domingo, 26 de maio de 2013

Índia




Um dos países de maior diversidade étnica do mundo, a Índia abriga inúmeras castas e tribos, uma multiplicidade de religiões e seitas e centenas de  grupos lingüísticos grandes e pequenos, pertencentes a famílias totalmente diferentes. As tentativas de fomentar o espírito de nacionalidade em tão variada população esbarram quase sempre nas tensões entre grupos vizinhos, que com freqüência explodem em reações violentas.
A Índia localiza-se no sul da Ásia e ocupa quase todo o subcontinente indiano, com uma superfície de 3.165.596km2. Está separada do resto da Ásia pela cordilheira do Himalaia. Limita-se ao norte com China, Nepal e Butã; a noroeste, com o Paquistão; a leste, com Myanmar (ex-Birmânia) e o golfo de Bengala; ao sul com o oceano Índico; e a oeste com o mar da Arábia. Bangladesh forma um encrave, dentro da Índia, limitado pelos estados indianos de Bengala Ocidental, Assam, Meghalaya e Tripura, e com o território de Mizoram.
Geografia física
Geologia e relevo. O território da Índia tem a forma de um triângulo cuja base é a vertente meridional do Himalaia e o vértice a ponta sul da península do Deccan. Sua disposição geomorfológica é resultado de uma série de ajustamentos da crosta terrestre, quando o bloco do Deccan uniu-se ao continente asiático e criou a cordilheira do Himalaia e a planície aluvial dos rios Indo, Ganges e Brahmaputra.
O país compreende três regiões morfológicas: o Himalaia, a planície indo-gangética e o planalto do Deccan. A cordilheira do Himalaia, ao norte, a mais alta do mundo, domina em semicírculo a planície indo-gangética, de Cachemir a Assam, e parte desse sistema pertence à Índia. No estado de Uttar Pradesh ficam o Nanda Devi (7.817m), o Kamet (7.756m) e o Trisul (7.120m). As planícies da Índia cobrem mais de um milhão de quilômetros quadrados, em sua maior parte na planície indo-gangética, no norte. São as áreas de cultivo e povoamento mais intensos, particularmente onde há abundância de água. No noroeste estende-se o deserto de Thar ou Grande Deserto Indiano.
Geologicamente, o planalto de Deccan, ao sul, é a parte mais antiga da Índia, formada por rochas cristalinas com idades entre 300 e 500 milhões de anos. As montanhas Vindia (Vindhya) separam o planalto da planície indo-gangética.
Clima. As monções exercem influência sobre o clima, que em geral é quente. As temperaturas são relativamente constantes no sul, com média de 29,5o C, e sofrem grandes variações no norte, mas no Himalaia predomina o clima frio, com média de 12o C. As chuvas são intensas no nordeste, na costa oeste e na região do baixo Ganges, moderadas em um vasto cinturão no leste do Deccan e escassas no deserto de Rajasthan, no planalto de Ladakh, em Cachemir, e entre o Punjab e os montes Vindia. As médias pluviométricas anuais são superiores a 2.450mm, mas chegam ao recorde mundial de quase 12.000 no maciço de Shillong, em Assam.
Hidrografia. Os rios da Índia agrupam-se em quatro conjuntos: bacia do Himalaia, bacia do Deccan, rios costeiros e bacia interior. Os rios do Himalaia, que se nutrem do derretimento das neves e da chuva, são quase sempre caudalosos. O Ganges, com curso de 2.510km, recebe diversos afluentes e desemboca no golfo de Bengala. O Brahmaputra banha a planície de Assam. O Indo cruza a região de Cachemir e tem afluentes importantes. Os rios do Deccan estão sujeitos a grandes flutuações de volume e os rios costeiros são curtos. Os lagos mais importantes são o Wular e o Lonar.
Flora e fauna. A Índia tem uma vegetação rica e variada, distinta segundo as regiões. As palmeiras de variedades diversas são típicas das terras secas e altas do Deccan. A zona de Malabar, que cobre a costa oeste, e os Ghats ocidentais são ricos em florestas tropicais. A região dos vales do Brahmaputra e do Surma tem vegetação exuberante, com abundância de bambus. No Himalaia oriental há mais de quatro mil espécies de plantas e o Himalaia ocidental se caracteriza pelos bosques de coníferas.
Igualmente rica é a fauna. O tigre, que domina as zonas florestais, é característico do país. As panteras também são abundantes e uma de suas variedades, a da neve, só se encontra no Himalaia. Entre os grandes mamíferos estão os elefantes asiáticos, rinocerontes, ursos, antílopes, gazelas, lobos, hienas, macacos, búfalos selvagens etc. Os répteis compreendem mais de 550 espécies e os mais conhecidos são as serpentes, entre as quais a píton e a naja. A Índia tem uma das mais variadas faunas ornitológicas do mundo, com mais de duas mil espécies.
População
Os povos da Índia procedem das sucessivas invasões que, desde tempos imemoriais, ocorreram no subcontinente. Como a intensa miscigenação tornou quase impossível distinguir as etnias entre si, a língua é o melhor fator de classificação. Sabe-se, porém, que os principais grupos étnicos originários foram os caucasianos, os mongóis, os australóides e os negróides.
Há mais de 700 idiomas e dialetos no país mas a constituição reconhece apenas 15: assamês, bengali, guzarate, hindi, canará ou canadas, cachemir, malaiala ou malabar, marata, oriia, punjabi, sânscrito, sindi, tâmil, télugo e urdu. Em linhas gerais, as línguas da Índia podem ser classificadas em quatro famílias: (1) a austro-asiática, que limita-se praticamente ao sub-grupo das línguas munda, faladas nas montanhas e florestas da Índia central e oriental; (2) a sino-tibetana, que limita-se à fronteira do nordeste; (3) a dravídica, que de maneira geral espalha-se sobretudo pela costa oriental, e cuja língua mais antiga é o tâmil, falada sobretudo em Tâmil Nadu; o télugo, em Andhra Pradesh; o malaiala, em Kerala; e o canará, em Karnataka; (4) a indo-ariana, que pertence a uma família lingüística  maior, a do indo-europeu. Sua raiz encontra-se no sânscrito, idioma clássico que deixou de ser falado como língua comum há muitos séculos e originou diversos dialetos conhecidos como prácritos.
Um dos prácritos mais antigos é o páli, usado por Buda para se comunicar com o povo sem a intervenção dos brâmanes, e que se tornou uma língua estática e sagrada. O hindi, língua mais falada no país (28% da população) nasceu do prácrito usado na região entre o rio Yamuna e Bihar, e que gerou também o rajastani, o guzarate e o punjabi. O sindi, o cachemir e o marata vieram de outros prácritos. O hindi dissemina-se pela maior parte da planície setentrional. Embora  a designação hindi refira-se somente aos dialetos hindi ocidentais, o grupo compreende vários outros dialetos: o kanauji, o bundeli, o braj bhasa, o hindustani vernacular, o jatu e o hindustani propriamente dito, que é a língua de Delhi.
As línguas austro-asiáticas, praticamente ágrafas, são hoje uma recordação de um passado em grande parte esquecido. Pertencentes ao grupo munda, são usadas por tribos da Índia central e oriental, bem como no norte de Bengala e Assam. As línguas sino-tibetanas são representadas por diversas variantes de grupos do tai e do chinês. O inglês é língua oficial, com o hindi, e idioma franco entre o norte e o sul do país.
A região do Himalaia foi o ponto de encontro e de fusão das culturas ariana e mongol e das religiões budista e hindu. No vale do Cachemir predominam os muçulmanos; a sociedade é patrilinear e com freqüência poligâmica. No Punjab é grande o número de  sikhs, seita religiosa que se transformou em etnia. Os habitantes de Manipur e Tripura mostram traços mongóis. Em Gujarati e Rajasthan vivem os gujaratis e os maratas, que falam idiomas próprios. Na região dravídica vivem os tâmeis, povo de antiga tradição cultural, além dos andra, dos canarás e dos malaialis.
A Índia é o segundo país do mundo em população, depois da República Popular da China. Para controlar o crescimento demográfico, o governo promove programas de planejamento familiar. A baixa expectativa de vida, que não chega aos sessenta anos, determina o predomínio da população jovem.
Quase três quartos da população vivem nas zonas rurais, mas a crescente industrialização gerou um constante êxodo para as áreas urbanas. Além da capital, nova Delhi, as cidades mais importantes são Bombaim, Calcutá, Madras, Bangalore, Ahmadabad, Hyderabad, Kanpur, Nagpur, Lucknow e Jaipur. (Para dados demográficos, ver DATAPÉDIA.)
Economia
Desde a independência, a Índia cultiva um sistema econômico misto, em que o governo, que segundo a  constituição é socialista, desempenha o papel principal como planejador, regulamentador, investidor, administrador e produtor. O país tem uma infra-estrutura bem desenvolvida e uma indústria de base altamente diversificada, a agricultura expande-se mais depressa que a população e a reserva de recursos humanos é a terceira do mundo. Entretanto, apesar da presença multiforme do estado na economia, grandes grupos empresariais dominam muitas esferas da moderna atividade econômica, enquanto dezenas de milhões de pequenos produtores rurais e micro-empresas industriais, comerciais e de serviços respondem pela maior parte da oferta de emprego. Provavelmente apenas um quinto da força de trabalho está engajada no setor organizado da economia -- mineração, empresas agrícolas, indústria fabril e modernas empresas comerciais, de transportes e serviços. A tecnologia percorre uma escala que vai do mais primitivo ao mais sofisticado.
O setor público domina nas áreas de transporte, produção de energia, mineração, sistema bancário, companhias de seguros, exploração de petróleo e indústria pesada. As demais atividades competem ao setor privado; o controle estatal de preços e destinação de recursos e a legislação fiscal contra a concentração de capital não favorecem a criação de uma indústria competitiva. As relações entre governo e setor privado caracterizam-se por freqüentes conflitos.
Agricultura, pecuária e pesca. Os recursos biológicos ressentem-se da secular exploração humana. Metade do território é cultivado, um quinto tem cobertura florestal e o restante é improdutivo. A qualidade do solo é geralmente pobre e a erosão intensa em muitas zonas. As técnicas agrícolas tradicionais degradaram a vegetação das planícies, com efeitos negativos sobre as chuvas das monções. O estado é proprietário de 95% das florestas, muito densas na região do Himalaia.
Mais de um terço do produto interno bruto se origina da agricultura, indústria florestal e pesca, fontes de sustento da grande maioria da população. Os principais cereais, produtos básicos da alimentação de um povo na maioria vegetariano, são o arroz, que cobre um terço da superfície dedicada à produção de grãos; o trigo, cujo cultivo tem crescido com novas técnicas de irrigação e a perfuração de poços artesianos no Punjab; e, em menor medida, o milho e o sorgo. Outras culturas importantes são de cana-de-açúcar, algodão, juta, chá, café, borracha e fumo. Predomina a agricultura de tipo tradicional, condicionada pela escassez de água e de investimentos. A exploração de seringueiras e a produção de madeira são as principais atividades extrativistas vegetais.
O consumo de carne é proibido pelo hinduísmo, religião predominante no país, o que acarreta uma procura muito baixa. Mesmo assim a Índia tem o maior rebanho bovino do mundo, e a pecuária desempenha papel muito importante na economia. O gado vacum e o búfalo são usados principalmente como animais de tração, mas também servem a vários outros propósitos, como produção de leite e carne -- para muçulmanos, cristãos e os harijans (antes ditos "intocáveis"), para os quais o consumo de carne não constitui tabu--, adubo natural, couro e combustível para cozinha a partir do esterco. A produção de leite é relativamente pequena, considerando-se o tamanho do rebanho. O búfalo produz em menor quantidade, mas seu leite é mais rico do que o do gado bovino. Em muitos estados é proibida a existência de matadouros e quase nenhum gado é criado expressamente para corte. A maior parte da carne consumida provém de animais que morreram de morte natural. Os animais velhos e já imprestáveis para o serviço, ao invés de serem encaminhados para o matadouro, ou são enviados para os goshalas, uma espécie de abrigo de idosos para o gado, onde são mantidos por contribuições de devotos hinduístas, ou tornam-se desgarrados e passam a competir pelos já escassos recursos vegetais com o homem.
Muitos indianos ortodoxos são vegetarianos, outros permitem-se apenas alimentar-se de carne de cabrito, carneiro, frango, peixe ou ovos, todos produzidos em quantidades modestas. A criação de ovelhas atende à produção de carne e de lã. A carne de porco é proibida para adeptos de diversas religiões, como muçulmanos e hindus, mas os porcos, que ajudam a limpar as ruas, são criados e consumidos por certas castas.
A pesca, ainda insuficientemente desenvolvida apesar de seu enorme potencial, é praticada em toda a linha de costa e em muitos rios. A indústria pesqueira marinha responde por dois terços da produção total de pescado. Como poucas empresas pesqueiras são mecanizadas, o total de capturas é pequeno e o consumo anual per capita de peixe é modesto. Observa-se, porém, uma tendência à mecanização e modernização. Assim, é cada vez maior a proporção de pescado proveniente do alto-mar, de áreas que as pequenas empresas familiares não têm condições de alcançar. Ao mesmo tempo, prolifera a piscicultura em criadouros, tanto de peixes como de camarões, estes destinados sobretudo à exportação.
Energia e mineração. As reservas conhecidas de petróleo são escassas e o país importa a metade do que consome. Os sistemas montanhosos têm grande potencial para a exploração da energia hidrelétrica. Há diversas centrais de energia nuclear, como em Tarapur e Rana Pratap Sagar. O biogás é importante nas zonas rurais.
Os recursos minerais são abundantes, mas de distribuição desigual. Embora a Índia conte com vastas reservas de carvão mineral, ferro e manganês, é pobre em não-ferrosos, exceto alumínio. Os minerais explorados constituem importante fonte de matérias-primas para a indústria indiana e também excelente fonte de divisas. A nacionalização de diversas empresas domésticas e estrangeiras deu ao governo um papel predominante na indústria da mineração.
Indústria. A estrutura industrial é bastante diversificada. O governo é responsável pelos investimentos na indústria básica e de bens de capital. Destacam-se a siderurgia, a produção de veículos automotores, a manufatura de fertilizantes, ferramentas, cimento, alumínio, máquinas industriais e equipamento elétrico e de transportes. O progresso da indústria de produtos intermediários tem sido lento, mas o governo incentiva a auto-suficiência, já alcançada no setor de bens de consumo, a cargo da iniciativa privada e controlada por um número reduzido de famílias, apesar das medidas oficiais para evitar a concentração.
Finanças e comércio. O sistema bancário e financeiro, bem desenvolvido, é regulado pelo governo por meio do Banco de Reserva da Índia, que controla a emissão de dinheiro, as reservas de comércio exterior, o crédito e a circulação de moeda. Com as nacionalizações de 1969 e 1980, a maioria dos bancos comerciais passou para o setor público. Em 1975 o governo instituiu um sistema de bancos rurais regionais com linhas de crédito abertas aos pequenos produtores rurais. O mesmo foi feito para atender outras atividades na área industrial e de comércio exterior. As bolsas de valores não desempenham na Índia o mesmo papel relevante que em outras economias capitalistas.
O volume do comércio exterior indiano é baixo, dada a diversificação de sua economia. Existe um déficit crônico no balanço de pagamentos, que se agrava com o volumoso contrabando de bens de consumo suntuário. Nenhum produto específico domina a pauta de exportação. Em termos de valor, pedras preciosas e produtos de ourivesaria, sobretudo para o mercado do Oriente Médio, mantêm posição de destaque, seguidos de vestuário, couros e produtos de couro -- resultado da abundância de mão-de-obra barata e de matérias-primas.
As importações são ainda mais diversificadas que as exportações. Os principais produtos importados são máquinas, equipamento de transporte e derivados de petróleo. Os principais parceiros comerciais são Estados Unidos, Japão, países da Comunidade dos Estados Independentes (CEI) e da Comunidade Européia (CE), sobretudo Alemanha e Reino Unido, tanto para as importações quanto para as exportações.
Transportes e comunicações. As vias fluviais marítimas são importantes no transporte de bens e passageiros; os principais portos marítimos são Calcutá, Orissa, Madras, Tuticorin, Gujarati e Bombaim. O sistema ferroviário é o sexto do mundo em extensão. Totalmente administrado pelo estado, está bem integrado ao sistema rodoviário. As rodovias pavimentadas representam menos da metade da rede de rodovias do país. Praticamente todos os aglomerados urbanos, com exceção de vilas situadas em regiões tribais, estão ao alcance de alguma linha de ônibus. O estado controla a maior parte das companhias de transporte rodoviário de passageiros e se responsabiliza também pela manutenção das rodovias. A rede de rodovias nacionais interliga praticamente todas as grandes cidades indianas. Em 1989 entrou em operação em Calcutá o primeiro metrô do sul da Ásia.
Um pequeno número de grandes portos, como os de Bombaim, Calcutá e Madras, responsáveis por cerca de noventa por cento do tráfego marítimo do país, são de administração federal, enquanto um número muito maior de portos intermediários e pequenos pertencem à esfera estadual. Também a grande maioria das mais de cinqüenta empresas de transporte marítimo de cabotagem ou de longo curso pertence à Empresa de Navegação da Índia, estatal.
A aviação civil, que era totalmente privada, foi nacionalizada em 1953 e passou ao controle de três companhias estatais: a Air India, que cobre as linhas internacionais a partir dos aeroportos de Nova Delhi, Bombaim, Calcutá e Madras; a Indian Airlines, para vôos domésticos ou para países vizinhos; e a Vayudoot, fundada em 1981, que se encarrega das rotas de pouco tráfego e para os locais de difícil acesso, no Himalaia e no nordeste do país. As três redes estão em constante ampliação e cobrem praticamente todas as cidades de médio e grande porte.
A grande maioria das estações de rádio pertence à empresa estatal All India Radio, também conhecida como Akashvani, mas existem empresas comerciais particulares. As estações de televisão estão sob controle estatal da Television India (Doordashan India), mas há relativa liberdade de opinião para os partidos oposicionistas, sobretudo durante as campanhas eleitorais. A Índia tem mais de dois mil jornais diários, a maior parte publicada em Nova Delhi, Bombaim, Calcutá e Madras. Embora os diários publicados em inglês tenham ainda prestígio, os jornais em idiomas locais alcançam cada vez maior penetração no público indiano. (Para dados econômicos ver DATAPÉDIA.)
História
O subcontinente indiano foi berço de uma das mais antigas civilizações do mundo; desde tempos muito remotos seu território constituiu um atraente habitat para a vida humana.
Os vestígios mais antigos de atividade humana na região remontam à idade da pedra. Depósitos pré-históricos encontram-se em todo o subcontinente, desde o antigo Beluchistão, mais tarde Irã e Paquistão, no oeste, a Bengala, no leste, e desde as províncias do noroeste até Sri Lanka, no sul. Por volta de 4000 a.C., depois da revolução neolítica na Mesopotâmia, os habitantes do extremo noroeste do subcontinente iniciaram a transição do estado nômade para o da agricultura sedentária. No terceiro milênio viviam em aldeias e praticavam um culto animista. Dedicavam-se a uma agricultura incipiente e criavam gado. Fabricavam diversos tipos de cerâmica e ferramentas de cobre e bronze. Dessa fase, há notáveis manifestações de arte rupestre.
Perto de 500 anos mais tarde ocorreu um grande salto com a criação da civilização do rio Indo ou de Harappa, nome derivado de uma de suas capitais. Floresceu durante mil anos (de 2500 a 1500 a.C.) e desapareceu misteriosamente. Uma das primeiras civilizações do mundo, maior por sua extensão do que as do Egito e da Suméria, ocupava um enorme triângulo cujos lados mediam 1.500km. O vértice era a parte superior do sistema do Indo e a base se estendia ao longo da costa do mar da Arábia, desde a atual fronteira entre Irã e Paquistão até o golfo de Cambay. Arqueólogos encontraram ruínas de mais de cinqüenta comunidades, entre elas duas capitais, Mohenjo-daro, no Indo central, e Harappa, 600km a nordeste.
Os povos da civilização de Harappa conheciam o cobre, o bronze, o ouro, a prata e o chumbo e comerciavam com a Mesopotâmia. Tinham arte desenvolvida. A língua, de que se conservam perto de mil inscrições curtas ainda não decifradas, pertencia, ao que parece, à família dravídica. Seu declínio coincidiu com a invasão dos povos arianos, nômades da Ásia central, que arrasaram as planícies do noroeste da Índia.
Índia védica. Nos dois milênios compreendidos entre 1500 a.C. e o século VII da era cristã ocorreu a invasão dos arianos que, pelo Punjab, se infiltraram nas planícies do médio Indo e avançaram até o vale do Ganges. A civilização védica (de Veda, o conhecimento sagrado) formou-se pela fusão dos arianos com os povos que viviam na planície indo-gangética.
Os arianos, de pele clara e vinculados lingüisticamente a helenos, germanos e eslavos, defrontaram-se com uma civilização adiantada, homogênea e brilhante, com cidades e instituições estabelecidas, que dominaram pela força de suas armas superiores. Os invasores devastaram cidades e obras de arte, mas deixaram uma das coleções literárias mais extraordinárias do mundo, os Vedas, textos sagrados escritos em sânscrito, ao longo dos séculos, e divididos em quatro livros básicos, Rigveda, Yajurveda, Samaveda e Atharvaveda, e complementados por compilações de comentários: Brahmanas, Aranyakas e Upanishads. Com o tempo, crenças não arianas foram incluídas nos sistemas religiosos e estabeleceu-se a divisão social em castas, que exerceu influência determinante no futuro desenvolvimento da Índia. Com o passar dos séculos, as quatro castas básicas subdividiram-se em milhares de outras.
Ao longo dos séculos VI e V a.C., os principados converteram-se em monarquias e o comércio prosperou. Desenvolveram-se duas grandes religiões que buscavam a salvação individual: o budismo, pelo ascetismo e a negação do desejo, e o jainismo, pela mortificação pessoal. Rejeitadas pelos brâmanes, as duas religiões foram propagadas pelos comerciantes e revolucionaram o meio intelectual do país. Gautama Buda e Vardhamana Jnatriputra Mahavira, fundadores do budismo e do jainismo, são as principais figuras da época.
Impérios. Ao longo do milênio seguinte, o jainismo e o budismo difundiram-se largamente. As artes e o pensamento alcançaram grande esplendor, e a sociedade hierarquizou-se cada vez mais com a criação de milhares de castas; no nível inferior extremo ficavam os párias, ou intocáveis. Essa civilização complexa estendeu-se, nos impérios Mauria, de 321 a 185 a.C., e Gupta, de 320 a 540 da era cristã, até o Nepal, Himalaia, Tibet, Sião (atual Tailândia), Indonésia, Sri Lanka e o reduto dravídico do Deccan.
Sob o domínio de Ciro o Grande e Dario I, os persas anexaram a região do Indo. Em 326 a.C., Alexandre o Grande dirigiu uma expedição que ocupou o Punjab e o Sind e anexou diversos reinos hindus. Candragupta Mauria, fundador do império Mauria, expulsou os gregos e tornou-se senhor de Mágada. Seu filho Bindusara e seu neto Açoka, o "rei monge", ampliaram e consolidaram o império, que se estendeu por toda a Índia. Açoka, o mais famoso dos imperadores indianos, foi budista fervoroso. A história de seu reinado consta da literatura sânscrita e está gravada em rochas e pilares espalhados pelo domínio. Com sua morte, o império entrou em desintegração, e em 185 a.C. o comandante-chefe das forças armadas, Pusyamitra Sunga, assassinou o último imperador mauria e fundou a dinastia Sunga.
À queda do império Mauria seguiram-se diversas invasões estrangeiras. No início do século II a.C. chegou Demétrio II, do reino grego de Báctria, sucedido por Menandro. A reação local confinou a presença grega ao Punjab. Com a morte de Menandro, o maior dos reis indo-gregos, o poderio helênico enfraqueceu-se e caiu sob os ataques dos citas, originários da Ásia central. Os citas associaram-se aos partas e mais tarde a eles se submeteram. O mais famoso soberano parta, Gondofares, reinou de 19 a 45 da era cristã.
Citas e partos foram derrotados pelos kushans, provenientes da Ásia central e os mais poderosos invasores da época. Seu principal soberano foi Kanishka, fundador da segunda dinastia, que viveu no século I da era cristã e difundiu a doutrina budista pelo continente asiático. Seguiu-se um período obscuro da história política do país, em que as dinastias locais combateram a ocupação estrangeira. Os andhras dominaram o Deccan; o sul permaneceu sob o domínio tâmil; e no norte os bharasivas derrotaram os kushans.
O império indiano ressurgiu com a fundação da dinastia Gupta por Candragupta I no ano de 320. Seu filho e sucessor Samudragupta, que reinou de 330 a 380, ampliou e consolidou o império, que conheceu seu apogeu sob Candragupta II. Seu reinado marcou a idade de ouro da literatura sânscrita. O império Gupta terminou no final do século V, embora a família continuasse a governar por muitos séculos com autoridade reduzida. Seu fim foi determinado pela invasão dos hunos brancos ou neftalitas, que conquistaram a maior parte do país.
Auge do hinduísmo. A dissolução do império Gupta, considerado o período da Índia clássica, conduziu à idade média indiana, na qual o país dividiu-se em centenas de estados independentes. Essa época, que se prolongou até o século XIII, caracterizou-se pelo triunfo dos guerreiros e o declínio dos comerciantes e pela perseguição aos fiéis do jainismo e do budismo. Os brâmanes recuperaram sua antiga autoridade religiosa e impuseram o hinduísmo sincrético que se formara com o tempo a partir de elementos védicos e pós-védicos, não arianos e por uma multiplicidade de cultos, práticas particulares e preceitos de pureza, não-violência e vegetarianismo, tomados do jainismo e do budismo. O hinduísmo culminou na coexistência de três deuses máximos: Brahma, o criador do mundo, Vishnu, o conservador, e Shiva, o destruidor. Mais do que uma religião, o hinduísmo é uma ordem social e, sobretudo, o fundamento da civilização indiana, a tal ponto que conserva sua vitalidade na Índia contemporânea.
Índia muçulmana. O islamismo entrou no país a partir da conquista de Sind, no século VI, e da fundação posterior de colônias mercantis na costa de Malabar, mas não logrou o domínio global do subcontinente. Na expansão da religião muçulmana no país podem-se distinguir dois períodos: o sultanato de Delhi e o império mogol.
No princípio do século XI apenas o Punjab estava dominado pelos muçulmanos. Sua supremacia estabeleceu-se a partir de 1192, quando Mohamed de Ghor derrotou as tropas do último soberano de Delhi, Rai Prthviraja. Em 1206 Mohamed foi assassinado e um de seus generais, Qutb-ud-Din Aibak, fundou a dinastia e o sultanato de Delhi, que se prolongou até 1526. O islamismo impôs-se com dureza às religiões internas e causou danos enormes aos centros intelectuais e artísticos, ao budismo e ao hinduísmo. Cinco dinastias se sucederam no período: Escrava, de 1206 a 1290; Khalji, de 1290 a 1320; Tughluq, de 1320 a 1413; Saiid, de 1414 a 1451; e Lodi, de 1451 a 1526. Dos 33 sultões de Delhi, dois se destacaram, ambos da dinastia Escrava: Iltutmish, um escravo que tomou o poder depois da morte de Aibak e ampliou os domínios do sultanato, e Balban, que reprimiu com energia as permanentes tentativas de rebelião interna e rechaçou a invasão dos mongóis de Gengis Khan. Na dinastia Khalji, o islamismo chegou ao Deccan e ao sul da Índia. Durante o reinado de Mohamed ibn Tughluq, no século XIV, o sultanato atingiu sua maior extensão mas também enfrentou sérios problemas administrativos. Ao fim de seu reinado, o império estava em franco processo de desagregação, que se agravou com a ascensão de seus sucessores. Em 1398, Tamerlão arrasou Delhi e realizou incursões predatórias pelo país. Apesar disso, o sultanato manteve o poder por mais 130 anos. No sul, os brâmanes criaram o reino do Deccan.
O império Mogol começou com a queda do sultanato de Delhi na batalha de Panipat, em 1526. O vencedor, o chefe turco Zahir ud-Din Mohamed Baber, muçulmano sunita que se dizia descendente de Tamerlão e de Gengis Khan, constituiu o Império do Grão-Mogol, que se manteve até 1857, ano em que foi suprimido pelos britânicos depois da revolta dos cipaios (tropas indianas). Na realidade, seu poderio declinou após a morte do último de seus grandes monarcas, Aurangzeb, em 1707, muito antes que os britânicos ocupassem Bengala em 1757. A coexistência entre vencedores e vencidos levou o maior dos monarcas mogóis, Akbar, neto do fundador da dinastia, que reinou de 1556 a 1605, a criar uma nova religião destinada a fundir o hinduísmo e o islamismo, o Din-e Ilahi, que porém não prosperou. Seus sucessores voltaram à ortodoxia muçulmana e as perseguições religiosas se intensificaram. Entre seus descendentes destaca-se Khurram, o xá Jahan, que governou com brilhantismo de 1628 a 1658. Entre suas obras está o Taj Mahal, em Agra, mausoléu de sua mulher, Mumtaz Mahal. Durante o reinado de seu filho Aurangzeb, de 1658 a 1707, chegou ao auge a intolerância política e religiosa. Perseguidos, os sikhs transformaram-se em guerreiros antimuçulmanos; os hinduístas foram afastados do governo. O profundo desentendimento entre facções religiosas levou à ruína do império.
Colonização britânica. Os portugueses foram os primeiros europeus a se instalar na Índia, quando criaram diversas feitorias no Extremo Oriente nos séculos XV e XVI. Em 1498 Vasco da Gama chegou a Calicut e Goa foi ocupada em 1510. Ao longo dos séculos XVI e XVII chegaram ingleses, holandeses e franceses, que lutaram entre si pelo controle dos lucrativos entrepostos comerciais. O domínio inglês consolidou-se com a vitória de Robert Clive, representante da Companhia Inglesa das Índias Orientais, sobre o príncipe bengali Siraj ud-Daula, em Plassey, em 23 de junho de 1757. Dois anos depois Clive capturou Chinsura, em Bengala, e pôs um ponto final nos interesses holandeses na Índia. Os combates entre franceses e ingleses prolongaram-se até 1761, quando os franceses perderam Pondichéry. O Tratado de Paris de 1763 assegurou a supremacia inglesa na Índia.
O domínio inglês prolongou-se por quase dois séculos, até 1947. As conquistas estenderam-se até 1849, quando Punjab foi subjugado; ficaram fora do controle britânico direto diversos principados autônomos, os "estados nativos". O predomínio britânico baseou-se na superioridade econômica e na capacidade administrativa dos funcionários civis.
A expansão colonial realizou-se mediante as seguintes guerras: conquista do sul da Índia, no final do século XVIII, para impedir a invasão francesa; imposição da ordem britânica na Índia central com a vitória sobre a confederação marata em 1819; garantia das fronteiras do noroeste com a conquista do Punjab e do país sikh em 1849 e a primeira guerra afegã de 1839 a 1842; consolidação da fronteira leste com a conquista da baixa Birmânia (atual Myanmar) de 1824 e 1852; conquista total da Birmânia em 1886; segunda guerra afegã em 1878; guerra do Tibet em 1904.
Desse período, destaca-se o chamado Grande Motim,  rebelião do exército nativo dos cipaios, em Bengala, em 1857, que se transformou em revolta civil, provocou a perda de Delhi e Lucknow e constituiu grave ameaça ao domínio britânico. Depois de um ano de combates e prática de atrocidades dos dois lados, a insurreição foi vencida e os britânicos retomaram Delhi. O xá Bahadur II, último imperador mogol, que apoiara a revolta, foi exilado e seus filhos executados. Em 1858 a coroa britânica assumiu a responsalidade direta pelo governo da colônia, a rainha Vitória foi proclamada imperatriz da Índia e começou o período dos vice-reinados.
Movimento nacionalista. A crise econômica iniciada em 1870 golpeu duramente a Índia e provocou fome, epidemias, revoltas camponesas e surtos de nacionalismo. Em 1885 fundou-se o Partido do Congresso Nacional Indiano e mais tarde começou a mobilização de massas contra a colonização, inspirada no começo do século XX por um homem excepcional, autêntico artífice da independência indiana, Mohandas Karamchand Gandhi, o mahatma ou "magnânimo".
Apesar da verdadeira sangria econômica provocada pela rapacidade do colonizador britânico, algumas heranças positivas da dominação podem ser apontadas, como a modernidade das estruturas econômicas, a adoção de instituições democráticas, a atitude aberta diante da tecnologia e ciências modernas e uma administração bem estruturada.
Independência. Depois da segunda guerra mundial, o crescente conflito entre nacionalistas muçulmanos e hindus levou à criação de dois estados independentes, Índia e Paquistão, em 15 de agosto de 1947. A partir daí, a Índia alcançou grande progresso industrial, pôs em ordem suas fronteiras (acordo com a França para liquidação de suas feitorias, anexação da Goa portuguesa, ocupação e liquidação dos principados) e anexou a maior parte das regiões de Jammu e Cachemir.
O primeiro presidente da Índia foi Rajendra Prasad; Jawaharlal Nehru, primeiro-ministro da nova república de 1947 a 1964, implantou as bases da política indiana: governou sempre pelo Parlamento, promoveu o desenvolvimento econômico mediante a adoção de planos qüinqüenais e adotou uma política externa neutralista, estabelecendo relações amistosas com todos os países, independente de suas formas de governo.
Em seu caminho para o progresso, a Índia tem enfrentado muitas dificuldades: divisão desigual de riqueza, miséria da maioria do povo, sistema de castas do hinduísmo que dificulta a mobilidade social, crescimento demográfico excessivo, intolerância religiosa entre hindus e muçulmanos e violência separatista dos sikhs no Punjab.
Nas primeiras décadas da independência, a Índia envolveu-se em diversos conflitos bélicos com estados vizinhos. Em 1962, a China ocupou Ladakh, na fronteira de Cachemir, e as tropas indianas tiveram que se retirar. Em 1947 e 1965 Índia e Paquistão lutaram pela posse de Cachemir e Jammu; em 1971, o governo indiano apoiou os muçulmanos separatistas de Bangladesh, o que provocou novos combates com o Paquistão.
Em 1964 Nehru morreu e foi sucedido por Lal Bahadur Shastri, que seguiu suas diretrizes políticas. Depois da sua morte, subiu ao poder Indira Gandhi, filha de Nehru, que ocupou a chefia do governo de 1966 a 1977. Enfrentou as fomes que assolaram o país em 1967 e a guerra contra o Paquistão em 1971. Estreitou as relações com a União Soviética, defendeu o não-alinhamento e incentivou o desenvolvimento da bomba atômica para reforçar o sistema defensivo da Índia.
Em 1975, Indira Gandhi suspendeu as liberdades constitucionais e perseguiu os opositores políticos. Dois anos depois, o Partido Janata ganhou as eleições e Morarji Desai formou um novo governo. Uma comissão parlamentar investigou as supostas irregularidades cometidas pelo governo anterior e Indira Gandhi chegou a ser presa por uma semana. Apesar disso, sua popularidade cresceu e em 1980 venceu novas eleições gerais à frente do Partido do Congresso.
De 1980 a 1984 agravaram-se os problemas internos. Cresceu a revolta dos sikhs no Punjab e aumentaram os conflitos entre bengalis e imigrantes nepaleses em Assam e entre muçulmanos e hindus em Maharashtra e Andra Pradesh. Em 1984, o exército invadiu o Templo Dourado dos sikhs em Amritsar e matou 400 fiéis, entre eles o líder Jarnail Singh Bhindranwale. A vingança sikh materializou-se com o assassinato de Indira em outubro do mesmo ano. Seu filho e sucessor, Rajiv Gandhi, promoveu uma política de modernização econômica que gerou um desenvolvimento sólido. Seu governo, afetado por um escândalo de compra de armas, foi derrotado em 1989 por uma coalizão encabeçada por Vishwanath Pratap Singh. Os conflitos étnico-religiosos aprofundaram-se em todo o país e em 21 de maio de 1991, durante a campanha eleitoral para novas eleições gerais, Rajiv Gandhi foi assassinado em Tamil Nadu, em atentado provavelmente praticado por separatistas da etnia tâmil do Sri Lanka. Em junho, o líder do Partido do Congresso, Narasimha Rao, assumiu o cargo de primeiro-ministro em um gabinete de coalizão.
Instituições políticas
A constituição que entrou em vigor em 26 de janeiro de 1950 estabelece que a Índia é uma república soberana, socialista, secular e democrática. Com 395 artigos, 11 apensos e numerosas emendas, é provavelmente o mais extenso e detalhado texto constitucional do mundo. As matérias que afetam o conjunto do país correspondem ao governo central, e as demais aos governos dos estados. Assim, defesa, assuntos exteriores, sistema de transporte e comunicações, emissão de moeda e administração da justiça em seu nível mais alto são competência do governo central. A Índia aboliu a diferenciação da sociedade em castas, embora a discriminação continue viva na prática. O país divide-se em 25 estados e sete territórios. Desde 1947 integra a Comunidade Britânica de Nações.
Executivo, legislativo e judiciário. O poder executivo central é exercido por um Conselho de Ministros chefiado pelo primeiro-ministro, indicado pelo presidente e designado pelo partido ou coalizão majoritária no Parlamento. O presidente da república é eleito por um colégio eleitoral composto por membros eleitos do Parlamento e das Assembléias Legislativas de todos os estados, para um mandato renovável de cinco anos. É o chefe de estado e comandante supremo das forças armadas, mas suas funções são basicamente protocolares, exceto em estado de emergência.
O poder legislativo cabe a duas câmaras: (1) o Conselho dos Estados (Rajya Sabha), formado por no máximo 250 membros, dos quais 12 são nomeados pelo presidente da república, para representar a literatura, as artes, as ciências e os serviços sociais, e os demais eleitos pelas assembléias estaduais, para um período de dois anos; (2) e a Câmara do Povo, constituída de 545 membros eleitos pelo voto direto e dois indiretamente, para um mandato de cinco anos, a menos que a casa seja dissolvida antes.
A Câmara Alta não pode ser dissolvida, mas um terço dos seus membros é renovado a cada dois anos. Os projetos de lei podem originar-se em ambas as casas e ser aprovados por minoria simples, com exceção dos projetos sobre matéria financeira, que só podem ser propostos pela Lok Sabha. O presidente da república pode dissolver a Lok Sabha e convocar novas eleições parlamentares, se o primeiro-ministro perder um voto de confiança. O vice-presidente, escolhido por um colégio eleitoral formado apenas por membros eleitos das duas casas do Parlamento, preside a Rajya Sabha. Se o presidente morrer ou de alguma forma deixar o cargo, o vice-presidente o assume até à realização de novas eleições.
O poder judiciário tem como órgão máximo a Corte Suprema, formada por 18 juízes indicados pelo presidente, que só podem exercer o cargo até a idade de 65 anos. A ela compete decidir sobre a constitucionalidade das leis, os casos de disputa entre a União e os estados, ou entre estados, e os apelos dos tribunais. Cada estado tem um tribunal superior, de segunda instância, que decide sobre a constitucionalidade das leis estaduais, e tribunais inferiores, de primeira instância.
Sociedade
Saúde. Os serviços de saúde pública na Índia melhoraram muito a partir da independência, e a média de expectativa de vida aumentou em cerca de 25 anos. A saúde pública compete aos estados mas o governo central tem um papel importante na prevenção e controle de doenças e na melhoria das condições sanitárias e de abastecimento de água. Há programas para o combate à malária, lepra, tuberculose, doenças venéreas, varíola, tracoma e câncer. O governo central promove campanhas de planejamento familiar para limitar o crescimento demográfico e torná-lo adequado às condições econômicas. Um programa de distribuição de leite beneficia crianças e mães lactantes. A Índia alcançou também progressos notáveis na pesquisa de doenças tropicais e na elaboração de remédios e produtos farmacêuticos.
Educação. O Conselho Central de Educação estabelece a política geral da educação pública, mas sua execução cabe aos estados. O ensino de nível superior e a pesquisa tecnológica e científica competem ao governo central. Entre as principais universidades estão a Muçulmana, de Aligarh, a Hindu, de Benares, a Visva-Bharati, de Santiniketan e a Jawaharlal Nehru, de Delhi. Pela constituição, o ensino é gratuito e obrigatório até à idade de 14 anos, mas na prática apenas metade da população com idade superior a 15 anos é alfabetizada. O ensino primário (de 6 a 11 anos) é gratuito em todo o território nacional; o médio (de 11 a 14 anos) é gratuito em quase todos os estados e territórios; o secundário (de 14 a 17 anos) também é gratuito em grande parte do país.
O número crescente de alunos e a variedade de línguas oficiais são as principais dificuldades da educação. Apesar disso, houve avanços notáveis em alguns setores, como a educação de mulheres e adultos e o ensino nas áreas rurais. Os progressos da ciência e tecnologia aprofundam as contradições: um país em que os veículos de tração animal predominam sobre os automóveis, é capaz de fabricar motores a jato, equipamentos eletrônicos e computadores; e enquanto muitas aldeias ainda utilizam esterco como fonte de luz e calor, o país conta com importantes centros de pesquisa nuclear.
Numerosas universidades, institutos de tecnologia e outras instituições especializadas de educação superior estão sob controle do governo federal ou estadual. A maior parte do orçamento educacional destina-se às universidades. A proliferação de universidades, a partir da independência, acabou por acarretar uma queda na qualidade do ensino superior, que a cada ano lança no mercado uma percentagem de profissionais não corretamente habilitados e que não consegue colocação. Mesmo assim, as instituições de elite continuam a manter seus padrões e a formar uma quantidade substancial de novos profissionais de primeira linha.
Religião. A Índia é talvez o país de maior riqueza espiritual do mundo. A religião constitui um aspecto tão crucial para os indianos, que muito da história da Índia ao longo dos séculos pode ser entendido como o entrechoque entre os diversos grupos religiosos. Os indianos praticaram sempre uma intensa vida religiosa, e muitas crenças nasceram no subcontinente ou ali encontraram abrigo. Originários da Índia são o hinduísmo, que é praticado pela maioria da população; o jainismo, que defende o princípio da não-violência; o budismo, hoje uma das principais religiões do mundo; a religião sikh, síntese do hinduísmo e islamismo; e diversas outras. Das confissões que emigraram para a Índia, o islamismo foi a que se arraigou com maior profundidade.
A partir de 1947, com a independência do Paquistão, de população quase totalmente islâmica, e a subseqüente emigração de cerca de dez milhões de muçulmanos indianos para o Paquistão, a par com a entrada na Índia de quase outro tanto de hinduístas e sikhs paquistaneses, o hinduísmo tornou-se ainda mais preponderante.
Cultura
Poucos países do mundo podem orgulhar-se de uma herança artística do porte da indiana, desenvolvida ao longo de mais de quatro milênios, e que abrange manifestações múltiplas, da pintura rupestre à arte popular e às modernas expressões, em todos os campos. Assim, as artes plásticas e a arquitetura, por exemplo, abrangem um período vastíssimo, que vai do quarto milênio antes da era cristã até a época contemporânea, com influências religiosas diversas, como o hinduísmo, o budismo e o islamismo, e modernamente com a cultura britânica.
Na literatura, as primeiras manifestações  conhecidas são os Vedas, textos sagrados escritos em sânscrito ao longo de séculos e ainda hoje considerados como fontes de profundo saber. Após a literatura védica, foram compostos clássicos como o Mahabharata, relato histórico que contém o célebre Bhagavad-Gita; o Ramayana; os Puranas; e o Kamasutra, além de obras religiosas, como a História de Padma, a História de Buda, e o Tripitaka. Na poesia sobressai o poema épico Ramcharitmanas (O lago dos feitos de Rama).
Entretanto, em nenhuma outra arte os indianos conseguiram uma síntese tão completa entre a mais ampla liberdade e a mais rígida disciplina como na música, elemento essencial na vida do país e do indivíduo, expressão de seu mundo espiritual e de seus valores humanos e resultado da fusão de vários povos, ao longo de seis mil anos de história.
As várias filosofias indianas contêm uma tal diversidade de pontos de vista, teorias e sistemas que é quase impossível arrolar características comuns a todas. A aceitação da autoridade dos Vedas caracteriza todos os sistemas ortodoxos (astika), mas não os heterodoxos (nastika), como o Carvaka (materialismo radical), o budismo e o jainismo. Além disso, mesmo quando os filósofos alegam fidelidade aos Vedas, tal fidelidade não restringe a liberdade com que elaboram suas especulações. Na verdade, essa alegada obediência à autoridade dos Vedas serve para tornar seus pontos de vista mais aceitáveis pelos ortodoxos, sobretudo quando se trata de apresentar idéias inteiramente novas. O que mostra que os Vedas podem ser citados para corroborar as mais diversas tendências do pensamento.
O cinema indiano surgiu em Bombaim em 1913. Sete anos mais tarde produziu-se em Calcutá o primeiro filme em língua bengali e em 1934 foram inaugurados em Madras os estúdios destinados à produção de filmes em língua tâmil e telugo. Com uma média de 400 filmes por ano, a Índia é, ao lado do Japão e dos Estados Unidos, um dos principais produtores mundiais, embora sua distribuição seja virtualmente nula fora do país.

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