sexta-feira, 17 de maio de 2013

Primeira Guerra Mundial



A rivalidade franco-alemã, a disputa germano-britânica pela hegemonia naval, o problema das minorias eslavas, a insatisfação da Alemanha com a partilha do mundo colonial e a necessidade que tinha a Rússia de uma saída para o Mediterrâneo foram os principais fatores que levaram à irrupção da primeira guerra mundial.
Tomou o nome de primeira guerra mundial o confronto que, de agosto de 1914 a novembro de 1918, opôs as potências centrais (Alemanha, Áustria e Turquia) aos aliados (Rússia, França, Reino Unido e mais tarde Estados Unidos), envolvendo ainda dezenas de outros países, entre eles o Brasil. A grande guerra, como foi chamada na época, devastou a Europa, pois nenhum outro conflito até então envolvera de maneira tão extensa e profunda as populações dos países beligerantes.
Origens. O "equilíbrio europeu" surgido após as guerras napoleônicas de 1805-1815 era apoiado numa série de alianças que só propiciaram uma instável paz armada. A Alemanha, unificada sob Otto von Bismarck, promoveu acordos com a Áustria, a Itália e a Rússia (1873-1882). Destacou-se entre todos o da Tríplice Aliança germano-austro-italiana, sempre com o objetivo de isolar a França. Mas quando o kaiser alemão Guilherme II subiu ao trono, afastou Bismarck e recusou-se a renovar o pacto com a Rússia, o que levou o czar Alexandre II a superar sua aversão à república e assinar tratado com a França, que assim saiu do isolamento. A França também reconciliou-se com a Itália por meio de acordos comercial e político (1898-1902).
O Reino Unido abandonou seu "esplêndido isolamento" e tentou em vão aproximar-se da Alemanha. Só se voltou para a França quando ficou alarmado com o programa naval e comercial de Guilherme II. Foi então que se estabeleceu a Entente Cordiale (1904) pelo qual ambas as potências prometiam apoio recíproco. Em 1907 a França aproximou a Rússia do Reino Unido e, a partir de 1908, esse bloco ficou conhecido como Tríplice Entente.
Tanto a Tríplice Aliança quanto a Tríplice Entente se diziam defensivas. A primeira era uma verdadeira aliança, obrigava cada uma das partes a prestar assistência às outras em caso de ataque. Entretanto, a Itália dela se afastou à medida que ficou claro o conflito de seus interesses com os dos austríacos no mar Adriático. A Tríplice Entente, por sua vez, era mero entendimento, pois o Reino Unido não desejava nem podia assumir compromissos muito definidos.
Início da guerra. Quando o arquiduque Francisco Ferdinando de Habsburgo foi morto a tiros por um nacionalista sérvio durante visita a Sarajevo, capital da Bósnia e Herzegovina (anexada ao império austro-húngaro em 1908), a Áustria, com apoio da Alemanha, aproveitou o pretexto para declarar guerra à Sérvia (28 de julho de 1914), com a intenção de eliminá-la do mapa e dividir seu território com a Bulgária. A Rússia, temerosa desse expansionismo, mobilizou seus exércitos contra a Áustria. A Alemanha então declarou guerra à Rússia e à França, e invadiu a Bélgica a 3 de agosto. O Reino Unido entrou no conflito no dia seguinte, e ficaram definidos os dois campos. De um lado as potências centrais: Alemanha e o império austro-húngaro, apoiados por Turquia e Bulgária. Do outro os aliados: Rússia, Sérvia, Montenegro, França, Reino Unido e Bélgica.
Após superar a resistência belga, o exército alemão invadiu a França na expectativa de uma vitória rápida, para poder concentrar depois suas forças contra a Rússia. De fato, chegou a cinqüenta quilômetros de Paris, mas foi rechaçado na batalha do Marne (várias batalhas são agrupadas sob esse nome), entre 5 e 10 de setembro. Os alemães então se entrincheiraram ao norte, de onde tentaram dominar a região da Mancha. A "corrida para o mar" dos alemães foi frustrada por uma ofensiva anglo-francesa com apoio belga.
Frente ocidental (1915-1916). Após a vitória aliada em Ypres (outubro-novembro de 1914), a frente estabilizou-se numa linha em forma de um "S" alongado e mal traçado, que ia da Mancha à Suíça. Começou então uma interminável guerra de trincheiras, que se estendeu por todo o ano de 1915. Em abril, na segunda batalha de Ypres, pela primeira vez na história das guerras os alemães empregaram gás venenoso, provocando pânico. Em fevereiro de 1916 os alemães atacaram Verdun e tomaram várias fortificações em torno da cidade. Os aliados responderam com a ofensiva do Somme, batalha que custou um milhão de homens, somando-se as baixas de ambos os lados. Na ocasião, os ingleses, por inspiração de Winston Churchill, utilizaram pela primeira vez tanques, ainda primitivos e em pequeno número, na verdade tratores blindados e armados.
Campanha da Rússia (1915-1917). Na frente oriental os russos atacaram os austro-húngaros na Galícia (Polônia). Com a chegada de reforços alemães, as potências centrais avançaram e logo dominaram a Polônia e a Lituânia. Os russos perderam dois milhões de homens, a metade dos quais foram feitos prisioneiros. Apesar disso, em 1916 desfecharam contra-ataque na frente que ia dos Cárpatos ao Báltico e, como resultado indireto, a Romênia entrou na guerra do lado dos aliados.
A melhor condição estratégica da Rússia tinha como contrapeso a crise interna que levou à queda do czarismo em 23 de fevereiro (8 de março, no calendário gregoriano) de 1917. O governo Kerenski iniciou nova ofensiva mas os alemães ocuparam Riga em setembro e em seguida se apossaram da Letônia e das ilhas do Báltico. Lenin chegou ao poder em outubro e assinou o armistício de Brest-Litovsk com os alemães, que assim puderam transferir suas tropas para a frente ocidental. Pelo tratado do mesmo nome, firmado em 3 (16) de março de 1918 a Rússia ainda lhes cedeu a Ucrânia, a Polônia, a Lituânia, a Finlândia, províncias do Báltico e a Armênia.
Frente italiana (1915-1917). Apesar de ter assinado a Tríplice Aliança, a Itália, em conflito de interesses com a Áustria, recusou-se a entrar na guerra ao lado das potências centrais. E para lutar ao lado dos aliados exigiu o domínio do Adriático, por considerar-se herdeira de Veneza, e a anexação do Trentino ou Tirol do Sul. Depois de uma série de manobras diplomáticas, foi assinado um tratado secreto em Londres (abril de 1915) pelo qual os aliados lhe prometiam o território tirolês pleiteado e uma parte das colônias alemãs a serem partilhadas após a guerra. Assim, em 23 de maio de 1915 a Itália declarou guerra ao império austro-húngaro, iniciando-se uma luta de trincheiras ao longo do eixo Isonzo-Trieste. Em outubro de 1917 uma grande ofensiva dos poderes centrais rachou a frente e obrigou os italianos a se retirarem até Piave. Em junho de 1918 a Áustria atacou Piave, mas foi rechaçada, insucesso que, somado ao colapso total de suas forças na guerra, deu a vitória à Itália. Roma e Viena assinaram o armistício no dia 3 de novembro de 1917.
Campanha da Turquia (1914-1918). Temerosa da desintegração final do império otomano, após batalha diplomática de quase três meses entre Londres, Paris, Berlim e Constantinopla, a Turquia entrou na guerra do lado das potências centrais (29 de outubro de 1914) e bombardeou vários portos russos no mar Negro. Pouco depois lançou grande ofensiva contra a Rússia. Como a frente ocidental estava paralisada desde outubro, os aliados decidiram atacar Constantinopla através dos Dardanelos, para dar a mão aos russos e ameaçar as potências centrais pelo sudeste. Arquitetou-se então a campanha de Galípoli, brilhante na concepção mas inepta na execução, e que se estendeu até janeiro de 1916, sem êxito. O desembarque, apesar de tudo, serviu de precedente para as bem-sucedidas campanhas anfíbias da segunda guerra mundial.
A luta prosseguiria no Oriente Médio, onde as campanhas da Palestina e da Síria deram celebridade a Thomas Edward Lawrence, El-Orens para os árabes, Lawrence da Arábia para o mundo ocidental, arqueólogo de Oxford que dirigiu a revolta dos beduínos contra o domínio otomano. Sua guerrilha contribuiu para que as tropas britânicas capturassem Gaza, Jaffa e Jerusalém e, no outono de 1918, desbaratassem as forças turcas em Megido.
Guerra dos Balcãs (1914-1917). Desde o início da guerra tanto os aliados quanto as potências centrais tentaram atrair os países do sudeste europeu. Por fim foi aberta a frente da Macedônia, com o desembarque de tropas franco-britânicas em Salonica (outubro de 1915). A Sérvia foi atacada pelas tropas austro-húngaras, agora com apoio da Bulgária. Em 1918 as forças aliadas sediadas em Salonica, com apoio da Grécia, da Itália e da Sérvia, lançaram-se contra a Bulgária, que após uma semana de luta pediu o armistício (30 de setembro). A Romênia juntou-se aos aliados e entrou no conflito em 27 de agosto de 1916, na tentativa de apoderar-se da Transilvânia, então pertencente à Hungria. Mas só em 15 de setembro de 1918 as tropas francesas romperiam a linha inimiga e continuariam a avançar até o dia do armistício alemão de 11 de novembro; durante três anos metade do exército búlgaro imobilizara mais de meio milhão de homens em Salonica. Na verdade, porém, o principal inimigo foi a malária.
Guerra marítima e aérea (1914-1918). A guerra naval caracterizou-se pelo bloqueio britânico dos portos inimigos. Os alemães responderam com a guerra submarina, que causou sérias dificuldades aos aliados mas também resultou decisiva para a entrada dos Estados Unidos no conflito. A opinião pública americana foi mobilizada sobretudo após o torpedeamento do Lusitânia (7 de maio de 1915), navio britânico de passageiros que levava também munições e em cujo afundamento morreram cidadãos americanos.
No sentido clássico de duelo de artilharia, ocorreram quatro batalhas navais, três delas importantes. No ataque às ilhas Malvinas ou Falkland (8 de dezembro de 1914), depois da batalha de Coronel, no Chile (1º de novembro de 1914), os alemães sofreram grande derrota, que prenunciou o fim de suas operações em alto-mar. O encontro de Dogger Bank (24 de janeiro de 1915) não passou de uma série de escaramuças entre cruzadores britânicos e alemães. A 31 de março do mesmo ano travou-se, a oeste da península da Jutlândia (Dinamarca), a maior e mais discutida batalha naval da guerra. Ela terminou indecisa, no sentido que nenhuma das duas esquadras destruiu a outra; mas os alemães, comandados pelo almirante Reinhard Scheer, desistiram de enfrentar as belonaves de Sir John Jellicoe e retiraram-se para sua base, de onde nunca mais saíram, o que configurou uma vitória tática dos britânicos.
A partir daí a esquadra britânica dedicou-se ao bloqueio naval, enquanto a Alemanha se concentrava na guerra submarina. O tráfego marítimo mundial foi seriamente ameaçado e todo o continente europeu sofreu privações. A crise atingiu os Estados Unidos. Os protestos após o afundamento do Lusitânia surtiram algum efeito, mas quando os alemães afundaram mais três de seus navios mercantes os americanos declararam-lhes guerra, em 6 de abril de 1917.
As missões aéreas eram a princípio apenas de reconhecimento e regulagem do tiro da artilharia. Da necessidade de impedir e proteger os reconhecimentos, nasceram os caças. Finalmente a nova arma passou a ser empregada em bombardeios táticos e estratégicos, e aeroplanos e dirigíveis ditos zepelins atacaram Paris e Londres, enquanto o Reino Unido bombardeava cidades e centros industriais alemães.
Vitória aliada na frente ocidental (1917-1918). Em março e abril de 1918 os alemães lançaram uma grande ofensiva na Champagne e só foram detidos pela contra-ofensiva francesa a cerca de sessenta quilômetros de Paris. Fortalecidos pelo contingente americano, os aliados forçaram as tropas alemãs a retroceder e, no fim de setembro, os reveses militares levaram à queda do governo em Berlim. Em outubro o príncipe Max von Baden pediu o armistício com base nos Quatorze Pontos do presidente americano Woodrow Wilson, enunciado de condições para a paz que entrou em vigor a 11 de novembro de 1918. Em seguida à derrota, ao motim da esquadra alemã e às revoluções na Baviera e na Prússia, o imperador Guilherme II fugiu para os Países Baixos. E a Europa iniciou os preparativos da conferência de paz de Versalhes, para a qual o Brasil seria convidado.
Participação brasileira (1917-1918). Em 26 de outubro de 1917, após o torpedeamento de vários navios cargueiros brasileiros por submarinos alemães, o Brasil declarou guerra à Alemanha. A participação brasileira foi restrita, porém útil. Uma divisão naval, composta por cruzadores ligeiros e contratorpedeiros, foi enviada em ajuda aos aliados, mas em Dacar a peste vitimou 464 dos dois mil tripulantes. Dez aviadores do Corpo de Aviação Naval participaram do patrulhamento do Atlântico, e uma missão médica, composta de cem cirurgiões, seguiu para a França. Navios do Lóide Brasileiro ajudaram a transportar tropas americanas para a Europa.
Conseqüências.  Extensas áreas da Europa foram arrasadas. O total de vítimas é impossível de ser calculado, mas fala-se entre 10 e 15 milhões, computando-se mortos e feridos, militares e civis. O custo, em despesas diretas e decorrentes, chegou a cerca de 338 bilhões de dólares. O mundo entrou em crise e desequilíbrio. Revoluções derrubaram dinastias e o regime republicano estendeu-se pelo continente europeu. As moedas nacionais sofreram baixa, o câmbio ficou instável, a especulação e a inflação dispararam. A crise econômica de 1929 foi um desdobramento dessa situação. O império austro-húngaro, de economia outrora modelar, viu-se reduzido a um estado sem expressão. Os Estados Unidos recomendaram um ano de moratória para todas as transações internacionais, em meio ao caos financeiro.
Na Alemanha, a revoltada oposição ao Tratado de Versalhes e às pesadas indenizações de guerra levaram ao surgimento do nazismo. A Europa central tornou-se um conglomerado de pequenos estados, com o enorme problema das minorias, o que estimulou os países mais poderosos a buscar a hegemonia continental. Os interesses da indústria bélica desenvolvida ao longo da guerra somaram-se à crise política para preparar o cenário da segunda guerra mundial, que incorporou a grande novidade da primeira: a exacerbação do patriotismo e a mobilização em massa da sociedade civil.

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