domingo, 19 de maio de 2013

Nicarágua





Maior país da América Central, malgrado a pequenez de seu território, a Nicarágua é um exemplo típico dos males e esperanças compartilhados por outras nações da América Latina: um passado atormentado por guerras civis, intervenções estrangeiras e pobreza, e um presente de muitas incertezas quanto ao futuro.
A Nicarágua, com uma superfície de 131.670km2, limita-se ao norte com Honduras, ao sul com a Costa Rica, a leste com o mar do Caribe, parte do Atlântico, e a oeste com o Pacífico.
Geografia física
Geologia e relevo. De sudeste para noroeste, a Nicarágua é atravessada por um trecho da cordilheira Centro-Americana, formada por dobramentos do período terciário. Suas ramificações recebem nomes locais, como as cordilheiras Isabelia e Dariense, no centro-norte, e Huapí, Amerrique e Yolaina, no sudeste. As montanhas são mais altas no norte, e o pico Mogotón (2.103m), na cordilheira Entre Ríos, é o ponto culminante do país. A atividade sísmica é freqüente no país, com terremotos às vezes devastadores.
Junto ao litoral do Pacífico, há uma faixa montanhosa com cerca de quarenta vulcões, alguns ativos. Os mais altos são o San Cristóbal (1.780m), o Concepción (1.557m) e o Momotombo (1.360m). Entre os vulcões e as cordilheiras do centro do país há uma zona baixa com numerosos lagos, entre eles o Manágua e o Nicarágua.
A região leste do país é constituída de planícies e planaltos erodidos, formados principalmente de sedimentos recentes. No litoral atlântico, na chamada Costa dos Mosquitos, são muitos os manguezais e as lagunas.
Clima. A Nicarágua apresenta clima tropical, de temperaturas altas durante todo o ano. A média anual, de 27o C no litoral do Pacífico e 26o C no do Atlântico, só decresce (18o C) nas montanhas do norte. A média de precipitações é de 1.910mm por ano no oeste, onde a estação seca vai de dezembro a abril. A costa atlântica, devido aos ventos alísios de nordeste, apresenta totais pluviométricos muito elevados, que chegam a 6.588mm anuais em San Juan del Norte. A estação seca na região dura apenas de março a maio.
Hidrografia. Afora o Negro e o Estero Real, poucos rios se destacam na vertente do Pacífico. A do Atlântico tem cursos mais longos e caudalosos, entre eles os rios Coco, Prinzapolca, Grande de Matagalpa, Escondido e San Juan.
O oeste é uma região de muitos lagos. O Nicarágua (8.157km2), o maior da América Central, separa-se do Pacífico por uma faixa de 18km no ponto mais estreito, e deságua no Atlântico pelo rio San Juan, que nele nasce. Possui numerosas ilhas, entre elas a de Ometepe, com o vulcão Madeiras, e liga-se ao lago Manágua (1.049km2) pelo rio Tipitapa. Outros lagos são o Apoyo, Jiloá e Tiscapa, todos de origem vulcânica.
Flora e fauna. A floresta tropical recobre a porção oriental do país. Espécies subtropicais aparecem nos planaltos. No oeste, predominam a floresta tropical decídua e as savanas.
Crocodilos, tartarugas, lagartos e cobras habitam as zonas quentes e úmidas. Nas florestas encontram-se cervídeos, macacos, caititus e felinos como o puma e a onça. Há grande variedade de aves terrestres e aquáticas, roedores e insetos.
População
A maior parte dos habitantes da Nicarágua é formada por mestiços, sobretudo os de índios com brancos. Há minorias de brancos, de negros, estes sobretudo no litoral do Caribe, e de índios remanescentes dos povos ameríndios. A população, desigualmente distribuída, concentra-se na área dos lagos, onde estão as maiores cidades e indústrias.
Manágua, a capital, é a maior cidade do país. Outros centros urbanos importantes são León, Masaya, Granada e Chinandega, no oeste; Matalgalpa, Estelí, Juigalpa e Jinotega, nas montanhas do centro da Nicarágua; e, no litoral do Caribe, Bluefields e Puerto Cabezas.
O idioma oficial é o espanhol. Alguns grupos comunicam-se em inglês ou em línguas indígenas. (Para dados demográficos, ver DATAPÉDIA.)
Economia
Agricultura, pecuária e pesca. A economia da Nicarágua é basicamente agrícola. Os produtos mais importantes, em grande parte destinados à exportação, são café e algodão. Também se cultivam milho, cana-de-açúcar, sorgo, banana, arroz e trigo.
A pecuária é uma fonte importante de couro, carne e laticínios no oeste e de carne no leste. O setor expandiu-se após a segunda guerra mundial, mas os conflitos da década de 1980 alteraram essa tendência, pois muitos fazendeiros reduziram seus rebanhos ou se fixaram em países vizinhos. A expansão da silvicultura também se interrompeu como conseqüência desses conflitos. A pesca oceânica, fluvial e lacustre emprega técnicas tradicionais.
Energia e mineração. A Nicarágua tem grande potencial hidrelétrico e sua mais importante usina é a do rio Tuma. Há jazidas de minério de ferro, chumbo e cobre, entre outros minerais, mas as únicas atividades extrativas importantes são a do ouro e -- em menor proporção -- a do cobre.
Indústria. Pouco industrializada, a Nicarágua produz sobretudo alimentos e bebidas: açúcar refinado, óleos vegetais, cerveja e rum. Também possui refinarias de petróleo e indústrias têxteis.
Transportes. O sistema de transporte se concentra no oeste do país. Estradas interligam a maioria das cidades, mas algumas ficam intransitáveis na época das chuvas. A rodovia Pan-Americana atravessa o país e o liga a Honduras e Costa Rica. O sistema ferroviário conecta as cidades de Corinto, Chinandega, León, Manágua, Masaya e Granada.
A navegação, intensa nos lagos e entre as ilhas interiores, também é praticada em alguns rios. Os principais portos marítimos são San Juan del Sur e Puerto Sandino, no Pacífico, e Puerto Cabezas e Bluefields, no Caribe. O principal aeroporto fica a 11km de Manágua. Puerto Cabezas também tem aeroporto.
História
À época da descoberta, habitavam a costa do Pacífico índios de cultura nahua (asteca), os nicaraos, de cujo nome deriva a palavra Nicarágua. Na costa leste viviam os mosquitos, de cultura chibcha.
Descoberta e fase colonial. Em sua última viagem à América, Cristóvão Colombo chegou à foz do rio San Juan em 16 de setembro de 1502. Em 1522, Gil González Dávila, vindo do Panamá, chegou a atravessar o lago Nicarágua, mas foi expulso pelos nativos. A colonização só se iniciou em 1524, com a vinda de Francisco Hernández de Córdoba -- preposto de Pedrarias Dávila, governador do Panamá --, que fundou as cidades de Granada e León.
Pedrarias foi nomeado governador da Nicarágua em 1527. Em seguida, a colônia passou sucessivamente da jurisdição da audiência de Panamá à de Los Confines, Honduras e, em 1570, à da Guatemala. Após um breve ciclo de extração de ouro, a economia progrediu lentamente. Logo surgiu uma intensa rivalidade entre as cidades coloniais de León, sede administrativa e centro intelectual liberal, e Granada, centro agrícola de aristocracia conservadora, enriquecida pelo comércio com a Espanha, feito pelo rio San Juan.
Entre os séculos XVI e XVII, ambas as cidades coloniais foram vítimas de ataques de piratas. No fim do século XVIII, a Grã-Bretanha exercia um virtual protetorado sobre índios e zambos do litoral do Caribe, onde se criara a comunidade de Bluefields. Apesar dos ataques e de alguns terremotos devastadores, a colônia prosperou nesse período. Em 1786, as províncias da Nicarágua, da Costa Rica e a alcaidaria-mor de Nicoya foram reunidas para constituir a intendência da Nicarágua.
Independência. Por influência dos movimentos revolucionários do México e de El Salvador, em 1811 ocorreu em León e estendeu-se a Granada uma revolta, dominada sem muita violência. Em 1821, a capitania geral da Guatemala proclamou-se independente. Granada manteve-se integrada ao novo país, mas León declarou sua independência. Em 1822, as duas cidades uniram-se ao império mexicano. Granada, porém, insurgiu-se antes da abdicação de Agustín de Iturbide (1823) e proclamou a república.
Em 1826, mediante uma primeira constituição, toda a Nicarágua integrou-se às Províncias Unidas da América Central, federação de que se afastou em 1838. Em 12 de novembro desse ano, no governo de José Núñez, promulgou-se nova constituição que definia a Nicarágua como um estado soberano e independente.
Intervenções estrangeiras. Na intenção de abrir, entre o lago Nicarágua e o Pacífico, um canal que desse acesso ao Atlântico pelo San Juan, em 1848 os britânicos voltaram a ocupar a foz daquele rio. Os Estados Unidos tinham igual interesse e, poucos anos depois, Cornelius Vanderbilt implantou na Nicarágua um sistema de barcos e veículos terrestres que permitia passar de um oceano a outro. Em 1850, os dois países comprometeram-se a respeitar a independência da área e a neutralidade do canal, se fosse construído, o que não ocorreu.
As lutas entre os liberais de León e os conservadores de Granada permitiram que, em 1856, o aventureiro americano William Walker chegasse à presidência da Nicarágua. Foi, porém, deposto em 1857 pelo esforço conjunto dos países limítrofes, de Vanderbilt e dos liberais, que o haviam contratado para tomar Granada.
A partir de 1857, sucederam-se vários presidentes conservadores até 1893. Nessa fase, de relativa paz, instalou-se a capital em Manágua, o que aliviou os conflitos entre León e Granada; o Reino Unido devolveu a costa oriental, que se tornou reserva indígena autônoma; iniciou-se o cultivo do café; e construiu-se a ferrovia Granada-Corinto. No governo do liberal José Santos Zelaya (1893-1909) estabeleceu-se a jurisdição nicaraguana sobre a reserva dos mosquitos.
Tutela americana. A insolvência financeira da Nicarágua motivou a intervenção dos Estados Unidos, que forçaram Zelaya a renunciar e não reconheceram seu sucessor, José Madriz. Os americanos passaram a controlar a alfândega, o banco central e as ferrovias do país. A humilhação nacional levou à revolução de 1912, sufocada por fuzileiros navais americanos, que contribuíram para manter o presidente conservador Adolfo Díaz no governo até 1917. Seus sucessores, Emiliano Chamorro (1917-1921) e Diego Manuel Chamorro (1921-1923), também receberam apoio americano.
Uma nova intervenção ocorreu em 1926, quando Adolfo Díaz, em seu segundo período presidencial (1926-1928), pediu a ajuda dos fuzileiros. Os líderes liberais José María Moncada, Juan Bautista Sacasa e César Augusto Sandino lançaram-se à guerrilha mas os primeiros recuaram ante a promessa americana de garantir eleições livres. Somente Sandino manteve a luta contra a ocupação.
Família Somoza. Moncada (1928-1933) e Sacasa (1933-1936) exerceram a presidência. Com a retirada dos fuzileiros (1933), Sandino depôs as armas e reconciliou-se com Sacasa, mas foi assassinado em 1934 por ordem do general Anastasio (Tacho) Somoza García, sobrinho de Sacasa e comandante da Guarda Nacional criada pelos americanos na gestão de Díaz.
Eleito presidente em 1937, durante vinte anos Somoza controlou a política do país, diretamente ou por interpostas pessoas. Assassinado em 1956, foi substituído pelo filho Luís Somoza Debayle (1957-1963). René Schick Gutiérrez (1963-1966), morto no exercício da presidência, foi sucedido por Lorenzo Guerrero Gutiérrez (1966-1967), a que se seguiu Anastasio (Tachito) Somoza Debayle, irmão mais novo de Luís.
Aproveitando-se do terremoto que, em 1972, arrasou Manágua, Somoza obteve do Congresso poderes ilimitados. Cresceram a oposição e a guerrilha, esta movida pela Frente Sandinista de Liberación Nacional (FSLN). O assassinato, em janeiro de 1978, do líder oposicionista Pedro Joaquín Chamorro, diretor do mais importante jornal do país, La Prensa, gerou protestos e greves que culminaram na guerra civil.
Em 22 de agosto de 1978, sandinistas chefiados por Edén Pastora, o Comandante Zero, tomaram o Palácio Nacional, em Manágua, e mais de mil reféns. Somoza teve que atender às exigências dos guerrilheiros e acabou por renunciar, em 17 de julho de 1979. Asilou-se nos Estados Unidos e depois no Paraguai, onde foi assassinado em 1980. A guerra civil custou mais de trinta mil vidas e destroçou a economia do país.
Regime sandinista. A Junta de Reconstrução Nacional revogou a constituição, dissolveu o Congresso e substituiu a Guarda Nacional pelo Exército Popular Sandinista. Até que se elaborasse nova carta, promulgou-se um Estatuto de Direitos e Garantias. Nacionalizou-se a indústria em grande parte e introduziu-se um sistema de planificação central. Desapropriaram-se as grandes extensões de terras da família Somoza e as grandes fazendas improdutivas.
O estreitamento das relações com países do bloco comunista fez com que, em 1981, os Estados Unidos suspendessem a ajuda econômica à Nicarágua. Enquanto os moderados protestavam contra o adiamento das eleições e passavam à oposição, cerca de dois mil antigos membros da Guarda Nacional, os "contras", baseados em Honduras e com o apoio dos Estados Unidos, desencadearam ataques guerrilheiros à Nicarágua. A eles aderiram os mosquitos, contrários às medidas para sua integração.
Em novembro de 1984 realizaram-se eleições presidenciais e para uma assembléia constituinte, com o boicote de boa parte da oposição. Eleito com mais de sessenta por cento dos votos, o líder da FSLN Daniel Ortega assumiu a presidência em janeiro de 1985. A FSLN também obteve a maioria das cadeiras da Assembléia Constituinte. Em janeiro de 1987, promulgou-se a nova constituição.
Prosseguiam, contudo, a luta dos "contras" e os atritos com os Estados Unidos, que os esforços do chamado Grupo de Contadora (México, Venezuela, Panamá e Colômbia) não conseguiram extinguir. Em 1987 e 1988 firmaram-se em Esquipulas, na Guatemala, acordos para o desenvolvimento de um plano destinado a desarmar e repatriar os "contras" baseados em Honduras.
Em 1988, depois de libertar quase dois mil ex-membros da Guarda Nacional, Ortega assinou uma lei de reforma eleitoral que incluía a realização de eleições amplas e livres em 1990, e uma nova lei de imprensa que garantia maior participação dos oposicionistas nos meios de comunicação. Para supervisionar as eleições, criou-se o Supremo Conselho Eleitoral, com três membros sandinistas e dois da oposição. Simultaneamente, contudo, o presidente americano George Bush autorizou nova ajuda aos "contras" e prorrogou o embargo comercial contra a Nicarágua até a realização das eleições livres.
Em 1990, com apoio dos Estados Unidos, Violeta Barrios de Chamorro, viúva do líder assassinado em 1978, venceu as eleições presidenciais. A transição do poder foi pacífica e seguiram-se acordos de desarmamento e cessar-fogo, apesar da relutância de algumas facções.
Segundo a constituição de 1987, a Nicarágua é uma república presidencialista unicameral, com uma assembléia nacional de 92 membros eleitos por voto direto para mandatos de seis anos. A carta, que também consagra os princípios de pluralismo político e economia mista, também reconhece os direitos socioeconômicos da população. Administrativamente, o país se divide em 16 departamentos.
Sociedade e cultura
O governo sandinista realizou intenso esforço nas áreas de educação e saúde. Com os conflitos na década de 1980, porém, reverteram-se alguns avanços sociais. Na área educacional, uma das conquistas foi o aumento dos índices de escolarização e alfabetização. O ensino superior conta com uma universidade em Manágua e a Universidade Nacional, em León.
Não há religião oficial na Nicarágua, mas a imensa maioria da população é católica. Há também minorias de protestantes morávios, batistas, episcopais e pentecostais. A comunidade judaica é reduzida.
A literatura nicaragüense projetou-se no mundo com o modernista Rubén Darío, considerado um dos maiores poetas hispano-americanos. Destacaram-se depois Santiago Argüello, Antonio Medrano, Salvador Sacasa, José Teodoro Olivares, Azarias Pallais, Salomón de la Selva e Alfonso Cortés. Hernán Robleto escreveu o famoso romance Sangre en el trópico, la novela de la intervención yanqui en Nicaragua (1930).
Em 1928, surgiu o grupo de poetas Vanguarda, que conciliava o nacionalismo revolucionário, o humorismo iconoclasta e a fé católica. Seus principais representantes foram José Coronel Urtecho, o fundador, Pablo Antonio Cuadra e Joaquín Pasos. A partir da década de 1960, os poetas Ernesto Mejía Sánchez e, sobretudo, Ernesto Cardenal exerceram grande influência. No romance, salientaram-se Juan Felipe Toruño, Fernando Silva Espinosa, Sergio Ramírez e Fernando Centena Zapata.
Na música, José de la Cruz Mena é o nome mais importante. As manifestações artísticas mais destacadas dos índios que habitavam a Nicarágua são as cerâmicas decoradas. León e Granada conservam muitos edifícios antigos. Os principais museus são o Nacional, em Manágua, e o Tenderi, em Masaya.

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