domingo, 26 de maio de 2013

Irã






Ocupado nas duas guerras mundiais por britânicos e russos, o Irã conseguiu manter-se como país independente. Sua principal riqueza é o petróleo, do qual é um dos maiores produtores mundiais.
O Irã (chamado, no Ocidente, Pérsia até 1935) está situado no sudoeste da Ásia. Tem uma superfície de 1.638.057km2 e limita-se ao norte com a Armênia, o Azerbaijão, o mar Cáspio e o Turcomenistão; a leste, com o Paquistão e Afeganistão; ao sul com o golfo Pérsico e o golfo de Omã; e a oeste com a Turquia e o Iraque. Seu território inclui uma dezena de ilhas no golfo Pérsico.

Geografia física
O território iraniano constitui-se de um planalto de 1.200m de altitude média, com uma depressão na parte central e alinhamentos montanhosos nas bordas, dispostos em linhas paralelas. O planalto forma um triângulo situado entre a depressão do mar Cáspio ao norte e o golfo Pérsico ao sul. Na borda setentrional sucedem-se as cadeias de montanhas de Hindu Kush e Elburz e os montes da Armênia. Nesse arco montanhoso localiza-se o pico vulcânico Demavend, com 5.612m de altitude. Os montes Ocidentais ou Zagros se estendem de noroeste a sudeste, formando um grande arco desde a fronteira turca até as proximidades do Paquistão.
O clima varia do subtropical ao continental frio e o subpolar, em conseqüência de sua situação e de seu relevo. O vasto planalto apresenta condições climáticas semi-áridas e desérticas. As altas montanhas têm invernos muito rigorosos, em contraste com a planície do mar Cáspio, de clima ameno e úmido. Os poucos cursos d'água existentes no planalto se perdem nos pântanos salgados. O Irã tem apenas três rios importantes: o Atrak, o Safid e o Karun, este último navegável.
Apenas dez por cento do território iraniano são cobertos de florestas. Nas áreas desérticas e semidesérticas predomina a vegetação xerófita (adaptada à seca) ou não existe vegetação alguma. A flora só é abundante na região do mar Cáspio e nos vales dos rios. A fauna selvagem inclui lobos, raposas, leopardos, linces, gazelas e javalis.

População
O país caracteriza-se pela diversidade étnica e cultural. Metade da população descende de tribos arianas ou indo-européias, cuja origem se perde na pré-história, e fala o farsi (persa). Os curdos, que representam apenas cinco por cento dos habitantes, vivem nas montanhas ocidentais, conservam seu próprio idioma e têm resistido durante séculos a todas as tentativas de assimilação. Nas montanhas ocidentais também se encontram os luris e os bakhtaris, que falam o luri, dialeto persa, e em conjunto formam dez por cento da população do Irã. Talvez a proporção étnica dos turcos seja pequena, mas uma quarta parte da população fala o turco, em conseqüência da prolongada dominação otomana no norte da Pérsia. Os armênios, concentrados em Teerã, Isfahan e Azerbaijão -- província do Irã que tem o mesmo nome do país vizinho -- conservaram a identidade lingüística indo-européia. Os semitas (árabes, sírios e judeus) constituem uma pequena minoria.
A população do Irã é extremamente jovem. A densidade demográfica, muito baixa em média, é alta no Azerbaijão, na região do Cáspio, na capital, nos vales férteis das montanhas e nos oásis. Muitas zonas do país são totalmente desabitadas. As cidades mais importantes, além da capital, Teerã, são Isfahan, Mashad, Shiraz e Ahvaz. Uma porcentagem relativamente importante da população é nômade.

Economia
A economia do Irã baseia-se no petróleo e numa agricultura rudimentar. Todos os bancos privados e companhias de seguros foram nacionalizados em 1979. A direção da economia está sujeita aos critérios determinados pelo conselho dos guardiães, inspirado na mais rigorosa ortodoxia do Alcorão, livro sagrado do Islã. A economia divide-se em três setores: o público, que compreende as principais indústrias, bancos, seguros, comunicações e comércio exterior; o cooperativo, que abrange a produção e distribuição de bens e serviços; e o privado, com atividades complementares aos dois anteriores.

Agricultura e pecuária.
A agricultura tem baixa produtividade em relação à do mundo ocidental e, embora ocupe a maioria da população ativa, só proporciona uma pequena parte do produto interno bruto. Os terrenos cultiváveis se destinam sobretudo à produção de cereais, batatas e frutas. O gado ovino é o mais numeroso, seguido do caprino e bovino. A pesca é importante, tanto para o consumo interno como para a exportação. O caviar iraniano é mundialmente conhecido.

Energia e mineração.
O petróleo e o gás natural são os principais recursos iranianos, e suas reservas conhecidas se contam entre as mais importantes do mundo. A produção e a exploração se concentram no sudeste, embora também existam jazidas em Qum, Kavir-i Lut e na plataforma submarina do golfo Pérsico. Em 1973 o governo nacionalizou a indústria do petróleo e pôs suas instalações e operações sob o controle da Companhia Petroleira Nacional Iraniana, que em 1979 começou a vender diretamente a todo tipo de comprador, fosse país ou empresa privada. O gás natural se encontra no sul, nas montanhas de Elburz e em Khorasan.
A indústria petroquímica, concentrada no sul, expandiu-se rapidamente depois da revolução islâmica. A principal é a de Bandar-i Khomeini (anterior Bandar-i Shapur). Os demais recursos minerais (carvão, chumbo, cobre e minério de ferro) são pouco explorados em virtude do predomínio do petróleo.
Indústria e comércio.
A atividade industrial se desenvolveu especialmente a partir de 1954, graças aos recursos derivados do petróleo. Os principais produtos industriais são tecidos, máquinas, produtos químicos, ferro e aço.
A exportação de petróleo e seus derivados constitui a mais importante fonte de recursos. Exportam-se também tapetes, algodão, frutos, tecidos, minerais, produtos químicos e caviar. As importações consistem em equipamentos industriais e para transporte, produtos manufaturados em geral e alimentos. A partir da revolução de 1979, que alterou tradicionais laços comerciais com os Estados Unidos, os principais fornecedores do Irã passaram a ser os países da Comunidade Européia.
Transportes. O transporte aéreo e marítimo é insuficiente. O transporte rodoviário é o mais usado para deslocamento de pessoas e mercadorias. Os portos do golfo Pérsico servem fundamentalmente para o escoamento do petróleo e os do mar Cáspio para o comércio com os países asiáticos.

História 
O planalto iraniano foi povoado no paleolítico, cerca de cem mil anos antes da era cristã. A primeira civilização conhecida, entre o quarto e o terceiro milênios a.C., foi a dos elamitas do Khuzestão, que travaram guerras contínuas com babilônios e assírios, até serem derrotados por estes em 639 a.C. No segundo milênio surgiram no oeste do Irã grupos isolados de língua indo-européia, que na idade do ferro (1300-550 a.C.) converteram-se na força dominante do país e ficaram conhecidos como medos e persas.
Sob a dinastia aquemênida, o império persa se estendeu entre a Índia e o Mediterrâneo (século V a.C.). As guerras com a Grécia terminaram com a conquista da Pérsia por Alexandre o Grande da Macedônia, entre 336 e 330. A civilização grega foi assim introduzida na Ásia ocidental.
Depois da morte de Alexandre, a Pérsia ficou sob o domínio de um de seus generais, Seleuco, que deu início à dinastia dos selêucidas. Simultaneamente, a pressão de tribos arianas procedentes do leste da Ásia reforçou a influência dos partos, que estabeleceram seu domínio sobre grande parte do país.  No ano 226 da era cristã, estabeleceu-se a dinastia dos sassânidas, que difundiu amplamente a religião de Zoroastro. Em 651 os árabes conquistaram a Pérsia e introduziram a religião islâmica, que marcaria toda a história posterior do país.

Irã muçulmano.
A invasão árabe não só representou para o Irã uma ruptura com o passado, como também afetou toda a Ásia ocidental, progressivamente conquistada para a civilização muçulmana. O Irã recuperou a independência em relação ao califado árabe em 750, quando Abu al-Abas, descendente de Maomé, derrotou os omíadas e se proclamou califa, estabelecendo a dinastia abássida, com a capital em Bagdá. O novo califado recebeu forte influência dos persas.
A invasão dos mongóis, que devastaram o país entre os séculos XIII e XIV, não conseguiu destruir a continuidade do estado persa muçulmano, que alcançou grande prosperidade, com a dinastia sefévida, entre 1502 e 1736. No século XIX, o Irã perdeu o Cáucaso, cedido à Rússia depois da guerra de 1813, e seu território se tornou presa cobiçada tanto por ingleses quanto por russos. O descontentamento popular gerado por concessões feitas pelo governo aos europeus desencadeou as revoltas do fumo, que obrigaram o xá (imperador) a outorgar a primeira constituição do país em 1906, redigida pela Assembléia Nacional Consultiva (Majlis), que pouco depois, em 1908, foi destituída com ajuda da Brigada Persa dos Cossacos. Nesse mesmo ano, descobriram-se as jazidas de petróleo, fato decisivo para a futura história política e econômica do país.
Durante a primeira guerra mundial, os exércitos russo e britânico ocuparam parcialmente o país. Em 1921, depois da saída dos exércitos estrangeiros, houve uma rebelião da brigada cossaca que levou ao poder o general Reza Khan.
Dinastia Pahlevi. Em 1925 o Majlis, que tinha sido restaurado antes da primeira guerra mundial, depôs o último xá da dinastia Qadjar e transferiu a soberania a Reza Khan, que iniciou a última dinastia do Irã, a Pahlevi. O xá Reza adotou reformas que libertaram o país das interferências políticas estrangeiras, melhoraram a economia e aliviaram a situação da mulher. Em 1935 o governo iraniano solicitou aos governos estrangeiros que passassem a chamar o país pelo nome de Irã e não mais por Pérsia, como as nações ocidentais o designavam (seus habitantes, porém, sempre deram ao país o nome de Irã).
A simpatia do xá pelos alemães levou à ocupação do país por soviéticos e britânicos em 1941. O xá Reza viu-se obrigado a abandonar o Irã e abdicar em favor do filho, Mohamed Reza Pahlevi.
Depois de um período turbulento, marcado pela nacionalização do petróleo em 1951, obra do primeiro-ministro Mohamed Mossadegh, o xá conseguiu realizar a chamada revolução branca, destinada a conseguir uma melhor distribuição das terras, erradicação do analfabetismo, secularização da educação, melhora das comunicações e maiores direitos para as mulheres. Na política exterior, os objetivos foram o apoio às Nações Unidas e à coexistência pacífica e o estabelecimento de relações culturais com a Europa oriental, a União Soviética, a França, a República Federal da Alemanha e a Escandinávia. O principal aliado nesse período foram os Estados Unidos. Os vultosos recursos provenientes da exportação de petróleo foram empregados, em parte, numa industrialização rápida, porém mal controlada e coordenada, que favoreceu a inflação e a corrupção administrativa.
República islâmica. A crise econômica e a política ocidentalizante do xá alimentou a oposição dos mujtahids ("cruzados"), ativistas religiosos dirigidos do exílio pelo aiatolá Ruhollah Khomeini. Diante da pressão popular, o xá deixou o Irã em 16 de janeiro de 1979 e pouco depois, em 1º de abril, Khomeini declarou a república islâmica. Sua política se caracterizou pela supressão de todas as medidas pró-ocidentais anteriores, a aplicação estrita da lei do Alcorão, a abolição das medidas que favoreciam a situação da mulher, a execução de oficiais e simpatizantes do antigo regime, a ruptura das relações com os Estados Unidos e a perseguição aos comunistas como inimigos de Deus.
Em setembro de 1980, o governo do Iraque ordenou a invasão da província iraniana do Khuzistão, dando início a uma guerra em que os dois países consumiram grande parte dos recursos provenientes do petróleo e causou milhões de baixas em ambos os países. Um cessar-fogo suspendeu as hostilidades em 1988.
O aiatolá Khomeini morreu em 1989. Ali Khamenei foi eleito para o cargo de supremo dirigente religioso, mas sem contar com o fanático apoio das massas que haviam sido dominadas por Khomeini. Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, eleito presidente nesse mesmo ano, adotou uma política mais moderada.
Instituições políticas
O Irã é uma república islâmica regida por um presidente, um conselho de ministros, uma câmara legislativa (Majlis) e um poder judiciário. Todos os poderes estão sujeitos à autoridade suprema do líder religioso islâmico. Os 270 membros dos Majlis são eleitos, em votação secreta, para um período de quatro anos.
Um "conselho de guardiães" de 12 membros determina a constitucionalidade das leis aprovadas pelos Majlis e sua adequação aos princípios islâmicos. O presidente é eleito por um período de quatro anos e designa os ministros, que devem ser aprovados em assembléia. O país se divide em 24 províncias (ostans). Desempenham um papel fundamental os guardiães da revolução, principal corpo militar do país.
Sociedade
O crescimento das cidades criou problemas habitacionais que se agravaram com os bombardeios iraquianos durante a guerra Irã-Iraque, quando o governo concentrou seus esforços na ajuda aos pobres, com o fim de frear o descontentamento popular.
As condições sanitárias melhoraram bastante após a segunda guerra mundial. Em 1964 a varíola foi erradicada e doenças como a peste e a malária foram controladas. A cólera, que se acreditava dominada, ressurgiu em 1970, mas foi rapidamente debelada. No entanto, as instalações sanitárias são inadequadas e não existem médicos e pessoal auxiliar treinado suficientemente, sobretudo nas zonas rurais.
A educação obrigatória foi estabelecida em 1943. Todas as escolas e universidades obedecem ao sistema religioso islâmico, com exceção de pequeno número de estabelecimentos de ensino particulares mantidos por grupos minoritários. Em 1934 inaugurou-se a Universidade de Teerã, a que se seguiram outras, assim como proliferaram os institutos técnicos.
O princípio estrutural da sociedade iraniana é o parentesco patrilinear, ou seja, o parentesco é determinado pela linhagem masculina. Os homens detêm a autoridade formal, os direitos de propriedade e de herança.
A maioria dos iranianos professa o islamismo, religião oficial do estado, e pertence sobretudo à seita xiita. Os curdos, turcos e parte dos árabes pertencem ao ramo sunita. As principais religiões minoritárias são o zoroastrismo, o judaísmo e o cristianismo. Dentre os cristãos, o grupo principal é de armênios ortodoxos. A tolerância religiosa, uma das características da monarquia, foi substituída pelo fanatismo sectário depois da revolução islâmica de 1979.

Cultura
A vida cultural do Irã moderno é dominada pelos fundamentos do islamismo xiita. O martírio de Hussain ibn Ali no ano 680 em Karbala, no Iraque, tornou-se ponto de partida para a criação da consciência nacional. A comemoração do "martírio de Karbala" impregnou profundamente todas as manifestações culturais persas. O tema é encontrado com freqüência em tapetes, na literatura e na poesia.
A modernização da literatura iraniana se deve ao erudito Mohamed Qazvini, que no princípio do século XX recuperou e editou numerosos manuscritos persas medievais. O primeiro grande poeta do século XX foi Mohamed Taqi Bahar. O prosador Mohamed Ali Djamal-zadeh satirizou a sociedade persa, enquanto Mohamed Hijazi denunciou a corrupção política e burocrática das grandes cidades do Irã moderno. A novela Mardi dar gafas (1945; O homem da prisão), de Sadegh Tchubak, é exemplo perfeito do pessimismo desesperado de um grupo de escritores iranianos.
Tanto a pintura como a escultura e a música têm sofrido sérios obstáculos para seu desenvolvimento, em conseqüência da interpretação restritiva, pelos xiitas, dos preceitos do Alcorão.

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