sexta-feira, 17 de maio de 2013

Roma




A história de Roma, chamada com justiça de "Cidade Eterna", é ainda mais extraordinária do que o mito de sua fundação pelos gêmeos Rômulo e Remo: durante mil anos, ela presidiu ao destino do mundo mediterrâneo, forjou a civilização européia, substituiu o poderio político pelo espiritual e se transformou em centro religioso, cultural e artístico de primeira grandeza.
Capital da Itália e da província do mesmo nome, Roma está localizada na parte central do país, às margens do rio Tibre, que atravessa a cidade de norte para sul, a apenas 24km do mar Tirreno. A cidade se estende por sete colinas, situadas à margem esquerda do Tibre: Capitólio, Quirinal, Viminal, Esquilino, Célio, Aventino e Palatino. A mais elevada, Capitólio, tem 69m de altitude, mas o ponto mais alto da cidade é o monte Mário, na margem direita do Tibre, com 146m.
O clima da cidade é mediterrâneo, mas se beneficia da proximidade do mar, e a temperatura média anual é de 15,4°C. Os dias quentes e secos do verão, quando as temperaturas podem passar de 24,5°C, são muitas vezes amenizadas de tarde pelo ponentino, vento que sopra do mar. A média térmica do mês mais frio, janeiro, é de 7°C. Sopra então o tramontana, vento tempestuoso do norte. A precipitação média anual é de 840mm, dos quais mais de oitenta por cento se verificam nos meses de setembro a abril. As estações mais úmidas são a primavera e o outono.
História. Na idade do bronze o local onde hoje fica Roma já era habitado por representantes do ramo latino das línguas indo-européias. Somente no século VIII a.C., contudo, surgiram as aldeias de pastores latinos e sabinos, dispersas nas colinas às margens do Tibre, que se uniriam para fazer surgir a cidade de Roma. Embora o relato lendário situe sua fundação em 753 a.C, relacionando-a com a saída de Rômulo e Remo de Alba Longa, os marcos iniciais da cidade identificam-se historicamente com a presença de etruscos no Lácio, na segunda metade do século VII a.C. Datam dessa época os primeiros trabalhos de drenagem e edificações que deram feições urbanas ao estabelecimento.
O núcleo urbano desenvolveu-se com tal rapidez que a muralha Serviana, erguida pouco depois de 390 a.C., já defendia uma cidade que se estendia por várias colinas. Ao contrário da maioria das colônias fundadas pela Roma republicana, a cidade cresceu intramuros numa certa desorganização urbanística. A riqueza dos imperadores, porém, financiou grandes obras públicas, como o foro e os aquedutos. O foro, centro urbano de usos múltiplos, abrigava mercado, assembléia política, tribunal, desfiles e espetáculos, templos e edifícios públicos. Os aquedutos, construídos entre 312 a.C. e 226 da era cristã, foram de início subterrâneos e, depois, com o  progresso da engenharia romana, elevados.
No império de Júlio César a cidade já avançava sobre a margem direita do Tibre. No ano 7 a.C., Augusto reorganizou sua administração e dividiu-a em 14 regiões. As construções monumentais, os palácios patrícios e os bairros populares transformaram Roma numa grande cidade. No ano 64 da era cristã, um incêndio destruiu os bairros mais pobres. O imperador Nero iniciou imediatamente um grande projeto de reconstrução mas só teve tempo de edificar o próprio palácio, a Domus Aurea (Casa Dourada), que ocupava, com seus jardins, extensa área urbana.
Os imperadores Trajano, Adriano e Caracala deram continuidade às grandes obras públicas e edificações. Ao fim do século III, Aureliano mandou cercar com uma muralha de tijolos os bairros do centro de Roma -- uma área de quase 14km². Os muros não continham mais a população, que provavelmente já ultrapassava um milhão e meio de habitantes.
No ano 330 o imperador Constantino transferiu a capital para Constantinopla, a antiga Bizâncio. Os altos funcionários e a maior parte da guarnição militar abandonaram Roma, deixando muitas áreas despovoadas. Os saques dos visigodos, vândalos e suevos, no século V, empobreceram ainda mais a cidade. Ao redor do núcleo urbano o campo abandonado reverteu à condição original de pântano insalubre. O último imperador da Roma ocidental foi o usurpador Rômulo Augústulo, deposto pelo germano Odoacro. Em 493 Teodorico destronou Odoacro e deu início ao primeiro reino bárbaro na Itália.
Roma, mesmo convertida em sede da cristandade na Idade Média, não escapou ao declínio e atingiu o máximo da decadência no século IX, quando seus vinte mil habitantes viviam miseravelmente a apascentar vacas e cabras entre as formidáveis ruínas do passado. O grandioso mausoléu de Adriano convertera-se em fortaleza -- o castelo Sant'Angelo -- e, próximo, num recinto fortificado, nascia a cidade papal.
Somente a partir do século XI começou a registrar-se um aumento de população e riqueza na cidade. Acorriam então a Roma, beneficiada pelo poderio dos papas, numerosos peregrinos vindos de toda Europa. Após o cisma de Avignon, entre 1309 e 1377, os papas se dedicaram a engrandecer Roma e a dotá-la de grandes monumentos. O Renascimento alcançou ali seu esplendor máximo e ao lado das solenes ruínas antigas, ergueram-se templos e palácios que as ultrapassaram em grandeza.
O saque de Roma pelas tropas do imperador Carlos V, em 1527, não afetou o ímpeto urbanístico. Entre 1585 e 1590 o papa Sisto V e seu arquiteto, Domenico Fontana, transformaram Roma numa das cidades mais bem planejadas da Europa. Todavia, o declínio do poder papal nos anos seguintes pôs fim ao crescimento demográfico da cidade, que ainda assim manteve seu prestígio como centro cultural e artístico. Na mesma época, a burguesia do norte da Europa construía suas grandes cidades comerciais e em pouco tempo Paris, Londres, Veneza e Sevilha ultrapassavam em muito os cem mil habitantes de Roma.
Entre o fim do século XVIII e início do XIX Roma foi considerada, essencialmente, um lugar "romântico". Nesse período, a cidade atraía turistas do norte da Europa que ali vinham para contemplar com igual respeito tanto as construções eclesiásticas intactas quanto os monumentos imperiais em ruínas.
Em 1798 Napoleão ocupou a cidade e proclamou a  república romana, que posteriormente anexou ao império francês. Derrotado Napoleão em 1814, Roma retornou ao antigo regime, e iniciou-se um longo período de repressão. Pio IX promulgou uma constituição em 1848, mas sua gestão foi tumultuada pelos acontecimentos revolucionários daquele ano, após os quais intensificaram-se as perseguições políticas e completou-se a unificação da Itália. Roma continuou momentaneamente independente graças à proteção de tropas francesas enviadas por Napoleão III para defender o papa. Ao se retirarem os franceses, todavia, os exércitos italianos invadiram a cidade pela porta Pia, sem enfrentar muita resistência, em 20 de setembro de 1870. Imediatamente Roma foi incorporada ao novo estado italiano como sua capital. Inconformado com a ocupação, Pio IX declarou-se prisioneiro no Vaticano e se recusou a negociar com os novos governantes. O conflito entre a Igreja Católica e o estado italiano só terminou em 1929, com o Tratado de Latrão, firmado entre Mussolini e o papa Pio XI. Pelo acordo foi reconhecida a soberania do pontífice sobre a cidade-estado do Vaticano, com uma área de 0,44km2.
Em sua nova condição de capital da Itália, Roma cresceu rapidamente e em 1930 superou um milhão de habitantes. As obras de expansão ultrapassaram as muralhas de Aureliano pelo empenho do estado fascista em ressuscitar a antiga grandeza imperial. Essa política expressou-se na abertura de novas avenidas e a construção de edifícios imponentes e pesados. Coerentemente, o governo incentivou a escavação dos sítios arqueológicos e a preservação das ruínas dos monumentos da cidade.
Roma continuou a crescer no pós-guerra e foi cercada de bairros periféricos que formaram um contínuo urbano do centro até o litoral. As grandes edificações realizadas para sediar os Jogos Olímpicos de 1960 revelaram ao mundo uma nova realidade. Ao lado da conhecida imagem da cidade clássica, surgia uma cidade contemporânea.
Funções socioeconômicas. Na Roma moderna predominam as atividades terciárias, ou seja, administração, comércio e serviços. Suas principais indústrias são de bens de consumo e a cidade produz aparelhos elétricos, acessórios domésticos, impressos e livros, artigos metalúrgicos diversos, produtos químicos e alimentícios. No setor de vestuário e confecções aparecem alguns estabelecimentos de alta costura, e devido ao contínuo crescimento urbano, a indústria de construção sobressai pelo número de pessoas que emprega. As indústrias editorial e cinematográfica tornaram-se muito importantes depois da segunda guerra mundial, e os estúdios de Cinecittà fizeram de Roma um dos centros mundiais do cinema.
Roma possui um anel de vias expressas de onde partem as auto-estradas que a ligam diretamente com todas as regiões do país e os demais países da Europa ocidental. As comunicações ferroviárias, excelentes, iniciam-se na estação da praça Cinquecento, no centro da cidade. Dos aeroportos Leonardo da Vinci e Ciampino, vôos regulares asseguram a comunicação com as principais cidades e ilhas italianas, a Europa e os demais continentes. As comunicações urbanas, porém, deixam a desejar. Grandes engarrafamentos paralisam durante o dia as ruas do centro da cidade e os inúmeros sítios arqueológicos impedem a implantação de uma ampla rede de trens urbanos, embora a cidade tenha algumas linhas de metrô.
As atividades relacionadas com a cultura merecem grande destaque na capital italiana. A Universidade de Roma, fundada em 1303 pelo papa Bonifácio VIII, é a principal instituição de ensino superior. As academias e museus, que atraem uma numerosa colônia internacional de profissionais, fizeram da cidade um pólo de irradiação cultural.
Monumentos históricos. Torna-se difícil enumerar os principais monumentos históricos e artísticos da Cidade Eterna, cujo centro antigo constitui um verdadeiro museu ao ar livre. Da antiguidade salienta-se, em primeiro lugar, o Forum romano, situado entre o Campidoglio e a colina Palatina. Foi o centro comercial, civil e religioso da vida romana durante a república e o império. Esse amplo conjunto contém, entre outros, o templo de Vespasiano, a  prisão Mamertina, o arco de Sétimo Severo, os templos de Saturno, de Castor e Pólux, e de Vesta. Ao lado encontra-se o Forum imperial, construído posteriormente, no qual se destaca a coluna de Trajano. Ainda da antiguidade merecem menção o Coliseu, o mausoléu de Augusto, os arcos de Constantino e de Tito, o Panteão, as termas de Caracala e as de Diocleciano, o Circo Máximo, a Domus Aurea, a basílica de Maxêncio e a via Appia. Nas proximidades de Roma estão as ruínas do porto de Ostia Antica.
Ligadas ao cristianismo são atrações turísticas, as catacumbas, das quais sobressaem as de San Calisto; depois, o castelo de Sant'Angelo, originalmente mausoléu do imperador Adriano, e numerosas igrejas, entre elas a basílica de Santa Maria Maggiore, rica de mosaicos, alguns datando do século V, a basílica de San Paolo fuori de Mura, e a basílica de São João de Latrão, a mais antiga igreja romana. Atrativo especial exerce o conjunto do Vaticano, com a praça e a basílica de São Pedro, concluída no século XVII; no palácio do Vaticano, os museus, a biblioteca e a capela Sistina, com afrescos de Perugino, Michelangelo e outros. São ainda pontos de atração: numerosas igrejas repletas de obras de arte, a fonte de Trevi, os palácios Farnesi, Barberini e muitos outros.
Há ainda outras magníficas construções renascentistas e barrocas, os parques projetados como obras de arte, velhos bairros populares cheios de vida, ruas e avenidas famosas por sua animação, como as vias del Tritone, del Corso e Vittorio Veneto. As principais praças são a Venezia, a de Spagna, a Navona, a del Popolo e a Cinquecento, onde se localiza o terminal ferroviário. Do alto das sete colinas contempla-se a cidade em meio aos jardins. Aos numerosos monumentos somam-se museus repletos de obras-primas e, ainda, o palácio papal e o Museu do Vaticano. Tudo contribui para fazer de Roma um ponto de referência mundial, uma cidade conhecida e visitada por milhares de estudiosos e turistas desde os tempos medievais.

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