domingo, 19 de maio de 2013

Marrocos



 
Situado na região africana do Maghreb, o Marrocos é um país muçulmano em que as influências espanholas e francesas se adaptaram à rica tradição cultural árabe e berbere. Seu território, cortado por altas  cordilheiras, é de modo geral menos quente e seco que o dos países vizinhos.
O Marrocos situa-se no noroeste da África e está separado da Europa pelo estreito de Gibraltar. Limita-se a oeste com o oceano Atlântico, a nordeste com o mar Mediterrâneo, a leste e sudeste com a Argélia e a sudoeste com o Saara Ocidental (ex-Saara Espanhol). O Saara Ocidental, território limitado a leste e ao sul com a Mauritânia e a oeste com o Atlântico, foi anexado pelo Marrocos, apesar dos protestos internacionais e de grupos nacionalistas, depois que a Espanha retirou-se da região, em 1975. Não se considerando o Saara Ocidental, o Marrocos possui uma superfície de 458.730km2 (710.850km2 com o Saara Ocidental). O governo marroquino reivindica à Espanha as localidades espanholas de Ceuta e Melilla e as ilhas Chafarinas.
Geografia física. Com altitude média de 800m acima do nível do mar, o Marrocos é um país predominantemente montanhoso. Duas cordilheiras, o Rif, ao longo do litoral norte, e o Atlas, no centro, dividem o Marrocos oriental, fisicamente semelhante à vizinha Argélia, do Marrocos atlântico, mais montanhoso. As duas regiões são ligadas pelo desfiladeiro de Taza, no nordeste, bem como por rodovias que seguem antigas rotas coloniais. Os sistemas montanhosos formaram-se como resultado dos dobramentos e soerguimentos do período terciário, há cerca de sessenta milhões de anos. A cordilheira do Atlas compõe-se de três cadeias paralelas: o Atlas Médio, ao norte; o Alto Atlas, no centro; e o Anti-Atlas, ao sul. As maiores altitudes encontram-se no Atlas Médio (3.290m) e, principalmente, no Alto Atlas, onde o Toubkal alcança 4.165m.
Variável de acordo com a latitude, o clima é mediterrâneo no norte e desértico no sul. A influência do Atlântico, porém, é importante, porque os ventos úmidos e a corrente oceânica fria procedente das ilhas Canárias reduzem a temperatura na faixa litorânea. No litoral, a temperatura média durante o dia, no verão, oscila entre 18o e 28o C. No interior, contudo, muitas vezes excedem 35o C. As médias no inverno oscilam entre 8o e 17o C, durante o dia, e no interior caem significativamente, muitas vezes abaixo de zero.
As montanhas têm um importante papel na vida econômica do país, pois são as principais geradoras de água para irrigação das planícies. Nascem ali os grandes rios permanentes que correm para o Atlântico, como o Sebou, o Bou-Regreg, o Oum-er-Rbia, o Tensift e o Sous; para o Mediterrâneo, como o Moulouya; e, mesmo para o Saara, como o Dra e Dades. Em sua maioria, no entanto, os rios marroquinos são temporários.
Fora das áreas desérticas, a vegetação do Marrocos assemelha-se à da península ibérica. Ao longo do litoral, predomina o maqui, vegetação arbustiva típica da área mediterrânea, que, no Rif, dá lugar à floresta de coníferas. Os planaltos são recobertos por estepes, enquanto ao longo do litoral atlântico encontram-se bosques de sobreiros. O Médio Atlas possui magníficos bosques de cedros e, ao sul do Anti-Atlas, a vegetação é do tipo desértico.

População.
A população marroquina é de origem árabe e berbere, embora as diferenças entre os dois grupos sejam mais lingüísticas que raciais. A língua berbere, apesar de ter sofrido forte influência do árabe, se conservou nas regiões montanhosas. Os povos de língua berbere dividem-se em três grupos etnolingüísticos: os rif, da cadeia do Rif; os tamazight, do Médio Atlas; e os shluh, do Alto Atlas e da planície do Sous. O resto da população fala árabe e é formada de berberes arabizados, assim como de um pequeno número de beduínos que chegaram ao Marrocos com o exército islâmico no século VII ou com a tribo invasora hilal nos séculos XI e XII.
Os imigrantes muçulmanos espanhóis que chegaram ao Marrocos durante a reconquista cristã da península ibérica, que terminou em 1492 com a capitulação do reino mouro de Granada, eram uma mistura de árabes, berberes e ibéricos, cujos descendentes vivem em Rabat, Salé, Fez e Tétouan. A colonização européia trouxe uma minoria de franceses e espanhóis, que antes da independência chegou a alcançar meio milhão de habitantes. Os idiomas desses grupos continuaram a ser falados depois nas áreas urbanas onde França e Espanha exerceram seu protetorado. Numerosa e importante antes da criação de Israel, a minoria judia diminuiu muito em função da emigração para o estado judaico.
A população concentra-se nas planícies, planaltos e colinas do noroeste do país. As regiões áridas do leste e do sul e os montes Atlas são muito pouco povoados. Com uma população bastante jovem no final do século XX, Marrocos apresentava alta taxa de natalidade e crescimento demográfico elevado. A capital do país é Rabat, mas Casablanca é a cidade mais importante e o principal centro industrial e comercial. Marrakech, Fez e Meknès são cidades tradicionais, e Tânger é centro turístico.

Economia.
Como na maioria das antigas colônias européias, a economia marroquina permanece muito dependente das exportações de matérias-primas. Caracteriza-se também por uma dicotomia entre um grande setor tradicional e um setor menor, orientado para a exportação. No conjunto, a economia moderna é responsável por mais de setenta por cento do produto interno bruto, embora gere apenas trinta por cento dos empregos.
O Marrocos é um dos poucos países árabes com potencial para alcançar a auto-suficiência na produção de alimentos. Entre os principais produtos agrícolas estão o trigo, a cevada, as frutas cítricas e a batata. O país exporta verduras e frutas para o mercado europeu e é auto-suficiente na produção de carne, embora precise importar leite. O governo concede licenças a barcos espanhóis, japoneses e soviéticos para pescar em suas águas, com a condição de que ajudem o Marrocos a executar programas de expansão de sua indústria pesqueira.
Apesar de seu potencial agrícola e pesqueiro, a economia do Marrocos baseia-se na mineração. O país concentra as maiores reservas mundiais de fosfato e extrai também ferro, zinco, chumbo, manganês, cobre e pirita (sulfato de ferro do qual se extrai enxofre) em grandes quantidades.
A atividade industrial mais importante é a transformação de fosfato em fertilizante e ácido fosfórico para a exportação, além da produção de artigos têxteis e alimentícios. O país também investe na indústria pesada e oferece estímulos fiscais para atrair capital estrangeiro. Dominam a pauta de exportações o fosfato e seus derivados, produtos agrícolas e artigos têxteis. Como fontes de divisas, o turismo e as remessas por parte de marroquinos que trabalham no exterior são praticamente equivalentes às exportações de fosfatos.
O sistema financeiro é misto: os bancos estatais convivem com bancos privados nacionais e estrangeiros. O sistema de transporte por rodovia e ferrovia desenvolveu-se rapidamente a partir de 1970. O principal aeroporto está localizado perto de Casablanca.

História.
No século XII a. C., os fenícios instalaram feitorias no litoral mediterrâneo e atlântico, de onde passaram a controlar o comércio de prata e ouro procedente do interior. Mais tarde os cartagineses fundaram entrepostos comerciais no litoral marroquino. Com a destruição de Cartago, em 146 a.C., o domínio de Roma substituiu junto aos reinos berberes a suserania púnica, e, na época de Augusto, o território passou a integrar a nova província romana da Mauritânia Tingitana. O domínio romano terminou com a chegada dos vândalos, povo germânico que, procedente da Espanha, manteve um reino na região até o ano 534 da era cristã, quando foi destruído pelo exército bizantino de Belisário.
A invasão árabe no século VII foi o acontecimento mais importante da história da África setentrional, em virtude da incorporação ao Maghreb de fundamentos religiosos, políticos e culturais do Islã. Após 63 anos de resistência berbere, a conquista completou-se no ano 709. Dois anos depois, os árabes contaram com a ajuda dos berberes islamizados para conquistar a península ibérica.
Um descendente de Maomé, Idriss I, refugiou-se em 786 no Marrocos, onde fundou uma dinastia independente do califado abássida de Bagdá. Idriss II estendeu seus domínios para sul e leste e transformou Fez num grande centro religioso e cultural. No século XI, os almorávidas, berberes procedentes da Mauritânia, invadiram o país e estenderam seu domínio à Espanha. Um século depois teve início o movimento religioso, logo transformado em político, dos almôadas, que fundaram um império consolidado também em parte da península ibérica. No século XIII surgiu um novo império no Marrocos, o dos marínidas berberes, que se impôs ao decadente poder almôada.
Em 1415, os portugueses fundaram feitorias em Ceuta (que depois passaram ao domínio espanhol) e em outros pontos do litoral, mas o Marrocos conseguiu conter a invasão européia, na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578, e, no fim do mesmo século, a dos turcos, que haviam conquistado grande parte do norte da África. Com a abertura de novas rotas marítimas, o comércio através do Saara foi abandonado, e o país entrou em declínio como conseqüência de uma grave crise econômica. Em meados do século XVII fundou-se a dinastia dos álidas, que se proclamaram descendentes de Maomé.
Com a invasão francesa da Argélia em 1830, o Marrocos começou a envolver-se nas lutas colonialistas contra as potências européias. O país prestou ajuda militar aos argelinos, mas as forças marroquinas foram derrotadas pelos franceses em 1844. Em 1859, uma disputa com a Espanha pelas fronteiras do encrave de Ceuta provocou uma guerra na qual as forças marroquinas saíram derrotadas. O sultanato álida teve que pagar uma pesada indenização e ceder à Espanha o encrave de Ifni.
Em 1904, o Reino Unido reconheceu os interesses franceses no Marrocos, e, no mesmo ano, França e Espanha chegaram a um acordo que assegurava aos espanhóis o norte do Marrocos como área de influência. A Conferência Internacional de Algeciras, em 1906, reconheceu a integridade territorial do império marroquino, ao mesmo tempo em que legitimou a preponderância de França e Espanha no país. Em 1912 estabeleceram-se os protetorados francês e espanhol. A França ficou com a maior parte do território, e à Espanha couberam os territórios do Rif e de Ifni.
Em 1921 iniciou-se no Rif uma insurreição contra os espanhóis, comandada pelo emir Abd al-Krim. A rebelião anticolonialista se estendeu à zona de influência francesa, mas foi dominada em 1926 pelas forças franco-espanholas. Em 1936, durante a guerra civil espanhola, tropas marroquinas lutaram sob as ordens do general Francisco Franco na península ibérica. Em 1943 surgiu no protetorado francês um partido separatista. O sultão Mohamed ben Yusuf (Mohamed V) aderiu ao movimento nacionalista e dez anos depois foi deposto pelos franceses por não ter aceito sancionar reformas que lhe limitavam o poder. A Espanha, que não havia sido consultada, negou-se a reconhecer a deposição e acolheu patriotas marroquinos em seu protetorado. Preocupado com a rebelião argelina, o governo francês concedeu a independência ao Marrocos em 2 de março de 1956, e Mohamed ben Yusuf voltou ao trono. Em abril do mesmo ano, a Espanha renunciou aos territórios de seu protetorado no norte, e o Marrocos, parcialmente unificado, tornou-se independente, adotando o regime de monarquia constitucional em 1962.
Ao obter a independência, o Marrocos havia aceito e reconhecido a legitimidade de suas fronteiras em tratados com a França e a Espanha. O partido Istiqlal e outros grupos nacionalistas reivindicaram, contudo, o que chamavam de Grande Marrocos, território que, a leste, avançava pelo Saara argelino e, ao sul, chegava até o rio Senegal e incluía o Saara Espanhol e a Mauritânia, assim como vastas regiões da Argélia, Senegal e Mali. O Marrocos pretendia anexar dois milhões de quilômetros quadrados (mais de quatro vezes a extensão de seu território na época) escassamente povoados, mas ricos em recursos minerais.
O governo marroquino conseguiu cumprir parte de seu ambicioso programa. Em 1958, a Espanha passou para o Marrocos a porção sul do protetorado espanhol, Tarfaya, e em 1969 devolveu Ifni. O rei Hassan II, que sucedera a seu pai, Mohamed V, em 1961, encabeçou em 1975 a Marcha Verde, integrada por 350.000 marroquinos desarmados que penetraram no Saara Espanhol e forçaram a Espanha a abandonar o território. Em 1976, o país iniciou uma guerra com a Frente Polisario (Frente Popular para a Libertação da Saguia el Hamra e Río de Oro), que lutava pela independência do território ocupado pelos marroquinos e rebatizado com o nome de Saara Ocidental. Em 1986, o país conseguiu assegurar dois terços do território. O estreitamento das relações com a Argélia, em 1987 e 1988, juntamente com uma proposta de paz das Nações Unidas, aceita por Marrocos, prenunciou uma solução para o problema, mas a ação militar da Frente Polisario, no ano seguinte, interrompeu as conversações.

Instituições políticas.
A constituição de 1992 estipula uma monarquia constitucional modificada, na qual o chefe de estado é um rei hereditário. O poder legislativo cabe a uma assembléia unicameral, de 333 membros, com mandato de seis anos. Destes, 222 são eleitos por sufrágio universal, e 111 escolhidos por um colégio eleitoral formado por conselheiros municipais e representantes de entidades profissionais. O poder executivo é exercido pelo rei, que nomeia (e pode demitir) o primeiro-ministro, que por sua vez indica os demais membros do gabinete. O rei pode também dissolver a Assembléia.
O país tem um sistema multipartidário, cujos principais partidos são o Istiqlal (Partido da Independência), o Movimento Popular e a União Nacional das Forças Populares. O território se divide em províncias e prefeituras urbanas.

Sociedade.
Embora o governo tenha investido na medicina preventiva, por meio do aumento do número de dispensários e centros de saúde, metade da população rural não tem acesso a esses serviços. Antigas doenças endêmicas, como tracoma, tuberculose e cólera, foram erradicadas. A incidência de outras doenças, como a hepatite, permanece elevada, enquanto novas doenças, como a esquistossomose, tornam-se mais freqüentes.
O ensino é obrigatório entre os sete e 13 anos de idade. Apesar dos programas educativos do governo, o analfabetismo entre a população é grande. No final do século XX, metade dos alunos do curso primário atingia o ensino secundário, e um entre dez chegava à universidade. Na mesma época, a educação absorvia um quarto do orçamento nacional. A religião oficial do estado é a muçulmana sunita.

Cultura.
Entre os séculos VIII e XV, no período da Espanha muçulmana, o Marrocos se beneficiou do esplendor cultural de Córdoba, Sevilha e Granada, e participou das correntes literárias e filosóficas hispano-muçulmanas. O filósofo cordobês Averroés, introdutor do aristotelismo no mundo muçulmano e na Espanha, era conhecido e seguido no Marrocos. A intransigência religiosa coibiu a atividade intelectual, e a criação literária refugiou-se na poesia.
A abertura imposta no século XIX pelo contato com a França e a Espanha provocou profunda transformação da vida cultural, que após a independência procurou combinar os avanços ocidentais com as raízes das culturas berbere e árabe. Por esse motivo, o governo criou um instituto para promover a cultura popular. Os gêneros literários mais cultivados tradicionalmente, a poesia e a historiografia, sofreram influência do Oriente Médio e do Ocidente. Além disso, muitos autores marroquinos publicam suas obras na França e no Marrocos.
As artes experimentaram forte impulso no século XX, tanto na pintura como na escultura, na música popular e no teatro. A pintura, com escolas em Casablanca e Tétouan, foi especialmente promovida pelo Ministério da Cultura, que é responsável também pela administração de bibliotecas, museus e arquivos históricos. A Academia Real do Marrocos foi fundada em 1979, com caráter interdisciplinar. Inúmeros centros vinculados a embaixadas estrangeiras contribuem para diversificar a cultura do país. Os principais eventos culturais do Marrocos são o festival folclórico de Marrakech, o festival de jazz de Tânger, o de música andaluza de Saidia e o de artes africanas em Agadir.












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