetativo, têm sido as principais características da evolução
demográfica.
A maior parte
da população descende de diversos grupos germânicos que se estabeleceram na
região centro-européia no primeiro milênio antes da era cristã. Esses grupos
partilhavam a mesma língua, embora expressa em muitos dialetos, mas
apresentavam características étnicas heterogêneas que se acentuaram ao longo da
história em conseqüência da fusão com outros povos, como os celtas e os
eslavos. Na moderna Alemanha, as diferenças humanas e lingüísticas das várias
regiões se atenuaram, embora a prolongada divisão política tenha gerado certas
peculiaridades culturais que distinguem os alemães do leste daqueles do oeste.
A chegada de imigrantes à Alemanha ocidental na segunda metade do século XX
compensou as perdas humanas ocasionadas pela segunda guerra mundial, estimadas
em cerca de três milhões de pessoas, na maioria jovens do sexo masculino. Além
da população de origem germânica, convivem na antiga Alemanha ocidental
diversas minorias étnicas de nacionalidade alemã, como judeus, eslavos e
dinamarqueses, assim como franceses descendentes dos huguenotes fugidos de seu
país no fim do século XVII. Os trabalhadores imigrantes, chegados à Alemanha
sobretudo nas décadas de 1960 e 1970, eram principalmente turcos, iugoslavos,
italianos, gregos, espanhóis e portugueses.
Na Alemanha
oriental, que constituiu um país autônomo de 1949 a 1990, as perdas humanas
provocadas pela guerra foram compensadas com o ingresso de vários milhões de
alemães expulsos da Polônia, da Tchecoslováquia e da Hungria. Contudo, as
dificuldades econômicas derivadas do pagamento das indenizações de guerra e da
política de coletivização estimularam o movimento migratório para a Alemanha
ocidental, calculado em 1,7 milhão de pessoas.
A interrupção
do crescimento da população e mesmo a redução desta se incluem entre as
características mais notáveis da evolução do país nas últimas décadas do século
XX, tanto na zona ocidental como na oriental. Isso se traduz num envelhecimento
da população, isto é, no aumento dos grupos de idade mais alta em relação à
população jovem, em conseqüência dos baixos níveis de natalidade e do
prolongamento da expectativa de vida.
Cidades
principais. Outra característica específica da estrutura demográfica alemã é a
concentração em cidades. Entre os numerosos núcleos populacionais predominam as
cidades de tamanho médio, exceto nas bacias do Ruhr e do Reno, onde se formaram
verdadeiros complexos urbanos, e na zona de Berlim.
Na Baviera, no
sul do país, destaca-se Munique (München), a capital do Land, que apesar da
devastação sofrida durante a guerra conservou valiosos tesouros da arte
medieval. Munique abriga um dos mais importantes museus europeus de ciência e
tecnologia. Nas imediações da cidade ficam algumas das mais conhecidas
indústrias cervejeiras do mundo. Outras cidades importantes dentro do mesmo
Land são Nuremberg, Augsburgo e Ratisbona (Regensburg).
A oeste da
Baviera encontra-se Baden-Württemberg, cuja capital, Sttutgart, se situa na
bacia do Neckar, ao pé da floresta Negra. É uma florescente cidade industrial
com numerosas fábricas de produtos eletrônicos e automóveis. No mesmo estado
ficam Mannheim, grande porto fluvial, e Heidelberg, sede da primeira
universidade alemã.
No Palatinado
Renano encontram-se os núcleos urbanos de Mogúncia (Mainz), a capital, de Coblença
(Koblenz) e de Ludwigshafen. A capital de Hesse, Frankfurt-sobre-o-Meno
(Frankfurt am Main), tornou-se um próspero centro industrial e financeiro, além
de representar um dos pontos nevrálgicos das comunicações terrestres e aéreas
de toda a Europa.
A principal
cidade da Renânia do Norte-Vestfália, o Land com maior concentração
populacional, é Colônia (Köln), um dos grandes centros industriais do país. A
cidade, de grande importância histórica, tem fábricas de automóveis, de
produtos químicos e de perfumaria. Outras cidades importantes são Bonn, sede do
governo federal da Alemanha ocidental até a reunificação e capital provisória
da Alemanha unificada, e Aachen (a antiga Aix-la-Chapelle), sede da corte
imperial de Carlos Magno. Em torno das instalações mineiras e industriais da
bacia do Ruhr, desenvolveu-se um extenso conglomerado urbano formado por
cidades como Düsseldorf, Essen, Duisburgo, Dortmund, Solingen, Wuppertal e
Krefeld.
Na planície
setentrional, Hannover, capital da Baixa Saxônia, é centro de uma importante
região agrícola e mantém notável atividade industrial. Por sua vez, Bremen, na
desembocadura do Weser, e especialmente Hamburgo, situada no estuário do Elba,
baseiam sua atividade econômica no tráfego de mercadorias e passageiros de seus
grandes portos.
Berlim,
capital oficial da Alemanha, é a maior cidade do país. De 1961 até 1989 esteve
dividida por um muro de cimento e arame farpado que separava a zona de
intervenção soviética da parte ocidental, correspondente ao espaço ocupado
pelos exércitos americano, britânico e francês ao fim da guerra.
Na zona
oriental do país destacam-se as cidades de Magdeburgo (centro da indústria
pesada), Dessau, Halle (metalurgia e indústria química), Leipzig (antigo centro
comercial) e Dresden (indústria mecânica e eletrônica). Nos montes Metálicos
encontram-se Chemnitz (Karl-Marx-Stadt durante a existência da Alemanha
oriental) e Zwickau. Outros núcleos industriais de menor envergadura são
Erfurt, Weimar, Gotha e Jena, na floresta da Turíngia, no sudoeste, e Rostock,
importante porto da costa do Báltico. (Para dados demográficos, ver DATAPÉDIA.)
Economia
A divisão da
Alemanha, ocorrida ao fim da segunda guerra mundial, tornou necessária uma
reestruturação da atividade econômica nos dois estados. A Alemanha ocidental
realizou um esforço exemplar para a reconstrução, de forma que, na segunda
metade do século XX, o país se situava entre as primeiras potências econômicas
do mundo. O chamado "milagre alemão", tão espetacular quanto o que se
produziu no Japão depois da guerra, criou um padrão de desenvolvimento
sustentado que se manteve, com algumas flutuações, até a primeira valorização
da moeda, o marco alemão (Deutsche Mark), ocorrida em 1961. Um novo período de
crescimento terminou em 1973-1975, quando se produziu uma recessão
internacional em conseqüência da forte alta dos preços do petróleo. Na década
de 1980, e mesmo depois da reunificação, a economia da região ocidental do país
continuou a ser uma das mais vigorosas do mundo.
A Alemanha
oriental, em contrapartida, sofreu maiores prejuízos econômicos em conseqüência
da guerra e da ocupação soviética, ao que se somou a interrupção dos vínculos
industriais e comerciais que essa zona do país havia tradicionalmente mantido
com as regiões da Alemanha ocidental. Contudo, a partir de 1954, quando a União
Soviética permitiu a suspensão do pagamento das indenizações de guerra e cedeu
ao governo as empresas criadas após o conflito, a economia alemã oriental
cresceu com grande ímpeto e o país se tornou um dos mais industrializados do
mundo. No entanto, o sistema de planificação centralizada se mostrou
insuficiente para sustentar o crescimento econômico e no fim da década de 1980
a economia alemã oriental manifestou os sintomas de uma profunda crise, como
aconteceu em outros países do bloco socialista. Depois da unificação das duas
Alemanhas, surgiram graves problemas para a modernização das instalações
industriais e para a adaptação das infra-estruturas econômicas ao sistema de
mercado imperante na Alemanha ocidental.
Agricultura e
pecuária. Na segunda metade do século XX, apesar da pobreza de seus solos, a
Alemanha conseguiu incrementar notavelmente o rendimento do setor agropecuário,
tanto no leste como no oeste. O motor desse desenvolvimento foi a introdução de
avançados recursos técnicos e mecânicos, complementados, no caso da Alemanha
oriental, pela criação de cooperativas de produção e comercialização e pela
concentração fundiária. No período em que existiu o estado alemão oriental, a
atividade agropecuária dessa parte do país sofreu intensa transformação, em
conseqüência da socialização das grandes propriedades, da fixação de preços
pelo governo, do fornecimento de maquinaria agrícola para as coletividades
agrárias e da criação de cooperativas de produção. Os resultados, positivos no
início, não foram suficientes para impedir uma crescente disparidade produtiva
frente à agricultura de mercado da Alemanha ocidental.
Os principais
produtos agrícolas do país são a beterraba (destinada à fabricação de açúcar),
a batata e os cereais (trigo, aveia, cevada e centeio). É importante a pecuária
bovina, suína e ovina. A frota de pesca alemã, que opera nos pesqueiros do mar
do Norte, da Groenlândia, da Islândia e do Labrador, obtém um volume de pescado
que, apesar de importante, é insuficiente para abastecer o mercado interno.
Mineração e
indústria. A prosperidade econômica da Alemanha ocidental no pós-guerra se
baseou sobretudo no grande desenvolvimento industrial. Durante os vinte
primeiros anos de existência do estado, as principais atividades produtivas
foram a extração de carvão, ferro e outros minerais, assim como a indústria
siderúrgica. A situação começou a modificar-se a partir dos últimos anos da
década de 1960, quando se tornaram evidentes o esgotamento ou a perda de
rentabilidade de algumas regiões mineiras do país. Desde então, o papel de
motor do desenvolvimento econômico passou para as indústrias de transformação,
cuja produção se tornou uma das mais importantes do mundo pela qualidade e
avançada tecnologia.
Entre as
atividades que passaram a segundo plano, embora sua importância ainda seja
considerável, estão a extração de hulha (nas regiões de Ruhr, Sarre, Aachen e
bacia de Zwickan), de linhito (Baviera, Hesse, Colônia, Saxônia e Magdeburgo) e
de minério de ferro (Baixa Saxônia). Em Stassfurt, a leste do Harz, extraem-se
potassa e sal-gema. A indústria siderúrgica (localizada principalmente nas
bacias do Sarre e do Ruhr), que se desenvolveu muito na época nazista, atingiu
alto grau de tecnologia e diversificação. Na zona oriental destaca-se o centro
de Eisenhüttenstadt, no vale do Oder.
Um setor
industrial que goza de notável prosperidade é o dos produtos químicos
(medicamentos, preparados fotoquímicos, corantes). A Renânia do Norte-Vestfália
e o Hesse são as regiões em que se concentra a maior parte desse setor
produtivo, dominado principalmente pelos grandes consórcios das empresas Bayer,
Hoechst e BASF. Os vales do Elba (Dresden, Magdeburgo), do Saale (Leipzig,
Halle) e do Mulde (Dessau, Bitterfeld) são importantes regiões siderúrgicas do
leste da Alemanha.
A metalurgia
de transformação constitui outro setor fundamental da indústria alemã. Nele se
incluem as indústrias naval e aeronáutica e, predominantemente, a indústria
automobilística. No fim do século XX, os principais fabricantes de automóveis
eram a Volkswagen, a Opel (General Motors), a Daimler-Benz e a Bayerische
Motoren Werke (BMW).
Um exemplo da
grande capacidade e diversidade da economia alemã é também a indústria
elétrica, caracterizada pela constante renovação tecnológica e pelo volume de
exportação. Siemens, AEG, Osram, Telefunken e Grundig são os nomes de algumas
das grandes empresas que estenderam o prestígio do país por todo o mundo.
Atividade
financeira, comércio e comunicações. Depois do isolamento de Berlim, o grande
centro comercial e financeiro da Alemanha antes da guerra, a atividade
financeira da Alemanha ocidental se concentrou progressivamente em Düsseldorf
e, sobretudo, em Frankfurt-sobre-o-Meno, cidade em que se instalaram a sede do
Deutsche Bundesbank (Banco Federal Alemão) e das principais instituições
bancárias. A influência dessas duas cidades nos mercados de capitais e divisas
chegou a ultrapassar o universo econômico europeu.
Ante a
necessidade de importar grandes quantidades de matérias-primas, a Alemanha
ocidental empreendeu com êxito a conquista dos mercados internacionais mediante
a exportação de produtos elaborados de alta qualidade e prestígio. Outros
fatores que contribuíram para situar a RFA num dos primeiros lugares do
comércio mundial foram a competitividade de seus preços, a modernização dos
sistemas de venda e a capacidade do empresariado. As exportações de produtos
manufaturados, destinadas sobretudo à Comunidade Econômica Européia (CEE) e aos
Estados Unidos, permitiram cobrir folgadamente a importação de petróleo,
produtos alimentícios, minerais e têxteis.
A República
Democrática Alemã, por sua vez, orientou seu comércio para os países
socialistas, especialmente a União Soviética, embora tenha também desenvolvido
um intenso intercâmbio com a Alemanha ocidental. Suas principais exportações se
constituíram, igualmente, de produtos industriais como tecidos, filmes e papéis
fotográficos, relógios, máquinas fotográficas, linhito e potassa.
Do ponto de
vista histórico, o desenvolvimento industrial alemão se deveu em grande medida
à criação e à progressiva ampliação de uma rede de comunicações
extraordinariamente densa e bem articulada. Na década de 1990, a rede fluvial,
com vários milhares de quilômetros de canais e rios navegáveis, permitia atender
ao transporte de aproximadamente um terço do comércio exterior. A malha
ferroviária era também muito ampla, mas sua exploração se revelava deficitária
ante a forte concorrência dos outros meios de transporte e, em particular, da
magnífica rede de estradas e autopistas pelas quais circulava um enorme e
crescente tráfego de pessoas e mercadorias.
Por último,
cabe citar a importância dos portos marítimos de Bremen, Hamburgo, Kiel e
Rostock e dos aeroportos de Frankfurt-sobre-o-Meno, Düsseldorf e Berlim. (Para
dados econômicos, ver DATAPÉDIA.)
História
Povos
germânicos da antiguidade. Os limites étnicos e lingüísticos do território
alemão ficaram mais ou menos definidos em relação ao Império Romano a partir da
criação da província da Gália por Júlio Cesar, em 51 a.C. Com Augusto, a margem
ocidental do Reno e a meridional do Danúbio se estabeleceram como fronteiras do
império.
Durante o
século III ocorreu a união das tribos germânicas ocidentais em três grandes
grupos: os saxões, os francos e os alamanos, cuja hostilidade a Roma obrigou
imperadores como Diocleciano, Constantino, Juliano e Valentiniano a fortalecer
as fronteiras do Reno. No leste, outra grande tribo germânica, a dos godos,
começou a ameaçar a fronteira do Danúbio a partir do ano 238.
Foi ao longo
do século IV que se processou a onda de invasões germânicas sobre o Império
Romano, em conseqüência da pressão exercida pelos hunos, povo procedente da
Ásia. Simultaneamente, a influência da civilização romana começava a
consolidar-se em muitos dos povos germânicos, os quais, em meados do século,
adotaram a religião do império, o cristianismo, ainda que principalmente na
versão herética do arianismo.
A vitória dos
godos em Adrianópolis (mais tarde Edirne, na Turquia), em 378, acarretou o
início da queda do Império Romano. Em 410, os visigodos de Alarico saquearam
Roma e em seguida se estabeleceram no sudoeste da Gália e em quase toda a
Espanha. Enquanto as províncias romanas eram invadidas pelas hostes germânicas,
o território da atual Alemanha foi ocupado pelo efêmero império huno de Átila,
entre os anos 434 e 453. Depois da vitória dos gépidas (tribo germana do leste)
sobre os hunos no rio Nedao (ou Nedad), na Panônia, em 455, a Alemanha foi
ocupada pelas confederações de saxões e alamanos.
Domínio franco
e império carolíngio na Alemanha. O reino franco instaurado por Clóvis no fim
do século V estendeu sua influência sobre a área centro-européia durante os
dois séculos seguintes, em conseqüência de uma série de campanhas militares
dirigidas contra os turíngios da Alemanha central e os saxões e bávaros do sul.
Embora a dinastia merovíngia nunca tenha dominado completamente a Alemanha, sua
preponderância política e militar revelou-se determinante para obter o
assentamento dos povos germânicos.
No fim do
século VII, Pepino de Herstal impôs o domínio da Austrásia, região mais
germânica do reino merovíngio, sobre todos os territórios francos, que haviam
perdido a unidade depois da morte de Dagoberto I. Os senhores da Austrásia, e
mais tarde os reis francos da dinastia carolíngia, estenderam o poder político
e religioso à maior parte das tribos da Alemanha, à exceção dos saxões do
norte. Nesse processo de assimilação, foi especialmente importante a atividade
dos missionários anglo-saxônicos, entre os quais se destacou são Bonifácio.
O reinado de
Carlos Magno (768-814) estendeu o aparelho administrativo e religioso do reino
franco às regiões alemãs da Saxônia, da Suábia e da Baviera. Depois de
empreender uma série de campanhas contra os eslavos e os ávaros, Carlos Magno
foi proclamado imperador de Roma em 800, com o que assumia a responsabilidade
política sobre o império do ocidente, desvinculado de Constantinopla.
O filho e
sucessor de Carlos Magno, Luís I o Piedoso, deixou o império dividido entre três
de seus próprios filhos, Carlos, Luís e Lotário. Pelo Tratado de Verdun, de
843, Lotário manteve o título imperial e assumiu o poder sobre os territórios
compreendidos entre a Francia Occidentalis, de Carlos II o Calvo, e a Francia
Orientalis (Alemanha), de Luís II o Germânico. Pela primeira vez, os diferentes
povos germânicos ficavam submetidos a um soberano único e próprio, ainda que as
pretensões dinásticas deste não se limitassem ao território alemão. O Tratado
de Meerssen, firmado em 870, depois da morte de Lotário II, ampliou o
território da Francia Orientalis, que ficou definida entre os limites do Mosela
e do Escalda (antes pertencentes à Lotaríngia), a oeste; os Alpes, no sul; e o
Elba e os maciços boêmios, a leste. Em 880, o Tratado de Ribermont destinou a
Lotaríngia aos filhos de Luís II o Germânico.
Carlos III o
Gordo, filho de Luís II o Germânico, herdou a coroa imperial e restabeleceu a
unidade carolíngia em 884, mas depois de sua deposição, em 888, o império
voltou a desagregar-se. Durante os efêmeros reinados de Arnulfo de Caríntia e
Luís o Infante, o território alemão foi assediado pelas incursões de normandos,
eslavos e magiares, o que favoreceu o processo de feudalização e decomposição
do poder real que se estava produzindo em toda a Europa ocidental. De maneira
geral, foram os antigos funcionários carolíngios que assumiram o poder nos
numerosos ducados, marcas (regiões fronteiriças fortificadas) e principados
eclesiásticos que surgiram entre o fim do século IX e o começo do X.
Sacro Império
Romano-Germânico. A morte de Luís o Infante, em 911, coincidiu com a extinção
do ramo oriental da dinastia carolíngia. Depois do reinado de Conrado I da
Francônia, em 919 os nobres desse território e da Saxônia elegeram Henrique I
rei de Saxe-Turíngia, que pouco a pouco obteve o reconhecimento de suábios e
bávaros por seus méritos militares nas campanhas contra eslavos, húngaros e
normandos. Em 962, Oto I, seu filho e sucessor, coroou-se imperador em Roma,
depois de haver repelido os eslavos até o Oder, na batalha de Recknick (955).
Ao longo do
século X, a influência cultural de Roma e Constantinopla se fez evidente na
casa de Saxe, da qual alguns imperadores, como Oto II e Oto III, fixaram
residência na Itália. Em 1024, a eleição de Conrado II iniciou a época dos
imperadores francos sálios (ou sálicos). Conrado II incorporou a Borgonha ao
império, até então composto pela Alemanha e a Itália, e fortaleceu a
centralização administrativa. O domínio sobre a Igreja se incrementou no
reinado de Henrique III, quando os pontífices passaram a ser designados pelo
imperador. Contudo, a reação da igreja não se fez esperar (questão das
investiduras). Os papas Nicolau II e Gregório VII recuperaram algumas das
atribuições do pontificado e finalmente, em 1122, a questão das investiduras se
resolveu mediante a concordata de Worms, pela qual o papa Calisto II obrigou o
imperador Henrique V a aceitar o preenchimento dos cargos eclesiásticos pela
hierarquia religiosa. Isso contribuiu para acelerar a feudalização e o enfraquecimento
do poder imperial na Alemanha.
No século XII,
as lutas entre os guelfos, partidários do papa, e os gibelinos, defensores da
casa de Hohenstaufen, instaurada em 1138 com a eleição do imperador Conrado
III, cederam lugar a uma época de esplendor econômico e cultural durante os
reinados de Frederico I Barba-Roxa e Henrique VI. Depois de um novo período de
guerras entre os guelfos de Filipe da Suábia e os gibelinos de Oto IV, a
coroação de Frederico II, em 1215, representou a consolidação da autonomia territorial
por parte dos príncipes alemães. Na primeira metade do século XIII iniciou-se
também o processo de desenvolvimento urbano, favorecido pelas rotas comerciais
da Itália e de Flandres e pela expansão da colonização alemã em direção ao
leste da Europa.
Depois do
"grande interregno alemão", de 1250 a 1273, constituiu-se uma ordem
de príncipes eleitores encarregados de designar o sucessor imperial. Durante a
primeira metade do século XIV, os imperadores alemães interessaram-se mais em
aumentar os patrimônios familiares do que em impor seu poder sobre as forças
autônomas do império. A perda dos territórios italianos e a pressão da França,
a oeste, estimularam a colonização do leste, o que, com as conquistas da Ordem
Teutônica, provocou o deslocamento das fronteiras germânicas até a Rússia.
A atomização
política do império alemão chegou ao clímax no século XV. Os conflitos
religiosos (revoltas dos hussitas), a ameaça turca e a derrota da Ordem
Teutônica na Polônia favoreceram a desordem e a insegurança nos diferentes
territórios alemães. Contudo, no fim do século, o imperador Maximiliano, da
poderosa casa de Habsburgo, empreendeu uma política de unificação
administrativa.
Alemanha na
Idade Moderna. Durante os séculos XVI, XVII e XVIII desenvolveu-se a identidade
nacional alemã, mas se cristalizou também a divisão política do país. A eleição
de Carlos V como imperador pôs a Alemanha na órbita das grandes transformações
econômicas e culturais da Idade Moderna. Os banqueiros e comerciantes das
famílias alemãs Fugger e Welser financiaram o empreendimento imperial de Carlos
V, em cujos domínios (Espanha, América, Nápoles, Sicília, Países Baixos,
Borgonha, Áustria, Alemanha) se iniciou o primeiro processo de acumulação
capitalista na Europa.
O
autoritarismo do imperador contribuiu para aproximar muitos príncipes alemães
das teses religiosas de Martinho Lutero, cujo movimento reformador autorizava a
intervenção do estado em assuntos religiosos e a secularização dos bens
eclesiásticos. Lutero deu forma definitiva à língua alemã escrita, fixando-lhe
as normas em suas obras. A divisão religiosa e política da Alemanha se
institucionalizou depois da paz de Augsburgo, em 1555, pela qual o imperador
Carlos V permitiu aos príncipes a imposição das crenças religiosas de cada um deles
aos súditos de seus respectivos estados.
Na segunda
metade do século XVI, a Contra-Reforma católica impulsionada por Filipe II da
Espanha se estendeu à Baviera e à Renânia. Simultaneamente, a Alemanha conheceu
um período de estagnação econômica em virtude da decadência das cidades do
norte (a Hansa) e da ruína dos banqueiros que financiavam a política da
monarquia espanhola.
A divisão
religiosa da Europa, acentuada com a propagação do calvinismo, manifestou sua
dimensão política por ocasião da guerra dos trinta anos (1618-1648), cujo campo
de batalha foi a Alemanha. Em 1648, a paz de Vestfália consagrou o princípio da
autonomia plena dos mais de 300 estados imperiais e determinou a perda de
diversos territórios para a Suécia e a França.
A crise
econômica ocasionada pela guerra começou a ser superada no fim do século XVII.
O título imperial, transformado em mero cargo honorífico, ficou adstrito à casa
de Habsburgo, enquanto os estados alemães passavam a adotar as práticas
absolutistas inspiradas na monarquia francesa. O aperfeiçoamento e a
modernização do aparelho estatal foram especialmente notáveis no ducado de
Brandemburgo, que no século XVIII se transformou no reino da Prússia. O grande
eleitor Frederico Guilherme e o rei Frederico Guilherme I prepararam o caminho
para Frederico II o Grande (que reinou de 1740 a 1786), autêntico déspota
esclarecido que converteu a Prússia numa potência européia, tanto no aspecto
político e militar como no econômico. Durante o século XVIII, a eficiência do
exército prussiano se fez notar em duas guerras que envolveram toda a Europa: a
da sucessão da Áustria (1740-1748) e a dos sete anos (1756-1763).
Dominação
francesa e processo de unificação. Entre 1792 e 1805, os exércitos
revolucionário e napoleônico impuseram o controle francês a todo o território
alemão, dividido entre a Confederação do Reno, a Áustria e a Prússia. Em 1806,
Francisco II declarou a dissolução do Sacro Império e proclamou-se imperador da
Áustria. Nos anos seguintes, a dominação francesa estimulou o aparecimento da
consciência nacional alemã, especialmente na Prússia, onde os ministros de
Frederico Guilherme III, inspirados nas idéias da revolução, empreenderam
importantes reformas administrativas e econômicas. A partir de 1813, as guerras
de libertação reuniram os alemães num esforço comum contra o invasor. A
Prússia, aliada à Rússia e à Áustria, venceu a França em Leipzig em outubro
desse mesmo ano; em fevereiro do ano seguinte as tropas do marechal Gebhard
Leberecht de Blücher entraram em Paris.
O Congresso de
Viena de 1815 substituiu o Sacro Império por uma Confederação Germânica
composta de 35 estados e quatro cidades livres, estruturada em torno da Dieta
(assembléia de representantes) de Frankfurt-sobre-o-Meno. Desde o princípio, a
Áustria e a Prússia entraram em conflito por suas ambições hegemônicas sobre a
confederação, ainda que concordassem em manter a divisão política e em reprimir
os movimentos liberais e nacionalistas.
Na primeira
metade do século XIX, disseminaram-se pela Alemanha os ideais românticos, que
buscavam no passado medieval a essência da nação germânica. Os estudos
históricos e lingüísticos contribuíram para reforçar o nacionalismo,
especialmente ativo nas universidades do país. Contudo, foram as necessidades
de desenvolvimento econômico que aceleraram o processo de unificação. A
industrialização da Prússia e de outros estados do sul e do oeste, assim como o
incremento do fluxo comercial entre as distintas regiões alemãs, tornaram
necessária a criação, em 1834, de uma união alfandegária (Zollverein), que
englobava 18 estados, com 23 milhões de habitantes. O progresso econômico se
acelerou com a construção da rede ferroviária, a partir de 1839, e com a
industrialização das cidades renanas.
As revoluções
liberais e nacionalistas de 1830 e 1848 fracassaram ante a dura oposição dos
governos austríaco e prussiano, mas contribuíram para ampliar a consciência
nacional. Finalmente, os grupos liberais, inclusive os socialistas, aceitaram o
processo unificador empreendido pelo governo conservador da Prússia, encabeçado
por Otto von Bismarck a partir de 1862. Após a criação da Confederação da
Alemanha do Norte, as vitórias militares sobre a Áustria e a França resultaram
na coroação de Guilherme I da Prússia como imperador do Segundo Reich (império)
alemão, em janeiro de 1871. Pelo tratado de paz com a França, firmado em maio
na cidade de Frankfurt, a Alemanha anexou a região da Alsácia-Lorena.
Segundo Reich
e primeira guerra mundial. O governo de Bismarck, caracterizado pelo
autoritarismo, coincidiu com o início de um importante período de
desenvolvimento em todos os setores da economia alemã. A legislação social
adotada por Bismarck conseguiu moderar os ímpetos revolucionários do crescente
movimento operário, mas a tentativa de submeter a Igreja Católica mediante a
Kulturkampf (luta pela cultura) fracassou frente à resistência passiva do
clero. Em política externa, a grande preocupação de Bismarck foi evitar a
formação de coalizões poderosas contra a Alemanha, para o que estabeleceu um
complicado sistema de pactos e alianças secretas com a Rússia, a Áustria, a
Itália e outros países.
A partir de
1890, a intervenção pessoal do Kaiser (imperador) Guilherme II na política
alemã obrigou Bismarck a renunciar. O imperador promoveu a expansão de seu país
na África e no Pacífico, o que contribuiu para criar uma crescente rivalidade
entre a Alemanha e as demais potências imperialistas européias, especialmente o
Reino Unido e a França.
Na primeira
década do século XX, a euforia nacionalista se expressou pela criação de
sociedades que propugnavam a hegemonia da Alemanha na Europa e no mundo. A
rivalidade entre as potências européias, manifestada nas crises do Marrocos
(1905 e 1911) e nas guerras balcânicas de 1911 a 1913, determinou a
consolidação das alianças militares que haveriam de confrontar-se na primeira
guerra mundial: os impérios centrais da Alemanha e da Áustria, contra a
tríplice entente formada pelo Reino Unido, a França e a Rússia.
O início da
guerra provocou na Alemanha a união de todos os grupos políticos, incluídos os
socialistas, no empreendimento comum da defesa nacional. Após as primeiras
vitórias da ofensiva alemã, a partir de 1917, tornou-se evidente a fragilidade
econômica e social do país. A entrada dos Estados Unidos na guerra apressou a derrota
dos impérios centrais. Em novembro de 1918, o governo alemão pediu o
armistício.
República de
Weimar e Terceiro Reich. Em 1918, uma sucessão de revoltas operárias precipitou
a abdicação de Guilherme II e o estabelecimento do regime republicano. No ano
seguinte, após a repressão de novas sublevações populares, proclamou-se a
constituição republicana na cidade de Weimar. Pelo Tratado de Versalhes,
concluído em junho de 1919, os vencedores da guerra impuseram à Alemanha a
perda de diversos territórios na Europa, além das colônias ultramarinas, e
obrigaram o governo da nova república a pagar vultosas indenizações.
A crise
econômica, agravada em 1929, favoreceu a instabilidade política e o
fortalecimento dos grupos extremistas, especialmente o dos nacional-socialistas
(nazistas), que denunciavam os acordos de Versalhes como uma "punhalada
nas costas" da nação por parte do governo social-democrata. Adolf Hitler,
líder do partido nazista, chegou ao poder em 1933 e desencadeou uma política
ditatorial empenhada na reconstrução econômica, na perseguição aos judeus e na
repressão a todos os grupos de oposição. A ocupação da Polônia, em 1939, deu
início à segunda guerra mundial.
Entre 1939 e
1941, a Alemanha, aliada à Itália e ao Japão, ocupou grande parte da Europa,
inclusive a França. A declaração de guerra à União Soviética, com a qual a
Alemanha havia firmado em 1939 um pacto de não-agressão, determinou a dispersão
das tropas e o enfraquecimento do exército alemão (Wehrmacht), pois persistia a
luta na frente ocidental, contra o Reino Unido. A situação se agravou com a
entrada dos Estados Unidos na guerra e os bombardeios aliados em território
alemão. Em maio de 1945, a Alemanha se rendeu incondicionalmente.
Os acordos de
Yalta e Potsdam fixaram as fronteiras da Alemanha entre o Reno, no oeste, e o
Oder-Neisse, no leste, e determinaram a ocupação de seu território pelas
potências vencedoras (Estados Unidos, Reino Unido, França e União Soviética). A
União Soviética apropriou-se do norte da Prússia oriental, enquanto a Polônia
anexava, entre outras, as regiões da Silésia e de Danzig, atual Gdansk. O
bloqueio de Berlim pelas autoridades soviéticas, entre junho de 1948 e maio de
1949, constituiu o apogeu da guerra fria entre o bloco ocidental e o
socialista, cuja conseqüência imediata foi o estabelecimento das duas
repúblicas alemãs: a República Federal da Alemanha (RFA), na parte ocupada
pelos Estados Unidos, o Reino Unido e a França, e a República Democrática Alemã
(RDA), na parte soviética.
República
Democrática Alemã. No início de 1945, as tropas soviéticas entraram no setor
oriental da Alemanha. Após a queda do governo nazista, a União Soviética criou
uma administração militar encarregada de receber o pagamento das indenizações
de guerra e iniciar a construção de um estado socialista na Alemanha oriental.
Durante um
congresso realizado em março de 1948 pelo Partido Socialista Unificado da
Alemanha (comunista), estabeleceu-se o Volksrat (conselho do povo), que
elaborou a constituição da República Democrática Alemã, aprovada em 1949. Em
outubro de 1950, o novo estado foi admitido no Comecon (Conselho de Assistência
Mútua), integrado pela União Soviética e por seus aliados europeus. O governo
de Walter Ulbricht e Otto Grotewohl empreendeu um programa econômico baseado na
planificação, reformulado depois das insurreições populares de 1953.
Para
fortalecer os limites entre seus territórios e o da Alemanha ocidental, a RDA
postou um cordão policial ao longo de toda a fronteira. Dessa forma, Berlim se
tornou o ponto de fuga mais vulnerável para as pessoas inconformadas com o
regime socialista. A fim de evitar a evasão de dissidentes, a Volkskammer
(câmara do povo) decidiu em 1958 bloquear a saída para Berlim ocidental com uma
cerca de arame que em 1961 foi substituída por um muro de concreto (o muro de
Berlim).
Durante a
década de 1960, teve início a recuperação econômica do país, que começava a
receber o reconhecimento internacional de sua soberania. Em outubro de 1971, a
RDA solicitou o ingresso na Organização das Nações Unidas, alegando que sua
admissão poderia ajudar a resolver os problemas enfrentados pelas duas
Alemanhas. No mesmo ano, Erich Honecker assumiu o cargo de primeiro-secretário
do partido governante e em 1972 os dois estados firmaram um tratado de
reconhecimento mútuo. Em 1973, as duas Alemanhas entraram para as Nações Unidas
e em 1974 trocaram embaixadores. Em 1989, protestos populares e a crescente
fuga de pessoas para o lado ocidental causaram a queda de Honecker. Egon Krenz
assumiu os cargos de secretário-geral do partido e de presidente da república e
ordenou a formação de um governo, encabeçado por Hans Modrow, que incluiu
não-comunistas. Krenz renunciou em dezembro e um político não comunista,
Manfred Gerlach, do Partido Liberal Democrático, assumiu a presidência.
Em 18 de
fevereiro de 1990, realizaram-se as primeiras eleições livres na história da
RDA, vencidas pelos conservadores. Lothar de Maiziere, democrata-cristão,
encabeçou um governo de coalizão e acelerou as negociações pela reunificação da
Alemanha, as quais se iniciaram em julho. Em 3 de outubro de 1990, a RDA deixou
de existir para integrar, com a República Federal da Alemanha, um único país.
República
Federal da Alemanha. Na zona ocidental da Alemanha, ocupada por forças
americanas, inglesas e francesas, os vencedores se dedicaram em primeiro lugar
a extinguir o que restara do nacional-socialismo. Um tribunal especial julgou
os principais chefes nazistas, alguns dos quais foram condenados à morte. A
indústria bélica foi desmantelada e milhões de alemães, repatriados: da Prússia
oriental, ocupada pela União Soviética; da Silésia, da Pomerânia e de outras
regiões anexadas pela Polônia; dos Sudetos (Tchecoslováquia) e da Alemanha
oriental.
A atitude dos
aliados em relação aos inimigos se modificou em 1948, quando se deu o primeiro
confronto entre soviéticos, de um lado, e americanos, ingleses e franceses, de
outro. Esse conflito precedeu o bloqueio soviético contra a zona aliada de
Berlim, que consistiu na interrupção do fornecimento de energia e alimentos. A
situação foi resolvida pelos aliados mediante a criação de uma ponte aérea, que
possibilitou o abastecimento da população e das tropas de ocupação. Dessa
forma, o conflito entre o leste e o oeste provocou a divisão da Alemanha em duas
zonas, situação que favoreceu o nascimento das duas repúblicas alemãs.
A Alta
Comissão Aliada concedeu poderes a um conselho constituinte para convocar
eleições nas três zonas de ocupação dos exércitos americano, britânico e
francês, que passariam a integrar a República Federal da Alemanha, proclamada
em 23 de maio de 1949. Realizadas as eleições, a presidência da república foi
ocupada por Theodor Heuss, que, reeleito em 1954, permaneceria no cargo até
1959. A chefia do estado seria posteriormente exercida por Heinrich Lübke
(1959-1969), Gustav Heinemann (1969-1974), Walter Scheel (1974-1979), Karl
Carstens (1979-1984) e Richard von Weiszäcker.
Durante os
primeiros 14 anos do regime, o cargo de chanceler da república, ou chefe do
governo, foi ocupado por Konrad Adenauer, considerado o inspirador do já
mencionado "milagre alemão". Esse extraordinário impulso resultou de
muitos fatores, entre os quais se podem destacar a renovação da maior parte da
infra-estrutura econômica e industrial do país, a ajuda trazida pelo Plano
Marshall e por outros créditos americanos e a correta política econômica e
social do governo.
A aliança com
os Estados Unidos, país com o qual os sucessivos governos sempre mantiveram
fortes vínculos, especialmente sólidos durante o período de Adenauer, favoreceu
o acesso da RFA aos organismos internacionais, nos quais foi progressivamente
consolidando sua posição e seu prestígio. Ludwig Erhard, Kurt Georg Kiesinger,
Willy Brandt, Helmut Schmidt e Helmut Kohl foram os sucessores de Adenauer no cargo
de chanceler da República Federal da Alemanha.
Em novembro de
1989, ante os acontecimentos que se desenrolavam na RDA, Kohl propôs um plano
de reunificação. Em fevereiro de 1990, as duas Alemanhas iniciaram as
negociações "dois mais quatro" com as potências vencedoras da segunda
guerra mundial. A fusão ocorreu em 3 de outubro. O processo, no entanto, teve
um alto custo econômico, que gerou inflação e recessão. Um dos problemas
sociais provocados pela reunificação foi a necessidade de estender a toda a população
o bem-estar alcançado pelos habitantes do lado ocidental.
Instituições
políticas
A singular
estrutura política da atual República Federal da Alemanha tem origem na Lei
Fundamental de Bonn, promulgada em 1949 por um conselho parlamentar constituído
por 65 representantes dos Länder. Nela se estabeleceu a divisão do território
em dez Länder autônomos, cada um dos quais regido por leis ditadas por seu
próprio Parlamento regional. A proposta de tornar Berlim ocidental um Land foi
recusada pelas autoridades da ocupação. Em 1990, os 15 distritos da RDA foram
redefinidos como cinco novos Länder integrados à RFA. Berlim tornou-se também
um Land autônomo que reúne os antigos setores ocidental e oriental da cidade.
O traço que
melhor caracteriza a estrutura administrativa da república é a grande
descentralização, derivada da divisão territorial em Länder: cada um dos
estados tem um Parlamento e um governo, cujo raio de ação se limita a seu
próprio território e cujo único vínculo com o governo federal são os membros do
Bundesrat (câmara alta), designados pelo governo estadual.
O mais alto
cargo da federação é a presidência da república, cujo titular, além de
representante supremo da nação, atua como moderador entre os diferentes
poderes. De cinco em cinco anos, uma assembléia especial escolhe o presidente,
que só pode ser reeleito uma vez.
O Parlamento
consta de duas assembléias: o Bundestag (câmara baixa), cujos membros são
eleitos por sufrágio universal a cada quatro anos, e o Bundesrat, formado por
um número variável (proporcional à população) de membros dos governos de cada
um dos estados autônomos. A missão dessa câmara é sancionar ou rejeitar as leis
previamente aprovadas pelo Bundestag. Contudo, às vezes se recorre à mediação
de uma comissão paritária que permite agilizar os processos legislativos. A
câmara baixa ratifica o candidato a chanceler (primeiro-ministro), o qual,
designado pelo presidente da república, propõe os membros do gabinete
ministerial.
Sociedade
A unificação
das duas Alemanhas em 1990 trouxe problemas importantes na esfera social,
especialmente quanto à adaptação e à modernização dos serviços proporcionados
pelo antigo estado alemão oriental. O mesmo ocorreu com os diferentes
legislativos, sobretudo em relação a questões de grande interesse para a
população, como a lei de interrupção voluntária da gravidez, que era mais
permissiva na Alemanha oriental. Ao longo de 1991, o custo da reunificação foi
coberto com um aumento dos impostos na zona ocidental do país, com o fim de
recolher fundos suficientes para acelerar o desenvolvimento do leste e aliviar
as conseqüências do desemprego. A integração da zona oriental do país
significou também um aumento da mão-de-obra alemã oriental disponível para as
poderosas indústrias do lado ocidental, o que provocou restrições maiores na
admissão de imigrantes e refugiados políticos de outras nacionalidades.
Como uma das
principais potências econômicas do mundo, a Alemanha apresenta altos níveis de
qualidade de vida, consumo e benefícios sociais. O sistema previdenciário é
muito avançado. O estado dirige a assistência médica e hospitalar, de alta
qualidade, e paga pensões e auxílios a aposentados, vítimas de acidentes de
trabalho, viúvas, mutilados de guerra, órfãos etc.
A
descentralização institucional se manifesta de modo especial no sistema de
ensino. Cada um dos Länder autônomos adota seu próprio método educativo, embora
exista uma orientação geral à qual se devem adequar os programas de todos os
Länder. Os ciclos de ensino superior podem ser cursados em qualquer das
universidades, centros politécnicos ou escolas superiores que existem no país.
Em muitos desses centros há cursos altamente especializados, que suprem a
necessidade de pessoal qualificado que o desenvolvimento industrial do país
requer. Os modernos centros educativos, nos quais a pesquisa científica e a
tecnologia industrial são objeto de tratamento atualizado e rigoroso, coexistem
com algumas das grandes instituições docentes nas quais nasceu e se desenvolveu
a cultura germânica. É o caso das universidades de Heidelberg, fundada em 1836;
Göttingen, que data de 1737; Leipzig, Jena, Berlim e da politécnica de Dresden.
(Para dados sobre sociedade, ver DATAPÉDIA.)
Cultura
Os governos
dos dois estados alemães surgidos depois da segunda guerra mundial, assim como
o governo unificado instaurado em 1990, protegeram a herança cultural alemã e
estimularam a atividade de seus intelectuais e artistas. Após o colapso
acarretado pelo advento do nazismo e pela segunda guerra mundial, a cultura
alemã ressurgiu com novo ímpeto e ultrapassou em muitos casos as fronteiras
políticas que delimitavam o mundo de língua germânica.
No campo da
literatura destacaram-se os romancistas Heinrich Böll, Günther Grass e Martin
Walser, renovadores da narrativa alemã; o poeta Paul Celan, os dramaturgos
Peter Weiss e Siegfried Lenz e o ensaísta Hans Magnus Enzensberger. Na Alemanha
oriental foram importantes Bertolt Brecht, poeta, dramaturgo e romancista, Anna
Seghers e Arnold Zweig.
Mereceram
citação especial no universo cultural as atividades musicais de toda índole. A
tradição alemã de grandes intérpretes e compositores se manteve durante a
segunda metade do século XX com figuras como Carl Orff, Hans Werner Henze e
Gottfried von Einem, dedicados à música sinfônica, ou Karlheinz Stockhausen,
introdutor da música eletrônica. As orquestras conservaram o prestígio de que
sempre gozaram, especialmente a Filarmônica de Berlim, a Sinfônica de Bamberg
ou a orquestra de câmara de Stuttgart. Entre os regentes de orquestra do século
XX salientaram-se figuras como Wilhelm Furtwängler e Herbert von Karajan.
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