A história de Roma, chamada com justiça de
"Cidade Eterna", é ainda mais extraordinária do que o mito de sua
fundação pelos gêmeos Rômulo e Remo: durante mil anos, ela presidiu ao destino
do mundo mediterrâneo, forjou a civilização européia, substituiu o poderio
político pelo espiritual e se transformou em centro religioso, cultural e
artístico de primeira grandeza.
Capital da Itália e da província do mesmo nome,
Roma está localizada na parte central do país, às margens do rio Tibre, que
atravessa a cidade de norte para sul, a apenas 24km do mar Tirreno. A cidade se
estende por sete colinas, situadas à margem esquerda do Tibre: Capitólio,
Quirinal, Viminal, Esquilino, Célio, Aventino e Palatino. A mais elevada,
Capitólio, tem 69m de altitude, mas o ponto mais alto da cidade é o monte
Mário, na margem direita do Tibre, com 146m.
O clima da cidade é mediterrâneo, mas se
beneficia da proximidade do mar, e a temperatura média anual é de 15,4°C. Os
dias quentes e secos do verão, quando as temperaturas podem passar de 24,5°C,
são muitas vezes amenizadas de tarde pelo ponentino, vento que sopra do mar. A
média térmica do mês mais frio, janeiro, é de 7°C. Sopra então o tramontana,
vento tempestuoso do norte. A precipitação média anual é de 840mm, dos quais
mais de oitenta por cento se verificam nos meses de setembro a abril. As
estações mais úmidas são a primavera e o outono.
História. Na idade do bronze o local onde hoje
fica Roma já era habitado por representantes do ramo latino das línguas
indo-européias. Somente no século VIII a.C., contudo, surgiram as aldeias de
pastores latinos e sabinos, dispersas nas colinas às margens do Tibre, que se
uniriam para fazer surgir a cidade de Roma. Embora o relato lendário situe sua
fundação em 753 a.C, relacionando-a com a saída de Rômulo e Remo de Alba Longa,
os marcos iniciais da cidade identificam-se historicamente com a presença de
etruscos no Lácio, na segunda metade do século VII a.C. Datam dessa época os
primeiros trabalhos de drenagem e edificações que deram feições urbanas ao
estabelecimento.
O núcleo urbano desenvolveu-se com tal rapidez
que a muralha Serviana, erguida pouco depois de 390 a.C., já defendia uma
cidade que se estendia por várias colinas. Ao contrário da maioria das colônias
fundadas pela Roma republicana, a cidade cresceu intramuros numa certa
desorganização urbanística. A riqueza dos imperadores, porém, financiou grandes
obras públicas, como o foro e os aquedutos. O foro, centro urbano de usos
múltiplos, abrigava mercado, assembléia política, tribunal, desfiles e
espetáculos, templos e edifícios públicos. Os aquedutos, construídos entre 312
a.C. e 226 da era cristã, foram de início subterrâneos e, depois, com o progresso da engenharia romana, elevados.
No império de Júlio César a cidade já avançava
sobre a margem direita do Tibre. No ano 7 a.C., Augusto reorganizou sua
administração e dividiu-a em 14 regiões. As construções monumentais, os
palácios patrícios e os bairros populares transformaram Roma numa grande
cidade. No ano 64 da era cristã, um incêndio destruiu os bairros mais pobres. O
imperador Nero iniciou imediatamente um grande projeto de reconstrução mas só
teve tempo de edificar o próprio palácio, a Domus Aurea (Casa Dourada), que
ocupava, com seus jardins, extensa área urbana.
Os imperadores Trajano, Adriano e Caracala deram
continuidade às grandes obras públicas e edificações. Ao fim do século III,
Aureliano mandou cercar com uma muralha de tijolos os bairros do centro de Roma
-- uma área de quase 14km². Os muros não continham mais a população, que
provavelmente já ultrapassava um milhão e meio de habitantes.
No ano 330 o imperador Constantino transferiu a
capital para Constantinopla, a antiga Bizâncio. Os altos funcionários e a maior
parte da guarnição militar abandonaram Roma, deixando muitas áreas despovoadas.
Os saques dos visigodos, vândalos e suevos, no século V, empobreceram ainda
mais a cidade. Ao redor do núcleo urbano o campo abandonado reverteu à condição
original de pântano insalubre. O último imperador da Roma ocidental foi o
usurpador Rômulo Augústulo, deposto pelo germano Odoacro. Em 493 Teodorico
destronou Odoacro e deu início ao primeiro reino bárbaro na Itália.
Roma, mesmo convertida em sede da cristandade na
Idade Média, não escapou ao declínio e atingiu o máximo da decadência no século
IX, quando seus vinte mil habitantes viviam miseravelmente a apascentar vacas e
cabras entre as formidáveis ruínas do passado. O grandioso mausoléu de Adriano
convertera-se em fortaleza -- o castelo Sant'Angelo -- e, próximo, num recinto
fortificado, nascia a cidade papal.
Somente a partir do século XI começou a
registrar-se um aumento de população e riqueza na cidade. Acorriam então a
Roma, beneficiada pelo poderio dos papas, numerosos peregrinos vindos de toda
Europa. Após o cisma de Avignon, entre 1309 e 1377, os papas se dedicaram a
engrandecer Roma e a dotá-la de grandes monumentos. O Renascimento alcançou ali
seu esplendor máximo e ao lado das solenes ruínas antigas, ergueram-se templos
e palácios que as ultrapassaram em grandeza.
O saque de Roma pelas tropas do imperador Carlos
V, em 1527, não afetou o ímpeto urbanístico. Entre 1585 e 1590 o papa Sisto V e
seu arquiteto, Domenico Fontana, transformaram Roma numa das cidades mais bem
planejadas da Europa. Todavia, o declínio do poder papal nos anos seguintes pôs
fim ao crescimento demográfico da cidade, que ainda assim manteve seu prestígio
como centro cultural e artístico. Na mesma época, a burguesia do norte da
Europa construía suas grandes cidades comerciais e em pouco tempo Paris,
Londres, Veneza e Sevilha ultrapassavam em muito os cem mil habitantes de Roma.
Entre o fim do século XVIII e início do XIX Roma
foi considerada, essencialmente, um lugar "romântico". Nesse período,
a cidade atraía turistas do norte da Europa que ali vinham para contemplar com
igual respeito tanto as construções eclesiásticas intactas quanto os monumentos
imperiais em ruínas.
Em 1798 Napoleão ocupou a cidade e proclamou
a república romana, que posteriormente
anexou ao império francês. Derrotado Napoleão em 1814, Roma retornou ao antigo
regime, e iniciou-se um longo período de repressão. Pio IX promulgou uma constituição
em 1848, mas sua gestão foi tumultuada pelos acontecimentos revolucionários
daquele ano, após os quais intensificaram-se as perseguições políticas e
completou-se a unificação da Itália. Roma continuou momentaneamente
independente graças à proteção de tropas francesas enviadas por Napoleão III
para defender o papa. Ao se retirarem os franceses, todavia, os exércitos
italianos invadiram a cidade pela porta Pia, sem enfrentar muita resistência,
em 20 de setembro de 1870. Imediatamente Roma foi incorporada ao novo estado
italiano como sua capital. Inconformado com a ocupação, Pio IX declarou-se
prisioneiro no Vaticano e se recusou a negociar com os novos governantes. O
conflito entre a Igreja Católica e o estado italiano só terminou em 1929, com o
Tratado de Latrão, firmado entre Mussolini e o papa Pio XI. Pelo acordo foi
reconhecida a soberania do pontífice sobre a cidade-estado do Vaticano, com uma
área de 0,44km2.
Em sua nova condição de capital da Itália, Roma
cresceu rapidamente e em 1930 superou um milhão de habitantes. As obras de expansão
ultrapassaram as muralhas de Aureliano pelo empenho do estado fascista em
ressuscitar a antiga grandeza imperial. Essa política expressou-se na abertura
de novas avenidas e a construção de edifícios imponentes e pesados.
Coerentemente, o governo incentivou a escavação dos sítios arqueológicos e a
preservação das ruínas dos monumentos da cidade.
Roma continuou a crescer no pós-guerra e foi
cercada de bairros periféricos que formaram um contínuo urbano do centro até o
litoral. As grandes edificações realizadas para sediar os Jogos Olímpicos de
1960 revelaram ao mundo uma nova realidade. Ao lado da conhecida imagem da
cidade clássica, surgia uma cidade contemporânea.
Funções socioeconômicas. Na Roma moderna
predominam as atividades terciárias, ou seja, administração, comércio e
serviços. Suas principais indústrias são de bens de consumo e a cidade produz
aparelhos elétricos, acessórios domésticos, impressos e livros, artigos
metalúrgicos diversos, produtos químicos e alimentícios. No setor de vestuário
e confecções aparecem alguns estabelecimentos de alta costura, e devido ao
contínuo crescimento urbano, a indústria de construção sobressai pelo número de
pessoas que emprega. As indústrias editorial e cinematográfica tornaram-se
muito importantes depois da segunda guerra mundial, e os estúdios de Cinecittà
fizeram de Roma um dos centros mundiais do cinema.
Roma possui um anel de vias expressas de onde
partem as auto-estradas que a ligam diretamente com todas as regiões do país e
os demais países da Europa ocidental. As comunicações ferroviárias, excelentes,
iniciam-se na estação da praça Cinquecento, no centro da cidade. Dos aeroportos
Leonardo da Vinci e Ciampino, vôos regulares asseguram a comunicação com as
principais cidades e ilhas italianas, a Europa e os demais continentes. As
comunicações urbanas, porém, deixam a desejar. Grandes engarrafamentos
paralisam durante o dia as ruas do centro da cidade e os inúmeros sítios
arqueológicos impedem a implantação de uma ampla rede de trens urbanos, embora
a cidade tenha algumas linhas de metrô.
As atividades relacionadas com a cultura merecem
grande destaque na capital italiana. A Universidade de Roma, fundada em 1303
pelo papa Bonifácio VIII, é a principal instituição de ensino superior. As
academias e museus, que atraem uma numerosa colônia internacional de
profissionais, fizeram da cidade um pólo de irradiação cultural.
Monumentos históricos. Torna-se difícil enumerar
os principais monumentos históricos e artísticos da Cidade Eterna, cujo centro
antigo constitui um verdadeiro museu ao ar livre. Da antiguidade salienta-se,
em primeiro lugar, o Forum romano, situado entre o Campidoglio e a colina
Palatina. Foi o centro comercial, civil e religioso da vida romana durante a
república e o império. Esse amplo conjunto contém, entre outros, o templo de
Vespasiano, a prisão Mamertina, o arco
de Sétimo Severo, os templos de Saturno, de Castor e Pólux, e de Vesta. Ao lado
encontra-se o Forum imperial, construído posteriormente, no qual se destaca a
coluna de Trajano. Ainda da antiguidade merecem menção o Coliseu, o mausoléu de
Augusto, os arcos de Constantino e de Tito, o Panteão, as termas de Caracala e
as de Diocleciano, o Circo Máximo, a Domus Aurea, a basílica de Maxêncio e a
via Appia. Nas proximidades de Roma estão as ruínas do porto de Ostia Antica.
Ligadas ao cristianismo são atrações turísticas,
as catacumbas, das quais sobressaem as de San Calisto; depois, o castelo de
Sant'Angelo, originalmente mausoléu do imperador Adriano, e numerosas igrejas,
entre elas a basílica de Santa Maria Maggiore, rica de mosaicos, alguns datando
do século V, a basílica de San Paolo fuori de Mura, e a basílica de São João de
Latrão, a mais antiga igreja romana. Atrativo especial exerce o conjunto do
Vaticano, com a praça e a basílica de São Pedro, concluída no século XVII; no
palácio do Vaticano, os museus, a biblioteca e a capela Sistina, com afrescos
de Perugino, Michelangelo e outros. São ainda pontos de atração: numerosas
igrejas repletas de obras de arte, a fonte de Trevi, os palácios Farnesi,
Barberini e muitos outros.
Há ainda outras magníficas construções
renascentistas e barrocas, os parques projetados como obras de arte, velhos
bairros populares cheios de vida, ruas e avenidas famosas por sua animação,
como as vias del Tritone, del Corso e Vittorio Veneto. As principais praças são
a Venezia, a de Spagna, a Navona, a del Popolo e a Cinquecento, onde se
localiza o terminal ferroviário. Do alto das sete colinas contempla-se a cidade
em meio aos jardins. Aos numerosos monumentos somam-se museus repletos de
obras-primas e, ainda, o palácio papal e o Museu do Vaticano. Tudo contribui
para fazer de Roma um ponto de referência mundial, uma cidade conhecida e
visitada por milhares de estudiosos e turistas desde os tempos medievais.
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